Condomínio Laranjeiras, n° 88 escrita por Beykatze


Capítulo 4
Bernardo Amado


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥ ♥



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O quarto do motel estava escuro e só o que se via eram as luzes fracas de uma coloração vermelha iluminando mal as paredes. O som que percorria o ambiente eram apenas as tragadas que Márcia dava em seu cigarro mentolado, a cabeça apoiada no ombro de Bernardo olhando para o teto com manchas de umidade.

Enquanto soprava a fumaça escura para longe do colchão dura, entrelaçava sua mão livre entre as mãos do homem, brincando com seus dedos distraidamente.

— A gente tem que parar de se encontrar – Bernardo comentou com um suspiro após alguns minutos de silêncio – Podem acabar suspeitando da gente.

— Suspeitando?? Da gente? – Virou os olhos verdes para ele apagando o cigarro no bidê ao lado da cama.

— Sim... Você sabe...

— Porque seriamos suspeitos de um assassinato? Não é como se eu estivesse dormindo com o Marco nem nada assim.

— Eu não sei, Márcia – Resmungou sem vontade.

— Então? Porque temos que parar com isso?

Bernardo suspirou mais uma vez, puxando o braço debaixo da cabeça da amante.

— Porque eu estou dizendo que sim. Isso não é certo. Pelo menos até passar tudo isso e eles encerrarem essa investigação.

— Eu não fiz nada de errado para parar com as minhas atividades – Sentou na cama olhando para o homem com certa raiva no olhar.

— Mas eu sim. Eu estou traindo a minha mulher com você e, primeiro que eu não quero que eles descubram isso, segundo que eles podem achar que eu escondo mais coisas.

— Hum – Soltou uma risada seca – Não está traindo aquela sonsa só comigo.

— Não fale assim da minha mulher! – Estreitou os olhos castanhos. No escuro avermelhado, os cabelos vermelhos de Márcia ficavam ainda mais destacados e sua pele branca adquiria um tom doentio – E do que você está falando?

— Ah não se faça de bobo – Desdenhou friamente.

Bernardo não respondeu nada, apenas a encarou esperando uma explicação. Uma raiva descomunal começou a inundar seu corpo.

— Na verdade eu to até bem feliz que aquela mulher morreu.

— O que? – Verdadeiro horror passou por seus olhos.

— Agora é só esperar Susana ir também e você pode ser meu.

O homem levantou rapidamente da cama, a pele negra empalidecendo de forma doentia, e piscou algumas vezes os olhos.

— Você tá maluca?

— Claro que não – Falou levantando e ficando na frente do homem – Mas eu sei que você estava tendo um caso com ela.

Bernardo sentiu os dedos tremendo com a adrenalina que corria em seu corpo, o sangue batendo em seus ouvidos e ensurdecendo-o.

— Quem mais sabe?

Márcia abriu um sorriso, tocando a mão quente na barriga dele, passando até a cintura e trazendo seu corpo para perto do dela.

— Pode ser que eu... tenha contado pra mais alguém...

Um acesso de fúria irrompeu pelos membros de Bernardo, que agarrou a mulher pelo pescoço, prendendo seu corpo na parede. Seus olhos claros piscavam muitas vezes e suas mãos arranhavam a dele, tentando se soltar em vão.

— Quem mais sabe isso, porra?

Márcia engasgava e lágrimas solitárias corriam de seus olhos. Impaciente, soltou um pouco o aperto apenas para bater o corpo dela contra a parede mais uma vez, com mais força.

— Pra. Quem. Você. Falou? Caralho, Márcia responde.

— Susana – Sussurrou. Bernardo se afastou rapidamente dela, soltando-a e fazendo com que ela caísse no chão com o repentino peso deixado sobre suas pernas. Do chão, Márcia tossia enquanto recuperava o ar.

— O que você falou pra ela?

— Eu mandei – Engasgou e respirou fundo mais uma vez – Eu mandei uma mensagem do celular da minha amiga, que ela não conhece.

— Ela não sabe que foi você?

Negou com a cabeça, levantando e buscando suas roupas na cama, vestindo-as o mais rápido que o medo a permitia.

— Não sabe.

— E como você descobriu? – Massageou os olhos e apanhou a própria roupa também.

— Eu era manicure dela, esqueceu?

— O que ela te disse? – Rosnou se vestindo.

— Esses dias que eu estava fazendo a unha dela – Falou baixinho. Já estava vestida e apenas coletava suas coisas do quarto, colocando em sua bolsa – E ela me contou que estava tendo um caso com um homem casado. Me disse que era do condomínio, e depois disso não foi difícil juntar as peças.

— O que quer dizer com isso?

— Que outro homem casado de lá seria tão infiel assim? – Desdenhou mais uma vez.

— Você me seguiu? – Franziu as sobrancelhas encarando Márcia.

— Apenas uma vez, para ter certeza das minhas suspeitas. Fiquei fula, tá bem? Fiquei muito brava, você estava me traindo.

Bernardo riu e passou a mão sobre os cabelos curtos.

— Você é uma amante, não tem direito de se sentir traída.

— É só isso que eu sou? – Estreitou os olhos, estava pronta para sair, mas ficou mais alguns instantes, tamanha a ofensa que sentia.

— Sim, o que mais você esperava?

— E era só isso que ela era também?

Bernardo não respondeu, vestindo os tênis sentado na cama. Márcia correu até a porta e abriu e, antes de sair, murmurou para ele.

— Pra mim já está bem claro o que aconteceu com a Rebeca.

O homem levantou os olhos e a encarou com escárnio.

— Pra mim também.

E, antes que pudesse alcança-la em sua corrida, a mulher bateu a porta na cara dele. Bernardo Amado ficou dentro do quarto, sabendo que qualquer coisa que fizesse a partir dali seria ruim. Com um resmungo raivoso bateu as duas mãos na porta, sem saber o que faria em seguida ou o quanto estava fodido.


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Notas finais do capítulo

O que acharam desse capítulo?
Quem vocês acham que foi? )o(
Estamos chegando no final



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