Céus em Queda escrita por Youseph Seraph


Capítulo 3
A Caçada


Notas iniciais do capítulo

Por algum motivo, para mim é bastante fácil escrever as histórias de origem dos meus OCs. Então esperem mais dessas histórias aqui por um tempinho.



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Era um belo dia para a família de exilados. Após negar as tradições chiques da aristocracia, bem como se recusarem a serem marionetes nessa crise que os anjos enfrentavam, a família Campbell fugiu para o plano material, mais especificamente para o interior da Escócia. Era fácil entender o porquê, afinal, a casa Campbell se situava, no plano celestial, em um território que correspondia à posição do país no plano material.

Serena e seu irmão, Darius, ainda estavam se acostumando com as tarefas que seus pais e tios lhe conferiram. Era necessário para que pudessem sobreviver lá. Era necessário que não usassem da magia, que permanecessem em segredo ou...

A mulher tremeu só de pensar. Todos deveriam cooperar. Apesar de serem os especialistas em magia, sua maior força era exatamente o que mais colocaria suas vidas em risco. "Apenas feitiçaria natural", disseram. "Nada de invocar sua magia de outros planos, ou eles vão nos achar".

Depois de seu tio Elliot e seu primo Luke terem se sacrificado para sair pelo véu, Serena não poderia deixar que fossem todos pegos. Não depois de tudo...

Darius estava bastante otimista, de um jeito até que esquisito. Se Serena não o conhecesse bem, não saberia se aquilo era otimismo de verdade, ou apenas seu irmão mais novo disfarçando a dor do luto para parecer mais forte. O rapaz tinha uma determinação de fogo mesmo.

Ele estava se esforçando, talvez até mais que ela mesma. Eles carregavam gravetos para se manterem aquecidos, afinal, não havia instalações elétricas na cabana que construíram às pressas.

Enquanto chegavam em casa, Darius e Serena viram seu pai, Jonah, que trazia um pato abatido. Era aquele o almoço do dia.

Foi com o fogo dos gravetos que cozinharam naquele dia. Serena observou a todos na sala. Cada um parecia ser, realmente, um Campbell, tanto por suas características físicas, como o cabelo ruivo e cacheado que cada um tinha, os olhos azuis profundos, o rosto com traços suaves e as sardas pela pele, quanto pelas características emocionais de cada um. Todos estavam igualmente abalados pela perda de Elliot e Luke. Especialmente a tia Elena, que havia perdido marido e filho.

—Vamos deixar um sacrifício para Elliot e Luke, Elena. Elliot pode não ter nascido um Campbell, mas se tornou um quando lhe deu um filho. —Começou Ellen, mãe de Serena e irmã de Elena. —E Luke, que rapaz bonzinho ele se tornou. Vamos honrar a ele também. Ele será para sempre o nosso orgulho.

A tia Elena não pôde responder com jeito e simplesmente desabou em lágrimas. Ela usava as mangas de sua camisa bege para disfarçar o choro, mas se entregou aos braços da irmã.

Tio Edward cortou as coxas do pato e as jogou no fogo. Se Elliot e Luke estivessem ali, este seria o sacrifício que os deixariam descansar em paz.

Então, em silêncio, todos sentaram-se na mesa e comeram.

No período de uma semana, Serena percebeu que Darius ficava cada vez mais impaciente. Ele parecia estar ficando cada vez mais abalado com essa história de perseguição dos grandes barões do plano celestial. Aquele maldito grupinho de almofadinhas narcisistas, que na ideia de que eram superiores e que deviam conquistar poder absoluto, se juntaram e consideraram os "inferiores" indignos de estarem no plano celeste. Então jurava-se lealdade ou eram exterminados.

Naquela tarde, Darius estava na encosta de um rio próximo à cabana. Ele estava usando uma camisa branca de gola, suspensórios e uma calça cáqui. Serena estava só com um vestido simples de cor marfim, sem mangas e com detalhes em bordado. Ela ficou em pé ao lado do irmão, em um silêncio que pareceu falar mais do que qualquer palavra.

—Eu queria manter contato com eles. —Começou Darius. Ele arrumava os cabelos curtos observando seu reflexo no rio.

—Acha que ainda estão vivos? —Pergunta Serena.

Darius fez que sim com a cabeça.

—Não os vimos se sacrificarem. Eles apenas foram enquanto atravessávamos o véu. —Argumentou o rapaz, que apesar de adolescente, já esboçava maturidade o bastante na fala.

Serena também queria saber, mas não arriscaria revelar sua localização com predição através do fogo.

—Olha, Darius, eles estavam prontos para morrer. Eles salvaram nossas vidas. Vamos fazer isso por eles. Vamos viver por eles. Não podemos arriscar.

—Eu sei. —Interrompeu ele. —Eu só queria que tudo isso acabasse.

Serena entendia mais do que gostaria de admitir.

Os irmãos ficaram parados lá, até que Jonah, o pai deles, se aproximou.

—Filhos, eu tenho mais uma coisa para pedir para vocês.

Os irmãos ficaram todos atentos.

—Aqui perto tem uma gruta. —Dizia Jonah, apontando para sudeste. —Já havíamos encontrado ela antes, eu e seu tio Edward. Poderiam, por favor, buscar uma coisa para a gente lá? —Disse o pai.

Serena assentiu, enquanto ajudava Darius a se levantar.

—Ótimo, quando chegarem lá vocês vão saber do que se trata.

Antes de saírem, Jonah lhes deu um abraço que parecia agradecer por ainda tê-los ali, mas que também parecia um adeus.

Enfim, depois de seguirem por uma trilha que, provavelmente, havia sido feita por Jonah e por Edward, os irmãos se deparam com uma gruta, cuja entrada era rodeada de pedras cobertas de musgo. Antes de entrar, Serena apreciou a beleza da floresta e, então, sentiu-se em paz por um minuto, antes de se recompor e entrar, seguida de Darius, que vinha logo atrás.

Depois de descer algumas rochas que formavam degraus um pouco íngremes, Serena percebeu do que se tratava. Duas pedras de lápis-lazuli se encontravam no chão, em evidência em um feixe de luz solar, que entrava timidamente por uma fenda no teto da gruta. Darius pareceu não entender, mas Serena compreendia perfeitamente. Ela pegou a pedra e correu, voltando desesperada para a cabana.

—ESPERE! —Gritava Darius, mas assim que chegaram próximos à cabana, perceberam que ela havia sido tomada por vinhas espinhosas e ásperas.

Em frente à cabana havia um anjo, assim como eles. Usava uma roupa tipicamente vitoriana, de cor preta, assim como seus cabelos. Isso contrastava muito com a tonalidade marfim de sua pele. Ele segurava uma gadanha de ferro e parecia satisfeito com o trabalho que havia feito, mas ao olhar para um relógio de bolso, demonstrou clara insatisfação. Ele não havia terminado o trabalho.

Em um instante, antes do homem se virar, Serena apertou a pedra de lápis-lazuli em sua mão, que da cor azul, passou a tornar-se laranja. E então eles correram.

O homem com a gadanha vinha logo atrás, retorcendo a vegetação que crescia no chão. Serena e Darius se entreolharam e assentiram. Eles sabiam o que precisavam fazer. A única magia permitida. Mas não sem antes despistar o homem.

Enquanto corriam, espinhos cresciam no chão, tentando perfurá-los. Um quase conseguiu atingir Darius.

Em uma tentativa desesperada de capturar suas presas, o homem vitoriano ergue uma parede de espinhos entre Darius e Serena. Um não conseguia ver onde o outro estava.

—CORRE DARIUS, CORRE! —Gritou Serena. Então, ela apenas viu um pilar de fogo surgir e se dissipar brevemente. Ele fez. Darius fez a magia de abdicação. Ele destruiu a pedra e foi para bem longe, sem deixar rastros. Sacrificar um item mágico do plano material. Os Campbell eram inteligentes.

Serena tentou fazer logo em seguida, mas foi interrompida por um golpe que o homem tentara lhe dar com a gadanha. Esta, ficou presa no espinho. Ela não poderia fazer isso com o homem tão perto, ou correria o risco de ser rastreada. Então, ela fez uma chama surgir na sua mão, então, lançou-a contra o anjo, que se debateu enquanto sua roupa era chamuscada.

Serena correu, e correu o suficiente até chegar na gruta. Quando se recompôs, apertou a pedra e a fez soltar uma labareda que percorreu todo o perímetro do lugar. Quando o anjo chegou, não lhe restara presa alguma.

Quando Serena abriu os olhos, ela estava em um beco, em uma cidade bem movimentada. Londres. Ela sabia onde era.

Um fragmento da pedra ainda restava em suas mãos, e esperava que Darius também tivesse um. Onde quer que ele estivesse.

Ela olhou ao redor, sem saber o que poderia fazer. Então, notou que estava realmente com fome. Ela não tinha dinheiro, então precisaria roubar. E não estava nem um pouco feliz com isso. Mas seria necessário.


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Notas finais do capítulo

Essa foi a história de origem da Serena. Perceba que ela se passa pouco antes do capítulo anterior. Dito isso, obrigado por lerem.