A Garota dos Meus Sonhos escrita por Foster


Capítulo 3
03. Um conflito e uma transição


Notas iniciais do capítulo

Helloo, prometi pra algumas pessoas que saía perto da meia noite, então aqui está hihi
Eu me empolguei um pouco na revisão e acabei incluindo algumas coisinhas - quem nunca? Então a alma de bíblia stan atacou e cá estou eu com singelos 7k de capítulo kkkk
Muita coisa acontece aqui, então falar "um conflito" é um eufemismo barato kkkkk
Estou amando as teorias de vocês nos comentários, vamos ver se esse capítulo dá uma clareada - ou talvez só confunda mais.
Espero que gostem!
Vejo vocês nas notas finais!

EDIT: Playlist da fanfic: https://open.spotify.com/playlist/5WApc53CnzwWmZ5l3u2u3H



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03. UM CONFLITO E UMA TRANSIÇÃO

...

— Doutor, eu acho que eu posso estar louco.

— Scorpius, como assim? - o senhor Longbottom se ajeitou na poltrona, claramente surpreso pelo modo abrupto como eu entrei no consultório. Mas eu não estava ligando muito para normas sociais ou coisas do tipo. Eu estava quase enlouquecendo. 

Então eu contei do acontecimento no bar. E também da aparição de Ruby em meu quarto e em outras duas vezes na qual eu a vi em meus sonhos e conversamos sobre coisas aleatórias e banais. 

— E para piorar eu acho que a vi na rua. - falei, estremecendo com a lembrança. - Ela estava atravessando a rua, usando o mesmo vestido, azul marinho com nuvens brancas desenhadas à mão, dos meus sonhos. É sempre o mesmo vestido. Até pensei, por um instante, que ela pudesse ser real, mas olhei novamente e não a vi em lugar nenhum. 

Aquilo estava me deixando completamente frustrado, pois estava se tornando cada vez mais um caso sério de alucinações. Enquanto eu estivesse sonhando com ela, tudo bem, mas vê-la em plena luz do dia?  

Eu encarava meu psiquiatra com muita atenção, tentando captar sinais de que ele concordava comigo. Talvez o senhor Longbottom estivesse anotando que ligaria para uma clínica assim que nossa sessão acabasse, ou listando os remédios que eu precisaria tomar, não sei. O fato é que eu estava preocupado. 

— Você disse que a viu primeiro no banheiro…

— Eu não sei se foi lá mesmo. Albus me garantiu que eu estava desmaiado no balcão, o que parece ser algo bem crível. 

— Mas você poderia ter sido resgatado do banheiro para o balcão, Scorpius. - ele me olhou por cima dos óculos, tentando claramente puxar para o lado lógico das coisas.

Acontece que eu já havia tentado puxar para o lado lógico das coisas junto a Albus, que praticamente disse que socaria minha cara se eu enchesse o saco dele sobre aquilo novamente. 

E eu não tinha como perguntar para Dominique, pois ela ficou ocupada demais durante a festa e Nina havia passado mal, então a última coisa que ela deve ter visto foi a bebida de seu décimo ou vigésimo drink. Albus era minha única testemunha ocular possível. Além de Teddy, que estava inconvenientemente de férias e incomunicável. 

Ou talvez ele só estivesse me ignorando por eu ter mandado cerca de vinte mensagens. Eu não era usualmente exagerado como Albus, mas talvez tivesse tendências a ser um pouco dramático demais. E aquilo assustava as pessoas.

Não gostava de pensar que desde que concordei com essa ideia ridícula do senhor Davies de escrever romance e me aventurei no universo dos filmes minha vida estava cada vez mais parecida com um roteiro tosco. Só poderia ser uma grande piada do universo.  

— Não sei, não sei. Os diálogos que temos são vívidos, sim… Mas, sinceramente, ela responde tudo que eu realmente não espero. Se a gente sonha com alguém, espera que a pessoa faça algo que você deseja, certo?

Meu terapeuta não respondeu, apenas ficou me encarando com aquelas feições de quem estava tentando decifrar algo impossível. A semelhança entre ele e a Nina era absurda, o que às vezes me deixava um pouco confortável demais em contar as coisas porque, de qualquer ângulo que eu olhasse, sentia que estava falando com um amigo, e isso era bom. O único ponto em comum disso tudo é que eu não podia falar de Albus com nenhum dos dois, não de maneira aberta, pelo menos.

Ainda estava bravo por Albus ter praticamente batido a porta do quarto na minha cara enquanto eu tentava perguntar algo só porque ele estava ao telefone. Al nunca foi de ligar para privacidade, talvez ele só estivesse irritado com toda minha amolação a respeito dos meus sonhos, o que não o fazia menos babaca comigo, pois eu estava no meio de uma crise muito séria. 

— Tem certeza de que não a conhece? Você não poderia simplesmente criar um rosto. Deve ter visto essa Ruby em algum lugar. 

— Eu lembraria se conhecesse alguém tão linda e única. - falei sinceramente e Longbottom sorriu. Ignorei a estranha sensação que brotava no meu estômago. Estava precisando comer, provavelmente.

— Você mudou alguma coisa na sua medicação? - seus olhos inquisidores conseguiam ser tão intensos quanto os de Nina, o que era assustador, pois em geral eles eram extremamente gentis, mas tinham a mesma ângulação semicerrada quando estavam falando sério. 

— Estou tendo muitas dores de cabeça, então tomo remédio para isso.

— Certo. - ele anotou na ficha, assentindo com a cabeça. - Quantos remédios por dia?

— Uns três. - Longbottom me encarou com um ceticismo repreendedor. 

— Você sabe que não pode tomar tanto remédio assim por conta própria. 

— Eu sei. Mas são dores muito fortes. Não sou de me automedicar sem razão, o senhor sabe. - justifiquei, até porque era a mais pura verdade. Mas desde o incidente eu estava realmente tendo noites questionáveis de sono, já que sonhava com Ruby quase todos os dias, e meu galo na cabeça ainda estava proeminente. 

— Tente ir à uma consulta. Talvez a queda tenha tido um efeito maior do que parece. Seria bom fazer uma tomografia. 

— O senhor acha que… Estou tendo esses sonhos por isso? 

— Só faça os exames e depois conversamos sobre. - ele me entregou um encaminhamento para um neurologista, sorrindo da forma amável que ele geralmente fazia quando queria me tranquilizar. 

O problema é que eu não estava nada tranquilo, pois as chances de eu realmente ter algo mais sério estavam ficando mais próximas da realidade. E as chances de Ruby não ser minimamente real ficavam mais altas.

 

 

— Mas sério, com tantas evidências, como ainda existem pessoas que desconfiam que a morte da Lady Di foi encomendada pela realeza britânica? Eu sinceramente acho um absurdo como tem tanta gente que venera a todos eles, sério. Não é à toa que a Meghan e o Harry saíram. Mas ela nunca me decepcionou, a Meghan. Era perfeita em Suits. Um cristal lapidado. Quase, quase achei que ela fosse mudar totalmente ao se casar, mas sou fã dela por um motivo e esse motivo é autenticidade! E por falar em autenticidade, eu descobri que existe o Suits Coréia. No início achei super nada a ver, pois costumo detestar versões de outros países. Tipo, qual o problema de assistir a versão original? Me recuso a assistir a versão americana de The Office por isso, por mais que falem tão bem. Defendo nossa versão até o final! Mas a questão é que esse Suits coreano até que é bom! E ganhou uns pontinhos comigo porque eu descobri que os dramas de lá muitas vezes são adaptados para versões ocidentais, então é uma vingancinha até que boa pegar uma série estadunidense e adaptar. Sério, qual o problema das pessoas em apreciarem as obras originais? The Good Doctor, que todo mundo ama, é baseado em um drama sul coreano! Aliás, que indelicadeza a minha. Te contei o que são dramas? 

Eu até estava tentando guiar a conversa, mas Ruby não parava de falar nunca e sempre tinha assunto para absolutamente tudo. Não existia nada que ela não tivesse uma opinião formada. Aquele era nosso quinto encontro - ou sonho - e eu tinha quase certeza de que ela não era realmente humana. Mas tampouco era puramente imaginação da minha cabeça, pois ela me falava de coisas que eu não fazia ideia.

Tirando a parte em que eu estava enlouquecendo tentando entender quem era ela e de onde ela vinha, era adorável ouvi-la falar, mas geralmente Ruby mudava de assunto muito rápido e ficava difícil acompanhar. Era extremamente verborrágica e alta. Mas, por algum motivo, eu não tinha coragem de interrompê-la. E não conseguia simplesmente desviar a atenção. Ela falava com tanta animação, com os olhos brilhando e o sorriso brincando em seus lábios que olhar para qualquer outro ponto poderia ser considerado um crime. 

— E é justamente por toda essa pressão e cobrança em cima dos idols que muitos lá possuem vários problemas psicológicos. E não são só os idols! Você sabia que na ponte do rio mais famoso, o Han, existem por toda a extensão mensagens de apoio e formas para solicitar socorro devido à alta quantidade de pessoas que se matam? Quando li sobre isso eu chorei tanto. - ela soltou um suspiro longo, me encarando em seguida com os olhos absurdamente azuis, parecendo constrangida. - Eu sei que aqui não é lugar para falar dessas coisas, mas… Ah… Me desculpe. Eu acabei associando as coisas. 

— Tudo bem. - respondi, prestando atenção ao nosso redor pela primeira vez. Havia um céu escuro e parecíamos estar em uma cobertura, mas eu nunca tinha visto aquele lugar na vida. 

Parecia óbvio tentar perguntar onde estávamos, mas Ruby parecia tão alheia ao local, enquanto trançava o próprio cabelo e o desmanchava em seguida, olhando-me com tanta intensidade em alguns momentos, que achei melhor continuar o assunto.

— Ainda tem muito tabu sobre saúde mental, essa é a verdade. E nós sabemos o quão isso pode ser prejudicial. 

— Você faz terapia? - a pergunta me pegou de surpresa, mesmo que eu já estivesse começando a me habituar com os questionamentos de supetão que ela fazia. 

— Sim… Há alguns anos. 

— E como é para você?

— Isso é… Um pouco pessoal. - observei, um pouco desconfortável. Revelar assim, sem mais nem menos, que preciso disso há uns bons anos e possuo várias questões internas que não consigo resolver, era um pouco demais. Além do mais, Ruby era a pauta das minhas últimas consultas, então falar sobre isso parecia estranho. Parecia íntimo. 

Ela pareceu constrangida ao notar meu desconforto e começou a morder o canto do lábio nervosamente. Queria dizer para ela parar, pois iria machucá-los, mas eu só conseguia observá-los ficarem com uma tonalidade mais avermelhada conforme ela os mordiscava, estranhamente inebriado. 

— Me desculpe. É que todas as minhas experiências foram horríveis, então queria saber como é ir em uma sessão e não querer sair arrancando os cabelos. - seus olhos exalavam curiosidade e eu quase sorri com a realização de de que ela era assim: extremamente transparente. Isso fazia com que eu tivesse a sensação de que a conhecesse muito mais do que somente alguns recortes aleatórios em sonhos. 

— Às vezes eu saio querendo arrancar os meus cabelos e os do meu terapeuta. - admiti, me lembrando de todas as vezes que Longbottom fez com que eu percebesse coisas que eu deixaria muito bem enterradas, se fosse por mim. 

— Acho que não se dá para ter tudo na vida. Nem tudo são flores. - ela sorriu amavelmente, mexendo no cabelo. Reparei que as nuvens brancas em seu vestido pareciam ser feitas à mão. - E sobre aquilo que estávamos conversando… - franzi o cenho. Como assim, sobre o que estávamos conversando? - Sobre o amor… Acho que isso se encaixa também, sabe. Nem tudo são flores. Nem todos os gestos são positivos. Podem machucar. Da mesma que o corpo quer estar junto quando ama, também quer estar separado quando está triste ou quer magoar. 

Eu a encarei sem entender. Os sonhos tinham ligação? Aparentemente sim. Eram uma sequência? Ruby tinha alguma espécie de inteligência artificial psíquica? Pois eu sabia que não era capaz de imaginá-la dessa forma, dizendo essas coisas. Se eu fosse imaginar uma garota perfeita, como Calvin fez em Ruby Sparks, seria completamente o oposto da minha Ruby. Então por que eu a estava imaginando assim?

Ela estava fazendo algumas caretas, como se estivesse se dando conta de alguma coisa. Achei que ela fosse dizer alguma coisa sobre o amor, ou alguma coisa do gênero, mas ela disse:

— Talvez eu realmente devesse largar meu preconceito com adaptações e dar uma chance à The Office. Não tem problema, desde que eu sempre assista à versão original primeiro para falar mal do original ou da cópia com propriedade. - seu sorriso era triunfante, como se tivesse descoberto a resposta para um enorme problema. 

 

...

 

Ruby tinha razão em suas palavras, sobre o amor. Nem tudo eram flores e algo estava diferente entre Albus e Nina desde a festa da Dominique. Ele estava com o humor péssimo, ficando mais tempo que o habitual no celular e jogando na outra parte do dia, isso quando não estava enfiado em qualquer canto da faculdade. 

Achei que esse comportamento esquisito fosse só comigo, mas acabei incluindo Nina na equação enquanto fazia minhas anotações rotineiras das interações dos casais à minha volta. Aquela já era a terceira vez que eles se viam na minha presença e estava acontecendo a mesma coisa:

 

Braço suspenso sem realmente tocá-la. Olhos perdidos. Mãos debaixo da mesa ou ocupada com qualquer coisa que não seja segurar as dela. Joelhos que não encostam. Falta de beijos. Respostas vagas.

 

Albus parecia uma pedra de gelo e Nina estava alheia a tudo. Ou ao menos parecia alheia. Mas talvez não fosse um problema com ela, pois Albus ainda parecia completamente desinteressado em meus relatos sobre os sonhos. Nina, por outro lado, parecia obcecada em pensar em teorias sobre o que estava acontecendo.

— Eu queria tanto falar com Mia a respeito. - já era a terceira vez que ela me jogava essa indireta, mas eu havia sido alto e claro sobre não envolvê-la naquilo.

— Mia não fechou o bar aquele dia para a festa, então poderia ser qualquer garota. Isso se ela realmente existir, o que nós sabemos que pode ser uma opção. - apontei e ela bufou, cruzando os braços.

— É uma droga que pela ética da profissão meu pai não possa falar comigo! Eu já tentei teorizar com ele, mas ele tampa os ouvidos e sai do ambiente.

— Eu agradeço a ética do seu pai, acredite. 

— Eu também. - Nina soltou uma risadinha, olhando na direção de Albus que continuava com uma carranca enorme. - Se ele não soubesse separar o lado pessoal do profissional talvez ele se opusesse ao meu relacionamento com o Albus. - ela riu mais alto, jogando uma almofada no moreno, que resmungou ao ser acertado. 

Nada de bom podia vir de um resmungo não acompanhado de uma risada para aliviar o clima, não quando se tratava de Albus Potter.

— Isso que a gente nem namora. 

A afirmação pareceu pegar tanto a mim quanto a Nina de surpresa. Eu juro que quis socá-lo naquele instante ao perceber o semblante de choque e mágia dela. Que raios estava acontecendo com ele?

— Pois é. - foi a única coisa que ela se limitou a dizer, enquanto encarava os próprios pés. Estava com uma expressão confusa, mas de repente foi ficando irritada, como se percebesse que o agora-nem-tão-namorado estava sendo verbalmente grosso sem uma razão aparente. 

— Pode ser por conta dos remédios. - tentei desviar o assunto de volta para o que estávamos discutindo como uma forma de aliviar a tensão. Nina suspirou, mas sorriu minimamente, tentando soar concentrada, mas eu sabia que ela estava corroendo aquilo que Albus tinha dito e não à toa, já que semana passada eles estavam falando sobre como estavam apaixonados por detalhes bestas e agora, do nada, ele estava assim. - Seu pai me recomendou fazer exames.

— A respeito de você ter batido a cabeça? Bom, seria uma explicação plausível. Você precisa de carona para ir até lá? Posso pegar o carro emprestado e nós vamos, sem problemas.

O celular de Al tocou, fazendo com que ele levantasse em um salto, indo até o quarto para atender. 

— Por que ele está agindo assim? - ela me questionou um pouco mais baixo. Seu tom de voz era amargurado. - Eu fiz alguma coisa?

— Ele está assim comigo também. - afirmei, mas Nina me olhou com dúvidas. - É sério, Al está cansado de ouvir sobre essa história dos sonhos e fica só… Trancado lá. Ou fora de casa.

Paramos de conversar quando Albus voltou para a sala com a expressão pior do que a qual ele estava quando foi atender ao celular. Ele não falou nada, apenas foi em direção à cozinha pegar uma cerveja. Caminhou até a varanda como se não estivéssemos ali, esperando alguma reação, e acendeu um cigarro. Nina não tirou os olhos dele o tempo todo.

— Albus, desde quando atletas fumam e bebem em dia de semana? - ela tentou brincar, como geralmente era quando Albus fazia uma dessas coisas na frente dela. Al geralmente respondia com alguma piadinha e logo depois dizia que era só para matar a vontade, o que costumava acabar com ele apagando o cigarro nos meus vasos de planta. 

Mas Albus não brincou e nem sequer apagou o cigarro.

— Por que você se importa? Me deixa. 

Os olhos de Nina pareciam que iam saltar de perplexidade. Tentei abrir a boca para xingá-lo, mas ela levantou, pegando a bolsa.

— Vou tentar pesquisar algumas coisas, Scorpius, pra te ajudar. Entro em contato com você se souber de algo. - a porta bateu com força antes que eu ou Al pudéssemos nos despedir, mas, mesmo que tivesse dado tempo, duvido que ele falaria alguma coisa.

— Qual o seu problema? - perguntei um pouco agressivo, mas meu amigo sequer me olhou apesar do tom que eu sabia que sempre causava alguma reação nele, fosse de estresse ou de deboche.

— Nada. Estou cansado, só isso.

— Cansado do quê? Dela?

— Cansado, Scorpius! Só isso. - ele bateu a porta da varanda, virando de costas para mim, fumando como se não tivesse acabado de ser um idiota completo. 

Se tinha algo que eu havia compreendido com essa briga super sem sentido, era que o amor poderia ser demasiadamente complicado por motivos de falha e falta de comunicação. Assim como nas comédias românticas.

Ou por conta só de atitudes babacas totalmente dispensáveis mesmo.

 

...

 

Eu já estava fazendo anotações sobre os sonhos há algum tempo, mas comecei a escrever verdadeiramente sobre Ruby após uma tarde em que cochilei e tive um sonho diferente dos outros.

Não se tratavam de diálogos com ela, nem nada do gênero, e parecia um ambiente muito mais embaçado do que os outros, em que eu geralmente conseguia distinguir o céu azul escuro, estranhamente estrelado por se tratar do céu de Oxford, e a área do terraço. Nesse, eu a via somente sorrindo… 

Poderia sonhar aquele mesmo sonho inúmeras vezes sem me cansar, mesmo que ela não fizesse muita coisa e sequer falasse. Tudo o que já tínhamos conversado era o suficiente para uma vida inteira. Conversei mais com ela em alguns sonhos do que com muitas pessoas em muitos anos. 

A questão é que a luz refletindo em seu cabelo tinha algo de hipnótico, bem como o brilho de seus olhos e o sorriso que chegavam até eles. Era tão pouco ver somente aquilo de Ruby, comparado à imensidão que ela era.  Mas, mesmo com tão pouco, eu senti tanta coisa.

Nesse momento eu sentia uma coisa mais do que qualquer outra. Me sentia um completo idiota. 

 

 

Eu era patético. 

Por quê? Me peguei pensando nas opiniões aleatórias de Ruby sobre as coisas e recusando o convite de minha mãe em assistir a versão estadunidense de Intocáveis. Quando ela me perguntou qual tinha sido a razão para eu começar a me importar com a questão das adaptações depois de tanto tempo eu quis responder que havia sido Ruby. Mas como explicar uma possível alucinação da minha cabeça?

Eu não sabia como. 

E justamente por não saber como, e ter medo de que realmente eu estivesse ficando louco e precisasse tomar remédios que provavelmente acabariam com aquilo que eu acabei faltando em algumas - várias - sessões com o senhor Longbottom, é que eu estava me sentindo patético. A essa altura ele já estava ligando até para meu professor orientador, mas inventei a desculpa de que estava escrevendo e que, por isso, estava faltando.

Não era nenhuma mentira completa, se fôssemos parar para analisar, pois eu estava, de fato, escrevendo. Só que somente sobre Ruby. E não havia um plot, exatamente. Era uma mistura das transcrições do que eu sonhava com algumas continuações que eu desejava que acontecessem. 

A questão é que as continuações estavam cada vez mais tomando vida própria. Eu queria que ela respondesse uma coisa em determinada situação, mas me sentia como um traidor se não colocasse o que eu imaginava que ela responderia, baseado no que eu conhecia a partir das inúmeras conversas. O problema estava no fato de que, a cada sonho novo, ela conseguia me surpreender ainda mais com sua espontaneidade, então o desafio de escrever sobre ela estava aumentando cada vez mais. Ruby era totalmente imprevisível para mim que sempre fui tão metódico e ridiculamente previsível na maioria das vezes.

Acontece que eu me via fissurado naquilo. Ficava ansioso ao ir dormir, pois queria conversar com ela mais uma vez, e depois ficava ansioso ao acordar, para colocar tudo nos papéis e não me esquecer de nada, tentando supor o que ela diria na sequência. Tentando entendê-la cada dia mais, tentando decifrá-la mesmo que um pouquinho e fazer jus à imensidão intensa que ela era.

Não seria absurdo nenhum citar Quem é você, Alasca? para definir Ruby como sendo um furacão para a simples garoa sem graça que eu era. 

Eu definitivamente estava imerso demais no universo do romance adolescente.

— Scorpius! - a porta se abriu de supetão, me pegando no susto e me tirando de meus devaneios. Nina entrou arfante, com os olhos arregalados. - Eu acho que eu sei porque você está tendo esses sonhos. Você não checa seu celular não? 

Albus e Nina não estavam se falando direito há uns cinco dias, então para ela ter ido até lá é porque a coisa era séria. E realmente, tinham cerca de quinze chamadas perdidas, mas meu celular era uma porcaria completa, então não fazia questão nenhuma de usá-lo com frequência. 

— Entre. - pedi ao me levantar, mas ela hesitou. Revirei os olhos. - Ele não está aqui. E mesmo se estivesse, vocês precisam conversar uma hora outra. 

— Só vou conversar quando ele resolver me falar porque está sendo um babaca. 

— Esperar alguma atitude do Albus é um pouco equivocado, você sabe. 

— Pois ele que mofe esperando eu falar! - ralhou, se sentando no sofá. - Mas sério, o assunto é complicado. - ela abaixou o tom de voz, olhando para os lados enquanto tirava algumas coisas de uma sacola de pano, como ervas, velas e um terço.

— O que é tudo isso? - questionei retirando minhas anotações de perto. Ainda não as tinha passado dos guardanapos para o computador, em partes porque eu esperava que as respostas sobre Ruby estivessem escondidas naqueles rascunhos bêbado, então eram valiosíssimas. - Nina, eu posso até conseguir te fazer companhia em algumas coisas, mas fumar maconha não é comigo, você sabe. Ou… Participar de rituais. - como dizer, em palavras não tão ofensivas, que eu não era doido como o Albus?

— Scorpius, não é nada disso. Senta aqui. - ela bateu no sofá, mas hesitei. Ela estava muito estranha. - Vem logo antes que o Albus chegue. - suspirei, me sentando por fim. Aqueles dois ainda iriam me fazer perder a paciência. - Eu andei perguntando para algumas pessoas e acho que o que você pode estar vendo é um espírito obsessor.

— O quê?

O quê?

— É sério! Eu vi um relato verídico de uma mulher que estava sonhando toda a vez com o mesmo cara, sendo que nunca havia visto ele antes. E não podemos simplesmente criar um rosto, você sabe, do nada, e você tem certeza de que nunca a viu. Enfim, a questão é que a mulher chegou até a se apaixonar por ele, mas depois soube que na verdade era o espírito de um cara que havia morrido lá. Ele estava tentando tomar o corpo dela.

— Nina… Isso é absurdo.

— É sério! - ela bateu a mão na mesa de centro, exasperada. - Pedi dicas de como resolver a situação e trouxe tudo aqui. Vamos queimar sálvia e vou deixar uma trouxinha de arruda embaixo do seu travesseiro. Porque isso pode ser tanto algo espiritual quando algo encomendado por alguém que quer te fazer mal. Ou uma pessoa obcecada por você, também. Existem várias possibilidades pelo que eu li.  

Ela só podia ter fumado alguma coisa estragada. Eu sabia que ela era um pouco esotérica, mas aquilo ali já era demais.

— Onde é que você viu isso? - eu estava exasperado e agora tossindo feito um desgraçado porque ela havia acendido uma das ervas, fazendo movimentos esquisitos enquanto rezava. Notei que ela errou a reza. - Você por acaso sabe sequer rezar?

— Eu não sei. - admitiu, suspirando. - Não tenho religião, pra falar a verdade. Mas acredito nessas coisas e me asseguraram que daria certo. E ei! Nem você é religioso! Como sabe uma reza de cór?

— Um personagem de um conto meu era padre. - esclareci me levantando para ficar o mais longe possível da fumaça. - Mas você não me respondeu onde leu isso.

— Você vai me achar idiota, mas é totalmente confiável, juro. 

— Nina… 

— Em um grupo de Facebook. - ela me olhou com um sorriso amarelo e eu joguei a cabeça para trás. Só podia ser brincadeira. - Eu sei, eu sei o que você acha de grupos de Facebook, mas tanta coisa me ajudou lá…

— Nina, essa história é super sem pé nem cabeça.

— Não é! Tem até uma thread no Twitter sobre isso também. 

— Nina! - bati com a mão na testa, não conseguindo acreditar que alguém tão esclarecida como ela poderia confiar em posts forjados em redes sociais. 

— Scorpius, deixe eu pelo menos fazer o ritual. Mal não vai fazer, vai? Além do mais, você já tirou os remédios de dor de cabeça e não adiantou. E seus exames não deram nada de anormal. Temos que tentar alguma coisa, ué. - ela tinha um ponto, mas o fato é que eu não sabia o que fazer se aquilo desse certo. Eu não estava preparado para simplesmente parar com os sonhos e muito menos para descobrir que interrompi um processo de possessão. Nada de bom poderia vir daquilo.

— E esse cheiro todo pela casa? E essas cinzas caindo no chão? - tentei argumentar, mas começando a me preocupar de fato com tudo aquilo. 

— Para de ser cínico, Malfoy. Você já iria limpar tudo de qualquer jeito porque toda vez que você recebe visitas você faz isso. - seu olhar era acusador, mas ela tinha um pequeno sorriso nos lábios de quem sabia que estava com a razão. Suspirei, me dando por vencido.

Era um absurdo, é óbvio, mas Nina talvez estivesse precisando daquilo, de se ocupar com algo. O problema é que o ritual todo estava demorando demais e provavelmente Albus chegaria logo. Talvez ela quisesse encontrá-lo, afinal de contas, não sei. Ou só tivesse se esquecido, pois Nina estava falando mal dele com muita fervorosidade enquanto fazia o ritual e dizendo que tudo o que havia me relatado na semana anterior não passava de um equívoco.

— Anota o lado podre do amor também, Scorpius! - berrou lá do meu quarto. A porta da sala se abriu e Albus entrou, começando a tossir quase que imediatamente.

— O que tá acontecendo aqui? - me perguntou de cenho franzido enquanto largava a mochila do treino no chão da entrada. 

— Albus, tem um caixote pra jogar sua mochila bem na sua fuça. - informei, indicando o objeto, mas ele sequer prestou atenção, pois a voz de Nina soou alta novamente.

— Scorpius, eu estava pensando aqui. Você tem certeza de que esses sonhos não são só...

— Mas que merda… 

Nina brotou na sala, olhando de uma maneira agressiva para Albus, que retribuía na mesma intensidade.

— Bem, eu já terminei o que eu precisava fazer aqui. Me avise se melhorar. Tchau, Scorpius. - saiu sem terminar de dizer o que havia começado e sequer digiri o olhar para Al novamente.

O clima que se instaurou ficou pesado, mais do que o normal, como quando Albus e eu brigávamos pela louça na pia. Ou por ele sair tirando a roupa do treino por aí. O clima estava muito pior.

— Ela veio ajudar a respeito da Ruby.

— Quem é Ruby? - perguntou grosseiramente e eu ri pelo nariz, não acreditando. - Sério, que merda é Ruby?

— Ruby não é uma merda. - falei suspirando pesadamente. Eu sabia que ele estava irritado com Nina, o motivo era um mistério, então resolvi engolir minha vontade de xingá-lo. - Ruby é a garota com quem eu venho sonhando. Você sabe.

— Ah. Você ainda tá nessa? - ele tirou os sapatos, largando-se no sofá. Engoli em seco. Eu havia acabado de limpar com muito esforço há mais ou menos dois dias em um surto de procrastinação no qual eu simplesmente não queria me sentar no computador e escrever uma linha sequer de um romance absurdo que não envolvesse Ruby. - E o que a Nina poderia te ajudar nisso? Não sabia que vocês eram tão próximos.

— Você está agindo assim por ciúmes? - arrisquei, tentando destrinchar seu mau humor. 

O fato é que eu não estava totalmente acostumado com essas crises do meu melhor amigo, apesar de saber que ele tinha uns maus momentos. Em geral ele era despreocupado, alegre, brincalhão… Mas também não me parecia um caso de ciúmes… Ele era sincero demais comigo e se estivesse sentindo algo do tipo me falaria. 

— Não, claro que não. Você sabe que eu não sou assim. - ele me encarou com os olhos verdes um pouco mais suaves, mas ainda sim com muita raiva fervilhando dentro dele. Nina teria feito alguma coisa? - Eu acho que… As coisas estavam indo rápido demais com Nina. Só isso. A gente não se conhece tão bem assim.

— E ignorá-la e tratá-la mal desse jeito é uma boa forma de deixar as coisas mais devagar?

— É… Por aí. - ele não havia me convencido com aquela. Me parecia mais uma meia verdade do que qualquer outra coisa. 

— Ao invés de desacelerar você vai fazer com que ela acabe tudo se continuar assim. E eu sei que não é só isso que está te incomodando. 

Al desviou os olhos dos meus, focando na mesinha de centro. 

— Você está ocupado demais com suas coisas. Não é nada de importante que precise ser dito agora. 

— Albus…

— Scorpius. - ele me cortou, se levantando. - Você tá numa jornada pra entender melhor o amor, não tá? Eu também tô na minha própria, mas não entendi porra nenhuma ainda. Quando eu achar que devo eu falo. 

Não insisti no assunto, mas também nem poderia, pois Albus se dirigiu ao banheiro.

 

 

— Como vocês se conheceram? - questionei minha mãe enquanto ela picava os legumes para a sopa. Eu estava ocupado em descascar as batatas já fazia uma hora. Às vezes ser meticulosamente perfeccionista era um fardo. 

— Foi em um baile. - comentou sorrindo, me olhando rapidamente. - Era aniversário de quinze anos de uma amiga em comum nossa, a Pansy. - assenti, me lembrando da conhecida de meus pais que vez ou outra passava na galeria. - Eu tinha só quatorze anos e seu pai já tinha dezesseis. Ele era o mais lindo da festa, mas o mais carrancudo também. 

— Me chamou? - ele comentou se aproximando com a cadeira de rodas com dificuldade. Me coloquei de pé instantaneamente, para ajudá-lo, mas ele negou com a mão, sorrindo para mim. - Sobre o que estão falando?

— É para meu novo projeto. - falei olhando para minhas anotações irritantemente bagunçadas enquanto voltava a me sentar. Estive observando casais em todo o trajeto até a casa de meus pais e, como não tinha papel, anotei de qualquer jeito nos lenços de papel que eu carregava na bolsa. Não gostava de anotar no celular. Meu negócio era escrever à mão. Ou na minha falecida máquina. - Quero saber como se conheceram. 

— Só a tirei para dançar porque ela não parava de me olhar. 

— Draco! - minha mãe ralhou sem realmente estar irritada. 

— Mas foi adorável. E sinceramente eu não dava nada pela dança. Afinal eu sabia que ela era só a irmã mais nova da Daphne.

— Sempre sutil. Como um cavalo. 

— Ela me disse que faria aniversário dali uns dias, e que se eu quisesse poderia ir na festa dela. 

— Seu pai dançou umas três danças comigo, mas sem conversar muito. Mas pelo menos não chegou nem perto disso de uma garota, é claro. E como ele não tomava uma atitude, eu tomei. - ela largou a faca, secando as mãos enquanto se aproximava do meu pai. Eu estava estranhando todo aquele romantismo entre eles, que não era usual. Ou talvez eu só não tivesse os questionado sobre antes ou eles eram amorosos entre si quando estavam sozinhos. 

— Pra quem estava interessada em mim, você bem que aproveitou a dança com o Nott na sua festa. 

— Draco, você só reparou em mim de verdade depois de muito tempo. 

— Bobagem. Sempre reparei em você. Mas eu não estava muito interessado em coisa séria, você sabe. 

— Quando exatamente ficaram juntos então? - questionei, tentando guiá-los para o que eu queria descobrir de fato. 

— Oh, foi depois que seu pai voltou do exército. 

— E ela me quis, mesmo um pouco… Defeituoso. - ele apontou a perna manca devido a um ferimento grave em combate. Agora, infelizmente, não fazia muita diferença, já que, por conta do tumor ósseo nas pernas, ele passava mais tempo na cadeira de rodas do que em qualquer outro lugar. O fato é que papai sempre me jurou quando eu era criança que o estilhaço estava em seu joelho. Tive pesadelos por semanas com um grande pedaço de metal saindo de seu joelho e me acertando no peito. Foram tópicos de algumas sessões de terapia também. Aparentemente não sou muito bom em digerir coisas que já passaram.

— Draco, isso não é defeito nenhum.

— Eu sei, querida. - por um momento pensei que ele fosse beijá-la, mas somente apertou sua cintura, sorrindo. Ela sorriu de volta, apoiando a mão em seu ombro. Era o máximo de contato físico que eles tinham na minha frente, mas era perceptível que eles se amavam. Estava nem na cara, na verdade. Me apressei em rabiscar no papel:

O olhar entrega

Mas escrever somente isso parecia muito vago, porque o que eu estava vendo bem à minha frente era algo muito diferente do que eu havia notado em outros casais. E não era para menos, pois, na minha idade, meus pais já estavam juntos há um bom tempo. Acho que o tempo tinha um efeito diferente sobre as relações e as deles parecia particular demais.

Deixei a caneta de lado, me satisfazendo em somente vislumbrar aquela cena que não poderia ser colocada em palavras, ao menos não naquele momento em que eu ainda não compreendia sequer o ato de apaixonar, quando mais o de manter o amor acesso.

— Está pensando em fazer um mistério misturado com romance? - meu pai questionou, posicionando-se perto de mim e me ajudando com as batatas. 

— Na verdade, só romance. - falei sem jeito e ele arqueoou as sobrancelhas.

— Alguém ou algo o fez mudar de ideia sobre romances?

— O professor Davies. - quando vi que os dois me encararam surpresos eu compreendi o que ele de fato quis dizer com aquela pergunta. - Oh, não desse jeito. Ele está tentando me convencer de que escrever um romance seria uma boa ideia. E que eu tenho talento pra isso.

— E você tem? - insistiu minha mãe. Ponderei, analisando seu olhar. Acho que ela estava interessada em saber se eu tinha talento pra romance na minha vida pessoal. Não podia julgá-la, afinal eu tinha 21 anos e experiências nulas. E ultimamente achava que estava enlouquecendo por ver uma ruiva misteriosa nos meus sonhos. Pelo menos não era um espírito, pois o ritual de Nina não colaborou com absolutamente nada, só em deixar um cheiro estranho pela casa.

— Não, eu não tenho namorada, mamãe. 

— Tudo no seu tempo. - ela sorriu amorosamente para mim, voltando a picar os legumes.

— Quem sabe essa escrita toda não te desperte algo? - meu pai sorriu, levantando os dedos para mim em sinal de que tudo daria certo. Algo já havia despertado: eu estava ficando louco, sonhando com uma garota que provavelmente nem existia.

 

 

— Eu sabia que tinha uma segunda intenção por trás desse encontro. - Anthony comentou rindo enquanto bebia seu café. Neguei com a cabeça, deixando minha caneta de lado. 

— Só aproveitei a oportunidade para perguntar a você. Mas claro que queria ver você também, Tony. 

Apesar de como ele me olhava, seu sorriso era presente. Quando voltei para passar o feriado da páscoa na casa dos meus pais imaginei que Anthony estivesse pela cidade também. Nós geralmente só nos víamos em momentos pontuais em datas comemorativas e nos dávamos parabéns nos aniversários. Mas, apesar da falta de contato frequente, aquela dinâmica parecia funcionar para nós dois perfeitamente.

A verdade é que ser amigo de Anthony Zabini sempre foi difícil, porque eu sabia que as pessoas estavam próximas dele por puro interesse. Mas ele era um cara simpático com todo mundo. E não ligava quando outras pessoas tiravam sarro de mim por nunca ir com eles nas saídas noturnas para bares e boates. Anthony nunca tinha problema em entrar nesses lugares porque, além da St. Louis, seus pais eram influentes em praticamente todo o condado de Hogsmeade. 

Mas eu não poderia me dar ao luxo de seguir ele e seus fãs para todos os lados. Era bolsista na época e, desde o adoecimento de meu pai, minha mãe trabalhava dia e noite em sua galeria de arte para tentar manter as coisas bem em casa. No entanto, mantê-la era realmente difícil, pois o lucro não era algo garantido. Por isso, mamãe fechou e foi trabalhar em uma loja de calçados, onde ao menos conseguia um salário mediano e podia contar com a sorte de boas comissões, pois as clientes do local se encantavam com o ar um pouco aristocrático que ela emanava.

O fato é que, enquanto Anthony e os outros estavam de pernas pro ar, eu estava me desdobrando entre estudos e trabalhos de meio período. Ninguém mais na escola sabia que eu era bolsista, até que ele descobriu. Ao me ver trabalhando em uma das lojas, que depois eu descobri pertencer à família dele, sua reação foi de choque e eu sabia que minha vida teria acabado. Bolsistas não eram bem vistos na St. Louis. 

Porém, para minha surpresa, ele se sentou ao meu lado no dia seguinte e me fez uma oferta. Eu faria seus trabalhos e ele me pagaria uma quantia que, segundo ele, era simbólica. Para mim, era o dobro do que eu fazia em um mês relativamente bom. E, naquela mesma semana, mamãe nos contou que uma pessoa entrou em contato com ela, perguntando dos quadros que ela costumava vender. 

Naquele mês ao menos cinco foram comprados, o que resultou em uma boa quantia que, apesar dos meus pais insistirem que fosse dedicada para meus estudos, fiz com que fosse destinada para o tratamento e adaptação da casa para meu pai, que na época havia acabado de ficar na cadeira de rodas.

Antes que eu pudesse perceber éramos amigos. E eu conseguia passar muito mais tempo em casa com meu pai, que se recuperava aos poucos das sessões de quimioterapia. 

Foi uma surpresa quando descobri os quadros de minha mãe espalhados pela elegante mansão dos Zabini. Ao perceber não soube muito bem como agradecer e ele estava um pouco sem ter o que dizer também, mas aquilo me fez eternamente grato, por suas gentilezas, e principalmente por sua amizade. 

— Eu achei que você escrevesse somente mistérios. Inclusive, no ano passado você virou um tópico bem frequente nos corredores de Cambridge. Imagine só quando descobriram que eu estudei na mesma escola que você. 

— Como é que souberam disso? - questionei de queixo caído e meu amigo coçou a barba rala, rindo. 

— Scorpius, existe uma coisa chamada Google. Você deveria tentar.

— Eu sei o que é. - resmunguei, um pouco irritado. - Só não coloco informações minhas em lugar algum. 

— E nem precisa. Seu fã clube descobriu tudo sobre você. - ele comentou risonho e eu mal podia acreditar em tais coisas. Minha escrita era só mediana. Não era digna de um fã clube, ele só poderia estar de brincadeira com minha cara. - Ah, qual é, Scorpius. Você sabe que faz o tipo de várias pessoas.

— Não sei não.

Anthony riu, enquanto me mostrava uma conta no Twitter dedicada a mim. Aquilo era surreal! Haviam fotos minhas andando pelo campus, no dia do lançamento do livro e fazendo compras normalmente. Como eu nunca soube da existência daquilo?

— Você tem essa cara de introspectivo e misterioso. Isso deixa as pessoas loucas. Você pode ler, se quiser. 

— Como você achou isso? - perguntei enquanto rolava as publicações e as interações. Às vezes falavam em como tinham medo de me interromper para pedir autógrafo porque eu parecia bravo o tempo todo, quando na verdade eu só estava de cenho franzido porque estava sem óculos ou porque a claridade estava me incomodando, e em outros momentos colocavam trechos dos meus contos ou do Assalto à rua Quatro.  

— Minha namorada é uma fã sua. Grande fã. 

Iria perguntar mais sobre sua namorada, até então desconhecida para mim, mas uma foto em particular me chamou a atenção. 

Era eu, desmaiado no balcão do bar, como Albus dissera que eu estava, assim como eu podia notá-lo mais ao canto conversando com David Wood, o que era estranho considerando que o romance relâmpago dos dois não havia acabado de um jeito bom no ano passado. 

O bartender, que aparecia de fundo, no entanto, não era Teddy, com seus cabelos azuis desbotados, mas sim um garoto negro e alto que eu não lembrava de estar lá. Quanto tempo fiquei desacordado para que Teddy tivesse mudado o turno? E quem era o tal garoto?

Eu tinha um pouco de esperanças de que eu tivesse realmente ido ao banheiro e encontrando a Ruby por lá, mas ao que tudo indicava eu só era um autor muito criativo que havia bebido demais e desmaiado no balcão a noite inteira. 

Talvez eu precisasse começar a me acostumar com a ideia de que Ruby era pura invenção da minha cabeça. Era isso ou admitir que uma fã louca tinha conseguido se comunicar comigo por sonhos ou que eu estava sendo perseguido por um espírito obsessor. 

Mas não era isso, eu sabia. Na verdade, sentia. Tinha algo que eu estava deixando passar. E, pensando justamente nessa sensação, saquei meu celular todo capenga - talvez ceder e comprar um novo fosse uma boa ideia - e mandei o que era minha vigésima quarta mensagem para Teddy. 

Teddy, por favor. É caso de vida ou morte. 

Situações desesperadoras exigiam situações desesperadas, como usar de chantagem emocional. 

Só esperava que Teddy finalmente me atendesse, caso contrário aquilo realmente viraria um caso de vida ou morte, pois eu estaria cada vez mais perto de ter um infarto.


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Notas finais do capítulo

Alguém andou notando algumas diferenças pequenas no Scorpius? Pois eu sim!
Problemas no paraíso, hmmmmm, qual será o problema do Albus?
Enfim, vou resumir pra não ficar perguntando item por item: teorias???
Ah, a fanfic vai ter 5 capítulos e um epílogo, então aguardem capítulos um pouquinho maiores, já que teremos dois para resolver tudo. E sim, tem como solucionar tudo em mais dois capítulos!
Quem me acompanha no Twitter (@caroolfoster) pegou as referências do Scorpius se chamando de patético e da Ruby falando sobre a adaptação de The Good Doctor ihihi Talvez eu solte mais algumas coisas por lá nos próximos dias.
Vejo vocês nos comentários? Espero que sim!
Beijos ♥
p.s: a história que a Nina contou eu vi em uma thread quando estava escrevendo a fanfic e PRECISEI colocar porque eu achei TOTALMENTE a cara de AGDMS (abreviação do nome da fanfic, pois estou ficando cansada de digitar inteiro de tanto que eu falo dela no twitter). Será que a Nina fez o ritual certo mesmo e podemos descartar a hipótese? rs #descubra