Absinto escrita por madwolve


Capítulo 9
Mudar




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Um silencio constrangedor se formou no ambiente, enquanto o cavaleiro tentava assimilar o que acabou de ouvir. Agora, Shura estava mais triste do que qualquer outra coisa. Não sabia nem por onde começar a falar, mas ele precisava parar a ideia louca daquela mulher, ou pelo menos tentar.

— Mas por que?! Como assim você vai embora?!

— Eu não tenho mais nada aqui, Shura. Reconstruir aquele bar seria o caos, iria demorar horrores e, sinceramente, depois do acidente eu percebi o quanto eu estou sozinha aqui. Não me entenda mal, mas se eu não pudesse contar com a sua boa vontade e amizade, não teria chegado até aqui. Não quero mais ficar sozinha, Shura, você me entende?

— Mas e os seus funcionários? E os seus amigos? - Shura agora já havia se levantado em meio a ansiedade. Apesar de ter citado todas aquelas pessoas, o que ele realmente pensou e queria ter dito era:

E eu?

— Todos podem ir me visitar quando quiserem, podem me ligar, enviar cartas e isto inclui você. Será bem-vindo para me visitar sempre que quiser, sempre!

Rosalia agora sentia como se estivesse explicando para uma criança o porquê de ela não poder comer mais doces. Ela se levantou para tomar a mão dele, seu coração se partia em milhões de pedaços ao ver a tristeza daquele homem, mas ela tinha tomado sua decisão e com razão. 

Estava sozinha naquele país que, por melhor que fosse, não era o dela e estava cansada daquilo. Iria aproveitar esta virada drástica que a vida havia lhe proporcionado para mudar tudo isso.

— Nada que eu falar vai te convencer, não é? 

Shura assim que sentiu aquelas mãos delicadas nas suas começou a acariciar-lhe os dedos levemente, só assim ele conseguiu juntar coragem para olhar e esperar a resposta que na verdade não veio. Ela apenas sorriu docemente como sempre fazia e negou levemente com a cabeça.

Era isso, ela ia embora e ele ia voltar para aquela vidinha miserável.

Os próximos dias passaram mais rápidos do que o cavaleiro gostaria.Cada vez que via Rosalia  arrumando as malas, sentia como se mais uma faca fosse cravada sem dó em seu peito e não havia nada que pudesse fazer sobre isto. 

Quando percebeu, ela já tinha comprado a passagem de avião para os próximos dias. Obviamente não a deixaria ir embora sem uma despedida. Assim que a noite chegou naquela sexta-feira, Rosalia foi surpreendida por uma pequena festa com os seus ex funcionários, os bons e velhos amigos de Shura, Tétis e Fatma. Todos estavam ali para celebrar o novo caminho que a fada verde estava prestes a começar a trilhar.

A celebração seguiu tranquila, Rosalia recebeu todos os abraços e desejos de felicidade mas ainda não havia falado com uma pessoa naquela festa, esta pessoa era Afrodite. Assim que eles se encontraram, trocaram um abraço apertado, conversaram algumas trivialidades mas logo Afrodite mudou um pouco o tom daquela conversa, quando a chamou para uma conversa mais particular, no jardim da casa de Shura.

— Rosa, eu quis te trazer aqui porque eu queria te agradecer pessoalmente. 

— Se for por todas as vezes que vocês dormiram no meu bar ou por quando você decidiu dançar bêbado no meu palco, não precisa.

— Não, e por favor não me lembre destes dias de trevas.

— Posso falar deles a noite inteira se quiser.

Já não era uma conversa tão séria, riam como bons amigos que eram e agora Afrodite já havia pego um pequeno vaso com uma rosa plantada que estava separado no canto do jardim.

 - Eu queria agradecer pelo que você fez por Shura. Sabe, eu estava muito preocupado com ele, andava bebendo muito e não estava encontrando alegria em mais nada. Depois de tudo o que vocês passaram ele parece que voltou a ser o que era, está rindo mais, parou de beber tanto...obrigada por nos devolver o antigo Shura.

— Afrodite, eu nem sei o que dizer, eu não fiz nada.

— Fez sim e eu até imagino o quê, mas seja lá o que for, obrigado.

Rosalia estava emocionada com o que tinha ouvido. Não sabia nem o que falar em resposta, apenas aceitou aquele lindo vaso e ofereceu em troca mais um abraço antes de voltarem para a festa.

A moça dos olhos verdes amou rever todos os seus amigos e a festa foi incrível, perfeita em todos os detalhe, mas havia chegado ao final. Após uma justa noite de sono, lá estava ela trazendo suas malas para o andar de baixo com a ajuda de Shura.

— Você deveria se recuperar mais antes de ir, não deveria carregar estas malas pesadas também. - Shura não deixava que ela carregasse as malas, assim que ela tentava fazê-lo ele as tomava das mãos dela.

— Eu consigo e estou recuperada, ok? Quem vai carregar minhas malas quando eu estiver em Barcelona?

Esta era mais uma faca que acabava de se cravar no peito de Capricórnio.

— Posso pelo menos colocar no carro pra você?

— Vai mesmo me levar até o aeroporto?

— Claro que vou!

Era como se Shura quisesse sofrer o máximo que pudesse, até o último instante. O cavaleiro colocou as malas dela no carro, a levou ao aeroporto e agora estavam naquele saguão cheio de gente, apenas aguardando a chamada para o voo.

A chamada veio rápido demais.

— Querido, não faça essa cara. Não é como se eu estivesse morrendo.

— Você vai estar a mais de três mil quilômetros daqui, sabe disso, não é?

— Eu sei e eu prometo que isto não é um adeus, é apenas um até logo.

Dito isso, ela abriu seus braços para envolver aquele homem inconsolável em um último abraço apertado e aconchegante. Pareciam querer gravar cada curva um do outro, aquele cheiro e aquele calor, que provavelmente não voltariam a sentir tão cedo.

— Até logo, querido. 

— Até logo.

Por uma última vez, Rosalia se permitiu pousar as mãos sobre aquele rosto e olhar para aqueles olhos escuros. Shura fez o mesmo tentando gravar o melhor que podia em sua mente a visão daqueles olhos verdes alegres.

Assim que ela o soltou e foi até o portão de embarque era como se toda a felicidade que ele teve o prazer de desfrutar nos últimos tempos tivesse sido tirada dele de uma vez só, mas o que ele poderia fazer? Implorar de joelhos para que ficasse pra sempre? Não seria egoísta a este ponto, ela estava feliz voltando para a terra natal que tanto amava, para o lado da família dela e agora ele precisava se conformar com isso, com a felicidade dela que não era a dele.

Voltou para o seu carro e antes de ir embora ficou ali parado, tentando achar uma nova razão para aquela vida triste e sem graça que era a dele agora.

 

Longe dali e dentro do avião, Rosalia estava agitada com a volta para casa e se lembrou de Shura assim que chegou em Barcelona, não que tivesse  tirado ele dos pensamentos,  mas era realmente difícil carregar aquelas malas sozinhas por aquele aeroporto. O desânimo tomou conta de si quando lembrou que teria uma viagem de mais ou menos uma hora de ônibus até Girona, mas tudo havia sido compensado quando desembarcou do ônibus na esquina daquela rua sem saída que ela conhecia bem.

Quanto mais descia a rua, mais seus olhos enchiam d’água. Assim que avistou a última casa, viu também uma senhora de cabelos castanhos misturados a alguns fios brancos e olhos verdes intensos. A senhora continuou varrendo as folhas secas que caiam lentas em frente a sua casa, vindas da grande macieira plantada ali, e assim que seus olhos se encontraram, Rosalia largou todas as malas que tinha para abraçá-la.

— Mãe!

— Rosa, minha filha! 

 

Naquele momento, Rosalia soube que fez a escolha certa.

Será?

 

continua...


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Notas finais do capítulo

Plena sexta-feira e eu venho trazer o que pra vocês? Um pouco de depressão xD

Confesso pra vocês que o Afrodite, pra mim, sempre vai ser a voz da razão e a Rosalia voltando pra casa parte meu coração todas as vezes que leio

Aliais, eu não morri! Eu assumi um novo cargo no trabalho e isto tem me tomado muito tempo, por isto não estou conseguindo postar dois capítulos por semana, mas não vou abandonar nada! Lembrando que ela já esta toda escrita, estou apenas corrigindo ela agora.

Até logo, amorzinhos ❤️



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