Céus em Queda escrita por Youseph Seraph


Capítulo 5
A rosa podada




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Ninguém pôde conter a surpresa quando abriram a porta. Serena ficou parada no lado de dentro da porta da frente quando fora mostrar o que estava acontecendo. Um véu mágico estava protegendo o grandioso território da casa de Seraph, perspicaz, de fato. Do lado de fora do véu, duas pessoas caídas. Uma delas era uma moça, de pele bastante pálida, olhos azuis profundos e cabelos negros, presos em um rabo de cavalo, e que usava uma camisa branca de mangas curtas e jeans preto. Em seus braços, a outra pessoa, um rapaz bem jovem, de feições quase andróginas, loiro, com cabelo indo até os ombros e que trajavas roupas de moda gótica vitoriana. Ambos bastante feridos.

Gabriel não esperou a ordem de ninguém para ir buscá-los. Saiu em disparada e os trouxe para dentro da casa. De fato, o véu mágico parecia confundir quem estava do lado de fora, mas Youseph, com um movimento das mãos, logo liberou o feitiço para que o rapaz pudesse entrar com os desconhecidos.

Quando chegaram dentro da casa, a moça, em uma ríspida atitude, deixou o rapaz loiro e inconsciente no chão.

—Ajudem ele primeiro, eu vou ficar bem. —Disse ela, então ela se ajoelhou e cedeu, desmaiando logo em seguida.

Por sorte, Nasura estava do seu lado e, junto de Gabriel, puderam deitá-la suavemente.

O desconforto de Serena era visível. Algo a incomodava.

—Bom saber que acordou. —Disse Serena. —Mas por favor, deixem ele sob proteção. —Ela apontava para o rapaz loiro.

Gabriel entendeu ao observar as roupas do rapaz. Eram parecidas com as que ele vira no sonho. Como as do homem que atacou a família Campbell.

—Deixe comigo. —Pediu Nasura a Gabriel. —Você acabou de acordar.

Gabriel assentiu com a cabeça enquanto observava o estado físico de ambos. A moça tinha ferimentos superficiais. Cortes, contusões e hematomas por todo o corpo. Ela havia carregado o jovem rapaz até aquele lugar por muito tempo. O rapaz, contudo, não apresentava tantos ferimentos, mas os que ele tinha eram o suficiente para deixar qualquer um em um estado grave. Uma grande abertura na parte de trás do paletó de tom cinza escuro, que levemente exibia uma cor violeta, era tomado pelo vermelho. Ele havia perdido muito sangue e o corte era profundo.

Serena tremia só de olhar para o rapaz. As lembranças que a roupa de engomadinho dele desencadeava nela eram realmente impactantes.

—Vem. —Disse Gabriel para Serena. —Vamos sair daqui.

Em seguida, a moça ruiva e o rapaz seguiram até outro cômodo da casa, igualmente enorme e sofisticado. A sala de jantar tinha uma imensa mesa de mogno em seu centro, toda detalhada em sofisticados entalhes, combinando com as cadeiras, igualmente de mogno e igualmente entalhadas, com acolchoados bastante confortáveis. As paredes tinham enormes janelas de vidro, das quais podia-se ver o jardim, com um pequeno chafariz. Com toda certeza, a família Seraph já pertenceu à aristocracia um dia.

Seguindo mais em frente, Gabriel e Serena entraram na cozinha. Com a sutileza de um cômodo da casa dos Seraph, ela parecia ser a cozinha de um restaurante popular. Havia fogões e fornos para cozinhar uma imensa quantidade de refeições. Os Seraphs provavelmente tiveram grandes refeições com convidados importantíssimos aqui.

Afastando o trigo de uma das mesas, Serena voltou a trabalhar no almoço. Havia ainda alguns tomates e cenouras sobre uma das mesas, bem como uma faca de prata.

—Ei, —Chamou Gabriel. —Eu sou o Gabriel. Prazer em te conhecer?

Serena suspirou em resposta.

—Me chamo Serena, da casa Campbell. De qual casa você é?

Gabriel ficou confuso.

—Por que todos querem saber de qual casa eu sou?

Ele não terminou de falar, mas a ponta da faca de prata de Serena já estava em seu pescoço em tom de ameaça.

—Porque existem aliados e inimigos nessa vida, Gabriel. E inimigos mataram minha família.

—Eu sei, calma! —Disse Gabriel. Suas pernas começaram a tremer.

Serena ficou confusa com a declaração de Gabriel.

—Youseph te contou?

—Ele não precisou. Eu meio que sonhei com isso. Aparentemente, meus sonhos são bem reais. —Revelou Gabriel.

Serena tirou a faca do pescoço do rapaz e logo voltou a cortar o tomate.

—É falta de educação usar magia pra ler a mente de outra pessoa. —Disse Serena com uma rispidez clara.

Gabriel relaxou, abaixando a postura.

—Eu não pude controlar. Só aconteceu. Mas, me diz, você realmente acha que o loirinho é da mesma família que aquele cara dos espinhos?

Serena começou a cortar os tomates com mais força.

—Só tem uma família que se veste igual uns vampiros de dois séculos atrás. Os Durand, da França.

Gabriel entendeu o recado.

—A propósito, meu sobrenome é Nascimento. Ou era do meu tio. Eu não sei. —Revelou Gabriel.

Serena parou e olhou para Gabriel abruptamente, mas ele já estava saindo da cozinha, de volta para os quartos.

Quando ele chegou perto do corredor, viu que a moça morena e o rapaz loiro estavam em quartos separados. A moça estava exausta, mas o rapaz estava terrivelmente ferido. Ao entrar no quarto do rapaz, viu Nasura segurando o ferimento dele com as duas mãos.

Uma brisa gelada tomou conta da sala. Youseph então trazia água com uma toalha para lavar os ferimentos menores. Então Youseph notou a presença de Gabriel.

—Ei, Nascimento, vem aqui. —Chamou Youseph. —Precisamos de ajuda para tirar isso dele. Por que esses caras são tão dramáticos com as roupas?

Gabriel se aproximou e assentiu. Enquanto Youseph erguia o rapaz, que estava inconsciente, Gabriel tirou o paletó roxo-acinzentado dele, seguido da camisa branca, que estava agora vermelha de sangue. Enquanto tirava, percebeu que o ferimento atravessava o peito do jovem e ia até às costas.

Nasura não tirava as mãos do ferimento da frente. Uma pequena energia azul fria se formava no ferimento. Gabriel percebeu que Nasura já o havia suturado e estava congelando o sangue no local para cicatrizar.

Com Youseph levantando os braços do rapaz e Gabriel desabotoando as mangas de sua camisa, os dois conseguiram tirar, enfim, a roupa que atrapalhava o tratamento dos ferimentos. Contudo, Youseph e Gabriel não deixaram de se surpreender. Junto do ferimento que jorrava um pequeno fio de sangue, havia na pele do garoto uma imensa quantidade de cicatrizes. Cortes de todos os lados e profundidades, que foram mal-tratados e acabaram por cicatrizar no formato de uma rosa.

A expressão de Youseph dizia por si só. "A quem estamos salvando?"

Em todo caso, Gabriel queria fazer o certo. Mesmo se aquele rapaz fosse mesmo um dos assassinos dos Durand, ele ainda estava gravemente machucado em sua frente.

Gabriel levou a mão até o ferimento e, então, a sua visão foi cegada por uma luz branca. Então ele viu alguém.

Era o mesmo rapaz? O mesmo rapaz loiro, usando um vestido rosa pálido? Não, era outra pessoa, era uma moça. A visão se aproximou dela, que estava sentada em uma cadeira, em meio a um jardim. Ela bebia tranquilamente uma xícara de chá enquanto fazia movimentos com as mãos. Seguindo seus movimentos, uma roseira, que estava plantada ao redor de um arbusto com enormes flores brancas, moveu-se até a mão direita da moça. Ela estendeu a mão para a flor, mas não chegou a tocá-la. Um espasmo a fez se curvar de dor, então ela gritou, no que parecia ser uma cacofonia de vozes, mas ouvidas debaixo da água. "HUGO".

Quanto voltou a si, Gabriel ainda estava segurando o rapaz. Era Hugo o seu nome? Ele havia começado a tremer. Gabriel não sabia se era o gelo de Nasura ou se era devido ao estado debilitado do rapaz. Nasura agora suturava a abertura nas costas. Youseph ainda o mantinha sentado.

—É Hugo? —Pergunta suavemente Gabriel. —O seu nome é Hugo, não é?

Youseph demonstra uma expressão mais séria, diferente do que já havia demonstrado antes. Ao pronunciar o nome, o rapaz para de tremer tanto e relaxa um pouco. Isso fez até Nasura parar por alguns segundos.

—Vai ficar tudo bem. —Dizia Gabriel.

O rosto de Youseph expressava muito bem o que ele estava pensando. O rapaz era, de fato, um Durand. Seria Hugo Durand o seu nome completo?

Passou mais alguns minutos até Nasura terminar. Hugo já estava vestindo o mesmo pijama hospitalar que Gabriel usava. O rapaz estava estabilizado. Não havia mais sangramento, seus ferimentos estavam limpos e tratados e, de acordo com Nasura, nenhum órgão vital foi atingido.

Nasura então pediu para que os dois se retirassem. Era essencial que Hugo recebesse o máximo de silêncio possível. Youseph e Gabriel, de fato, se retiraram, mas ao saírem, Youseph olhou com seriedade para Gabriel.

—Você sabe quem esse cara é?

Gabriel fez que não com a cabeça.

—Nunca vi na minha vida.

—Então. —Dizia Youseph, com as mãos nos ombros de Gabriel. —Saiba que o pai dele é um dos líderes da aristocracia que anda nos perseguindo. Saiba que é o pai dele quem enviou aquele cara com a foice para te matar. O próprio filho de Erron Durand.


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Notas finais do capítulo

Desculpa demorar uma semana para postar esse capítulo, mas acho que a partir daqui as coisas começam a ficar mais interessantes. O que posso dizer? O Hugo é, pessoalmente, um dos meus OCs favoritos.



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