OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 36
Escolhas espinhosas




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Kevin se sentia horrível.

Mas isso era um bom sinal: apenas pessoas vivas são capazes de se sentir horríveis.

Aos poucos, sua consciência voltava ao corpo. Sentia como se sua cabeça pesasse algumas centenas de kilos. Ouvia uma voz chamar seu nome de longe...

Peraí, talvez não de tão longe...

Agora estava bastante perto...

― Kevin! ― gritava Gwen ― Vamos, Kevin, acorda!

O jovem abriu os olhos. Lentamente virou a cabeça para os lados e tentou encarar o rosto da garota à sua direita. Por que ela está de ponta cabeça?

― Finalmente você acordou!

― Eu...

― Não se mexe, eu não sei se você machucou algo sério. ― A garota começou a se arrastar de quatro para fora de seu campo de visão.

Não era Gwen que estava de ponta cabeça, era ele. Na verdade, era todo o carro. O garoto olhou para o para-brisa estilhaçado à sua frente e apenas via terra, folhas e raízes de árvores.

― Gwen, onde você vai? ― perguntou ele.

― Estou aqui, não se preocupe. Só estou vendo uma forma de te tirar daí. ― Gwen se agachou e colocou novamente a cabeça para dentro do carro. ― Aliás, qual o seu nome?

― Como é?

― Seu nome completo, qual é?

― Kevin Ethan Levin.

― Idade.

― Dezesseis anos.

― Do que você se lembra?

― Estávamos atrás do Albedo, quando o pulso eletromagnético desligou meu carro e o impacto da explosão acertou a gente.

― Ok, a memória está normal.

― É claro que ― Kevin começou a se remexer no banco procurando o engate do cinto de segurança ― Agora me tire daqui, vai.

― Espere um pouco, tem alguma parte do seu corpo que você está sentindo estranho?

― Sim, minha paciência. Sinto ela indo embora cada vez mais. Agora me ajude a sair daqui, por favor?

― Hunf, você está ótimo... ― Gwen se arrastou para fora do carro.

― É claro que estou, ― disse quase gritando ― eu protegi a gente com borracha arburiana, seria preciso bem mais que isso pra-

De repente duas projeções de mãos gigantes e rosas apoiaram os dedos nas laterais da porta do passageiro.

― Gwen! O-o que você pensa que v-vai fazer com o meu car-

As duas mãos moveram-se uma para cada lado, abrindo o interior do carro como um livro. Som de metal e ferro sendo torcido preencheu o ar da floresta. Kevin, ainda preso no banco do motorista pelo cinto, com as pernas pendentes no ar e uma expressão de descrença disse:

― M-mas por quê?

Gwen apontou o dedo indicador em direção ao cinto de segurança de Kevin e disparou um feixe de energia. O cinto se rompeu e o jovem caiu desengonçadamente de quatro contra o solo.

― Porque não temos tempo e você está quase sem paciência ― disse a garota.

O jovem se levantou e sacudiu a terra e as folhas de sua roupa. Olhou para as duas metades de seu veículo que jaziam ao seu lado. Kevin então encarou Gwen e apontando-lhe o dedo indicador, disse:

― Está me devendo um carro!

― Cobre do Albedo ― Gwen virou-se de costas para o jovem e seguiu por entre as árvores.

― Albedo não abriu meu carro no meio! ― Kevin seguiu logo atrás.

Os dois caminharam pela floresta por um terreno inclinado apoiando nas árvores, subindo rumo à estrada. Encontraram vários galhos grossos quebrados pelo caminho, prováveis vítimas de um carro verde que fora lançado voando por ali. Não demoraram muito e chegaram no asfalto da estrada.

― Mas que droga... ― disse Kevin.

Gwen por sua vez manteve-se em silêncio, focando suas energias na sua respiração ofegante do percurso pela floresta. No entanto, sua mente estava repleta de raiva pelo cenário que presenciava.

Vários carros e caminhões se encontravam capotados pela estrada ou largados sobre árvores dos arredores. Algumas roupas escaparam das malas de um carro popular que agora se encontrava enfiado debaixo de uma van. Havia manchas de óleo e sangue pela estrada. Ouviam-se gritos e apelos de ajuda por todos os lados. Os que conseguiram sair de dentro dos seus veículos, tentavam desesperadamente ajudar uns aos outros.

Gwen olhou para baixo e viu um pequeno macaquinho de pelúcia próximo de seus pés. Ela se agachou, pegou o brinquedo e viu manchas de sangue na roupinha do macaquinho. A garota levantou-se subitamente e, com passos firmes, seguiu em direção a um sedan que se encontrava virado de lado, quando sentiu que alguém segurava seu braço.

A jovem virou-se e encarou Kevin com um olhar que dizia “me solte!”

― Não tem como a polícia e os bombeiros não terem vistos a explosão... ― Kevin retirou a pelúcia das mãos da garota e cabisbaixo encarou o objeto ― Eles com certeza estão vindo.

Kevin se agachou e apoiou o macaquinho no chão. Gwen olhava para o jovem com raiva e frustração. Ele voltou a falar:

― Se a gente não parar o Albedo, nem os que estão pedindo ajuda agora vão sobreviver.

Gwen virou o rosto e mordeu o lábio inferior. Ele tinha razão e ela sabia disso. Sem levantar a cabeça, ela disse:

― Para onde devemos ir então?

Ele apontou com o polegar por cima de seu ombro direito. A jovem virou o rosto e encarou a fumaça branca com relâmpagos verdes que subia por entre as árvores.

◇───────◇───────◇

No interior da floresta, uma clareira circular de quase um quilômetro foi forçosamente aberta. Das bordas da circunferência para o epicentro encontrava-se um gradiente de destruição: externamente, se encontravam árvores inclinadas de forma centrífuga, com suas raízes se exteriorizando do solo; no centro, não havia o menor vestígio de vida vegetal.

A região era coberta por uma fumaça branca e densa que subia para os céus e permitia, aos poucos, que se identificassem as formas disformes dos objetos e da criatura presentes na clareira.

Sete estruturas de cristais verdes-violetas como rochas de fluorita brotavam de debaixo da terra e se encontravam posicionadas de forma circular a meio caminho do raio da circunferência. As estruturas de quase dez metros curvavam-se em direção ao epicentro como dedos de uma mão. Das pontas dos cristais, uma energia arco-íris surgia e caminhava por suas superfícies até as bases enterradas no solo de terra escura.

No centro da clareira, uma estrutura malfeita de metal alienígena e cristais verde-violetas, mantinha um receptáculo cilíndrico sobre uma plataforma composta de peças de espaçonave e equipamentos dos encanadores. No interior do receptáculo, um líquido gosmento verde-cristalino movia-se freneticamente como se dançasse e, ao mesmo tempo, lutasse para fugir dali. Toda a estrutura aproximava-se dos três metros de altura.

Junto ao aparelho, uma criatura bípede com as mãos suspensas no ar em frente ao tronco, como se abraçasse um ser invisível. O alienígena concentrava-se, direcionando feixes pulsantes de energia arco-íris que subiam por suas pernas até o centro de seu esterno, onde se encontrava um disco com o emblema da paz intergaláctica. O símbolo em seu peito reagia à chegada de energia, deixando escapar relâmpagos verdes em direção à atmosfera.

― Isso! ― disse a criatura com satisfação ― Está funcionando!

Na borda da clareira, Gwen e Kevin se aproximavam com cautela, escondendo-se por detrás de uma enorme árvore que se encontrava paralela ao chão.

― Ali está o desgraçado! ― disse Kevin ― No que ele está transformado dessa vez?

― Eu não sei. Temos que chegar mais perto.

Kevin encontrou uma pesada rocha fincada no chão e absorveu sua matéria antes de continuar avançando. Gwen, por sua vez, revestiu suas mãos e antebraços de mana e, com um simples mover de seus dedos, plataformas surgiram pelo caminho, permitindo que os jovens saltassem por sobre galhos e troncos destroçados na região.

À princípio, Albedo lembrava um crystalsapien pelo aspecto rochoso e roxo que compunha quase toda sua anatomia. Mas havia diferenças, a começar pela ausência de chifre rosa no topo da cabeça. Ao redor de seu tronco, estruturas que lembravam costelas feitas de cristal verde-violeta saíam de seu dorso e avançavam pelas laterais até se encontrarem no símbolo do Superomnitrix. De suas costas, quatro protuberâncias de cristais, duas grandes e duas menores, projetavam-se para fora de seu corpo simetricamente.

Os antebraços e mãos de um crystalsapien costumam ser finos e rosas, mas não os desse alienígena: ele possuía algo semelhante a grandes e grossas luvas de cristal verde-violeta. Por suas coxas pedregosas e roxas, cresciam pequenas protuberâncias, como pústulas de cristal até o nível dos joelhos. A partir daí, uma coluna de cristal crescia e alargava-se até o solo, de tal forma que não era possível distinguir a divisão entre pernas e pés, estando os tornozelos ausentes.

Gwen e Kevin já se aproximavam da gaiola de sete colunas, quando a garota parou subitamente.

― O que houve, Gwen? ― disse Kevin baixinho, interrompendo seu avanço e virando-se para a jovem.

Gwen levantou sua mão à frente de seu rosto, permitindo que Kevin também observasse o que chamou sua atenção. A mana rosa que revestia suas mãos começava a escapar de seu controle e flutuava rumo a coluna de cristal mais próxima.

― É assim que ele está convertendo a energia da explosão ― disse Gwen ― Os cristais possuem a mesma habilidade de absorção energética do Cromático.

― Então estamos lidando com um crystalsapien?

― Tudo leva a crer que sim...

A mana rosa continuou seu trajeto pelo ar e tocou a superfície do cristal. Converteu-se em energia rajada de sete cores e caminhou rumo a base da coluna cristalina. No mesmo instante, um foco brilhante vermelho virou em direção aos dois jovens através da névoa branca que cobria o local.

― Ele nos viu! ― disse Kevin

Gwen desviou o olhar de Albedo para a silhueta da coluna de cristal mais próxima, então disse:

― Se destruirmos os cristais, talvez a gente consiga pará-lo!

― O que estamos esperando então?

Kevin mudou a forma de sua mão para uma bola rochosa de espinhos e avançou em direção à coluna mais próxima.

― Galeus zipuctus! ― invocou Gwen, fazendo uma forte rajada de vento assoprar a fumaça que os cobria e abrindo caminho até o cristal mais próximo.

A rajada de vento espalhou-se pela região até que finalmente puderam ver a face do alienígena: uma máscara de cristal verde-violeta, com três projeções em seu queixo e uma abertura retangular ao nível dos olhos que permitia um brilho vermelho caminhar de um lado para o outro na escuridão da abertura. Só que nesse momento, o ponto escarlate mantinha-se fixo em seus alvos.

Albedo ergueu seu braço esquerdo e apontou a mão aberta em direção aos jovens. Energia se concentrou em sua palma.

― Kevin, ele vai atirar alguma coisa!

O jovem preparava-se para socar o cristal, mas com a nova informação do disparo, girou seu corpo e posicionou suas costas contra a superfície do cristal para se proteger.

Gwen invocou um escudo para se defender do disparo, mas então percebeu que a energia concentrada na palma do alienígena não se encontrava mais lá.

Ele desistiu de atirar!? ― pensou Gwen.

A garota virou em direção à Kevin, escondido por detrás da coluna de cristal que brotava do chão, e foi então que compreendeu.

Essa não!

Gwen correu em direção à Kevin. O jovem osmosiano mantinha-se olhando o alienígena de soslaio por detrás da coluna e não chegou a perceber a aproximação da garota até o instante em que ela pulou sobre ele.

Ele desequilibrou-se, com Gwen agarrada ao seu tronco, e foi caindo para o lado no mesmo instante que uma lança de cristal emergia da superfície da coluna, no exato local em que, milésimos de segundo antes, suas costas estava apoiada.

Os dois jovens caíram no chão de poeira escura e rapidamente se levantaram, temendo mais algum brotamento.

― Mas que droga foi essa!? ― disse Kevin.

― Tava na cara que isso poderia acontecer! ― disse Gwen. ― Como você acha que essas colunas surgiram?

Kevin não respondeu. Não precisava.

― Mas acho que entendi uma coisa sobre ele ― disse Gwen.

― Desembucha.

― Ele não pode sair de onde está agora e acho que essa gaiola ― Gwen apontou com o queixo ― É o mais longe que ele consegue produzir cristais.

― Por que você acha isso?

― Porque ele não se moveu desde a hora que chegamos.

― Albedo é arrogante, deve achar que não vale a pena enfrentar a gente, já pensou nisso?

― Sim ― disse Gwen. ― Mas olhe novamente os cristais, toda a energia está indo das pontas para a base. Agora olhe para os pés dele.

Kevin encarou as pernas de Albedo que mais lembravam duas estalagmites grossas. Então disse:

― Estão indo de baixo para cima.

― Exatamente. E mais, só teve um momento em que a energia mudou de direção.

― Deixa eu adivinhar ― Kevin esboçou um leve sorriso sarcástico, ― quando ele quis coçar minhas costas.

― Acertou.

De repente, o líquido verde-cristalino no interior do receptáculo começou a emitir um brilho pulsante. Albedo desviou o olhar dos jovens e voltou-se para sua máquina de fissão. A tadenita, agora líquida, acumulava energia o suficiente para uma nova tentativa.

― Temos que pará-lo! ― disse Kevin correndo em direção à gaiola.

Gwen até levantou a mão numa tentativa vã de impedir o amigo, mas ele tinha razão, independente de plano, era preciso fazer algo. A garota moveu seus braços reunindo energia em suas mãos, entrelaçou seus dedos de uma maneira estranha, com seus braços esticados frente ao corpo e apontando-os para o alienígena, disse:

― Vürkthera!

Um poderoso feixe de energia saiu de suas mãos, passou ao lado de Kevin e atingiu a lateral do corpo de Albedo. O alienígena curvou-se levemente com o impacto, mas logo retornou a sua posição natural, preparando a máquina a sua frente para a próxima explosão.

Kevin avançou além das colunas de cristal e no exato instante que pisou no círculo interno, vários pilares de cristais começaram a emergir do solo, obrigando-o a se desviar para não ser empalado vivo.

O feitiço de Gwen por sua vez, agia como uma sobremesa após o almoço, pois assim que tocava a superfície do corpo do alien, era convertida em luminosidade arco-íris e absorvida.

― Gwen, o que você está fazendo!? ― Kevin saltou para a esquerda para se desviar de dois estalagmites cristalinos que brotaram do chão. ― Coloca logo um laço bonito e dá sua energia de presente de uma vez!

― Cala a boca, Kevin! ― Diferente dele, ela tinha um plano. Gwen desentrelaçou os dedos, mas ainda mantinha o feixe de energia em direção à Albedo. Seus olhos revestiram-se de um forte brilho violeta e, em seguida, disse ―Adfishio Potentia!

O feixe de energia que atingia o corpo de Albedo dividiu-se como tentáculos sólidos de um polvo e envolveu seu tronco, braços e pernas. Ele estava imobilizado!

― O que pensa que está fazendo? ― Albedo encarava a garota com um olhar prepotente.

― Te tirando desse seu pedestal de arrogância! ― Gwen tracionou os tentáculos e puxou o corpo do alienígena para si, desequilibrando-o e fazendo-o tirar os pés do solo ― Agora, Kevin!

O jovem correu o mais rápido que seu corpo permitia. Sua mão direita já convertendo-se num enorme bloco de pedra.

― Não! ― gritou Albedo em queda.

Kevin saltou em direção ao receptáculo e tracionou seu braço direito para trás, preparando o golpe final contra a máquina.

Albedo forçou seus membros contra os tentáculos e girou seu corpo em pleno ar, procurando interromper sua queda com os pés contra o solo. O tentáculo que prendia seu braço esquerdo se estilhaçou e o alienígena apontou sua palma da mão em direção ao jovem osmosiano.

Um feixe de energia arco-íris cortou o ar e atingiu o lado direito do corpo de Kevin, desviando a trajetória do jovem e impedindo-o de acertar a seu alvo.

Os pés de Albedo finalmente tocaram o chão, permitindo-o frear e dando-lhe a força que necessitava para terminar de estilhaçar os tentáculos que lhe prendia. O alienígena levantou o corpo e encarou Gwen. O brilho vermelho de seu olho ardia em fúria.

A jovem anodita sentia suas mãos tremerem, seu coração pulsava em seus ouvidos, mas sua atenção não se desviava nem por um segundo do vilão.

Kevin caiu com violência contra o solo e girou algumas vezes antes de parar com a mão esquerda apoiada em seu lado oposto do tronco. A pele rochosa se encontrava com rachaduras profundas.

Albedo levantou o braço em direção à Gwen. Um brilho se concentrava em sua palma aberta.

Gwen abriu os braços em frente ao corpo e invocou um grosso escudo retangular, preparando-se para o feixe de energia.

― Gwen, atrás de você! ― gritou Kevin.

A garota tentou virar a cabeça, mas já era tarde demais. Uma fina lança de cristal emergiu de debaixo do solo e atravessou o corpo de Gwen.


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