Ligados escrita por Liberii


Capítulo 2
Blossom




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 Quando acordei nem fiz o esforço de abrir os olhos. Minha mente já estava em pleno funcionamento, o suficiente para eu perceber que o despertador não havia tocado e eu provavelmente tinha acordado antes dele. De novo.

 Suspiro e abro os olhos devagar, me acostumando com a claridade que entrava pela brecha das cortina e como ainda estava amanhecendo não precisei esforçar muito a vista, o quarto estava numa penumbra agradável. Olho para o lado -em direção a comoda ao lado da cama- e percebo que o relógio marca exatamente 05:33.

  Mordo os lábios em irritação. Era sempre assim, meu relógio cronológico estava tão acostumado ao meu horário noturno de combater monstros e bandidos que agora -com a defesa da cidade reforçada por guardas humanos com armamento pesado- não conseguia aceitar que eu era uma adolescente normal e deveria ter todos os minutos de sono possíveis antes das 6:00 horas, quando começaria oficialmente meu dia.

  Por fim respiro fundo  e desisto de tentar dormir...na verdade eu nem tentei voltar a dormir, sabia que não conseguiria uma vez que minha mente estivesse desperta seria praticamente impossível voltar a dormir. Decidi ir em direção ao meu banheiro e tomar um banho gelado, sei que parecia loucura tomar banho gelado a esta hora da manhã mas minha temperatura sempre foi mais elevada que das outras meninas, então raramente sentia frio.

   Tirei minha camisola e antes de entrar no box do chuveiro me olhei no espelho, a figura ruiva me olhava de volta. Meus olhos rosas estavam em destaque por conta das olheiras embaixo dos mesmos, enquanto meu cabelo estava emaranhado e minha franja arrepiada. Por um momento ponderei a ideia de lavar o cabelo, afinal eu tinha tempo de sobra para secar com o secador e talvez fazer chapinha...desisti da ideia e fiz um coque nos longos fios ruivos para não molhar. 

 Não é como se ele estivesse sujo, havia lavado o mesmo no dia anterior e só queria lavar de novo porque não conseguia ver os fios fora de ordem e quando eles estavam lavados, ficavam macies e bem lisos. Mas por algum motivo, a indisposição me abateu e resolvi deixar aquela tarefa para o dia seguinte, ou quando eu chegasse da escola...

   Pareço a Buttercup desse jeito.

  Não era segredo para ninguém que minha irmã não gostava de fazer nada na hora, se eu não ficasse em cima da mesma, nem as próprias roupas ela colocaria para lavar. Provavelmente faria um montinho de roupas no quarto e quando ficasse sem roupas, jogaria todas elas na maquina de lavar.

   Terminei o banho e fui em direção ao guarda roupa, mas parei no meio do caminho ao perceber que o quarto estava mais iluminado que antes e meus olhos foram para a janela perto da comoda. Andei até a mesma e puxei a cortina deixando a claridade invadir o quarto completamente, demorei dois segundos para me acostumar com a luz e logo olhei para fora da janela, avistando o jardim e a rua vazia abaixo.

  Quando eu, Bubbles e Buttercup completamos 15 anos, ganhamos uma viagem -com todas as despesas paga pelo prefeito- para a Disney e assim que voltamos percebemos imediatamente algo errado no andar de cima, antes da viagem no nosso quarto havia três janelas -todas perto uma da outra- e percebemos que as janelas estavam mais afastadas, bem afastadas. O professor havia mandado reconstruírem todo o andar de cima para acomodar três quartos e ainda pintou com nossas cores preferidas, deixando a tarefa de decorar para nós mesmas. Foi assim que acabamos com quartos individuais.

   Desperto dos meus pensamentos com o barulho do despertador na comoda, indicando que são 6:00 horas da manhã e que eu deveria acordar. Um pouco tarde pra isso.

 Continuo o caminho para o guarda roupa e pego meu uniforme que estava separado em um cruzeta. O uniforme consistia em basicamente uma blusa de mangas compridas branca e uma saia que ficava acima dos joelhos. A cor da saia, assim como a calça dos meninos, era um escolha pessoal. Era só falar para a costureira da escola a cor que queria e ela tirava suas medidas.

 Escolhi a cor vermelha, Buttercup e Bubbles escolheram verde e azul, respectivamente. Na época em que entrei no ensino médio, até pensei em ter a saia cor de rosa, mas por algum motivo não me identifico mais com essa cor. Ainda gosto de rosa, nunca deixei de gostar, mas o rosa parecia pertencer a uma outra época da minha vida, parecia pertencer a menina de 6 anos que usava laços e vestidos rosas e gostava de voar e derrotar monstros, agora tudo o que queria era ter uma vida normal e ir a uma boa faculdade.

  Não sabia onde o vermelho se encaixava nisso, mas me dava a sensação de que eu amadureci de alguma forma e deixei de ser aquela garotinha. A sensação...de seguir em frente.

Depois de vestida, fui para a frente do espelho. Soltei meu cabelos do coque desajeitado que tinha feito no banheiro e vi os fios ruivos caírem até a altura de minha bunda. 

   Talvez eu devesse cortar...não.

 Comecei a árdua tarefa de penteá-los e agradeci por serem lisos e não costumarem ficar com muitos nós. Depois de penteados, peguei um brilho labial rosa e passei nos lábios, juntamente com um pouco de rímel.

 Depois de verificar minha aparência novamente no espelho da comoda resolvi descer para o café.

 Ouvi o som de passos na cozinha e presumi que o professor estivesse fazendo o café da manhã. Ele raramente saia do laboratório de manhã, mas sempre que saia fazia questão de preparar café da manhã para todo mundo.

 Já estava com um sorriso no rosto, preparada para dar um susto no cientista quando passo pela porta da cozinha e meus pés estagnam no lugar. Não era o professor.

  Buttercup estava de costas para a porta da cozinha, então não poderia me ver, pensei que tivesse me ouvido mas estava tão ocupada soprando...alguma coisa, que estava dentro da frigideira que não me percebeu ali.

  -Meu Deus...Buttercup o que você tá fazendo?- minhas palavras pareceram despertar a morena, que parou de soprar a frigideira e simplesmente jogou a mesma na pia e virou com um sorriso no rosto.

  -E aí Blossom! Resolvi fazer o café da manhã hoje, senta aí e espera. – Dito isso se virou novamente para o fogão.

 Me sentei na bancada da cozinha e olhei desconfiada para os alimentos em cima da mesa. Buttercup tem muitas qualidades e cozinhar não era uma delas.

  -Pensando bem...marquei com Dexter de tomar café da manhã com ele. Deixo a minha parte pra Bubbles.- Quando estava prestes a me levantar, sinto uma mão agarrar em meu ombro.

  -Dexter não vai se importar, vamos comer o café da manhã juntas, certo irmãzinha?-Buttercup diz com um sorriso forçado ao meu lado e -detalhe- segurando uma faca com a outra mão.

 Realmente, Dexter não se importaria. Não é como se tivesse marcado algo com ele, mas mesmo se tivesse o ruivo não se importaria, uma das coisas que eu gostava nele. Ele entendia que eu era ocupada e não forçava a barra por nada. 

 Sei que Buttercup ter acordado cedo para -tentar- fazer o café da manhã tinha um bom motivo. Suspirei e desisti de levantar, sentido o aperto no meu ombro sumir e a morena voltar para o fogão.

  -Bom dia Meninas!- Bubbles entrou sorrindo na cozinha, mas ao ver Buttercup com um avental e meu olhar de desespero para a mesma seu sorriso morreu lentamente e ela deu uma passo para trás. 

  -Er...eu tenho que ir pra Biblioteca cedo hoje, então até dep-

  -NADA DISSO!-Buttercup aponta a faca pra loira e depois aponta para o banco ao meu lado-Senta. E não me faça repetir.

  Bubbles suspira e se senta ao meu lado. Reparo que ela estava com o tipico uniforme do colégio em que estudávamos -uma blusa branca de mangas compridas e uma saia azul- e usava um par de sapatilhas estampada com pequenas flores azuis e seus cabelos estavam presos em duas maria chiquinhas.

  -Isso foi saudade dos velhos tempo?- Apontei para seu penteado.

  -Talvez.- Da de ombros e sorri- só senti vontade de usá-los assim hoje, nenhum motivo em especial.

  Concordo com a cabeça e passo os olhos pela cozinha. Eu e Bubbles estávamos sentadas em um balcão que separava a parte em que cozinhávamos, dá mesa de jantar. A mesa tinha seis lugares. Duas cadeiras nas pontas e quatro nas laterais, geralmente comíamos na bancada mesmo,  já que o professor passava muito tempo no laboratório e a mesa era grande de mais para nós três. 

  Quando Buttercup colocou os ovos que estava fazendo na bancada, Blossom ouviu a loira engolir em seco.

 -Podem se servir.- A morena se sentou na mesa, com um sorriso de orgulho no rosto.

  Dei de ombro e peguei dois pães de canela e um pouco de ovos mexidos, não tinha como deixar ovos ruins e o pão não parecia queimado. Bubbles vendo que não teria como escapar, pegou uma panqueca queimada e colocou mel em cima, muito mel.

  Dei a primeira mordida no pão e me surpreendi, estava bom! Lembrei da ultima vez que Buttercup tentou cozinhar e acabou saindo um bolo com gosto -e algumas cascas- de ovo, confesso que estava esperando a mesma coisa dessa pão caseiro.

 -Tá muito bom Butt, onde aprendeu?- continuei a comer, me servindo de uma xícara de café.

— Fiz uma aposta com o Micht, disse que faria pães de canela deliciosos e se passar pela aprovação do time, ele vai me dar 200 dólares.- Diz também se servindo de café e colocando um pouco para Bubbles.

 -Tá explicado por que acordou cedo. Tá acordada faz tempo?- A loira pergunta, enquanto dá um longo gole no seu café.

  Percebo a morena encolher os ombros.

—Na verdade eu não dormi...cheguei tarde em casa, tava no fliperama com os meninos. E passei no supermercado pra comprar os ingredientes, depois fiquei vendo tutoriais no YouTube sobre pães de canela e umas 2:00 da manhã eu vim pra cozinha.

  Parei de beber café e reparei em Buttercup, reparei de verdade, pela primeira vez naquele dia. Ainda estava com as roupas de ontem e com enormes olheiras, mas mesmo com o aspecto cansado tinha um olhar vitorioso no rosto e esse olhar faz eu guardar meus comentários sobre a saúde que traz um bom sono e me limito a suspirar.

 -Sugiro que tome banho logo, eu e a Bubbles arrumamos aqui e guardamos os pães de canela pra você levar.- Olhei no relógio da parede -Se for agora pode terminar de tomar café com a gente, saímos em 30 minutos.

 Buttercup concordou com a cabeça e se saio voando em direção ao seu quarto, deixando um flash de luz verde na cozinha que sumiu tão rápido como apareceu.

  Me viro para Bubbles na mesma hora. A loira comia a panqueca tranquilamente e estava na segunda xícara de café.

 -A panqueca tá boa?

 Bubbles fez uma careta.

—Ta horrível. Faltou sal e só  estou sentindo o gosto do ovo.- E mesmo assim, reparei,ela comia sem reclamar e não soltou nenhum comentário na frente da nossa irmã,  por que sabia que ela ficaria triste.

 Por isso amava suas irmãs. A alma bondosa de Bubbles a impedia de ser má com as pessoas, fazia de tudo para vê-las felizes e o espírito rebelde e desafiador de Buttercup a fazia explorar seus limites e sempre conseguir alcançar um resultado. As duas eram como óleo e água e mesmo assim, inseparáveis.

  Era realmente bonito de se ver.

Depois de 15 minutos Buttercup desceu para terminar seu café e as três saíram.

 Íamos andando para a escola, mesmo podendo voar. Era mais uma das medidas que tomamos para nos "encaixarmos" a nova vida, sem precisar lutar e salvar a cidade. Depois de a segurança da cidade ser reforçada -com a ajuda de maquinas que o professor criou- não precisávamos mais lutar, no começo reclamamos, obvio,  afinal foi para aquilo que tínhamos sido criadas. Mas então o professor disse algo que desarmou qualquer argumento que qualquer uma das três tivessem. 

  "Quando criei vocês pensei que seriam armas que salvariam a cidade, mas tudo que eu enxergo são minhas filhas se arriscando e lutando por uma causa que foi designada a vocês. Vocês três não são soldados descartáveis, são minhas preciosas filhas e enquanto eu puder impedir, não precisaram mais lutar."

  Lembro das palavras dele como se estivesse ouvido pela manhã, de tão frescas que eram em minha memoria. Então foi isso, com a segurança reforçada não precisávamos mais lutar, os pequenos bandidos que apareciam a policia dava conta e pela primeira vez tivemos a oportunidade do que parecia ser apenas um sonho distante: Uma vida normal.

  Reparo em minhas irmãs, enquanto caminhávamos juntas.

 Buttercup ficava sempre a direita, gostava de caminhar pela manhã pois já chegava exercitada na escola e podia ignorar os alongamentos do treino. A morena fazia parte do time de vôlei feminino e era a capitã. Já Bubbles ficava sempre a esquerda, sorria e acenava para todos enquanto caminhava "Gostava de ver as pessoas na rua e a forma como socializavam" palavras da loira.

 E eu no meio das duas, caminhava perdida em pensamentos e só não esbarrava em alguém por conta das irmãs ao meu lado. Pensava no conselho estudantil, era a vice-presidente e ainda teria que rever o relatório dos clubes quando chegasse na escola, pensava na vida antigamente com monstros e bandidos e principalmente pensava na diferença entre essas duas vidas e ao mesmo tempo a forma com eu parecia me encaixar perfeitamente nas duas.

 O dia estava muito normal até aquele momento, Bubbles e Buttercup estavam em uma conversa animada sobre algum filme novo que iria estrear e as duas pretendiam ver. Tudo estava tranquilo...até aquele momento.

  Senti tarde demais que alguém se aproximava, foram tantos anos afastada da batalha que quando senti meus pelos dos braços se arrepiarem demorei dois segundos para perceber o que significava: Perigo.

 Parei de andar e estava prestes a gritar para as meninas tomarem cuidado, mas algo foi mais rápido. Senti meus pés deixarem de tocarem o chão bruscamente e senti meu coração falhar uma batida com a surpresa, logo depois uma mão tampo minha boca enquanto outra segurava minha cintura firmemente enquanto eu me afastava cada vez mais do chão, indo em direção a divida da cidade pelo o que havia reparado.

  Me debatia mas foi inútil, o braço agora rodeava minha cintura e eu podia sentir o calor de um corpo atras de mim. Pisquei algumas vezes, meus olhos finalmente se acostumando com o vento e pelo canto do olhos reparou que dois raios estavam a sua esquerda. Prendi a respiração.

" Raios não." Percebi "Meninos."

Reconheceria aqueles raios escuros em qualquer lugar e apostaria que eles estavam carregando minhas irmãs, mas isso não me relaxou, pelo contrario, me fez ficar mais nervosa e tentei me debater mais sentindo o aperto em minha cintura e a velocidade aumentar.

 Então, quando estavam na parte mais afastada e deserta da cidade-perto da divisa- fui solta de forma brusca e meu corpo foi de encontro com o chão, a surpresa foi tanta que cai uns bons metros rapidamente antes de me estabilizar no ar, a somente 5 metros do chão.

 Ouvi o grito de Bubbles e me virei para a esquerda rapidamente

 Bubbles e Buttercup haviam sido soltas também e sem pensar voei rapidamente em direção ao raio azul claro caindo do céu.

 Das três, Bubbles era a que tinha mais dificuldade de se concentrar sobre pressão e eu sabia que ela não iria conseguir se estabilizar no ar rápido o bastante, não conseguiria se acalmar para processar o que estava acontecendo. Não antes de cair no chão.

—BUBBLES!- Quando estava perto o suficiente estendeu a mão e olhar de sua irmão foi para seu braço estendido. Reparei que Bubbles fazia o esforço para se estabilizar no ar, ao mesmo tempo em que estendia o braço em minha direção. Quase não fui rápida o bastante, quase.

  A força para segurar Bubbles em plena queda livre foi tanta, que meu braço estalou e tinha certeza que ficaria a marca das minhas mãos nos braços da loira. Mas deu tempo. Estabilizaram o voou e Bubbles a abraçou, murmurando um agradecimento com a voz rouca. Quando deram por si, estavam a apenas 30 centímetros do chão. Foi quase. 

 As duas flutuaram para cima, Buttercup ficou ao seu lado novamente e juntas, as três encararam suas respectivas cópias.

—Ora, ora, ora. Bem que eu achei ter sentido o cheiro de lixo!- Buttercup rosnou.

—Acho que isso foi você sentindo seu próprio perfume, docinho.- Butch respondeu, enquanto carregava um sorriso irônico no rosto.

 Reparei em Buttercup rangendo os dentes ao meu lado, mas antes que ela desse um passo a estendi a mão, fazendo sinal para esperar. Ela não ficou feliz em esperar, mas obedeceu. Era o acordo silencioso entre nós. Não me considerava líder, mas sabia planejar estratégias em segundos, então suas irmãs a obedeciam...Até certo ponto.

—O que fazem aqui?- pergunto para os três, mas meus olhos fitavam o ruivo, que voava a 4 metros do chão. Diferente da imagem que eu tinha do mesmo, de quando tinha 12 anos, agora ele devia ter 18 -assim como seus irmão- e usava uma calça jeans surrada, uma camisa vermelha e seu inseparável boné vermelho.

 Ele deu um riso seco.

—Acredito que temos assuntos pendentes. – e virou seu boné vermelho para trás.

 Eu sabia o que aquele gesto significava. Fiquei em posição de defesa e as meninas ao meu lado fizeram o mesmo.

Bommer sorriu e jogou o pirulito que estava comendo no chão, enquanto encarava Bubbles de modo arrogante.

Butch estalou o pescoço e os dedos, seu sorriso maior que o do irmão.

—Isso vai ser divertido.

 


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