Absinto escrita por madwolve


Capítulo 10
Ninguém entende




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Rosalia finalmente estava em casa, na sua casa, no quintal onde cresceu, na rua em que corria quando era criança. Sentia-se segura e acolhida nos braços da mãe.

— Meu amor, me perdoe por não conseguir te ajudar mais. Deus sabe o quanto quis estar perto de você quando soube do acidente mas eu não consegui, perdoe sua velha mãe. - A mãe segurava com carinho o rosto da filha que mesmo com algumas cicatrizes ainda continuava lindo como ela se lembrava.

—  Dona Dulce, não precisa disso. Quando saí daqui eu falei que conseguiria me cuidar sozinha e foi o que eu fiz. Prometo que não vou sair mais do lado de vocês.

Tudo estava indo bem, muito bem, até ouvirem uma voz que mais parecia um trovão vir da porta da casa. A voz pertencia a um homem robusto, de cabelos e barba que um dia poderiam  ter sido tão escuros quanto a própria noite, mas hoje já estavam opacos e com alguns fios brancos

— Dulce! O que está acontecendo aí?! São aqueles meninos vindo roubar a macieira, não é? Eu vou dar um jeito neles e…

A surpresa foi tanta que o homem até deixou cair o cachimbo que fumava.

— Eu também senti sua falta, seu Romeo.

Rosalia não pensou duas vezes, correu para abraçar o pai que não via há anos e foi recebida de braços abertos.

Finalmente, estavam os três caminhando para dentro daquela velha casa e Rosalia não estava mais sozinha. Agora ela poderia cuidar de seus pais e sempre que precisasse de um colo para chorar ela sabia para onde poderia correr sem medo.

Rosalia nunca falava de sua família de uma maneira profunda, não que tivesse vergonha mas não gostava de se expor gratuitamente para qualquer um, a verdade é que vinha de um berço muito humilde.

Naquela noite, a mais ou menos três mil quilômetros de distância da cidadezinha espanhola, havia um cavaleiro que estava absolutamente miserável. Shura não fazia questão nem de continuar com as poucas coisas que lhe traziam alegria no atual momento da sua vida, que se resumia a beber e jogar um pouco de conversa fora com seus amigos às sextas-feiras.

A situação era tão alarmante que nem Máscara da Morte conseguiu ignorar. Aquele clima o irritava, em um movimento brusco  ele bateu sua mão na mesa espalhando todas as cartas.

— Já chega, Shura! Por quê?

— O quê? — Shura estava deitado na espreguiçadeira e não fez nem questão de olhar para dar uma resposta apropriada.

— Por que deixou Rosa ir embora, se sabia que ia ficar neste estado de merda?

Máscara da Morte tinha atingido o calcanhar de aquiles de Shura, tanto que agora o Cavaleiro de Capricórnio até se sentou na cadeira.

— Escuta aqui, o que você queria que eu fizesse? Implorasse de joelhos para que ela nunca mais fosse embora?

— Exatamente! Eu teria feito isso se fosse você. Não deixaria ela ir embora assim, sem mais nem menos. — Kanon decidiu se intrometer enquanto juntava as cartas que Máscara da Morte espalhou pela mesa.

— Shura, eu odeio concordar com eles a maior parte do tempo, mas agora eles estão certos. Se você sente tanto assim a falta da Rosa, então deveria realmente ir atrás dela, deveria dizer isso a ela. - Afrodite bem que tentou convencer o amigo enquanto se sentava na espreguiçadeira ao lado dele.

— Olha pelo lado bom, até mesmo um pé na bunda te leva pra frente. — Kanon também tentava ajudar à sua maneira.

— Kanon! — Máscara da Morte e Afrodite não acreditavam no que acabaram de ouvir e repreenderam o amigo na mesma hora.

— Vocês não entendem, não entenderiam nem se tentassem.

Realmente não entenderiam, ele poderia muito bem pegar o próximo avião para Barcelona e logo estaria em Girona mas como ele poderia pedir que ela voltasse com ele?

Ele não poderia simplesmente abandonar o santuário ou seus deveres e ela estava feliz agora. Rosalia estava com a família que ela tanto amava, na sua cidade natal da qual tanto falava, como ele poderia ser egoísta a tal ponto de pedir que ela abandonasse tudo aquilo por causa dele? 

A resposta era simples e clara: não podia.

Shura já havia se levantado e saído do jardim, precisava de um tempo sozinho para organizar sua cabeça. Sem perceber acabou adentrando pela casa escura e entrando no quarto que era dela. Inconscientemente era como se ele quisesse achar alguma parte dela ainda ali, um cheiro, uma lembrança, qualquer coisa.

Estava implorando por alguma coisa que nem sabia o que era, quando suas preces foram ouvidas.

Ficou parado por um instante observando aquele quarto, quando, embaixo da cama, algo que parecia ser um papel antigo chamou sua atenção

Depois de ver o que dizia aquele papel, Shura decidiu o que fazer com aquele sentimento que não lhe cabia mais no peito.

Uma semana havia se passado e Rosalia já havia decidido colocar o plano da nova fase da sua vida em prática. Iria abrir um restaurante na cidade e continuar fazendo o que mais amava: cozinhar e preparar bebidas.

O primeiro passo para tudo aquilo funcionar era procurar um bom local, para que pudesse estabelecer o restaurante. 

Sua mãe estava ajudando-a com a missão mas como sempre havia um problema e, no caso, era Rosalia.+ A moça não gostava de nenhum imóvel que lhe mostravam e também não queria construir algo do zero, mesmo tendo dinheiro para isto.

Uma mãe sempre sabe quando tem algo de errado com o filho.

Mãe e filha estavam esgotadas depois de passarem um longo dia pulando de imóvel para imóvel, por isso decidiram parar em um pequeno café antes de voltarem para casa. Rosalia falava muito agora sobre os defeitos dos imóveis, sobre como o homem que os estava apresentando não sabia do que estava falando e tantos outros defeitos, enquanto Dulce apenas ouvia. A mãe ouviu até que a filha parasse e só então se manifestou.

— Rosa, meu amor, o que há de errado?

— Não tem nada de errado, mãe. Por que a pergunta?

— Não me entenda mal, querida, mas você parece estar colocando defeito onde não tem. Vimos imovéis incríveis hoje e mesmo assim você recusou todos eles. Eu sei que não é por causa da estrutura, da pintura, de um piso trincado... O que te incomoda tanto?

— Não é nada, é só que eu não...achei o que eu realmente quero ainda.

Após uma pausa, Dulce sorriu para a filha logo depois de degustar seu café.

— Ainda estamos falando dos imóveis? 

— Claro que estamos!

Não estavam falando dos imóveis e a sábia dona Dulce tinha conhecimento disso, agora precisaria descobrir o nome do “imóvel” de quem a filha estava falando. Não se preocupou no momento, teria tempo de sobra para isso.

Rosalia também sabia que não estava mais falando dos imóveis.

Depois de voltar para casa, jantar e se preparar para dormir, a noite dela não foi das mais calmas, ficou pensando no que a mãe havia falado e ela tinha conhecimento que no fundo estava se sabotando. Sabia que assim que assinasse qualquer papel seria definitivo e não sairia mais dali mas...não era isso que ela queria? O que a estava impedindo de fazer o que tinha decidido desde o início?

O tempo passou rápido e o sol estava alto no céu quando percebeu. Não havia pregado os olhos naquela noite, mas se arrumou rápido e assim que desceu as escadas já ouvia o pai lhe chamando.

— Rosa, minha querida, bom dia! Tem alguém chamando no portão, deve ser Jorge trazendo o leite. Você pode ir atender, por favor?

— Claro, pai. Bom dia para o senhor também!

Rosalia ouviu e lá foi ela fazer o que o pai tinha pedido.

Assim que abriu aquela porta, sentiu o ar lhe faltar e as pernas falharem, esfregou até os olhos com as costas das mãos para ter certeza de que estava vendo direito o que estava na sua frente.

Continua...


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Notas finais do capítulo

E ai, quem é adepto da filosofia do Kanon? kkk

Gente, to morrendo de saudade de vocês, sério, mas minha vida ta um caos! É reunião que não acaba mais, promoções insanas...mas eu amo vocês, juro! ♥

Quem será que ta na porta, heim? heim?

Até semana que vem, amores ♥



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