Receptáculo escrita por Meredith Grey


Capítulo 6
Capítulo V | Castiel




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Eu estava em meu apartamento quando ouvi Sarah me chamar. Vi que o sol estava começando a se por. O almoço com Nicholas havia sido bom, mas não satisfatório. Nicholas era insistente, mas eu não estava a fim. Não queria magoá-lo, mas ao mesmo tempo precisava de alguém comigo.

Sarah andava distante, Emily estava ocupada e minha mãe preocupada demais. Às vezes mandava alguns e-mails para Em e nos falávamos pelo bate-papo do Facebook. Rose me ligava todos os dias, entre as oito e nove horas da noite, exatamente. Meu pai também falava comigo, mas, como ele estava cansado - e eu já sabia o porquê - sempre terminávamos com "Vou descansar, está bem? Amo você, Char", "Ok, pai. Eu te amo". Acho que por isso - e apesar de passar menos tempo com ele - eu era mais próxima de meu pai. Thomas me entendia melhor, mesmo sendo protetor, não era assim "coruja", como minha mãe.

Saí do meu apartamento e fui ver o que Sarah queria. Ela estava olhando pela janela.

— Charlie, olhe, federais. Estão entrando no prédio.

— Será que eles vêm perguntar por Julie? - Eu disse e olhei pela janela também. Foi quando vi um carro que me era familiar. Um Impala  67.

— Ah, Char, me ajude! Eu não vou conseguir falar. Fale você.

— Mas o que eu vou dizer? Você a conhecia melhor.

Será que Sam e Dean estavam por aqui? Seria uma coincidência nos encontrarmos. Mas Sam... Eu iria gostar de encontrá-lo novamente.

Ouvimos três batidas na porta. Eu corri para a frente do espelho, arrumei meu cabelo castanho claro ondulado com as mãos, tentando disfarçar o volume. Minhas calças jeans desbotadas e minha camisa verde claro fizeram me arrepender da minha escolha matinal de roupas. Sarah me olhou.

— Qual é o problema? São só uns federais, pare com isso. Vou abrir a porta, me ajude.

Foi quando ela abriu a porta.

— Olá - disseram em coro.

— Oi - disse Sarah.

— Agentes Page e Plant. Somos do FBI. Você é Sarah O'Neil? - Falou Dean.

— Sou sim. Entrem.

Os dois entraram e Sam me notou.

— Charlie? É você? - Disse ele, surpreso.

— É bom te ver também, Sam - Falei, rindo. - Nossa, nem imaginava que vocês fossem do FBI.

— É - Sam respondeu, e Dean e ele se olharam.

— Vocês se conhecem? - Sarah perguntou, confusa.

— Mais ou menos - Respondi.

— Hm. Sentem-se - Disse ela, dando de ombros. - Querem alguma coisa? Chá, água, refrigerante...?

— Não, obrigado - disse Sam.

— Char, vou pegar suco, você quer? - Sarah me ofereceu.

— Pode deixar. - Eu disse. Continuei em direção aos caras. - Vocês não são irmãos?

— Sim, sim... - Gaguejou Sam.

— Temos... Pais diferentes - Disse Dean.

Sarah voltou com um copo de suco e sentou-se no sofá ao lado. Me sentei no braço dele, ao lado dela.

— Viemos perguntar sobre a morte de Julie Howard. Vocês moravam juntas? - Dean perguntou.

— Sim. Ela era minha melhor amiga. Estudávamos juntas na UCLA também. - Respondeu Sarah.

— E ela vinha agindo estranho ultimamente?

— Não... Mas não estou entendendo. Ela morreu de ataque cardíaco, o que o FBI quer investigar em cima disso?

A conversa estava totalmente entre Sarah e Dean. Sam e eu ficamos em silêncio, apenas trocando olhares.

— Estamos... Investigando a ação de uma gang que trafica drogas aqui nesta região. Já houveram mortes de outras jovens.

— Julie não usava drogas! Eu saberia! Eu a impediria!

— Eu não disse isso. Sinto muito se a ofendi, só estamos fazendo nosso trabalho.

Foi nesse momento que intervi.

— Na verdade... Julie estava estranha sim. Sarah, você lembra do que ela falava? - Direcionei-me a Sarah.

— Isso é besteira. Não pode ser verdade - Ela disse, me repreendendo e me olhou com cara de brava.

— Precisa nos contar - Disse Sam. - Por mais estranho que pareça.

— Ah... Ela dizia que um homem a seguia. Um cara de sobretudo, foi a melhor característica que ela conseguiu me descrever - Disse ela.

— Como assim? De sobretudo? Dean – Falou Sam, impressionado.

— Temos que ir, Sam. - Dean disse e então levantou-se.

— É - Sam respondeu, depois falou comigo. - Qualquer coisa, liguem para este número ou me procurem, ok? - Me entregou um papel com um número de telefone e um endereço.

— Claro - Dissemos juntas.

Eles saíram. Sarah e eu nos olhamos.

— Será que eles vão descobrir como foi que a Julie morreu? - Perguntou-me ela.

— Eu espero que sim.

Sarah estava tão concentrada nisso que não percebeu como os dois eram atraentes. E nem no quanto eu me interessei por Sam.

***

Já era noite. Fiquei lembrando de Sam quando deitei. Foi então que tive o pior sonho da minha vida.

Ouvi passos em meu apartamento, que estava totalmente escuro. Corri até a cozinha e me escondi atrás da bancada. Estiquei o pescoço para o lado com a intenção de enxergar o que havia ali, mas apenas pude enxergar uma sombra. Quando me virei, vi um homem em pé, bem na minha frente. Ele vestia um sobretudo, e senti o pior medo que alguém podia sentir. Mas, para minha surpresa, ele não me atacou, ele estava com uma expressão assustada no rosto e me disse "Corra!", mas eu estava sem reação, sentada naquele chão, encostada na bancada. Então vi outro homem. Ele sim, estava com raiva e ferocidade no olhar. Ele esticou a mão e o homem de sobretudo voou e bateu contra a parede, depois caiu. Foi então que ele me viu. Eu arregalei os olhos e abri a boca para gritar, mas ele se abaixou e pôs a mão em minha cabeça. E eu acordei.

—______

— Dean, você acha mesmo que foi o Cas que matou aquelas garotas?

— Cara, a gente foi no necrotério. O legista disse que o coração delas simplesmente parou de bater. Todas eram jovens.

— Podem ter sido demônios, outros anjos ou uma criatura que possa fazer isso.

— Sam, uma criatura que faz o coração parar de bater? - Dean riu sem humor. - E você ouviu o que aquela garota disse, um cara de sobretudo estava seguindo ela.

— Temos que falar com Cas.

— Mas cara, você viu aquela loirinha? Nossa.

— Dean! Estamos investigando um caso! Pare com essas suas idiotices.

— Haha. Você também tá caidinho pela morena. Quem sabe depois desse caso você cria coragem e a chama para sair.

— Cale a boca. Agora vamos logo.

Eles estavam saindo do prédio. Entraram no Impala e seguiram rumo ao hotel. No caminho Dean ligou o rádio para escutar alguma música e reparou numa rádio que tocava rock clássico.

— Escuta só, cara! Vou aumentar o volume.

Sam o ignorou e continuou com seus pensamentos. Quando chegaram ao quarto de hotel, Sam pegou seu laptop e Dean decidiu chamar Castiel.

— Então, está bem. É... Cas, nós precisamos de você, temos um caso em que você seria bem útil...

— Dean - Disse Cas, aparecendo do nada. - Finalmente...

— Cas, você matou essas garotas? - Falou Sam, apontando para as fotos e os recortes pendurados na parede.

— O quê? - Disse o anjo, confuso.

— Você está matando pessoas ou não? Responda, droga! - Dean estava estressado.

— Eu queria ajudá-las - Defendeu-se Cas. - Mas não pude impedir Anael. Ele é mais forte que eu. Mas, porque vocês estão me perguntando isso?

— Estamos nesse caso e deram a sua descrição como assassino. Bom, seu sobretudo é bem fácil de lembrar... - Justificou Dean.

— Outro anjo fez isso? - Perguntou Sam.

— Sim. Ele quer matar a casca de Esther, mas até agora não conseguiu encontrá-la.

— Calma, aí. Casca? Esther? - Dean não conseguia entender.

— Me deixe terminar. Esther é outro anjo. Ela era do time de Rafael. Eu o matei, e matei outros que o seguiam. Mas ainda assim restou uma legião de anjos que estavam ao lado dele. A líder deles é Esther. Ela quer se vingar, porque digamos que eles eram bem "próximos". Anael estava me ajudando, mas ele é muito rebelde e quer fazer as coisas sozinho.

— Então esse tal de Anael está matando as garotas? Por quê? - Sam também não entendia.

— Esther é bem tradicional, ela é de um escalão alto. Ela precisa de uma casca, como qualquer outro anjo. Mas ela quer uma casca pura, de bom sangue. Ela escolheu uma garota. Anael fez um feitiço para descobrir, mas apenas conseguiu um padrão. Como ele não se importa, começou a matar uma por uma.

— Que padrão? - Dean questionou.

— 20 anos, estudantes, vindas de outras cidades. Conseguiu o local delas também.

— Los Angeles - Afirmou Sam.

— E se nós não tivéssemos vindo, ele ia continuar? Por que você não conseguiu pará-lo? - Dean perguntou, ainda estressado.

— Ele jogou um feitiço contra as garotas, que o dava alguns poderes sobre a mente delas. Quando eu descobria quem ele queria matar, já não podia falar através de sonhos e tentava falar pessoalmente. Mas ele as fazia sentir medo e elas fugiam de mim.

— Que droga. Vai ser impossível o impedir de matá-las. - Falava Sam, desanimado.

— Nós vamos dar um jeito. - Disse Dean.

—______

Eu levantei da cama tensa. Mais um sonho daqueles. Sabe, o sonho com Nicholas havia se realizado, detalhe por detalhe. Menos no ponto de que ele morreria, ali eu consegui interferir. Mas e nesse? Eu estava completamente apavorada. Eu queria ligar para Sam, mas o que eu iria dizer? Ele era do FBI, como eu iria explicar meus "sonhos paranormais"? Decidi que iria contar para Sarah.

— Você pirou? - Ela disse rindo, quando saímos do prédio e entramos em minha caminhonete. Liguei o motor.

— Se você não acredita, pelo menos não faça disso uma piada.

— Tá, vamos recapitular. Você sonhou que o Nicholas iria morrer atropelado. Aí você salvou ele. Agora sonhou com o cara do sobretudo e acha que vai morrer? E não quer que eu ache graça? Ah, vamos combinar, quem sabe você tenha tido alguma premonição com Nicholas, mas não significa que qualquer sonho que tenha vai se tornar realidade. Tipo, um cara não vai te matar tocando na sua cabeça - Sarah falou, aumentando gradativamente o tom. Ela não deveria se irritar por eu ter contado aquilo.

— Mas o pior é que no meu sonho quem queria me matar era outro cara, não o de sobretudo. Um cara que eu não consegui identificar, estava escuro demais para ver, acho que ele estava com uma roupa de cor escura.

— Não importa. Só desencana, tá legal? Para de pensar nisso. Se você não se sentir segura mesmo, liga pro cara do FBI.

— Mas o que eu vou falar? Que venho tendo premonições do futuro?

— Inventa uma desculpa, diz que você viu o cara do sobretudo atrás de você. Não vai ser uma total mentira, afinal, você viu ele... No sonho.

— Ok. - Eu disse e parei a caminhonete para irmos à universidade.

A aula foi lenta. Nicholas sentou-se a meu lado, como sempre. Todas as poucas cadeiras a que eu tinha acesso eram junto com Nicholas. Mas hoje, mesmo ele me chamando várias vezes para conversar, dei mais atenção aos outros estudantes naquele auditório.

— Ei - Chamei a garota na fileira da frente.

— Oi? - Ela respondeu, virando-se, e o rapaz ao lado dela virou-se também.

— Desculpe, mas, você descobriu a resposta da questão número cinco?

— Não encontrei também... Rob, você encontrou? - Ela disse.

— Acho que é o segundo parágrafo da página vinte e sete - Respondeu o rapaz ao lado.

— Ah, obrigada - Agradeci. - Sou Charlie.

— Meu nome é Claire e esse nerd aqui do lado é o Robert. - Rimos. Percebi uma risadinha do meu lado.

— Oi, Nicholas - Disse Claire.

— Claire, Rob - Nicholas respondeu sorrindo. Eles sorriram de volta e continuamos com nossos exercícios.

— Por que não perguntou para mim? - Perguntou Nicholas, aparentemente ciumento.

— Porque talvez eu queira fazer novos amigos - Respondi, um pouco fria.

— Ok, desculpe, é que eu também sabia a resposta... A propósito, se você colocar a última frase do parágrafo anterior a resposta fica mais completa.

— Aham - Eu disse, levando em consideração o pedido de desculpas.

— Charlie - Chamou-me ele.

— Sim?

— Você veio de onde mesmo?

— De Fort Jones, aqui na Califórnia mesmo. Por quê?

— Por curiosidade. - Ele me deu um sorriso amarelo.

Depois daquela manhã fui trabalhar como em todos as tardes. Após o trabalho decidi passar no endereço que Sam - ou o agente Plant - havia me entregue.

—______

— Acho que deveríamos pintar alguns símbolos, só por proteção - disse Sam.

— Mas e como o Cas vai poder entrar aqui? - Falou Dean.

— Hm, tá aí um problema. - Sam falou e os dois ouviram alguém bater na porta.

—______

Por fim encontrei o quarto de hotel em que eles haviam se hospedado. O Impala estava no estacionamento, então eu tinha certeza de que eles estavam ali. Ouvi algumas vozes e decidi manifestar minha presença.

— Charlie? O que está fazendo aqui? - Perguntou-me Dean ao atender à porta.

— Preciso falar com vocês - Eu disse. Quando entrei, vi Sam com a mão sangrando. - O que aconteceu com a sua mão? Ah, me deixe ajudar.

— Está tudo bem - Disse-me Sam. Foi só um acidente. Mas, diga, o que houve?

— Eu... Eu vi o cara de sobretudo. Desculpem não ter ido até a delegacia, mas sei lá, o FBI parece ser mais útil nesse caso. E eu realmente não sei o que fazer...

— Você fez a coisa certa - Disse Sam, quando do nada o homem de sobretudo surgiu naquele quarto.

— Ah, meu Deus! - Gritei.

— Sam, Dean, essa é a hora - Disse o homem.

— Vocês o conhecem?! Como você entrou?! - Eu dizia, quase gritando.

— Charlie, acalme-se. O nome dele é Castiel e ele não vai te machucar. - Respondeu-me Dean.

— Ele está ajudando vocês nesse caso? Mas, espere aí, o FBI permite isso?

— Ele está nos ajudando, sim. Mas... - Sam disse e olhou para Dean.

— Somos uma equipe à parte. - Completou Dean.

— Espere - Disse Castiel. - Você é a garota. A que Anael quer matar desta vez.

— O quê? - Retrucou Sam, assustado.

Mas eu continuava com a mesma expressão, confusa, mas nem tão apavorada, não para quem havia descoberto que iria morrer.

— Charlie, nós não vamos deixar nada acontecer com você - Disse Dean.

— Não entendo, vocês não disseram que elas teriam medo de mim? - Disse Castiel, confuso.

— É Charlie, você não está com medo? - Perguntou-me Sam.

— Eu... Vocês ainda não responderam minha pergunta - Desviei. - Como ele entrou aqui? Como vocês são... Sei lá, amigos ou parceiros de um suspeito de assassinato?

— Eles não são do FBI - Disse Castiel. - E eu sou um anjo do senhor. Tenho alguns poderes.

— O quê?! - Eu não acreditava no que ele estava dizendo. - Você bebeu? Tá chapado? Anjo, essa é boa.

— Cas! - Disse Dean.

— Acho que ele tomou alguma coisa sim... - Falou Sam, rindo sem humor.

— Calem a boca, os dois - Disse Castiel. - É sério, garota, se você não confiar em mim, você vai morrer.

— Tudo bem - Respondi.

— Tudo bem? Você vai acreditar nele? Fácil assim? - Perguntou Sam.

— Estamos acostumados com gritos, xingamentos, essas coisas. - Brincou Dean.

— É que foi por isso que eu vim - Falei. - Eu já sabia disso. Mas não quero morrer! Me ajudem!

— Como assim? - Perguntou-me Sam.

— Eu venho tendo sonhos - Respondi. - Sonhei que meu... amigo havia sido atropelado e ele quase foi, então eu o salvei. Depois sonhei com ele - Apontei para Castiel. - E que ele me dizia para correr. E ele disse para um cara, que eu não pude ver quem era, que não me matasse. Depois ele colocou a mão em minha cabeça.

— É ela - Disse Castiel. - Ela é a escolhida de Esther. Só ela poderia ter visões, como você Sam.


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