Receptáculo escrita por Meredith Grey


Capítulo 7
Capítulo VI | Supernatural




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Escolhida? Talvez eu não quisesse. Eu era Charlie Michaels, vinte anos, estudante de História da Arte, nascida em Fort Jones, atualmente em Los Angeles, tentando seguir a vida. Por mais que eu não acreditasse, eram esses fatos que me faziam especial, a ponto de ter um assassino atrás de mim. Algum antepassado meu tinha no sangue um gene que chegaria até mim, para me tornar pura, única, uma casca. A casca de Esther, o anjo-líder da revolução.

Sam, Dean e Castiel - tinha que me acostumar a chamá-lo de Cas - haviam me contado tudo o que eu precisava saber. Que eu corria perigo. Que eu era o receptáculo de um anjo furioso. Que eles não eram do FBI, mas eram caçadores. Eles saíam pelo país, atrás de criaturas sobrenaturais. Demônios, espíritos, monstros... Todos eles eram reais. Todos os pesadelos de que eu tinha medo, desde criança. Ah, e os anjos, que não eram apenas criaturas inofensivas e protetoras às quais eu sempre me submeti. Alguns deles eram maus. Mas não me importava, não iria perder minha . Aliás, Castiel - Cas - era um deles, um anjo. Ele era a prova de que a maioria deles é faz o bem. Ou não.

Minhas costelas ainda estavam doendo por causa de Castiel.  Ele disse que agora os anjos não saberiam onde eu estou, ou algo parecido. Não entendi por quê, já que ele apenas tocou em meu tórax e de repente senti como se tivesse riscado meus ossos.

Eu fui para meu apartamento, com Sam e Dean me vigiando. Eles eram uma boa companhia, mas era estranho ficar com dois caras na minha cola. Sarah nos viu chegando e me chamou.

— Psiu! Pssss, psiu! - Cochichou ela, à porta de seu apartamento, estranhando o fato de dois rapazes estarem entrando comigo em minha casa.

— O quê? - Perguntei.

— Venha aqui!

— Rapazes, esperem um minuto, vou ali falar com a Sarah - Eu disse, direcionando-me a Sam e Dean.

— Ok - Disse Sam.

— Não demore - Falou Dean. Acho que terei problemas com ele. Superproteção, reconhecem?

Caminhei até a porta do apartamento de Sarah e ela me puxou para dentro, sem fechar a porta.

— O que está acontecendo? - Disse ela, continuando a cochichar.

— Eles estão me protegendo - Respondi.

— Mas de quê?

— Do cara de sobretudo.

— Eles acreditaram naquela história? Tipo, você contou o sonho, ou o quê?

— Eles só sabem o que precisam saber - Pisquei o olho. - Acharam melhor ficar comigo.

— Ah, ok. - Ela piscou de volta e sorriu.

Fui de volta em direção aos caras e nós entramos no apartamento. Larguei minha bolsa no sofá e olhei para eles, que estavam com uma uma expressão desconfortável.

— Sintam-se em casa, tem cerveja na geladeira, o controle da TV está em cima da mesinha. Vou fazer o jantar, então... - Gesticulei para a sala e para a cozinha, respectivamente.

— Ok - Disse Sam, sorrindo. Notei suas covinhas e olhei para meus pés para disfarçar a atração que ele representava para mim.  Meus allstars estavam sujos. Típico.

— Quem sabe eu possa dar uma volta - Disse Dean.

— Ah, assim você me ofende. Quer realmente trocar minha comida por fast-food? Talvez eu faça... torta - Fiz uma clara falsa carinha triste.

— Sério? Escuta só, Sam, torta caseira! Mas espere aí, como você sabe...?

— No dia que nos encontramos no hotel em Sacramento, ouvi você brigando com o Sam porque ele não tinha trazido torta pra você - disse e em seguida ri.

— Normal - comentou Sam. Rimos juntos.

— Tá legal, tá legal. Não é segredo pra ninguém que eu gosto de torta. - Rebateu Dean, virando a cara. Ainda estávamos rindo.

Fui para a cozinha e olhei o relógio. Eram sete e alguma coisa. Fui tirando as coisas do armário e da geladeira, mas não conseguia me concentrar. Fiquei pensando no que havia descoberto aquela tarde. Como assim Sam e Dean eram caçadores de criaturas? Se eu pudesse, ficaria o mais longe possível delas. Mas eles não, ao contrário, iam atrás delas, essa era a vida deles.

Ouvi um pigarro.

— Hm, oi - apresentou-se Sam. Me assustei.

— Olá - respondi.

— Dean pediu cerveja.

— É só pegar.

— Já volto. - disse ele depois de pegar as garrafas.

Coloquei carne para descongelar e peguei batatas para descascar.

— Voltei - Sorriu Sam para mim. Sorri de volta. Sentei em frente à mesa para descascar as batatas.

— Batatas fritas ou salada de batatas? - perguntei.

— Salada. Quer ajuda?

— Não, não, imagine. Pode deixar. - recusei a ajuda e ele se sentou ao meu lado.

— Posso?

— Claro. - Sorri envergonhada. Ter Sam ao meu lado certamente iria me distrair. - Hm, onde está Cas?

— Atrás do tal de Anael, que está tentando te achar. Mas não se preocupe, você está invisível para os anjos, como também Dean e eu.

— Ah, sim. Mas, o que faz isso?

— Cas escreveu coisas em suas costelas. Tipo um feitiço, em língua de anjo.

— Nossa - Suspirei e dei um pequeno riso.

— Que foi?

— É que em um dia, eu nem me preocupava com essas coisas, na verdade eu nem sabia que essas coisas eram reais. E no outro dia, estou com feitiço de anjo gravado nos meus ossos. É meio irônico, não?

— Haha. É sim... Mas eu já me acostumei. Sei disso desde criança.

— Como assim? - Fiquei chocada. - Quem em sã consciência iria tirar a inocência de uma criança?

— É que minha mãe morreu quando eu era bebê. Um demônio a matou. Meu pai saiu atrás dele a vida toda e morreu para salvar Dean.

— Ah, me desculpe. Sério... Eu não sabia - Justifiquei-me. - Mas como assim, salvar o Dean?

— Não foi nada. Nós tivemos um acidente de carro e o demônio podia ajudar o Dean, que estava em coma, então meu pai deu sua vida pela dele. É uma longa história.

— Ah, tudo bem. Não quero me intrometer.

— Não se intrometeu. - Sorriu ele, doce.

Terminei de descascar as batatas e as lavei, depois coloquei para cozinhar na água que já estava aquecendo. Comecei a cozinhar arroz e a cortar a carne descongelada.

— Vou fazer carne de panela - avisei.

— Acho que faz tempo que não jantamos... Quero dizer, comida caseira e tal.

— Não que eu cozinhe maravilhosamente, também. Na verdade a preguiça me impede de fazer várias coisas. - Ri. - Mas talvez isso até saia comestível - Rimos.

— Tenho certeza que Dean vai gostar. E eu também.

Sorri. Sam era muito gentil.

***

— Hmmmm, isso aqui tá... Hmm, incrível - dizia Dean enquanto devorava a comida do prato.

— Está realmente delicioso - Concordou Sam.

— Obrigada. Que fome, hein, Dean! - agradeci.

— Hmmmm, eu... Hmmm - Ele tentava responder, mas nem dava tempo para isso.

— Entendi - Sam e eu rimos.

— Terminei, terminei - afirmou Dean, que era o único que faltava terminar de jantar.

— Ok. Vou arrumar aqui. - Comecei a recolher a louça.

— E a torta? - Dean fez biquinho triste.

— Calminha aí, já vou trazer.

Caminhei até a cozinha para pegar a torta que estava na geladeira.

— Tã-naaaam! - Me apresentei com a refratária nas mãos. - Torta de maçã!

— Minha predileta! - Afirmou Dean.

Por algum motivo Sam apenas observava, sem se manifestar.

— Deliciem-se. Vou me deitar. Hm, o sofá está disponível e acho que tem um colchão sobrando...

— Não se preocupe, daremos um jeito - disse Sam para me acalmar.

Fui ao banheiro escovar os dentes e quando voltei Sam estava sentado em minha cama.

— Cadê aquele seu livro que estava lendo aquele dia? - perguntou, os olhos sondando o quarto.

— Bem aqui - disse eu, pegando o livro de dentro da gaveta do armário.

— Esse livro é o máximo. É o resumo mais completo que já li - disse, logo depois soltou uma gargalhada.

— Como você sabe sobre isso? Digo, artes e essas coisas?

— Ah, fiz alguns cursos. Eu ia me formar na faculdade, sabe?

— Sério? Nossa, e em quê?

— Direito.

— Haha, você bem que tem cara de advogado. Mas, por que ia?

— Tivemos alguns problemas na família. Tive que ajudar.

— Eu me intrometendo de novo. Desculpe, não quis...

— Tudo bem. Sua vez. Está se formando em quê?

— História da arte. É uma das coisas que amo.

— Com que propósito?

— Lecionar.

— Uau. - Arregalou os olhos.

— O quê?

— Você não tem nem de longe cara de professora.

— Mas esta sou eu, Charlie Michaels.

— Prazer, Sam Winchester.

De repente vieram lembranças à minha mente. Livros que eu lia, histórias que me proporcionavam algum lazer, e então eu soube porque tive a impressão de conhecê-lo.

— Espere aí. Sam e Dean Winchester? Caçadores? Só pode ser coincidência. Vocês escreveram uma autobiografia?

— Está falando dos livros Supernatural?

— É, olhe. - Abri meu armário e mostrei-lhe uma porção de livros.

— Não acredito. Você é uma fã? Haha, isso é hilário.

— O que é hilário? Estou confusa, droga!

— Esses livros foram escritos por um profeta chamado Chuck Shurley. Acho que você o conhece por...

— Carver Edlund. Profeta? Tipo aqueles da Bíblia?

— Exatamente. Então quer dizer que tudo o que está escrito nos livros...

— É real. - Eu disse, quase sussurrando, e senti meu coração acelerar. Como não havia percebido antes? Os Winchester!

Ficamos por alguns momentos em silêncio.

— Mas nem tudo pelo que passamos está escrito nos livros. É claro que Chuck escreveu, mas ele não publicou. Não é uma "saga" muito famosa, por isso não lhe dá muito lucro.

— Mas, mesmo assim, eu sei de muita coisa. Onde ele parou?

— Acho que há uns três anos atrás.

— O último livro se chama "No Rest For The Wicked". Foi quando Dean morreu? De verdade?

— Sim.

— E como voltou? Li que ele foi pro inferno. Isso me assusta tanto.

— Cas o salvou.

— Ah, é claro.

Ficamos mais um momento em silêncio.

— Mas não sei praticamente nada sobre você. Por que não me conta? - perguntou-me ele.

— O que quer saber?

— Qualquer coisa.

Levantei-me e fui olhar para a sala. Dean estava cochilando no sofá. Fechei a porta do quarto.

— Ok. - eu disse. - Venho de uma cidade chamada Fort Jones, na Califórnia mesmo. Meus pais se chamam Thomas e Rosalie. Estudei na...

— Não, não é isso. Quero saber seus detalhes mais profundos, como suas músicas favoritas ou o que mais gosta de fazer...

— Minha música favorita é Babe I’m Gonna Leave You e adoro ler, mas acho que isso você já percebeu. Bom, o resto você tem que descobrir sozinho.

— Quero descobrir uma coisa agora.

— O quê?

Ele se inclinou para a frente e beijou meus lábios suavemente. Olhou em meus olhos e viu que cooperei, então pôs a mão em minha nuca e me puxou para perto dele, me beijando mais forte. Minha respiração se tornou audível e foi então que ele me soltou.

— Se seus lábios são macios. - sussurrou.

Eu ri.

— E eles são?

— Ainda preciso sentir melhor. - Ele sorriu com malícia e me deitou na cama. Me beijou de novo, intensamente, e suas mãos passaram de minhas pernas até minha barriga. Colocou-as por baixo de minha blusa, e eu soube o que estava acontecendo.

— Sam... Desculpe, mas... - Lhe disse, me afastando.

— Que foi?

— Eu nunca... Você sabe. Só quero esperar mais um pouco.

— Sim, eu entendo. - Disse ele desanimado, levantando-se.

— Não é que eu não goste de você, ou não queira, mas não acho que eu esteja pronta.

— Tudo bem, Charlie.

— Vamos dormir? Há bastante espaço em minha cama. - Dei dois tapinhas no cobertor.

— Ok.

— Vou colocar o pijama.

Fui até o banheiro com as peças de roupa nos braços e ainda ofegando. Que momento, hein? Por mais que há alguns minutos estivéssemos quase a ponto de manter a relação mais íntima entre um homem e uma mulher, senti vergonha de me trocar na frente dele. "Que garota idiota eu sou", pensei.

Quando voltei, ele já estava deitado. Mesmo estragando nosso momento, aquela tinha sido a melhor noite de minha vida. Cara, Sam Winchester, a fim de mim! Deitei-me ao seu lado e ele se virou, entrelaçando seus braços em volta de mim e me cobrindo com o cobertor.

***

 

— Charlie - murmurou Sam, me acordando.

— Hã...? - gemi.

— Há alguém aqui dentro - Sussurrou.

— Sam... - murmurei também.

— Shhhhh - interrompeu-me. - Acho que é Anael. Ele achou você! - continuava ele aos sussurros.

— Imagine, e na minha própria casa! - disse eu, irônica.

— Engraçadinha, até parece que não sabe que o anjo que quer te matar está muito perto!

— E vocês bobões não fizeram nada, não é?

— Claro que fizemos! Dean está com a Espada dos Anjos. Só precisamos saber se ele está acordado.

Levantei da cama, mas não estava com medo. Abri a porta com cuidado e Dean estava abaixado atrás do sofá. Vi também Cas, que faz sinal para que eu fizesse silêncio. Saí do quarto pé ante pé, e foi quando Dean me puxou. Estava escuro.

— Nós mudamos seu sonho - cochichou ele em meu ouvido. - Ou melhor, o futuro. Você não vai morrer esta noite, eu prometo. Ele está vindo, se esconda!

Não pude deixar a curiosidade de lado. Quando direcionei meu olhar para a porta, tive uma surpresa.

— Nicholas?! O que você está fazendo aqui?

— Oi, querida. - disse Nicholas, estendendo a mão.

Fui jogada contra a parede de um modo tão bruto, que senti minha coluna estalar. Ele me pressionou pelo pescoço.

— Solte-a! - gritou Sam.

— Um passo e quebro o pescoço dela. - Impôs Nicholas. Sam ficou onde estava.

— Você não precisa fazer isso Anael - Falou Cas, calmo. - Não é com ela que temos que nos preocupar, é com Esther.

— Ela é a casca da desgraçada. - disse Nicholas, ou Anael - entre dentes.

— Mas ela pode achar outra casca, cretino - falou Dean.

— Não importa. É uma a menos para mim.

Sam tirou a espada da mão de Dean.

— Largue ela, idiota!

— Vá em frente. Só vai adiantar algo que estou querendo fazer há tempos.

Eu tremi.

— Ah, docinho, não se preocupe. Eu sei, você não tem culpa, mas não posso deixar escapar. Você vai dizer sim, de um jeito ou de outro. Foi difícil com o seu amiguinho aqui, mas ele também cedeu, como todos.

— Nicholas... Esse tempo todo...? Ah - Tentei balbuciar, mas estava com o pescoço na mão de um anjo.

— O tempo todo não. Uns dois dias depois do seu episódio com o ônibus. Eu sabia que era você, quando vi na mente dele o que aconteceu. Ele não teria dito sim se eu não prometesse que iria proteger você... Pobre apaixonado. Espero que esteja acordado aí dentro, imbecil, pois a sua namoradinha vai morrer por suas mãos.

Anael puxou-me contra seu corpo e colocou a mão em minha cabeça.

— Anael, não! - gritou Cas, depois pulou em cima de nós.

Anael se viu vulnerável e nos fez sumir dali. Quando percebi, não estava mais em meu apartamento. Estava em uma sala escura e que cheirava a mofo. Havia pessoas à minha volta e chegavam mais perto, e então quando pude ver seus olhos, estavam completamente negros. Os braços de Nicholas me apertavam. Tentei gritar, mas minha voz não saiu. Foi então que o desespero tomou conta de meus sentidos.


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