A Garota dos Meus Sonhos escrita por Foster


Capítulo 4
04. Um desenvolvimento e uma complicação


Notas iniciais do capítulo

Olaaaa, como vão?
ESSE É O CAPÍTULO DAS REVELAÇÕES HEIN PESSOAL UHIDFH É o penúltimo, infelizmente, já estou com saudades da fanfic. Mas acalmem o coração que também vai ter epílogo. Tem trocentos acontecimentos esse capítulo, então peguem uma água.
Nos vemos nas notas finais!

EDIT: Playlist da fanfic: https://open.spotify.com/playlist/5WApc53CnzwWmZ5l3u2u3H



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04. Um desenvolvimento e uma complicação

...

— Você não acha incrível que a gente tenha se encontrado? - cada palavra que saía da boca de Ruby me fazia sentir coisas estranhas. - Tipo, eu estava super entediada até encontrar você. E você não estava muito melhor. - sua risada, com o pequeno ronco no final, preencheu meus ouvidos e eu ri. - Aliás, você não está muito melhor que antes. 

Eu realmente não estava. Estava pior. Pois estava percebendo que ela era bonita e adorável demais, apesar de totalmente pirada. Ruby não calava a boca, era aleatória, falava alto, discordava de mim em muitos pontos e dificilmente respondia à todas as minhas perguntas. Sempre parecia ocupada demais pensando em um outro assunto do que realmente se preocupando com o que estava ao seu redor. 

E tinha algo em particular que eu gostava.

Ruby parecia me entender. 

Mas eu não a entendia. E aquilo estava me consumindo. 

 

...

 

— Você está bem? - Albus me perguntou, me encarando de verdade pela primeira vez desde o aniversário de Mia. - Sério, você não anda vendo filmes demais, não? - ele começou a olhar minha lista atualizada de romances. 

Não conseguia mais aguentar comédias românticas adolescentes, então parti para os filmes independentes, que geralmente terminavam de um jeito nada convencional, mas muito mais realista, apesar de quase sempre não possuir cenas lá muito críveis no processo. No entanto, me diverti bastante com Celeste e Jesse Para Sempre e até anotei de assistir mais alguma coisa com o Andy Samberg. Comédia em si não era algo que eu era muito fã, mas já que eu havia dado uma chance para o romance, por que não para a comédia?

— Não estou assistindo a quinze horas de filmes de novo, é óbvio. Mas tento assistir pelo menos uns dois filmes por dia. - tentei manter o tom casual, ignorando o fato de que Al  estava há dias sem falar direito comigo, esperando para ver qual seria a reação dele e se ele falaria alguma coisa sobre as brigas com Nina e seu mau humor terrível.

— Nossa, risca esse aqui da sua lista, pelo amor de Júlia Roberts e Sandra Bullock, rainhas dos filmes clássicos de comédia romântica. - ele fez uma careta, sendo exagerado como sempre, pois claramente não sabia o conceito de "clássicos", enquanto pegava uma caneta e me mostrava qual iria retirar. 6 anos

— É tão ruim assim? 

— É um desserviço pra sua pesquisa, isso sim. Tudo parece excelente entre o casal, mas eles estão juntos há seis anos - ele revirou os olhos pela obviedade do título e eu concordei - até o cara começar a ser meio babaca e… Não termina de um jeito legal. Se você está tentando escrever sobre romance não vai querer se inspirar em filmes de término. 

— Nossa Albus, não sabia que esse era o filme da sua vida. - comentei sem nem pensar duas vezes, fazendo referência à sua piadinha infame de que Ruby Sparks era o filme de minha vida. Se na época eu sequer imaginasse que ele seria mais verídico do que eu imaginava, talvez tivesse reconsiderado em assisti-lo. Ao menos a Ruby de Calvin era real e não habitava somente seus sonhos, apesar de toda a confusão que se desenrolou. 

Al me olhou descrente e eu ri pelo nariz, arrancando a lista da mão dele.

— Primeiro que sempre dá para aprender alguma coisa de qualquer lugar. Para eu entender como o amor começa também é bom saber como ele costuma terminar, certo? 

— Tá, que seja, mas desde quando você faz as piadinhas aqui? - ele apontava a caneta para mim, com um pouco de raiva. Quando fez menção de levava à boca eu a peguei. Qual é, tudo tinha um limite. 

— Não é piada é a verdade. Você e Nina estão juntos há alguns meses e parece tudo perfeito. — imitei seu tom de voz e Al me fuzilou. Se ele não estava rindo ou fazendo piada da situação e da minha imitação horrível, é porque estava realmente incomodado. E eu queria que ficasse mesmo, sinceramente. - Aí, do nada, você começa a ser babaca com ela e… Bem, como isso vai terminar? De um jeito nada legal, também? 

Ele apenas se jogou ao meu lado, irritado e eu suspirei, desligando a TV. O final de Celeste e Jesse poderia esperar o desabafo - finalmente! - do meu amigo. 

— Wood anda me procurando. - ok, isso explicava os dois conversando na foto que encontrei no perfil do meu, argh, fã clube. - Você sabe que… As coisas não terminaram bem.

Não terminar bem é um eufemismo barato até mesmo para Albus Potter. As coisas terminaram péssimas. Eu havia pegado os dois juntos no ano passado e, bem, eles meio que estavam tendo uma coisa, escondidos de todos os outros caras do time de futebol e de todo mundo em geral. 

A questão é que Albus meio que já tinha consciência de que era bissexual, ao passo que Wood tratava aquilo como se fosse - como ele mesmo disse - uma coisa de "brotheragem". As coisas acabaram bem feias quando o Al casualmente se assumiu em uma roda e Wood foi o primeiro a debochar dele de uma maneira extremamente preconceituosa. 

— Isso foi no aniversário da Mia?

— Como você sabe? - questionou um pouco preocupado. - Você viu alguma coisa? Será que a Nina viu?

— Você não contou para ela?

— Parece que eu contei?

— Quer parar de ficar fazendo perguntas em cima das minhas e me contar a história? 

Então Albus falou que Wood estava extremamente bêbado e balbuciando que talvez fosse bi também. Ou gay. Ele estava confuso. Coitadinho. Na hora de iludir meu melhor amigo ele não parecia nada confuso, muito menos na hora de ofendê-lo. Eu detestava o Wood. Ainda mais agora que havia decidido que era um bom momento para revelar isso porque estava com ciúmes de Al e Nina juntos.

— Isso é absurdo. - falei atônito. Wood era totalmente sem noção. - Por que só agora? Você saía com muitas, do nada ele resolveu que sente ciúmes?

— É porque ele diz que percebe como eu olho pra ela. 

— Ué, você gosta dela, é óbvio que vai olhá-la de um jeito diferente. - comentei como se fosse óbvio, mas Al apenas suspirou.

— Ele disse que ela é a primeira pessoa que eu olho do jeito que eu olhava para ele. — uou, o David é mais petulante do que eu achei que fosse. 

Eu queria ter dito isso, que David Wood era um babaca e Al deveria chutá-lo literalmente. Mas dava para ver que Albus ainda estava incomodado. Parecia reflexivo demais. Foi quando eu me dei conta.

— Você falou que o cara do filme foi um babaca…

— Scorpius, não leve ao pé da letra. Se quiser assistir o filme, assiste. Mas saiba que não tem nenhuma relação com a minha vida e a da Nina. Os protagonistas são super tóxicos um com o outro e eles tinham uma relação de verdade quando toda a merda aconteceu.

Uma relação de verdade. Quando toda a merda aconteceu.

— Albus, o que aconteceu?  

Eu achei que ele realmente não tivesse escutado, pois estava demorando demais para me responder. Quando considerei repetir, já impaciente, ele soltou:

— Ele me beijou. 

Ótimo. Era exatamente isso que eu precisava naquele momento caótico da minha vida: um drama entre dois dos meus melhores amigos. 

— E você está evitando ela… Albus você é idiota? - meu amigo virou o rosto imediatamente, me olhando com o cenho franzido. - A merda já aconteceu, não aconteceu? E agora você vai deixar isso virar uma bola de neve? Você precisa contar para ela. E ver como ela se sente em relação à isso. 

— Ela vai querer acabar tudo. É melhor eu acabar logo de uma vez.

— Albus, quem tem que decidir isso é ela. Não tem como você tomar essa decisão pela Nina. Você mesmo disse que não estavam namorando, não é? Às vezes ela leva numa boa. Ou às vezes ela queira matar você por ter ficado tanto tempo escondendo isso dela, o que pode ser pior que a própria traição em si. 

Albus soltou um muxoxo, afundando-se no sofá. Ele sabia que era verdade. Nina detestava ser a última a saber e odiava que mentissem para ela. 

— Tecnicamente não é traição. E não foi um beijo totalmente correspondido. Eu empurrei ele.

— Isso não sou que tenho dizer. - levantei as mãos em rendição. - Mas ela percebe que alguém insistente anda te ligando. Enrolar demais vai ser pior e você sabe. 

— Mas como eu começo? - ele estava exasperado. Levou à mão aos cabelos e parecia que ia arrancá-los. - A gente não namorava ainda, mas também não éramos nada. E Wood não quer que eu fale sobre aquilo enquanto ele não souber o que quer da vida.

— Ah, Albus, pelo amor de Deus. - me levantei irritado. Não era possível que meu amigo fosse tão idiota. - Você acabou de me contar, não acabou? E eu nem estou em uma relação com você, céus!

— Porque não quer. - a tentativa de piadinha dele fez eu arremessar uma almofada nele. - Eu estou brincando… Mas nós meio que temos uma relação, Scorpius. Você precisa admitir. Parecemos um casal de velhos que só implicam um com o outro. 

— Deus me livre de me relacionar com você, Albus. Eu gastaria meu réu primário facilmente. 

— Scorpius você anda muito exagerado. Moramos juntos faz três anos e suas ameaças nunca se cumpriram. - o idiota abriu um sorriso enquanto colocava as mãos atrás da cabeça. 

— É claro que não. Se eu corro o risco de ir para a cadeia por sua causa precisa ser um plano perfeito. Por que você acha que eu leio e escrevo livros de mistério e policiais? - ver o sorriso dele se desmanchando com uma leve preocupação me fez comemorar internamente. Mas eu sabia exatamente o que ele estava fazendo. O desgraçado queria fugir do assunto. - Antes que você arranje outra desculpinha, converse com ela. Ainda mais agora que eu estou sabendo. 

Albus revirou os olhos, se levantando.

— Eu odeio que você odeie guardar segredos. 

— Você que é pior que os vizinhos fofoqueiros dos meus pais, Al. Eu só sou uma pessoa sensata que não gosta de fofocas.

— Eu só sou uma pessoa sensata que não gosta de fofocas. - me imitou em um tom fino irritante. O encarei firmemente e ele apenas bufou. - Vou contar para ela.

 

 

Naquela noite não sonhei com Ruby e, por um segundo, eu pensei que talvez o ritual de Nina finalmente tivesse dado certo e se tratava mesmo de um espírito. Mas eu sentia que não era isso, então resolvi fazer algo que até então estava relutante, pois não acreditava minimamente nessas coisas: pesquisar significados de sonhos. No Google.

O problema era que a coisa em si era vaga demais. Segundo um site, sonhar com pessoas era sinal de que eu precisava dar uma atenção especial aos meus amigos e familiares. Mas sinceramente, mais do que eu estava dando? Nunca estive tão envolvido na vida deles como antes e isso era tudo culpa justamente da proposta maluca do professor Davies e por conta dos sonhos.

Pesquisar o significado de “sonhar com pessoa desconhecida” também não ajudou muito, pois dificilmente realmente era um indicativo da minha “hesitação, insegurança ou instabilidade na vida desperta”. Eu era inseguro por natureza, não precisava sonhar com ninguém para descobrir isso. Sinceramente, esses sites eram uma bela de uma porcaria. 

“Sonhar com ruivas” - além de ter me rendido alguns links indesejáveis para sites inadequados - só me deixou mais confuso, pois cada site dizia uma coisa totalmente aleatória. Ou eu estava me envolvendo ou iria me envolver com alguém atraente, quente e intensa o suficiente para me queimar ou que mudanças iriam ocorrer na minha vida, como uma viagem inesperada ou uma mudança de trabalho. 

Perfeitamente sem sentido. Mas algo me chamou a atenção na definição de me envolver com alguém atraente - pois Ruby era atraente - e intensa que poderia “me queimar”. Eu estava envolvido e Ruby era a definição de atração. Foi o que me fez começar a digitar “sonhar com estar apaixonado”, que me rendeu:

“Sentir-se amado em sonho é indício de que acontecerá a realização de seus mais profundos desejos, felicidade, e, se foi amado por alguém que você deseja, é um conselho para que confie mais no seu poder, dessa forma, no seu caminho surgirá um amor verdadeiro”. 

Eu não desgostava daquela afirmação. E isso me incomodava, pois eu tinha sensações enquanto estava sonhando e quando acordava. O problema é que elas não eram reais, pois eram oriundas de situações criadas na minha cabeça.

Achei melhor ler alguns artigos, já que os sites pareciam terem escritos por estagiários, sem senso nenhum, saídos da categoria de signos de uma revista de comportamento, e algo em particular me chamou a atenção. Aparentemente não era comum as pessoas se lembrarem tão vividamente dos sonhos, muito menos ele por inteiro. 

“O circuito neuronal usado para produzir o sonho é diferente do utilizado para a memorização do aprendizado diário. É como se escolhêssemos um caminho diferente todos os dias para chegar ao destino. Três ou quatro semanas depois, se quiséssemos lembrar o percurso adotado numa determinada ocasião, jamais conseguiríamos. Parece mesmo que o sonho foi feito para ser esquecido. Não se sabe bem o porquê, mas é como se ele existisse para fazer uma limpeza neuronal, retirando as informações em excesso ou inúteis. Só permanecem aquelas que representam um evento traumático, de caráter repetitivo e que acaba transformando-se num transtorno do sonho.”

Então por que todos os meus sonhos sempre levavam à Ruby e eram sempre tão vívidos? Eles eram realmente sonhos… Ou outra coisa?

 

 

Eu precisava considerar que estava realmente enlouquecendo. Mas antes eu precisava tirar tudo à limpo. Fui até o bar do aniversário de Dominique, o Três Vassouras, já que Teddy não havia recebido nenhuma mensagem ainda, e encontrei o bartender da foto. 

— Desculpe. - falei um pouco baixo, mas ele não me deu atenção alguma. - Com licença. - aumentei o tom de voz e ele pareceu me notar, acenando com a cabeça. - Pode parecer estranho, mas você por acaso se lembra de mim? 

O bartender pareceu um pouco divertido e parou de limpar o balcão, jogando o pano que usava por cima do ombro. Não uma atitude muito higiênica. 

— Bom, vai depender. Eu prometi ligar no dia seguinte? 

O quê? 

— N-não é nada disso. - ajeitei meu óculos, ficando totalmente sem graça. Não estava acostumado a receber cantadas. Ele riu com gosto da minha cara. 

— Eu estou só brincando. Lembro de você sim, é óbvio. Você ficou horas desmaiado no balcão, até o Potter resolver te levar embora. 

Então era verdade. Eu realmente havia ficado ali o tempo todo. 

— Eu fiquei a noite inteira no balcão? 

— Isso eu já não sei. - vi em seu uniforme que ele se chamava Ed T.F. - Quando eu troquei de turno com o Teddy você estava aqui, mas isso já era quase onze da noite. 

— E o Teddy volta das férias quando? - perguntei olhando ao redor e tentando me lembrar de qualquer coisa que não fosse o balcão. Ou o suposto banheiro. - Estou tentando entrar em contato com ele faz dias.

— O Teddy é assim mesmo. - Ed soltou uma risada, voltando a limpar o balcão. - Se puder segurar mais alguns dias, acho que ele volta na semana que vem. Quando ele some, nem a Victoire Weasley acha.

Até semana que vem eu estaria em um hospício, com certeza. 

— Onde fica o banheiro, Ed… - tentei decifrar o que seria T-F, mas não consegui.

— Thomas-Finnigan. É por ali. - ele sorriu, indicando um corredor afastado com a cabeça. 

Era exatamente como eu me lembrava. Sim, como eu me lembrava, pois eu sabia que eu não poderia ter sonhado com aquele banheiro de forma tão detalhada. Me aproximei de onde eu supostamente havia caído e batido a cabeça, mas não havia indício algum de que coisa do tipo tivesse acontecido ali. Mas também, por que deveria? Sinal de que eles mantinham o local bem higienizado, o que era excelente.

Foi quando me ocorreu que eu passei a ver Ruby depois da batida. Seria possível que isso tivesse desencadeado? Mas então, como eu fui parar do banheiro até o balcão? Alguém deve ter me socorrido. Provavelmente Teddy. Era o mais óbvio. E se o banheiro estava ali, será que o terraço também estava? 

— Ah, por curiosidade. - Ed me chamou logo que eu saí do banheiro. - Você ligou? 

Do que ele estava falando?

— Liguei para quem? 

— Bom, eu não sei. - Ed riu, cruzando os braços. - Você ficava repetindo que não iria se esquecer de ligar. Talvez para o Teddy? 

— Peguei o número dele no dia seguinte só. O que mais eu falei?

— Ouvi só isso. - ele deu de ombros. - Você não parava de falar que não iria se esquecer de ligar e que iria encontrar a resposta. 

— Eu falei isso? - minha cabeça agora estava à milhão. Será que seria a pessoa que tinha me socorrido? Ou seria Ruby? Ou eu já estava delirando àquela altura e não sabia? - Por acaso eu tinha algum número de telefone?

— Você ficou repetindo alguns números… Mas eu não ouvi direito. 

Eu tinha cada vez mais perguntas e nenhuma resposta. 

Mas se eu tinha mesmo um número de telefone, talvez ele pudesse estar escrito nos guardanapos que fiz minhas anotações naquela noite.

Corri para o apartamento como se minha vida dependesse daquilo, porque provavelmente realmente dependia, já que minha sanidade estava comprometida, mas quando eu abri a porta da sala parecia que eu havia sido transportado para uma cena de terror.

Albus Potter estava limpando.

Limpando para valer! E eu juro que estava prestes a elogiar aquela atitude milagrosa dele quando vi o porquê dele estar limpando. Todas as minhas anotações que estavam na mesinha de centro estavam ensopadas de um líquido que parecia muito ser leite com achocolatado. E o maldito canudinho estava lá estirado, para piorar as coisas ainda mais. 

— Scorpius! Achei que ficaria fora a tarde inteira! - a expressão do desgraçado entregava o desespero. Mas eu esperava que ele ficasse ainda mais desesperado, se ao menos tivesse um pingo de vergonha na cara, pois toda a paciência que eu tinha com ele tinham se esvaído. 

— Que porra você está fazendo? - eu nunca falava palavrão, pois tinha gosto demais pelas palavras e não considerava essas ofensas chulas como palavras verdadeiras, mas aquela situação também não parecia crível, então eu simplesmente não ligava. Só queria liberar toda a raiva que eu estava sentindo em cima do Potter. 

— Wow. Porra. Calma, Scorp. Foi um acidente, me desculpe. Mas já liguei para a senhora Jones perguntando como eu posso secar tudo isso aqui rapidinho sem estragar nada. 

Uma das melhores chances que eu poderia ter em descobrir se eu estava ficando louco ou não foram por água abaixo. Ou leite abaixo, tanto faz. Pelo estado das minhas anotações, dificilmente daria para distinguir alguma coisa e eu jamais saberia se estava delirando já naquela hora ou se realmente haveria um número de telefone ali.  

Qualquer chance mínima que existisse de descobrir se Ruby era real estava ali, se despedaçando bem na minha frente por conta de Albus, que tentava me explicar a situação como se não fosse nada demais. Eu estava de volta à estaca zero por conta dele. Sabe-se lá quando Teddy me responderia e o que ele teria para me dizer. E a culpa daquilo era totalmente de Albus. Em menos de 10 minutos eu poderia estar no telefone com Ruby. Isso se ela fosse real. Mas eu estava ali, surtando pelas anotações perdidas, pelo cheiro enjoativo de leite no ar, pelo descuido do meu colega de apartamento e pelo fato de estar prestes a surtar com tudo isso e todo o resto.

Meu sentimento de frustração estava concorrendo arduamente para de dominar juntamente com a raiva latente que eu sentia pulsando em cada veia. Nunca quis tanto matar o Albus como agora. Nem mesmo quando descobri que ele estava usando minha escova de dentes eu fiquei tão irado. 

— Eu pelo menos tenho uma boa notícia para você. - o encarei sem acreditar que ele realmente pudesse estar tentando melhorar alguma coisa, ainda mais considerando aquela situação tão ridícula que parecia irreal. - Alguém encontrou seus óculos. - ele me estendeu o que só poderia ser o que sobrou dos meus óculos, na maior cara lavada de quem “sente muito”. 

— Alguém encontrou. 

— É… Na verdade não foi alguém qualquer. É uma história excelente…

— Assim como a de como você derramou um litro de leite com achocolatado nas minhas coisas. - rebati nervoso e Al se calou, dando uma risadinha nervosa.

— Você sabe que não é um litro, Scorpius. Você é tão literal, sabe que foi um copo de 250ml.

— Foda-se, Albus. Eu estou profundamente irritado com você a ponto de falar palavrão e não conseguir ser literal porque eu simplesmente não consigo raciocinar direito de tanta raiva. 

— Calma, Scorpius… - ele tentou se aproximar, juntando as sobrancelhas enquanto me encarava com uma expressão de receio. Mas eu não queria que ele se aproximasse. Queria que ele sumisse. Ele que se explodisse com aquela cara de cachorro sem dono que fez merda.

— Gente? - Nina apareceu na sala, saindo do banheiro. Estava com a expressão aflita, olhando de Albus para mim sem entender nada. 

— Agora vocês estão de boa? - perguntei sem acreditar. - Você finalmente desembuchou e parou de ser um idiota? - eu sabia que não tinha relação, mas queria irritá-lo, deixá-lo tão estressado quanto eu estava. 

E funcionou, pois ele largou o rodo com força no chão. 

— Isso não tem nada a ver e você sabe disso. 

— Eu sei. Mas você aparentemente não sabe de porcaria nenhuma, não é? Quantas vezes eu já te falei para tomar cuidado? Mas você simplesmente não sabe o que é respeito. Não faz a mínima ideia. 

— Ah, então isso não é sobre as anotações? Escolha suas batalhas, cara. Mas já que você tá tão estressadinho, vamos lá. - ele cruzou os braços, irritado e eu fiquei indignado com aquela petulância. Como se ele estivesse certo.

— Você não percebe que tudo é uma consequência das merdas que você sempre faz? Se não fosse tão desleixado como sempre é, isso não teria acontecido. Se ouvisse e respeitasse as nossas regras, teria evitado.

— Nossas regras? Acho que você não percebeu que estão mais para seus decretos, parte da ditadura Malfoy. - ele era inacreditável, sério. Meu sangue fervia e eu sentia que poderia explodir a qualquer momento.

— Nossa, Albus, como você é um idiota. Não me admira ter tido a coragem de trair a Nina com o Wood.

No momento em que eu soltei as palavras me arrependi imediatamente. Pela cara dos dois, o assunto ainda não tinha sido abordado. Me senti um idiota.

— Você fez o que? - Nina arfava, sem entender nada. - É ele que anda te ligando? Quando você ia me contar disso? Albus?

O moreno não era capaz de articular nada, apenas encarava os próprios pés, com os punhos cerrados e a respiração pesada.

— Albus Potter, me responda. - ela cruzou os braços, estressada. - Sua intenção era me chutar para ficar com o Wood, é isso? Por isso vem mentindo e me ignorando?

— Eu não menti. Só omiti. - defendeu-se, mas Nina revirou os olhos, rindo com escárnio. - Não era assim que eu queria que você descobrisse. 

— Espera… Ele estava no aniversário da Mia também, não estava? - ela apontou o dedo para ele, cobrando uma resposta, mas a fala de uma foi o suficiente para confirmar tudo. - Foi por isso que você ficou esquisito do nada? E você não me respondeu. Você ia realmente terminar comigo, para ficar com ele? Albus, você por acaso sente algo por ele? 

— Não, claro que não! - ele tentou se aproximar de Nina, que permaneceu imóvel, analisando o ex-quase-namorado. - É que… Aquilo me fez perceber que a gente ainda tinha muito a conversar, sabe. Sobre nós mesmos.

— Por isso você enfatizou tanto que não éramos namorados - Nina percebeu, indignada. - Porque queria se convencer que não era um escroto por ter feito isso e escondido de mim. Queria aliviar sua consciência, não é? Enquanto isso, foda-se o que eu sinto. 

— Nina, não...

— Você fique aí, Scorpius. - Nina me advertiu quando fiz menção de sair. - Eu só tenho algumas coisas para falar para o Albus.

Eu queria estar em qualquer lugar, menos ali. 

— Eu não queria te magoar, por isso não contei antes. Não poderia fazer isso com alguém que eu… - ele se calou, começando a apertar as mãos. 

— Que você o que, Albus? 

— Você quer deixar eu falar e parar de me interromper? - uh, péssima escolha de palavras e tom. 

— Me irritar mais ainda com esse seu discursinho lento não ajuda sua situação, muito menos ficar me questionando sobre minha reação. 

— Caralho, Nina, não dá pra te contar desse jeito. Eu estou tentando. Me desculpe. - ele bagunçou os cabelos, estressado, e Nina pegou a bolsa, irritada. Por que os dois não sentam e conversam, direito? 

— Que merda de desculpas. Olha, sinceramente, você já fez coisas demais. Já deu. - ela saiu antes que Albus pudesse acrescentar qualquer coisa a mais. 

— Você tá feliz? - foi mais um grito do que uma pergunta. Albus estava irritado, mas eu não iria permitir que ele descontasse em mim. Era tudo culpa dele para começo de conversa. 

— Você foi um idiota a semana inteira com ela, Albus. A culpa disso é totalmente sua. 

— Você não precisava ter aberto essa sua boca enorme. Olha como ela reagiu. - ele foi até a sacada, respirando pesadamente.

— Não fui eu que fiz a burrada. Em um relacionamento as coisas precisam ser às claras, é normal que tenham tido esse embate, mas...

A risada de Albus invadiu o ambiente, me interrompendo e fazendo meu sangue voltar a ferver novamente.  

— Que merda você sabe de relacionamentos, Scorpius? Sério? Só porque você assistiu a meia dúzia de comédias românticas e anda sonhando com uma garota não significa que você entende de tudo. - ele veio até mim, me olhando com raiva. Por um momento pareceu que iria falar alguma coisa, mas não disse. Apenas soltou uma risada. - Quer saber, que se foda, fique aí achando que você é louco. Eu não me importo. 

 

 

— Scorpius isso aqui está muito, muito bom. - meu professor comentou enquanto tomávamos um café na lanchonete da faculdade. - Mas observei uma coisa. Seu personagem é sua cara. 

Ele riu abertamente e eu me esforcei para entrar na onda, tentando disfarçar meu nervosismo. 

— Ainda não está finalizado. Na verdade não sei como continuar, quanto menos como terminar. - cocei a cabeça enquanto suspirava. Não gostava de pensar no fim dos sonhos com Ruby e não conseguia simplesmente escrever sem um ponto de partida. Ao mesmo tempo me sentia uma fraude, por não estar criando aquilo e sim transcrevendo. Mas se existe só na minha cabeça, não deixa de ser minha criação, certo? Sendo sonhos ou alucinações, elas eram minhas de qualquer forma.

— Bom, seu personagem está claramente apaixonado pela garota. A forma como ele fala dela... É muito adorável. E esse conceito que você abordou permite você trabalhar muitas coisas, sabe. Quando abordamos memórias podemos partir de um momento muito particular e ir retomando as cenas. Acho legal você começar por elas, mas quero saber mais como o seu personagem está lidando com elas no presente. 

O quê? 

— Memórias, professor? - perguntei um pouco sem entender, tentando não demonstrar minha confusão, sem sucesso, pois o senhor Davies franziu o cenho para mim.

— Não eram memórias? Tive a impressão de que eram. 

— Eram sonhos. - expliquei e ele sorriu um pouco. 

— Ah sim, mas quem disse que sonhos não podem ser memórias? Mas estou realmente curioso sobre como você surgiu com a ideia de uma garota tão extravagante. Aqui nesse ponto…

Eu não conseguia ouvir mais nada, pois meu cérebro estava extremamente distante. 

 

 

— Por que você quer saber quem tirou as fotos do meu aniversário? - Mia perguntou enquanto arrumava a nova leva de post-its que havia chegado na papelaria. 

— Hã, eu vi uma foto solta e fiquei curioso a respeito das outras. 

— Tem a ver com sua pesquisa de campo? - ela se virou para mim sorrindo enquanto amarrava o cabelo. - Aliás, achei que você iria me perguntar mais sobre essas coisas. 

— Eu poderia perguntar, mas seu relacionamento é todo misterioso.

— Mas você também não pergunta. Como vou responder? - ela me lançou um sorriso, revirando os olhos e eu suspirei. Queria saber mais sobre ela e o namorado, mas precisava checar as fotos fotos buscando alguma ruiva de vestido azul. Não era possível que ela não fosse aparecer em canto nenhum. 

Eu não queria falar sobre meus sonhos, Albus e Nina só sabiam pelas circunstâncias, já que viviam grudados pelo apartamento - bom, até a grande briga. Mia era próxima de mim, mas não sei como ela reagiria se soubesse que o amigo dela é um pouco louco. Mas eu também não conseguia mentir inteiramente para ela, ao passo que revelei uma parte da verdade:

— Uma pessoa me mostrou uma coisa. - relutei em contar, olhando para os lados, enquanto me aproximava dela. Mia me olhava de uma forma estranha, rindo. 

— Scorpius, eu estou começando a ficar assustada. Parece até que viu algum fantasma.

— Eu tenho um… Fã clube. 

Aquilo foi o estopim para ela soltar uma gargalhada alta. Pedi para que ela ficasse em silêncio, pois alguns clientes estavam olhando, mas Mia não parou, apenas apoiou a mão nos joelhos, rindo ainda mais. 

— Você só descobriu isso agora? 

— Dominique, você sabia disso o tempo todo? - eu estava verdadeiramente indignado. 

— Eu disse que eu era uma grande fã, Scorpius. É o cúmulo você me colocar em quinto lugar. 

— O que eu posso fazer se antes de você vem minha mãe, meu pai, o professor Davies e o Albus? - como se fosse possível ela riu mais ainda. - Eu estou falando sério, Mia. 

— Ok, me desculpe. - ela enxugou o canto dos olhos, retomando a respiração. - Eu acho que sei de qual foto você está falando. Saiu no Facebook do fotógrafo. Inclusive fui eu que mandei pro Twitter. 

Mia estava de brincadeira com minha cara. Meu olhar deve ter surtido efeito, pois ela segurou o riso.

— Eu sei que você não gosta de se expor, mas sua cara estava hilária com você babando dormindo no balcão. Vou te mandar o link do perfil dele pra mostrar como eu sou legal.

— Você é inacreditável. - comentei balançando a cabeça. 

— Mas quem te mostrou isso? 

— Zabini. - Mia virou a cabeça rapidamente, franzindo o cenho. 

— Quem? 

— Acho que você deve saber quem é. Ele já participou de um Ted Talk na nossa faculdade ano passado. Eu comentei com você na época. Ele é tipo, um dos empresários de sucesso mais jovens da década ou coisa do tipo. Mas ele é gente boa. Somos amigos de infância. 

— De infância, é? - ela foi para trás do balcão, virando-se de costas para mim. 

— Sim, eu conheço a família inteira. - eu estava impaciente, queria checar as fotos logo. - Você se importa se eu usar o computador? - apontei para a máquina e Dominique apenas deu de ombros.

Haviam aproximadamente 100 fotos. Encontrei a que Mia havia mandado para a conta do Twitter e percebi o quão estranho eu ficava dormindo. Como eu poderia ter um fã clube que gostava de compartilhar fotos minhas? 

Vi Nina desmaiada em uma das fotos, enquanto Al conversava irritado com Wood. Passei a foto com força, não querendo pensar naquele drama. Haviam muitas ruivas, mas nenhuma se parecia com Ruby e o fato de eu estar sem óculos também não ajudava. Ainda estava indignado com o estado que Albus me entregou aquele óculos que sabe-se lá quem encontrou.

Foi quando reparei em uma foto específica em que Dominique posava com um garoto ruivo - com tantas sardas quanto Ruby - e com Albus. Ao fundo, eu não estava no balcão, e Teddy ainda estava lá ao invés de Ed. 

Aquilo significava que eu não havia ficado a noite inteira no balcão, como eu pensava. Albus deveria estar ocupado demais com Wood que não percebeu. Típico. Algumas fotos depois eu estava no balcão novamente e Ed estava lá. Meus óculos já não estavam mais comigo. 

Onde eu havia ido nesse meio tempo? E por quanto tempo?

— E Teddy, como está? - perguntei como quem não queria nada. Mia parecia distraída, ao passo que precisei questioná-la novamente.

 - Ah, ele sempre faz essas coisas, de ir fazer mochilão e esquecer do mundo. Deve estar para voltar por esses dias. Aí vai ficar um tempo com Victoire antes de voltar ao trabalho. Ele sempre faz isso. 

Talvez as respostas estivessem finalmente mais perto.

 

... 

 

— Você não me fala muito sobre você, especificamente. - me peguei falando enquanto observava Ruby mexer nos meus cabelos. 

Desde quando estávamos tão íntimos assim eu não tinha muita certeza, mas eu me frustrava por não conseguir sentir de forma exata seus dedos percorrendo meus fios. Era como se fosse uma lembrança, em que eu podia ver e ouvir tudo e até conseguia imaginar como era a sensação emocionante no meu estômago, mas não conseguia de fato sentir coisas. Eu só conseguia imaginar que suas mãos eram geladas e muito macias, além de ligeiramente cheinhas e pequenas. Não tinha muita certeza de porque eu tinha tanta convicção de que elas eram assim, talvez eu tenha me perdido entre meus sonhos e minhas escritas. Aquilo já estava me consumindo mais do que eu gostaria. 

— Por que falar de mim ou de você quando podemos só falar sobre a vida? - sua risada era sonora e me fez sorrir. - É muito chato ficar fazendo aquele questionário todo de qual seu nome, quantos anos você tem, onde você estudou, o que você faz… O que isso te responde sobre a pessoa? 

— Literalmente todas as informações básicas. Tudo - observei rindo e ela apertou meu nariz, fazendo careta. Não tive a sensação, apenas a ideia dela. 

— Claro que não. Você fica sabendo só do que qualquer pessoa poderia ter acesso. Eu não quero saber quantos anos você tem, quero saber quantas experiências você tem pra contar, com quantos anos teve sua primeira decepção amorosa ou com quantos anos teve consciência de que você era você. Eu não quero saber onde você estudou, mas se você tem uma memória marcante de algum passeio e como se sentiu quando foi bem na matéria que mais odiava. Eu quero saber se seu nome tem alguma história engraçada por trás, se seu pai ou sua mãe discutiram por ele ou se foi um consenso. Coisas assim.

— Mas essas coisas você descobre perguntando. 

— Também. Mas é mais divertido quando você apenas as descobre ao acaso. E eu sinto que conheço você só de nossas conversas aleatórias, mais do que se eu tivesse pedido sua ficha completa. - seu sorriso me fez compreender que era assim que eu me sentia em relação à ela. 

Não sabia seu nome de verdade, nem sua idade, nem se ela era real. Mas Ruby conseguia ser a pessoa mais próxima de mim no momento, e não apenas por conversarmos todas as noites, mas porque eu sentia que a conhecia. E entendia suas teorias malucas e adorava sua verborragia. Eu conseguia perceber quando ela detestava verdadeiramente algo, pois suas sobrancelhas se uniam e ela repuxava o nariz, formando uma cara de nojo adorável. Eu notava que ela estava nostálgica quando olhava para o céu, sorrindo com os lábios apertados, como se estivesse fazendo força para se lembrar.  

Nós nos encaramos por alguns minutos, ainda rindo de nenhuma coisa em particular. Seus olhos azuis tinham um brilho diferente daquela vez, eu não sabia o porquê. Talvez fosse resultado da proximidade. Estávamos tão perto que eu podia notar suas sardas por baixo da maquiagem. Seu rosto estava levemente corado e seus lábios entreabertos. Eu pensei nos germes e pensei em como ela era uma desconhecida. Mas não liguei para nenhuma das duas coisas, pois eu não conseguia ter nojo dela e não a considerava uma estranha. E estar pensando sobre aquilo me deixava inquieto. 

É só um sonho.

Mas que mal poderia fazer? 

É só um sonho.

Para minha surpresa Ruby não se aproximou mais, como estava fazendo até então. Ela se afastou, desviando as orbes azuis para outro ponto. Naquele momento eu tinha a ideia de um aperto do peito. 

— Acho que temos que descer daqui a pouco. 

 

 

Descer? Pra onde? De onde?

Saltei da cama como se uma luz tivesse surgido em minha mente, ao mesmo tempo que tudo parecia ainda mais confuso. Eu tinha uma teoria, mas precisava confirmá-la. 

Peguei o celular para verificar as horas e notei que tinha cinco mensagens de Teddy. Nunca desbloqueei a tela com tanta velocidade.

 

Oi, Scorpius

Nossa, cara, acho que te falaram que eu saio de férias e me desligo, foi mal

Você sumiu uma hora mesmo, mas não ficou o tempo todo no banheiro

Fui lá limpar depois e não tinha nenhum sinal seu

Você reapareceu horas depois no balcão, mas não vi se estava acompanhado

 

Não havia sido de grande ajuda, mas ao menos confirmou o que eu suspeitava. E eu tinha um palpite muito forte sobre onde eu poderia ter ficado a maior parte daquela noite. 

 

...

 

Ali estava, diante de mim, o cenários dos sonhos que eu tive nas últimas duas semanas. O terraço. 

Eu havia lembrado dele da última vez que tinha ido até o bar e checado que o banheiro era o mesmo do meu sonho, mas a ansiedade de encontrar um possível número de telefone em minhas anotações - agora destruídas - me fez esquecer completamente. Mas, se eu tivesse subido até lá imediatamente, teria entendido imediatamente.

Era idêntico ao meu sonho, com a única diferença de que eu estava parado ali no fim da tarde, com o pôr do sol despontando no horizonte e colorindo o céu de laranja. Quando eu me encontrava com Ruby ele era de um tom azul escuro, sendo iluminado só pela lua crescente no céu e pelas várias estrelas. Tinha algo de especial naqueles sonhos justamente por conta daquele céu. Era raro Londres estar com o céu tão limpo a ponto de notarmos as estrelas, mas a noite do aniversário de Dominique realmente estava agradável. 

Fazia todo o sentido.

Eu havia realmente encontrado alguém no banheiro e provavelmente tínhamos ido até o terraço. Não havia outra explicação, pois eu nunca tinha ido até aquela parte do bar. O banheiro poderia, sim, ter sido uma ilusão. Mas o terraço não havia como. A não ser por um detalhe ou outro era idêntico ao sonho. 

Apesar de isso fazer muito sentido, algo não saía da minha cabeça. Tudo o que conversamos foi real ou foi um delírio da minha cabeça? E quem era ela, afinal de contas?

— Você poderia me mostrar a gravação de suas semanas atrás? Do aniversário de Dominique Weasley? - pedi para Ed assim que desci as escadas. Ele me encarou com o cenho franzido, mas assentiu.

— Conseguiu falar com o Teddy? - me perguntou enquanto íamos até a sala de segurança. - Ele geralmente fica um caco quando volta dessas maluquices. Quem é que se enfia no meio do nada em plenas férias? Não dá nem para relaxar. Possivelmente você quase morre de desidratação no terceiro dia.

Ed falava mais que a boca, mas eu estava concentrado em olhar aquelas imagens. Vi o momento em que eu, Nina e Albus chegamos. Vi quando Wood entrou e logo foi atrás de Albus, que se esquivava a todo instante. Consegui notar a quantidade de drinks que eu estava tomando até que finalmente vi ela entrar pela porta. 

Ruiva, de cabelos soltos e vestido azul-marinho com alguns pontinhos brancos - que eu supunha serem as nuvens desenhadas à mão -, entrando estonteante pelo ambiente. 

Vi o momento em que fui cambaleando até o banheiro e como ela notou que eu estava quase caindo, já que tropecei perto dela. Ela conversava com o tal garoto ruivo que eu vi na foto de Dominique, mas olhava com frequência para trás. Por fim, ela foi atrás, onde provavelmente me socorreu. 

— Uau, vocês ficaram bastante ocupados no banheiro hein, você e a ruiva. - Ed me deu uma cotovelada enquanto piscava. Arfei. Ele estava vendo-a também!

A partir dali a câmera tinha um ponto cego, então não vi quando possivelmente saímos do banheiro e fomos para o terraço, mas aquilo era tudo que eu precisava. Ruby era real. Eu não estava louco. E acima de tudo, de novo, pois aquela era a melhor informação que eu poderia ter recebido: Ruby era real!

Mal pude agradecer à Ed, pois sentia que precisava vê-la com meus próprios olhos, pessoalmente. E tudo ia fazendo cada vez mais sentido. A vez que imaginei tê-la visto na rua provavelmente era verdade. Sim, ela usava o mesmo vestido, mas aquilo poderia ser uma coincidência e não necessariamente uma visão. 

Refiz os meus passos e olhava para dentro de cada loja daquela rua movimentada do centro, na expectativa de vê-la. Era ridículo, eu sabia. Ruby poderia estar só passando aquele dia, mas se tivesse uma mínima chance dela trabalhar por ali eu tinha que tentar. 

Já estava ficando sem ar quando um reflexo laranja chamou a minha atenção. Apertei os olhos, tentando enxergar melhor, e lá estava ela: Ruby.  Com os cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo enquanto vestia um macacão laranja com bolinhas coloridas. Carregava uma caixa cheia, parando em frente a uma galeria de artes. 

É claro que ela era artista. Isso explicava sua visão de mundo sobre as coisas, as roupas customizadas com desenhos, além de que aquilo parecia se adequar perfeitamente à sua personalidade. 

— Ruby! - gritei tentando chamar sua atenção, mas o ambiente estava barulhento demais e aquele provavelmente nem era seu nome. Mas ela havia me permitido que eu a chamasse assim. Talvez ela se lembrasse. Talvez. - Ruby! - eu precisaria atravessar a rua para ela me ouvir. - Ruby! - ela finalmente ouviu e me olhou assustada. 

Não segurei o sorriso de alívio que cruzou meu rosto e fiz menção de correr até ela. 

Em um segundo eu estava a menos de dez passos da garota dos meus sonhos e no outro eu sentia meu corpo suspenso no ar devido ao impacto de algo que eu  não fazia ideia de onde tinha vindo. 

Fui do céu ao inferno em questão e instantes. Aquela era a pior dor que eu já havia sentido na vida, mas nada me preparou para o grito de horror de Ruby.


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Notas finais do capítulo

E aí, Al e Nina estavam ou não estavam juntos para ser considerado traição? Vai ser um clássico "we were on a break" em que todo mundo discorda ou vai ser mais unânime? Estou curiosa para a reação de vocês.
SIM A RUBY É REAL!!!! Será que alguém já consegue me dar uma explicação concretinha dos sonhos do Scorpius? Acho que sim, a maioria de vocês acertou em algum momento dos comentários da fanfic hahah De qualquer forma, vai ter uma reflexãozinha sobre no próximo pra evidenciar tudinho tim-tim por tim-tim.
Mas ainda temos alguns pontos sem nó... Alguém arrisca palpitar?
E sim eu deixei o mais chocante para o final: Scorpius é sempre tão cuidadoso, mas não sabe que deve olhar para os lados antes de atravessar a rua, tsc. Não me matem!
Comentem enquanto ainda é tempo de teorizar sobre o que vai rolar no último capítulo - gente eu tô com o coração pititico, foi muito rápido sos. Ele deve sair no domingo e o prólogo no dia 30, mas existem chances de que essas datas mudem por motivos de fim de semestre (hoje demorei pra postar justamente porque tive apresentação de trabalho). Aviso no @caroolfoster se algo for mudar ;)
Obrigada a todo mundo que está tirando um tempinho para deixar comentários, não sabem como me inspiram! ♥
Beijos e até!
P.S: todas as definições foram tiradas de sites aleatórios que juram de pés juntos que é isso mesmo que significa sonhar com pessoas. Se eu fosse acreditar neles, os sonhos que eu tenho em que perco todos os dentes já teriam me desgraçado da cabeça.
P.S: Olha não sei se recomendo mesmo "6 anos", mas "Celeste e Jesse Para Sempre" eu recomendo demais, ainda mais se você for fã de Brooklyn 99 e Parks and Recreation (os dois protas também estão nelas, alô fãs de Andy Samberg e Rashida Jones, assistam e juntem-se ao meu clube de "quero vê-los atuando juntos novamente").
P.S: não me matem!!!!!!