Hinata beliscava uma porção de batatas fritas, imersa na narração de Sakura sobre a cor peculiar do vômito de um de seus pacientes, enquanto Naruto tentava se esquecer sobre o fato do pirralho ter vomitado em seus sapatos. Era uma agradável noite de primavera e eles aproveitavam o tempo livre até o Uzumaki sentir um calafrio cruzar sua espinha. Assombrado, cerrou as pálpebras e virou o restante de sua bebida de uma vez, contemplando o responsável por seu desconforto do outro lado do bar, sentando-se solitário e pedindo um uísque de preço exorbitante.

— Naruto! — A voz da Haruno elevou-se e ele fitou-a assustado — Se você puder parar de secar nosso chefe e focar em nós, ficaríamos felizes.

— Vai se foder. — Disparou embaraçado.

Só um maluco iria se atrever a dar em cima daquele ogro.

Afinal, no passar daquele primeiro mês, o Uzumaki teve a certeza de que o cérebro de Uchiha Sasuke só conseguia produzir serotonina quando ele implicava consigo. O demônio o forçava a ficar ao seu lado em silêncio enquanto examinava os pequenos, permitindo — apenas algumas vezes — perguntas diretas. As crianças achavam graça e se divertiam com o desconcerto dos residentes e foi aí que Naruto reparou que, de alguma forma, a personalidade reservada de seu chefe o ajudava a conquistar a confiança dos pequenos.

O Uchiha tratava seus pacientes com igualdade e seus gestos — apesar de silenciosos — eram dóceis. Ao decorrer dos dias foi fácil para o loiro entender que Sasuke não tratava suas crianças como pirralhos estúpidos. Era o contrário: o silêncio do médico o colocava em uma espécie de segundo plano, de modo que os holofotes ficavam sobre seus pequenos, dando a eles o momento para chorar e lamentar seus tormentos. Quando esse momento passava, o Uchiha surgia como um irmão mais velho, cheio de empatia pela dor das crianças e com firmeza em suas palavras, garantindo que iria ajudá-las. O desgraçado era um herói para eles e os fedelhos o idolatravam.

O que não viam, no entanto, era o sorriso desdenhoso que os lábios rosados produziam quando Uchiha Sasuke caminhava na direção do Uzumaki, pronto para dar ordens bizarras e que estragariam seu dia.

— A Sakura falou que você tem recebido bilhetes estranhos. — Hinata comentou, reparando que o rapaz continuava fitando o chefe.

— Sim! — Respondeu sem-graça, abrindo a galeria do celular e mostrando a fotografia de alguns pedacinhos de papeis colados em um caderno — Começou com um cartão com referências a um jogo que amo. Desde então, recebo pelo menos dois durante a semana. O último foi esse desenho de pokébola com a frase: posso te escolher?

— Tem ideia de quem pode ser?

— Quem me dera, Hina. O Sasuke não me dá tempo nem de respirar, quem dirá flertar com alguém! Fico tão cansado que só devo responder as cobranças dele no Line...

— Sério? Ele quase não me manda mensagens. — A Haruno comentou confusa.

Ela e a Hyuuga mergulharam em uma troca de olhares suspeita.

— Sorte a sua. Ele me odeia! Rancoroso do caralho.