ARRASTANDO-SE PELOS CORREDORES alabastrinos, o jovem residente praguejou quando um Sasuke concentrado em seu Iphone surgiu no seu campo de visão. Percebendo que ele caminhava em sua direção — com as bochechas estranhamente ruborizadas — o Uzumaki tratou de endireitar a coluna curvada pelo cansaço, enfiando as mãos nos bolsos do jaleco e cravando os olhos nos panfletos colados no mural de avisos, fingindo não reparar o outro.

— Estudando sobre você, Otaku? — O Uchiha debochou indicando os cartazes informativos sobre germes. Seu desconforto de antes desapareceu em uma nuvem de escárnio.

Naruto cerrou os dentes, amaldiçoando-se por ter deixado o tutor descobrir seu amor por jogos. Além do episódio do barzinho, o Uzumaki havia sido burro o suficiente para passar seu contato para Itachi, esquecendo-se completamente de que ele o adicionaria no grupo da Pediatria do Line e que sua foto de perfil era uma fanart do Link, de Zelda.  Já não bastasse isso, Sasuke ainda lhe flagrara almoçando com um Switch nas pernas.

Não demorou para o apelido surgir, comparando-o com os gamers obcecados.

— Estava tentando entender mais do meu chefe.

— Entendo. — Respondeu com indiferença. Naruto estreitou os olhos, sabendo que alguma coisa estava por vi, pois nas duas semanas em que trabalhavam juntos o médico em sua frente só o deixava em paz quando estragava seu dia — O plantão está calmo. — Comentou digitando qualquer coisa em seu celular.

— E daí?

— É uma boa oportunidade para ver como a Sakura se sai sozinha. — Respondeu girando nos próprios calcanhares e se afastando — Você está em horário de almoço. — Declarou com simplicidade e não foi preciso encará-lo para saber que a fala era acompanhada por um sorriso presunçoso.

— Mas são nove horas da manhã!

Mas Sasuke já havia dobrado um corredor, desaparecendo de vista.

Horrorizado, o Uzumaki marchou com fúria na direção do pequeno espaço em que os poucos médicos que levavam comida podiam ficar. Como imaginou, não havia ninguém no quartinho e ele almoçaria sozinho. Um sentimento de solidão o abraçou ao perceber que naquele dia não seria teria a Haruno lhe contando sobre seus encontros malucos com homens e mulheres, muito menos Hinata para corar às investidas indiscretas da amiga.

Amaldiçoando a família Uchiha, Naruto abriu a geladeira e puxou o almoço, agradecendo mentalmente aos dons culinários de seu pai, pois ele e sua mãe eram incapazes de lidar com aquilo. Um sorriso bobo acompanhou o pensamento quando seus dedos fizeram a descoberta de um papel colado embaixo do recipiente de plástico.

Colocando a marmita no micro-ondas, o residente sentou-se e analisou o cartão, percebendo em seu exterior o desenho de um senhor trajando um pesado manto amarronzado. Acima de sua cabeça letras garrafais formavam a frase:

É PERIGOSO IR SOZINHO!

As órbitas cor-de-mar se arregalaram ao entender a referência e o jovem rapidamente abriu o cartão, encontrando ali outro desenho: um chibi de Link com as bochechas pintadas de vermelho e sorrindo para ele. Os braços estavam erguidos e as mãos carregavam um torto coração vermelho, com outra sentença memorável:

LEVE ISSO, POR FAVOR.