Ligados escrita por Liberii


Capítulo 3
Blues




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 Foi rápido, foi tudo muito rápido. Não conseguiria dizer quem atacou primeiro, mas em um piscar de olhos Buttercup gritou e se lançou para a batalha, sendo seguida por Blossom, então as duas se chocaram com suas respectivas copias e o impacto foi tão grande que senti uma rajada de vento me acertar com força, balançando meus cabelos e no momento agradeci por ter prendido ele naquela manhã, não conseguia se imaginar lutando com seus cabelos soltos. Atrapalhavam.

  Meus olhos se acostumaram ao vento rapidamente e arregalei os olhos para a cena em minha frente.

 Blossom segurava a perna de Brick para jogá-lo no chão, mas o mesmo girou e segurou seu braço lhe dando uma cabeçada, a ruiva soltou a perna dele enquanto levava a mão no nariz sangrando e então partiu para cima dele de novo.

 Já a luta de Buttercup era mais agressiva, quase não conseguia acompanhar os socos que ela trocava com o desordeiro moreno. Uma hora os dois estavam em um lugar e um segundo depois se deslocavam como vento para o outro lado, deixando um rastro verde para trás, mas sem pararem de lutar.

  As cenas de luta a minha frente eram incríveis e tão rápidas que por um momento eu cheguei a pensar que tinha ficado uns bons minutos observando minhas irmãs, mas não, haviam se passado segundos.

 Então senti uma presença atras de mim e em um segundo eu já havia virado de costas e voado para longe, reparando finalmente na pessoa que estava na exata posição em que me eu encontrava antes.

  Bommer. O loiro estava com uma postura relaxada e um sorriso desafiador no rosto.

—Vai só olhar suas irmãs lutarem, lindinha?

  Bubbles lembrava do desordeiro loiro. Dos três irmãos ele era o mais calmo e por mais que odiasse admitir, já chegou a gostar dele...mas faz muito tempo, agora tudo em que pensava é que ele e os irmãos queriam machucar sua família e isso ela não permitiria.

 Então não esperou mais. Voou para cima dele e o mesmo desviou rapidamente, no momento de distração ela sentiu o cotovelo do loiro bem no meio de suas costas, a fazendo arfar. Suas costas doeram pela cotovelada que levou, mas se virou rapidamente agarrando o braço do loiro e dirigindo um soco em seu rosto.

 A força foi tanta que ele voou uns 3 metros de distância.

Bubbles reparou quando ele se equilibrou no ar e massageou o maxilar. Então lançou um olhar que me fez recuar, seus olhos azuis escuros pareciam estar sem vida, em transe. Já havia visto aquele olhar em monstros antes: um olhar vazio. Não demonstrava raiva. Não demonstrava medo. Nada.

  Esse era o olhar que eu mais temia. 

  Sentimentos são poderosos, já tinha visto Buttercup ficar mais rápida por raiva de algo, ou Blossom -em um pico de poder- ficar mais forte por medo de que algum inocente se machucasse e isso a impulsionava a acabar as lutas o mais rápido o possível. Mas os monstros com olhos vazios eram imprevisíveis, não se arriscavam, não faziam nada sem pensar porque simplesmente não se importavam, não tinham sentimentos para obrigar que os fizessem algo, eles não tinham esperança.

 Estavam vivendo o momento e não se importariam em morrer no processo. Meu sangue gelou ao perceber que era exatamente desse jeito que Bommer estava tratando a batalha: como vida ou morte. Eu nunca havia matado. Deixado inconsciente? Sim, mas nunca cheguei a esse ponto e não se lembrava desse olhar do loiros nas antigas batalhas que tiveram na infância. 

 Ele havia mudado.

  Começaram a lutar. Bommer lhe desferia socos e eu retribuía com socos e chutes. Já estava com falta de ar e consegui empurrar o loiro longe, pegando distância para respirar melhor.

  Reparou quando ele se dirigiu rapidamente em sua direção, mirando na sua barriga. Agarrou a mão do mesmo antes que a acertasse, mas ele com a outra mão, agarrou seu cabelo e puxou uma Maria Chiquinha, fazendo parte dos seus cabelos se soltarem e caírem como cascatas até abaixo de seus peitos.

—Eu reparei que você não é como suas irmãs. Demora mais para se equilibrar.- Bommer falou e se aproximou lentamente. -Me diz...elas sabem que você tá perdendo os poderes?- Ele sorriu de forma sombria e eu trinquei os dentes.

 -CALA A BOCA!- Voou em sua direção e começaram a disputas de socos e chutes. Não tinha como ele saber...tinha?

 A esta altura eu já tinha perdido as sapatilhas -em algum momento da batalha elas caíram dos seus pés, provavelmente em um dos chutes que dei no loiro-e meus cabelos estavam soltos medindo abaixo de seus seios. Bommer não estava melhor, o casaco moletom que usava rasgou e agora o loiro só usava uma blusa branca amassada e suja.

  Odiava admitir, mas estava cansada. Ela ficava cansada rapidamente, mais do que antes e lembrava mais ao menos quando e como. 

  Aconteceu a uns dias. Ficou com muita dor e quando deu por si havia perdido parte de seus poderes, pequena parte, quase insignificante. Mas ela sentia. Sentia antes o poço dentro dela cheio de poder, agora estava menor, como se algo estivesse faltando. Não falei para as meninas porque o poder estava voltando aos poucos, como se estivesse se repondo sozinho de alguma forma, mas lentamente. Bem lentamente.

   Observei rapidamente as meninas, querendo saber se elas estavam bem ou com dificuldades. 

  Blossom e Brick eram dois raios vermelhos no céu, um claro e outro escuro. Eles se colidiam e se separavam, só para pegarem distância e então colidirem de novo.

Buttercup resolveu manter sua luta no chão. Ela e Butch estavam trocando socos e chutes, abrindo crateras no chão e onde caiam.

  -Você já foi mais forte.- uma voz sussurra em meu ouvido e meu coração falha uma batida, mas antes mesmo de conseguir me virar, sinto um chute em minhas costas e perco a respiração por um momento. No momento em que eu sinto o vento em meus cabelos e meu corpo, com a gravidade me puxando para baixo, em direção ao chão. 

  Eu não conseguiria me equilibrar a tempo, eu sabia. Meus poderes estavam danificados, faltava algo, conseguia sentir. Minha velocidade tinha sido reduzida e meu equilíbrio no ar também, felizmente essas foram as únicas coisas que se modificaram.

  Foi questão de segundos. Todos os pensamentos passaram em minha cabeça em questão de segundos, juntamente com a compreensão de que não conseguiria evitar o chão. Então fiz a única coisa que podia, me preparei para o impacto. Mas não sem antes levar o loiro comigo.

 Fui rápida o bastante para virar em direção ao Bommer e enquanto caia, em um pico de adrenalina, estiquei meus braços com um grito e agarrei seu pé. Ele se surpreendeu e começou a cair comigo.

 -BUBBLES!- ouviu a voz de sua irmã, não sabia qual, mas chamavam por ela. Bubbles e Bommer estavam lutando a 13 metros do chão, então sabia que o impacto seria grande. 

 O loiro lutava contra ela a medida que caiam, agora estavam um de frente pro outro. Agarrava firmemente as mãos do loiro e o mesmo tentava se soltar, mas não deixou. A adrenalina em minhas veias estava a todo o vapor e a unica coisa que passou pela minha cabeça foi: Se eu cair, não vou cair sozinha.

 Eles giravam no ar e percebi rapidamente que nos aproximávamos cada vez mais do chão e senti um frio no estomago. Não por estar caindo, mas por estar levando alguém comigo. Me senti uma pessoa horrível, havia visto o olhar no rosto de Bommer, o olhar sem esperança e de alguma forma me aproveitado disso. Tinha pensado seriamente em levar Bommer com ela e isso fez seu estomago embrulhar.

 Olhou nos olhos do loiro, no exato momento em que ele afrouxou as mãos da dela, parando de lutar. Ele tinha desistido. Isso me deixou com náuseas e não pensei antes de gritar por cima do vento, ainda olhando nos olhos do garoto a minha frente.

  -ME DESCULPE!

Não esperei resposta, o chão se aproximava e e naquele momento qualquer pensamento de levá-lo comigo ao impacto do chão me deixou. Me desprendi de Bommer e o joguei para o outro lado, o mesmo saiu rolando pelo asfalto e bateu em um prédio abandonado fazendo a estrutura fraca oscilar.

 Não reparei quando cheguei ao chão. Em um segundo olhava para Bommer caindo no asfalto e no outro senti uma descanga de dor e logo a escuridão. Foi tudo muito rápido.

 -Bub.....Bubbles....BUBBLES!- Acordou assustada. Percebeu que ainda estava no local da luta, parecia haver passado pouco tempo em que fiquei desacordada.

  A figura avermelhada a minha frente segurava meus ombros com força e mal pude processar as lagrimas em seus olhos porque ela me abraçou com força e em um impulso involuntário arqueia as costas e soltei um pequeno grito. Ela me soltou rapidamente murmurando desculpas e mais algumas coisas que não consegui entender, meus ouvidos zuniam e senti meu corpo inteiro doendo, tinha certeza de ter quebrado algumas costelas no minimo.

 Reparei em Buttercup ajoelha atrás de Blossom, como se estivesse com medo de se aproximar. Ela tinha os olhos marejados e fungava.

 -O que...o que aconteceu?- perguntei depois que os zumbidos de meus ouvidos diminuíram e na hora senti uma dor alucinante em meu braço direito. Olhei para o mesmo e quase vomitei. Ele estava em um angulo completamente errado, seus dedos estavam roxos e quanto tentou movimentar a dor foi tanta que quase vomitei.

 -Não olhe.- Senti as mãos de Blossom em meu rosto, o virando delicadamente em sua direção e encarei o rosto cheio de sardas da minha irmã, ela tentava sorrir para me tranquilizar.- Vai ficar tudo bem. Você esta bem.- Não sabia se ela falava comigo ou para si mesma, mas conseguiu assentir levemente mesmo assim.-Temos que endireitar seu braço, certo? É arriscado que comece a cicatrizar errado, está bem?

  Blossom falava comigo como se eu fosse uma criança e naquele momento não me importei. Lagrimas caiam pelos meus olhos e mesmo assim assenti levemente tentando respirar fundo.

 -Buttercup, você segura ela.

  Então Blossom veio para meu lado direito e Buttercup ficou a onde a mesma estava antes, de frente para mim e segurou meu ombros firmemente enquanto se apoiava em um joelho no chão. 

 -Olha para mim.- A voz de Buttercup foi firme e me fez levantar a cabeça em sua direção, eu estava tentando olhar para Blossom ao meu lado mas até virar o pescoço doía.- Não olha pra Blossom, olha pra mim, beleza?- Assenti levemente e continuei encarando os olhos verdes a minha frente, senti as mãos de Blossom em meu braço e apertei os lábios para não grunhir com a dor.- Sabe. -a voz da morena a minha frente fez com que eu desviasse a atenção das mãos da ruiva no meu braço quebrado.- quando eu estava lá no chão quando vi você caindo. Tinha acabado de ser jogada em uma parede lá em baixo e quando iria partir pra cima daquele desgraçado de novo vi dois raios azuis caindo rápido.No começo eu pensei que você estava acabando com aquele desordeiro e pensei que iria jogar ele pra longe, mas você continuou caindo e caindo. Eu não consegui fazer nada enquanto você caia de quase 15 metros de altura e a unica coisa que eu conseguia pensar é que eu nunca assisti aquele filme meloso que você queria ver comigo.

 Não sabia o que dizer para a cena a sua frente. Buttercup estava chorando, lagrimas escorriam de ambos os olhos da morena e eu tinha certeza que não estava diferente. 

 -Eu sempre fugia quando você entrava no meu quarto querendo ver filmes novos que tinha baixado- Ela fungava a minha frente e lutava contra os soluços para falar- Naquele momento eu nunca rezei tanto Bubbles, rezei pro elemento no seu sangue conseguisse te curar o suficiente porque...-ela não continuou a falar, mas eu sabia o que ela pensava. Um humano normal não teria nem chance, morreria na hora.- Eu tive tanto medo.

  Não consegui falar nada, a onda de emoção que passava por mim era tanta que eu tinha esquecido de Blossom ao meu lado preparando meu braço. Só tinha olhos para Buttercup a minha frente, que apertava meus ombros cada vez mais forte enquanto chorava, como se quisesse ter certeza de que eu ainda estava aqui.

  -Me descul- mas não conseguiu terminar de falar, porque aparentemente Blossom estava esperando o momento certo e torceu meu braço na hora. Ouvi um crack e soltei um grito. Em um impulso tentei ir para longe, mas Buttercup me segurava no lugar.

 -Esta tudo bem agora, coloquei o osso no lugar, agora vai cicatrizar sem problemas.- a ruiva ao meu lado falou e se levantou, o aperto de Buttercup afrouxou e a mesma se levantou também. Respirei fundo.

 Tossi e sentiu sangue em minha boca. Tentei me levantar sozinha, meu braço direito pulsava e eu conseguia senti o sangue voltando a circular por ele, então me apoiei no outro braço para me levantar e minhas pernas falharam quando fiquei em pé, mas Blossom e Buttercup rapidamente me apanharam, antes que voltasse para o chão.

  -O que ouve?- perguntei com a voz rouca.

—Nem eu sei! Tava dando uma surra no idiota quando ouço o prédio caindo e você indo de encontro com o chão levantando uma nuvem de poeira.- Buttercup responde e se afasta um pouco, depois de conferir que eu conseguiria ficar em pé. Pelo visto sua fase sentimental passou e ela demonstrava a postura de sempre. Raivosa e pronta para a batalha.

—BOMMER!- As meninas olham para o lado, mais adiante, onde estava um prédio caído.Então os acontecimentos vieram em minha mente como um soco, eu tinha jogado o loiro no aquele prédio. O prédio havia caído. Os dois desordeiros restantes estavam em cima dos escombros tentando achar seu irmão.

 Bommer está lá em baixo! 

 O prédio havia caído em cima dele.

—Ele....eu...aí meu Deus...é minha culpa!- Senti lágrimas em meus olhos enquanto olhava os irmãos desesperados a procura do irmão. Meu coração batia forte e de alguma forma a dor em meu corpo já não importava. Eu havia feito aquilo! Comecei a arfar e de repente tinha dificuldade para respirar. 

   Eu havia feito aquilo.

—Bommer, para de graça cara!- Butch dizia enquanto vasculhava o local.

—Bubbles olha pra mim.- Seguiu o comando e encontrou o olhar de Blossom. A ruiva estava com os cabelos embaraçados e sangue no canto da boca.

—TÁ SE ESCONDENDO AGORA? SAI LOGO!- o Moreno ainda gritava, agora ficando mais preocupado.

—Não foi culpa sua, isso é uma luta, coisas assim acontecem.-Blossom a abraçou e falou palavras carinhosas e seu ouvido, enquanto Buttercup apertava a sua mão em sinal de apoio.

 Mas eu não conseguia tirar os olhos da cena. Brick jogava os escombros pro alto, suas mãos sangrando e seu boné abandonado ao seu lado. Butch gritava o nome do irmão enquanto procurava pelos escombros. As palavras de carinho que suas irmãs proferiam não estavam sendo absorvidas, não conseguia entender, era como se fossem vozes sussurrando de longe, a unica coisa que ouvia eram os gritos de Butch atrás do irmão, ecoando em sua mente.

—BOMMER! BOMMER RESPONDE!- O moreno gritava e pulava sobre os destroços do prédio, e por um momento achei ter visto lagrimas no rosto do mesmo.

    Eu nunca havia visto um dos desordeiros chorarem.

 Sempre pensou nos Desordeiros como vilões. Que não tinham sentimentos e forma criados com o único propósito de destruí-las. Mas naquele momento eles pareceram mais humanos que ela mesma, que só olhava. Uma mera espectadora. A espectadora de uma tragédia que ela causou.

 Depois de longos minutos vasculhando o moreno vai de joelhos no chão e xinga.
Ele estava chorando, já havia desistido de procurar o irmão. O prédio média aproximadamente 15 metros e todas as vigas, as pedras, as paredes caíram. Tudo em cima do loiro.

Então Brick se levantou e devagar olhou para Bubbles, seus olhos vermelhos pareciam chamas vivas.

 -Você....- as primeiras palavras que ele falava e desceu dos escombros em direção ao chão.-A culpa é sua.

A calmaria com que ele disse isso foi como um tapa na minha cara. Não foi uma pergunta. Ele havia afirmado e pior de tudo é que eu concordava. Ela quis que Bommer caísse com ela.

   Sim. A culpa é minha.

  Afinal, qual era a diferença entre ela e o vilões que combatia? Ambos faziam o que pudiam pra sobreviver. 

   Ambos matavam.

 Blossom se pôs a frente de Bubbles de forma protetora.

—Não vai tocar nela.- a ruiva disse séria, mas o ruivo não olhou para ela. Ele fitava a garota que tinha jogado seu irmão do prédio. Ele tinha uma aura assassina ao seu redor e estava mirando em mim.

  Então devagar, ele se abaixou e pôs seu boné novamente, dessa vez o deixou para frente. Mas antes que ele fizesse qualquer movimento, o moreno se moveu primeiro.

 -EU VOU TE MATAR!- Voou rápido em sua direção, mas Buttercup interviu o jogando para o lado. Os dois rolaram pelo chão e ambos se levantaram rapidamente. 

  -Se quiser ela, vai ter que passar por mim primeiro.- Disse a morena com um semblante sério.

  Reparou que o Butch, conhecido por ser sarcástico tinha desaparecido. Geralmente ele sorriria e diria algo para deixar Buttercup com raiva, mas ele nem piscou diante a frase da loira. Agora só havia um garoto de luto pelo irmão. E raiva, muita raiva.

O moreno gritou e então atacou. A fúria era visível, seus ataques ficaram mais fortes e mais rápidos, mas também mais previsíveis ele não pensava, se motiva emocionalmente e por isso Buttercup conseguiu acompanhar os socos e ambos entraram em uma disputa sangrenta.

 Brick também partiu para cima de Blossom e os dois recomeçaram a lutar. Toda vez que um desordeiro chega perto dela, uma de suas irmãs aparecia e os puxada de volta para a briga.

 Ficou parada lá, sem fazer nada. Se sentiu inútil. Não podia lutar, quase não conseguia ficar e pé. Então, devagar se aproximou do prédio. Cada passo parecia uma eternidade.

 A culpa é minha. A culpa é minha.

  Bubbles chorava. Mesmo tendo lutado com monstros a vida toda, nunca havia matado.

  Exilado, prendido, mas nunca matado. Se sentia suja.

 Quando chegou aos escombros deixou as lágrimas escorrerem com mais força. Por que se sentia culpada? Ele havia tentado matá-la! Não deveria se sentir assim, mas mesmo assim...as lagrimas não paravam de escorrer e seu coração parecia pesar chumbo.

  Lembrou do olhar que o loiro lhe lançou enquanto caiam. Um olhar sem esperanças. 

  Ele não merecia aquilo. Ela não devia ter lutado com ele daquela forma, devia ter tentado conversar, trazer algum sentimento para ele, como quando eram crianças e eles dividiram um sorvete escondido uma vez quando se encontraram na cidade. Naquela época eles eram crianças e tudo parecia tão fácil...eles lutavam, então Bommer e ela se encontravam na frente da sorveteria e o que tivesse perdido a luta pagava o sorvete. Era o ritual secreto deles.

 Ninguém mais sabia. Mas o tempo passou e eles começaram a lutar mais sério. Lutavam para machucar.

 Senti lagrimas escorrerem e minha visão estava embaçada com as mesmas. Se eu tivesse feito diferente...

"Me....ajudem...."

Levantei a cabeça rapidamente. Essa voz...não era possível.

—Bommer...?- Sussurrei.

  Então senti algo. Em meu peito. Meu coração pulsou mais forte e de alguma forma eu sabia exatamente o que significava.

 Onde você está?- gritei em minha mente.

—Bommer?!- falou mais alto.

 Não sabia como, mas tinha certeza que ouviu a voz de Bommer. Não estava escutando coisas, era real. Sentia isso na pele. No peito.

"Aqui fede...não to conseguindo...respirar..."

Como se tivesse acordado de um transe eu sorri e gritei.

—ELE ESTÁ VIVO!- não esperei para ver como os outros reagiriam, entrei no meio dos escombros, ignorando as dores em meu corpo e comecei a procura-lo - BOMMER! BOMMER!

  Tinha certeza que ele estava aqui. Não era possível que a voz fosse uma ilusão da sua mente.

  "A...qui..."

  Senti uma presença atrás de mim e antes que pudesse processar o que acontecia, senti uma mão em meu pescoço. Brick Jojo me erguia no ar, só por uma mão. Meus pulmões reclamaram pela falta de ar e minha garganta doeu ainda mais com o aperto do desordeiro em meu pescoço. Apertei sua mão com as minha e me debati, por cima dos ombros do mesmo eu via Blossom se levantando de uma cratera no chão, certamente resultado da luta dos dois.

—Eu...ouvi...- Disse com dificuldade e o encarei nos olhos. Raiva era o que refletia naqueles olhos vermelhos, ele devia me odiar e de certa forma eu não o culpava e quando ele estreitou os olhos tive quase certeza de que iria quebrar meu pescoço naquele momento, mas o mesmo abriu as mãos e eu tropecei para trás respirando fundo.

 -Onde?- Ele não perguntou, seu tom de voz não deixava espaço para perguntas. Foi mais como uma ordem. Um sinal de paz até acharem Bommer.

 As meninas vieram rapidamente para o meu lado e ficaram em sinal de alerta, não sabiam o que estava acontecendo, mas reparam que estávamos conversando -apesar dele ter tentado me matar tem uns minutos- e olharam para mim esperando explicação.

 -O que todos os prédios antigos da divisa tem em comum?- Pergunto com a voz arranhada e todos olhamos imediatamente em direção a ruiva ao meu lado. A esta altura, Butch estava ao lado do seu irmão.

—Muitas coisas: abrigo anti bomba e alguns tem túneis, que dão para o centro, esgotos e...

—Onde ficam o dos esgotos?-  Blossom piscou, surpresa por eu interrompe-la, então olhou para Brick e para os escombros em que estávamos parecendo assimilar a situação inteira em dois segundos e voou rapidamente para  centro dos escombros e começou a remexer os escombros.

  Todos os quatro seguiram seu exemplo e começaram a cavar, chamando pelo nome do desordeiro. Me surpreendeu ao ver Buttercup gritando junto ao Butch pelo loiro.

 -ACHEI UMA COISA!- Blossom disse -Era a entrada de um dos túneis, estava fechada por causa dos escombros.

  Reparei que parecia com um buraco no chão. Não ficava longe da frente do prédio, então parecia possível que ele tivesse atravessado uma parede e caído perto da mesma. Então poderia ter se abrigado lá dentro, entrando nos esgotos antes do prédio desabar.

—Se ele conseguiu entrar fundo no túnel os escombros não pegaram nele- afirmou Blossom

—Acho bom estarem certas-O moreno ficou na dianteira e começou a tirar os blocos de cimento da entrada.-Se não, ele não vai ser o único loiro a ter óbito hoje. -Disse com a voz séria. Brick não disse nada, mas eu sabia que ele concordava.

 Depois de uns minutos com os 5 usando seus poderes para destampar o túnel, sentiram um cheiro horrível.

—Arg, que merda!- Buttercup reclamou pondo a mão do nariz, mas eu ignorei.

 Foi a primeira a entrar no túnel, o cheiro fazia meus olhos lacrimejarem e me perguntei o porque de terem aquela entranda no meio de um prédio. Mas os pensamentos foram embora da minha cabeça no momento em que vi o desordeiro loiro desacordado, estava sentado encostado na parede e cheio de poeira. Alivio me inundou e não consegui segurar o sorriso.

—ACHEI ELE!- Gritou para os outros.

O peguei e o arrastei para fora, só para então ser empurrada pelo moreno que o carregou e voou rapidamente em direção ao chão, saindo de cima dos escombros do prédio.

 O deitou com cuidado e se ajoelhou ao seu lado, Brick foi logo. Ambos olhavam o loiro desacordado.

—Ele tá....-Buttercup começou a dizer, mas se calou engolindo em seco, ela não precisou completar a frase, todos sabiam o que ela queria dizer.

E para a surpresa de todos, o moreno respondeu.

—Eu...eu não sei...

—Ele tá vivo.- Afirmei. Os olhos de todos se voltaram para mim mas antes que alguém pudesse me confrontar, o loiro se meche atraindo a atenção de todos para si mesmo novamente.

 Então ele abre os olhos e respira fundo, para depois virar para o lado e começar a tossir.

  Brick se aproximou do irmão e bateu nas suas costas. Quando ele recuperou a respiração se sentou, com a ajuda dos irmãos e para surpresa de todos -a minha mais ainda- ele não olhou para os irmãos ao seu lado ou para si mesmo para conferir os próprios ferimentos, não, ele olhou diretamente em minha direção, como se soubesse exatamente onde eu estava apesar de estar acordado somente a alguns minutos.

 E naqueles segundos em que nos encaramos, jurei ter visto um requisito de sentimento. Surpresa talvez? Parecia algo mais...parecia aquele desordeiro de 8 anos que roubava doces e tomava sorvete com ela, escondido dos irmãos.

—Ele quase morreu, por sua culpa!- Sou despertada pela voz de Brick ao lado de Bommer. Ele se levantou rapidamente e olhava mortalmente em minha direção.

 Blossom imediatamente deu três passos a frente e ficou cara a cara com o ruivo.

—Ela salvou a vida dele, seu ingrato!- o empurrou, o que fez o mesmo dar três passos para trás -Não vai tocar nela.

  Buttercup rapidamente ficou na frente de Butch que tinha se levantado junto com o irmão, preparada para brigar.

 -Eles tem razão.- Minha voz soou fraca, mas foi o suficiente para todos virarem em minha direção e quando eu digo todos é todos mesmo. Até Butch que estava se preparando para voar me olhou com surpresa e foi único com coragem o suficiente para pronunciar palavras no silencio tenso em que nos encontrávamos.

 -O que?

 Respirei fundo e bati minha saia para tentar tirar a poeira acumulada -falhando miseravelmente- e encarei todos os adolescentes ao meu redor, um por um.

  -Ele quase morreu por minha culpa, eu quase morri por culpa dele e vocês estavam tentando se matar.- Nenhum deles respondeu, então eu continuei.- Mas porque? Somos crescidos, o ELE não esta mais aqui para controlar vocês e ser uma ameaça para nós, não precisamos continuar brigando.

  Eles pareceram ponderam por um segundo e percebi Buttercup afrouxando os punhos e Blossom passou as mãos pelos cabelos de forma distraida e como eu ás conhecia, sabia que era uma oferta de paz.

  Bommer se levantou do chão devagar, atraindo os olhares para si, mas não falou nada. Ao invés disso olhou para os irmãos.

 -Vocês não precisam fazer isso. -Tentei novamente- Podem voltar para Townsville conosco e recomeçar.

  Eu não queria mais lutar. Ao contrário de Buttercup que sentia falta da adrenalina e de Blossom que gostava de desafios enormes, eu me sentia bem com a vida comum que levávamos e a perspectiva de ter nossos inimigos de infância de volta com batalhas ativas me assustava, porque estávamos mais fortes e as lutas não seriam como antigamente a onde o perdedor ia embora e talvez voltasse depois para uma revanche. Agora teria um ganhador e o perdedor, e eu duvidava que o perdedor sairia vivo da luta.

 Mas sou surpreendida pela risada do moreno. Uma risada seca e forçada.

 -Você são tão hipócritas.- Ele diz ainda com um sorriso no rosto e aponta para mim, para Blossom e por fim para Buttercup.- Por que não pensaram nisso quando expulsaram três garotos de 11 anos da unica cidade em que conheciam? Agora que voltamos para acertar as contas e vocês não querem estragar as vidinhas perfeitas e resolvem nos dar uma chance? 

 Ele ri novamente e balança a cabeça em negação.

 -Vocês viveram uns anos de ouro enquanto nós tivemos que mendigar por comida e se adaptar a uma vida que não conhecíamos, então me desculpe se eu quero que você enfie o seu recomeço no-

   Então algo inesperado aconteceu atrapalhando a fala do moreno e eu agradeci internamente. Eu sabia o que ele iria falar e me senti uma tola porque em todos aqueles anos não tinha pensado neles e em como se saiam. Eles eram tão vitimas quanto eu e minhas irmãs.

  Vitimas da situação em que foram colocados. Vitimas da unica realidade que eles conheciam. E ao invés de tentarmos ajudá-los...nós os condenamos.

  Ouviram o barulho de uma explosão e olharam para um prédio ao longe.

  -O que é aquilo?- Perguntou Bommer, para ninguém em especial. Não falei nada, em parte porque eu não sabia e em parte porque estava com vergonha do que Butch tinha falado. Ele não havia mentido.

—Tá se aproximando...acho melhor sairmos daqui- Buttercup diz e quando faz menção de ir embora é agarrada pelo braço.

—Temos contas a acertar!- Butch diz enfurecido apertando o braço da morena cada vez mais.

—Solta ela!- Blossom se prepara para ir de encontro com a irmã mas é impedida pelo ruivo, que também agarra seu braço.

—A briga é entre nós, florzinha.

 -Eu não queria falar nada não, mas aquilo tá se aproximando. E rápido.- Bommer diz com a voz falhando, apontando para uma coisa vermelha que vinha na direção deles.

 Franzo a testa tentando enxergar melhor.

 -Aquele é o macaco-louco no topo do prédio?- digo apontando para o topo do prédio, onde uma figura baixinha pulava de um lado para o outro e parecia acenar.

 Os meninos rapidamente ficaram brancos e viraram em direção a figura no prédio.

 -É UM RAIO!- não soube quem gritou, mas despertou todos do transe em que estavam.

 Então antes que se dessem conta o raio os acertou e a última coisa que me lembro é de me jogar em frente ao loiro ferido a minha frente.

                           -----------------Bommer -------------

  Eles deviam sair antes do macaco lançar o raio. O plano era consistia em eles distraírem elas e quando o raio fosse lançado se afastassem, já que não queriam correr o risco de estar na mesma área de impacto que elas com medo de o poder delas de alguma forma escapar e que os machucassem.

  Mas não deu certo. Talvez pela minha -quase- possível morte ou pelo fato de que estávamos tão envolvidos na briga que esquecemos a parte principal do plano, e eu não conseguia parar de pensar no que Bubbles havia dito, tinha fundamento, afinal porque brigávamos? Mas o ressentimento pelos anos passados era maior do que a razão e mesmo que em silencio, concordei mentalmente com tudo que Butch havia dito.

 Queria ter a coragem para falar o que ele disse ou para ponderar por mais tempo a oferta de Bubbles, mas eu estava tão cansado. Não tinha forças nem para respirar direito, quanto mais para começar uma discussão ou pensar sobre isso. Não tinha tempo de qualquer maneira.

 Quando vi o feixe de luz vermelho em minha direção, a visão durou meros milésimos de segundos e ainda assim vários pensamentos passaram pela minha cabeça rapidamente, como por exemplo: Poderia afetar nossos poderes. A oferta inicial era o macaco usar o raios de uma vez em todo o mundo mas depois de muita discussão Brick percebeu que seria arriscado por não sabemos como os elementos agiriam se forçados ao mesmo tempo e decidiu que o cientista louco deveria esperar nos afastamos para lançar. 

    Ele certamente não esperou.

 Outro pensamento que passou pela minha cabeça foi a pergunta se aquele raio poderia ter algo de errado e causasse a morte deles, de alguma forma eu não me importava por mim, mas pensar em Brick ou Butch tento um final daqueles depois de uma ultima tentativa de vingança fracassada, não me alegrava em nada. Então pensei na Bubbles e por algum motivo também não me alegrava a ideia de vê-la machucada, talvez fosse por ela ter sido a unica pessoa na cidade -além dos meus irmãos- que ainda falava comigo normalmente quando nos encontrávamos fora de batalha. 

  Os pensamentos cruzaram a minha mentes em segundos e ainda assim, pareceu uma eternidade. Eu observava o raio se aproximando em nossa direção rapidamente e por algum motivo contive o impulso de fechar os olhos, seja o que aconteceria, eu não encararia de olhos fechados. Mas nem precisei me preocupar em olhar para o feixe vermelho vindo em minha direção, porque a visão foi tapada rapidamente por alguém que parecia estar me abraçando.

  Com choque percebi que quem tinha me abraçado foi Bubbles. E não era bem um abraço, ela estava cobrindo meu corpo com o seu de forma protetora, esperando receber a maior parte do impacto.

 Quando a luz vermelha nos cobriu eu esperava muitas coisas; dor, aumento ou perda súbita de poder, sangue esquentado, morte...mas não havia acontecido nada. Nada. 

  Bubbles se separou de mim rapidamente e segurou meus ombros, provavelmente procurando ferimentos, mas a unica coisa que eu fiz foi piscar tentando entender o que havia acontecido. Tinha falhado a mira? Não, absolutamente não, a mira foi certeira, eu sabia. Tinha nos acertado, mas não teve nenhum efeito, pelo menos não em mim e nos garotos, mas as meninas estavam tão bem quando antes do raio ser atirado.

  -Você está bem?- Pisquei confuso ao perceber a voz da loira a minha frente, porque ela se importava mesmo? Mas atrapalhando meus pensamentos ela resolveu mexer meus ombros para a frente e para trás- Bommer tá me ouvindo?!

  Ela continuou me balançando, então segurei suas mãos rapidamente em sinal de irritação e a fazendo parar me chacoalhar de um lado para o outro. Ela olhou em meus olhos e deve ter percebido minha irritação, mas ao invés de se irritar também ela só suspirou de alivio.

—Graças a Deus....-Ela disse baixinho e se levantou, indo ao encontro de suas irmãs.

 Qual era o problema dela? Queria chamar-la de volta e perguntar por que ela se preocupada, eram inimigos afinal e estavam tentando matar um ao outro a alguns minutos, e por falar nisso ela quase conseguiu.

  Então a me veio a cabeça seus olhos cheios de lagrimas quando sai dos escombros e...preocupação? Não havia motivos para aquilo, estavam separados a muito tempo e não cultivavam nenhum tipo de sentimentos um pelo outro a não ser que ela estivesse com pena por quase matá-lo, mas achou aquilo uma bobagem, eu tinha tentado matar ela também.

 -Mas que porra foi essa?!- Buttercup se desprendeu de Butch, que ainda agarrava seu braço e olhou diretamente para o prédio.- Ele tentou nos matar com um maldito lazer?!

 -Vocês até sim, mas nós estávamos aqui. Ele não iria atirar uma coisa perigosa com a gente aqui.- Butch diz ao lado dela, todos estavam olhando para o topo do prédio agora.

 Contive uma careta. Butch e Brick confiavam no macaco, mas eu com certeza não apostaria as minha fichas nele, não do jeito que ele estava. Ele não era mais o antigo cientista que havia nos criado para bagunçar a cidade, parecia mais cansado e paranoico, encarando aquele raio como a ultima forma de vencer contra suas -proclamadas- piores inimigas e se ele tivesse que nos tirar do caminho para isso...eu tinha certeza que era o único com aquelas suspeitas, mas decidi deixar assim. Nossa família já era desestruturada o bastante com um pai louco e outro pai que era um demônio, meus irmãos não precisavam de mais paranoias da minha cabeça.

 Não é como se eles fossem escutar de qualquer maneira.

—Ele percebeu vocês aqui e atirou mesmo assim.- afirmou a ruiva cruzando os braços, me despertando dos meus pensamentos e fazendo eu voltar minha atenção para a conversa novamente.

  Nesse momento meu olhar cruzou com o de Brick que trincava o maxilar, ele negou com a cabeça em minha direção discretamente e eu soube que nós dois chegamos a mesma conclusão.

 Não funcionou.

 Sabia que o raio deveria reagir com o elemento X das garotas, mas elas estavam intactas. Não sentiram nada, assim como nós.

 Eu não sabia se deveria ficar com raiva ou agradecido, por falta de opções só respirei fundo e só pensei em chegar em meu quarto e me trancar. Qualquer sensação de adrenalina que eu tinha pela batalha havia escapulido entre meus dedos e estava cansado de mais -mais mentalmente que fisicamente- para pensar em qualquer coisa naquele momento.

—Não funcionou.- sussurrei no ouvido do ruivo, assim que aproximei do mesmo.

 -Eu sei.- foi a única coisa que ele disse e eu podia ver a raiva em seus olhos enquanto encarava o prédio.

—Eu vou tirar satisfações com aquele velho.- Buttercup pegou impulso e voou, sem espera a opinião da irmãs, mas eu duvidava que ela ligasse de qualquer maneira. Era mais parecida com o Butch do que gostava de admitir.

  Mas para a surpresa de todos, quando chegou a alguns metros de distância a mesma caiu, ela se contorceu no ar como se tivesse sido atingida e em seguida caiu no chão, fazendo uma fina camada de poeira se levantar.

 -BUTTERCUP!- Suas irmãs gritaram e voaram para onde ela estava.

 Pus as mãos nos bolsos, pensando que se Butch e Brick iriam tirar satisfação com o macaco ou ficar para tentar entender o que havia acontecido com a garota a nossa frente e pela falta de movimento dos dois, soube tinham escolhido a mesma opção que eu. Observar.

  Talvez o raio tenha demorado para agir...mas não pude terminar meus pensamentos pois no momento em que as meninas chegaram perto de Buttercup, elas também caíram no chão e começaram a se debater.

 Instintivamente deu um passo para a frente no momento em que Bubbles gritou, ela parecia estar com bastante dor e a ideia disso não me agradou tanto quanto eu achasse que faria. 

  -Mas que porra tá acon- Butch interrompeu a sua própria fala e pareceu engasgar com o próprio ar, em seguida caiu de joelhos e pôs a mão no coração, arfando e caiu deitado no chão, como se não conseguisse respirar.

—Butch?!- Brick e eu exclamamos juntos, nos abaixando rapidamente ao seu lado.

 -Respira!-Brick mandou, mas o moreno não ouvia, começou a se debater no chão e se arrastar para onde as meninas estavam.

 Não pude nem processar o que estava acontecendo, porque logo senti uma dor aguda no coração, como se o tivessem espremendo e falta de ar. Meu sangue parecia ter fervido dentro das minhas veias e seus olhos lacrimejavam com a potencia da dor de cabeça que me abateu de repente.

  Dei alguns passos para frente com as duas mãos na cabeça, tentando amenizar a dor infernal ao mesmo tempo em que meu pulmão parecia implorar por ar, ouvi gritos, mas naquele momento não soube dizer se eram meus, dos meus irmãos ou das meninas. Meus ouvidos zumbiam e eu dei mais alguns passos para frente, não sei como mas acho que me movi para frente inconscientemente porque quando dei por mim estava a uns 2 metros de onde estava antes e conseguia respirar tranquilo, a dor de cabeça tinha diminuído significamente.

 Quando consegui respirar fundo olhei rápido para onde Brick tentava respirar e Butch espumava pela boca, não sabia o que tinha acontecido mas estava claro que dependia do lugar a onde estavam. Então forcei o peso em um dos pés e peguei impulso para voar rapidamente na direção deles.

  Alcancei Butch primeiro, já que estava espumando pela boca e tinha sido o primeiro a cair. Sabia que não conseguiria levar os dois de uma vez só, então levei o moreno até mais perto das garotas e em seguida voltei rápido para pegar Brick que nesse momento tinha o rosto um pouco roxo pela falta de ar.

  Cai com Brick perto de Butch que já se recuperava. Meus ombros foram direto no chão e eu estava sem forças pra levantar, então respirei fundo, esperando que minha cabeça parasse de latejar.

   Butch tossia e Brick massageava o próprio peito ao meu lado, provavelmente teve a mesma dor no coração que eu. Acho que todos tivemos.

—Mas que porra...-O moreno tossiu de novo- Foi essa?

 Nós três nos olhamos e -devagar- nos viramos para as garotas, que estavam inconscientes no chão. Seja o que for que tenha acontecido, ás atingiu com mais potencia que nós.

  Ficamos no chão por um tempo e Brick foi o primeiro a se levantar, então como se visse algo que eu e Butch não víamos ele tombou a cabeça para o lado e encarou as garotas a nossa frente, então deu um passo para trás, depois outro, e mais um. 

  Ele deve ter andado uns 20 passos quando parou subitamente, como se tivesse levado um choque e em seguida veio voando rapidamente até onde estávamos, só quando pousou respirou fundo e nos olhou sério. 

  Eu conhecia essa expressão, era a expressão de "Estamos com problemas."

—Não consigo sair. Parece que tem uma barreira em volta e quando ultrapassamos um limite somos atacados.

—Será que as meninas encontraram esse limite?- pergunto para ninguém em particular, mas ainda olhando na direção de Bubbles.

 Por algum motivo eu me incomodava em vela desacordada daquele jeito, mas como todas as situações e perguntas da minha vida, preferi ignorar e me concentrar em sentir as batidas do meu coração para me acalmar. Estava acelerado, provavelmente pelo o -quase- colapso que eu tive a pouco tempo.

 Butch se levantou com a respiração pesada e flutuou até onde as garotas estavam, sendo seguido por mim e Brick.

  As três estavam lado a lado, a morena de frente para ruiva e a loira de costa para elas.

 -Não faz sentido...- Ouvi o ruivo murmurar e desprendi os olhos de Bubbles que tinha sangue espalhado por todo o corpo, apesar das feridas já cicatrizado.

 -O que não faz sentido?- pergunto, ganhando a atenção de Butch também que estava checando o pulso de Buttercup.

—Se tivesse alguma barreira aqui, teria nos afetado. Foi aqui que elas caíram.

—Mas elas estavam voando.- Butch afirma, então se levanta e flutua acima de nós. Ele olha para baixo e nega com a cabeça sinalizando que não havia sentido nada, depois sobe mais um pouco e me assusto quando ele parece levar um choque assim chega a uns metros do chão, então despenca.

  Não consegui o que estava acontecendo rápido o bastante, uma hora ele estava lá em cima e então caiu rápido, mas Brick é mais rápido e pega seu irmão antes de atingir o chão.

 Butch estava com a mão no pescoço aparentando falta de ar, mas logo respira fundo e recupera a respiração.

 -Meu sangue começou a ferver...parecia que tava entrando em choque!

 O moreno fica em pé com a ajuda no ruivo e pela primeira vez naquele dia -talvez naquele ano- Brick arregala os olhos em surpresa, deixando claro que estava pensando em um motivo para aquilo acontecer. Mas era provavelmente um motivo ruim.

—E se não for uma barreira?-Ele pergunta, mais para si mesmo do que para mim ou Butch.

  Muito ruim.

—Como assim?-o moreno franze a testa

—Lembram dos frascos com elemento X e Y? Quando se separaram entraram em colapso.

  Todos olhamos para as garotas desacordadas.

—Vamos levá-las pro macaco.- Digo e vou em direção a Bubbles.

  As marcas da luta estavam desaparecendo e os arranhados formavam cicatrizes que, provavelmente, sumiriam em algumas horas.

  A carrego com cuidado e sinto todos os muculos do meu corpo protestarem, fazendo eu lembrar, só agora, que não estava em melhores condições que ela. Mas não parecia certo deixa-la ali quando ela tinha tentando me proteger do lazer mesmo saber o que ele fazia, em parte porque a culpa poderia ter sido do lazer e isso significaria que a culpa era minha e em parte porque eu tinha tentado mata-la antes. Okay, eu tentei matar ela também, então acho que isso meio que nos deixa quites.

  De qualquer forma, era só uma retribuição e também poque eu não fazia ideia do que me causaria ficar longe agora e com certeza não queria enfrentar aquela dor infernal de novo.

 Olho para trás, com Bubbles ainda no meu colo, e aponto com a cabeça para as outras meninas no chão. Eles hesitam, mas pegam suas respectivas cópias mesmo assim.

   Então seguimos para o esconderijo do nosso criador.


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Notas finais do capítulo

Então gente, tem mais de 7300 palavras então COM CERTEZA valeu a espera de dois dias rsrsrs

Como eu tenho alguns capítulos prontos somente vou reescrevemos, então é provável que eu atualize pelo menos três vezes por semana. Esse capitulo ficou maior do que eu pretendia e acho que os outros vão tomar o mesmo rumo, então se eu demorar para postar saibam que um capitulo IMENSO espera por vocês!

Por favor não deixem de comentar e BEIJOS DE LUZ!!!!!



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