Céus em Queda escrita por Youseph Seraph


Capítulo 4
Com os pés no chão




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Gabriel não conseguiu se lembrar de imediato como tudo aconteceu. Só sabe que acordou do que parecia ter sido uma eternidade. Um sonho que durara meses. Ou seriam sonhos? Ele não sabia responder. Sua cabeça estava doendo e parecia estar girando. Quando se deu conta dos arredores, percebeu que estava em uma cama, em um quarto grande, de paredes brancas, muito bem-iluminado pela grande janela, de onde saíam raios de luz aconchegantes, e que estava coberto com um cobertor azul e usando um pijama hospitalar.

Ele se levantou, mas uma mão, atrás dele, logo o parou, o que o levou a se assustar um pouco.

—Calma. Sou só eu. —Disse o rapaz.

Gabriel logo notou que, por um breve instante, conseguia lembrar do rosto do moço. Ele tinha uma óbvia ascendência asiática, com o cabelo liso e escuro despenteado e olhos tão escuros que era difícil saber se eram pretos de fato ou só de um castanho muito escuro.

—Onde eu estou? O que aconteceu? —Perguntou Gabriel, confuso.

—Até que parte se lembra? —Responde o rapaz com outra pergunta.

—Eu não sei. Eu tive um sonho... alguns sonhos... em uma hora eu tinha asas, fui puxado para um limbo, não consegui respirar, aí eu estava numa boate e persegui uma moça ruiva, então eu virei a moça ruiva e caí num poço de fogo ou algo assim, eu...

—Espera! —Interrompeu o rapaz. —Moça ruiva? Serena?

—Sim, era esse o nome! Eu falo dormindo? —Gabriel fica ainda mais confuso.

O semblante de inquietação do rapaz deixava Gabriel preocupado. O que a moça tinha de tão especial?

—Meu caro, Serena é a mulher que te salvou da morte.

Gabriel ficou em silêncio por alguns segundos. Não entendia o que estava acontecendo, mas sabia muito bem que tinha algo de errado com tudo aquilo. Então ele se lembrou de uma coisa.

—Meu tio! O que fizeram com meu tio? —Perguntou Gabriel, com visível inquietação.

O rapaz vira o rosto. A resposta era óbvia.

—Encontramos um corpo no campanário. Metade da estrutura desabou. Mas não foi natural.

Gabriel só ouviu em silêncio. Seu tio se foi. Sua única família.

—Obrigado. Qual é o seu nome? —Pergunta Gabriel.

—Me chamo Nasura, da casa Akira. —Diz o rapaz, assentindo com a cabeça em solidariedade. —Como se chama?

—Sou Gabriel. O que é essa coisa de "casa"?

Nasura se surpreendeu com a pergunta. Não seria Gabriel um anjo também? Como poderia ele não saber?

—Alguém lá fora pode te explicar melhor. —Diz ele, saindo pela porta de mogno, esculpida para se parecer com a imagem de um cavaleiro.

Em seguida, Nasura aparece novamente, trazendo consigo uma figura que Gabriel já conhecia — ou pelo menos, conhecia em partes, visto que só tinha o visto em sonho.

—Veja só, a Bela Adormecida acordou! —Dizia o jovem de olhos da cor de âmbar, cabelos negros, barba mal-feita e um sorriso travesso no rosto.

Gabriel não conseguia explicar, mas sabia que o nome dele era Youseph. Youseph Seraph.

—Eu te conheço. —Diz Gabriel.

Youseph dá um sorrisinho enquanto fecha os olhos.

—É claro que conhece. Eu sou famosíssimo por aqui. —Diz Youseph, seguido de uma gargalhada. —Ai, é brincadeira. Mas é sério, você realmente conhece. Não pude deixar de te ouvir. Você é um empata, né? Me pergunto, o que você viu de mim?

—Me desculpa, eu não te entendo. —Diz Gabriel.

—Ah, mil perdões. Vamos começar do início. Você é um anjo, Gabriel. Não figurativamente, ou talvez sim, você é lindinho como um. Mas dessa vez, é literal. Você é literalmente uma criatura alada com poderes divinos. Tirando o fato de que nem todo anjo é lindo, tem asas e tem poderes divinos. —Explica Youseph. —Alguns já nos chamaram de magos na antiguidade. Outros de devas. O fato é que você tem um catalisador de magia dentro de você que te permite fazer coisas.

Gabriel não se surpreendeu. Ele soube que era um anjo quando aquele encapuzado tentou lhe cortar ao meio com uma gadanha.

—Eu estou ciente disso. Pelo menos, agora. —Diz Gabriel, se lembrando do ocorrido. Seu tio tentava lhe proteger de alguma coisa.

—Mas então, —Continuou Youseph, —Qual é o seu sobrenome? Deve pertencer à uma família da corte celestial. Uma "casa". —Pergunta ele. O homem fez aspas com os dedos para enfatizar a palavra "casa".

—Meu sobrenome é Nascimento. —Revelou Gabriel. —Por que aquele cara tentava me matar?

Youseph e Nasura pararam de se mexer quando ouviram o sobrenome "Nascimento". Aquilo conseguiu desestabilizar até mesmo Youseph, que parecia tão relaxado e cheio de si.

—É claro que estavam tentando te matar. —Disse Nasura. —Você é um Nascimento, da família que nomeou os povos humanos da Europa até o Brasil. Você é o bebê que foi raptado. Você é apenas o herdeiro da própria família que foi responsável pela crise de poder que só vem aumentando nos últimos séculos. Os antigos Daren que mudaram o seus nomes para homenagear o filho que nasceu e morreu.

Gabriel simplesmente ficou desnorteado com tanta informação.

—Mas deixa essa parte pra lá, não é importante agora. —Interrompeu Youseph. —O que você precisa agora é de uma boa refeição, de um banho, e de uma aulinha prática sobre esse lugar.

Ainda bem que Youseph tinha interrompido Nasura. Gabriel não queria ter uma aula a respeito de sua árvore genealógica.

—Falando nisso, —Falou Gabriel, —Ainda não me responderam. Onde estamos?

Youseph então se levanta e sai de frente da janela. Com um gesto exagerado dos braços, ele aponta para fora.

—Esse é o plano celestial, bebê! Aqui você pode usar magia à vontade e sem ser detectado. É uma cópia fiel do plano físico. E também, andar fora do meu território pode ocasionar em uma captura. E também, aqui a gente consegue se ligar por uma espécie de vínculo, chamado vínculo de Babel. É uma magia telepática que me faz entender seu espanhol. —Fala Youseph.

—É português. —Retruca Gabriel.

—Que seja. —Responde Youseph. —O fato é que quando você usa magia no plano físico, que é onde você estava, você suga um pouquinho da energia daqui. Foi assim que te acharam e foi assim que te achamos. Sabia que você emite ondas de rádio que atravessam diferentes planos da realidade? Aposto que não!

—E como me salvaram? —Pergunta Gabriel.

Youseph, então, levanta as mãos e estala os dedos, tomando a imagem de algumas pétalas rosa-claro que dançam no vento, imagem que logo se desfaz, mostrando que Youseph é um ilusionista poderoso.

—E por que eu sonhei com você, Youseph? Me disse que sou um empata, é por isso?

—Sim, Gabriel. —Diz Youseph. —Os Nascimento foram grandes empatas no ápice de seus poderes. Mas mesmo que tenhamos perdido grande parte do acesso à nossa magia, você ainda consegue sentir o que outros sentem. É magnífico. —Então, Youseph logo notou do que Gabriel era capaz. —Mas me desculpe por qualquer inconveniência que tenha visto a meu respeito, tenho tendência a procurar entretenimento por aí.

—Eu não sonhei com você. —Diz Gabriel, voltando os olhos para Nasura.

O rapaz não se surpreende.

—Algum dia, talvez, eu permita. —Diz Nasura em um tom frio e autoritário. Em seguida, ele sai do quarto. —Vou pedir para Serena me ajudar a preparar alguma coisa para comer. Você ficou quase um dia todo apagado.

Assim que Nasura saiu do quarto, Youseph toma uma postura mais séria.

—Sinto muito pela postura de Nasura. Ele é novo nessa casa. Faz pouco mais de dois meses que a situação ficou feia por aqui. Uma guerra entre as facções é inevitável e alguns de nós simplesmente não têm como voltar para seus lares.

—A mulher ruiva, Serena, ela perdeu a família, não é mesmo? —Nota Gabriel.

Youseph assente com a cabeça e continua. —Outros estão sendo ameaçados a perder. Meu pai é o líder de uma aliança pacífica entre os exilados. Aqueles que estão fugindo desse conflito mesquinho. Mas é complicado. Ou juramos lealdade, ou somos perseguidos.

Então, em um instante, barulhos de passos apressados tomam o corredor e Serena aparece na porta. Ela estava com um olhar preocupado e visivelmente inquieta.

—Yous, temos problema! —Alertou ela. —Tem mais alguém na porta. Mais fugitivos. E dessa vez, você vai se surpreender.


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Notas finais do capítulo

Voltando à linha do tempo principal, ficamos com uma conversinha básica pra acalmar um pouco.



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