O CREPÚSCULO ESPALHOU-SE PELOS CÉUS e anunciou o fim da sexta-feira que marcava o terceiro mês de Naruto no Hospital Konoha. Ele contemplava o púrpuro pincelando as nuvens e perguntava-se o porquê de não estar comemorando sua sobrevivência como qualquer veterano de guerra — aproveitando a paz de sua folga na segurança de sua casa e longe de seus inimigos —, quando a voz de uma Sakura bêbada preencheu o espaço de lazer dos Uchihas.

Médicos de várias alas encontravam-se ali em uma social organizada pelo Diretor da Pediatria. Ele havia pessoalmente convidado o trio para a festa, comentando — em um japonês cortês — que seria uma ótima oportunidade para que eles desenvolvessem conexões e laços com doutores importantes do hospital.

Os olhos anis caíram sobre as amigas e o rapaz refletiu que — se dependesse das duas — com certeza uma forte conexão seria criada com o Uchiha mais velho. Elas estavam sentadas na borda da piscina, deixando que Itachi ficasse no meio e divertiam-se com as histórias nojentas da profissão, empolgando-se com doenças bizarras e tumores raros. O homem estava imerso na conversa e parecia apreciar os olhares sugestivos que trocavam com ele.

Naruto quis gargalhar quando Sakura fingiu que havia alguma sujeira nos cabelos negros, aproximando-se e exibindo o decote propositalmente. O diretor limpou a garganta, surpreso com o gesto ousado da mulher e o Uzumaki teve pena dele quando Hinata encontrou seus olhos e sorriu de lado. O pobre homem não fazia ideia, mas tinha se tornado a presa de dois tubarões luxuriosos.

Deixado as amigas para trás, o médico caminhou pela festa, andando entre as pessoas e sorrindo amigavelmente para elas. Com o álcool correndo em seu sangue, a mente vagava para sua agenda com pelo menos quinze bilhetinhos escritos. Durante aqueles meses as notas tornaram-se cada mais recorrentes e o residente tinha a esperança de descobrir ali alguma pista sobre a identidade de seu admirador.

Sabia apenas que era uma pessoa encantadora, a qual apreciava os clássicos italianos — pois constantemente comparava o Uzumaki com a musa de a divina comédia e o tratava como “alguém tão belo e especial quanto a Monalisa”. Apresentava-se também como um amante fervoroso de jogos clássicos e parecia sempre prestar atenção no loiro, se dispondo a presenteá-lo com doces e chocolates.

— Dou meia hora para eles desaparecem.

A voz de Uchiha Sasuke subitamente assustou o loiro e ele quase derrubou sua cerveja. O médico trajava seu costumeiro orgulho e revirava os olhos para o irmão.

— Está com inveja, teme?

Sasuke bufou e o residente percebeu que suas bochechas eram coloridas pelo escarlate proveniente da bebida que tomava.

— Posso te ajudar com isso. — Sugeriu casualmente.

Um olhar mergulhado na tensão foi a resposta do Uchiha mais novo. O silêncio preencheu o ar entre eles e no mesmo instante Naruto arrependeu-se de sua fala, amaldiçoando o álcool por deixar sua língua tão solta.

— Que cara é essa, teme? Sabe brincar não? — Riu sem-graça — Nem fodendo que ficaria com você.

Mentiu.

E ficou chocado por descobrir isso.