Condomínio Laranjeiras, n° 88 escrita por Beykatze


Capítulo 3
Susana König


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791625/chapter/3

— Susana – Marco arqueou as sobrancelhas, com surpresa. Achava que estava sozinho na singela capela do condomínio, com paredes brancas e curvadas e um vitral empoeirado.

Algumas horas desde o assassinato de sua esposa já haviam se passado, e o marido tinha acabado de ser liberado do interrogatório, indo direto para onde poderia se sentir seguro. Não era um homem cristão atualmente, entretanto, na sua infância, a figura de Jesus estava estampada por toda a casa e a família ia para a igreja aos domingos e, com essa memória, Marco sentiu que a religião poderia tranquilizar seu corpo e espírito.

— Não sabia que estaria aqui – Falou baixinho prendendo um cacho atrás da orelha. Seus olhos castanhos e brilhantes estavam inchados e vermelhos, ela andara chorando – Não queria incomodar você.

— Ah, não se preocupe. Pode se sentar aqui.

Deu espaço para a mulher, que sentou no banco ao lado dele.

— Não sabia que era uma mulher religiosa.

— Não sei se sou. Mas o que eu vi ontem... – Se referiu ao corpo sem vida, arroxeado e agoniante de Rebeca – Achei que precisava conversar com Deus.

Marco assentiu limpando algumas lágrimas que corriam pela lateral de seu rosto, engolindo a emoção de recordar aquela imagem.

— Eu sou o principal suspeito, sabia?

— O que? – Olhou assustada para ele.

— O marido sempre é – Deu de ombros com um suspiro cansado. Apenas queria livrar sua cabeça daquele fato – Nem ligo, porque sei que eles vão fazer um bom trabalho e logo eu vou ser excluído dos suspeitos.

— Que barra – Assentiu vagarosamente.

— Susana... Posso te contar uma coisa? – Pediu sentindo o peito apertado. Lágrimas brotaram de seus olhos tristes.

— Claro, Marco. Pode falar o que quiser – Segurou firme uma de suas mãos com carinho – Estou aqui pra te ajudar, se isso for possível.

— Eu... Eu acho que ela estava me traindo.

— O que? – Engasgou com a própria saliva.

— Bem, eu suspeitava disso e falei para a polícia. Primeiro eles me acharam maluco e tenho certeza que me consideraram culpado, mas eles também acham que ela tem um amante. Tinha.

— Porque eles acham isso? Isso é tão horrível... – Negou com a cabeça, balançando seus fios crespos presos em um coque.

— Não encontraram o celular dela na cena do crime.

— Oh. Ela pode ter sido assaltada?

— Não foi um roubo – Desdenhou.

— Ou eles não procuraram bem – Sugeriu com o esboço de um sorriso, tentando animar o vizinho.

— Não, Susana – Soltou a mão dela, gesticulando fortemente - Quem a matou levou o celular. Provavelmente tinha algo que incriminaria o assassino lá. Um convite, um encontro marcado... Uma ameaça. Alguma coisa!

— Que pesadelo. Mas você sabe quem era o homem? Seria mais fácil, não é mesmo?

— Sim – Suspirou esfregando as mãos no rosto – A única pista deles até o momento é que é alguém do condomínio.

— Alguém daqui? – Sua voz se exaltou um pouco, surpresa.

— Sim.

— Você quer dizer que alguém do condomínio laranjeiras matou a Rebeca?

Marco sentiu mais uma vez a dor de lembrar de sua mulher morta e concordou com a cabeça, tentando afastar a sensação de náusea que percorria seu estômago.

— E porque diz isso?

— Ninguém saiu ou entrou perto da hora que... aconteceu. Olharam todas as câmeras de segurança.

— Câmeras de segurança? – Sussurrou.

— É, estão por toda a parte, menos dentro do prédio, infelizmente.

— Ah... Seria o ideal, né? Que tivessem câmeras lá dentro. Devíamos conversar sobre isso com a síndica.

— Pois é. Bom, pelo menos diminuímos os suspeitos para esse lugar.

— Que horror. Nossos vizinhos são suspeitos de uma coisa tão brutal.

— Todos nós somos – Declarou saindo da capela e deixando Susana sozinha.

***

Susana chegou em casa, limpou os pés no tapete da frente e fechou a porta em suas costas. Ainda sentia arrepios de pensar na conversa que tivera com Marco. Foi até a sala, onde a televisão estava ligada no futebol e encontrou Bernardo com lágrimas nos olhos. Quando a viu limpou rapidamente o rosto e falou atrapalhado.

— Onde você foi?

— Na capela – Resmungou.

— Como foi?

— Encontrei Marco...

— Oh – Respondeu apenas enfiando a cabeça entre as mãos.

As palavras de Marco martelando em sua cabeça. Ela estava tendo um caso. Com alguém do condomínio. E essa mesma pessoa a matou.

Tinha os olhos ferinos pregados no marido, com raiva e medo. Porque será que ele tinha feito aquilo? Qual era o problema que ela tinha que fazia com que seu marido tivesse que ir buscar outra para ter prazer? 

Via que Bernardo estava disfarçando seu choro incessante e sentiu a repulsa crepitar em seu interior. Foi tomar um banho enquanto sentia suas próprias lágrimas correndo de seu rosto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D
E ai, quem é o atual suspeito para vocês?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Condomínio Laranjeiras, n° 88" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.