OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 29
Guarnição Galvânica




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Só um segundo, pessoal, estou procurando aqui...

Não é nessa página. Nem nessa...

Pérai...

Aqui, achei:

Me-do. Do latim: metus. Substantivo masculino. Definição: 1. Fenômeno psicológico de forte caráter afetivo, marcado pela consciência de um perigo ou objeto ameaçador determinado e identificável. 2. Estado emocional resultante da consciência de perigo ou de ameaça, reais, hipotéticos ou imaginários. 3. Ausência de coragem.

O que isso significa?

Significa que precisamos de um dicionário para entendermos o dicionário.

O medo é uma das emoções mais primitivas dos seres vivos. Para algumas pessoas é uma ferramenta de poder. Para outras, um mero degrau para alcançar a coragem. Há também aqueles que a utiliza como “justificativa” para suas atitudes esdrúxulas. Já alguns se encontram refém desse sentimento e vivem estagnada, assustada, paralisada de uma forma que apenas o medo da mudança pode explicar.

O medo também é um dos pilares da História. Cabe a História analisar os acontecimentos, a ascensão e o declínio do amedrontamento para então adicionar um novo significado a esse medo: Experiência. Um povo que não conhece a própria história tende a repetir seus medos...

Independente da forma como é utilizado, todo medo tem uma fonte, uma origem, uma razão. E, seja o mais frágil dos insetos, ou a criatura mais poderosa da galáxia, todo mundo tem algum medo. Todo mundo. Até mesmo galvanianos-gênios-do-mal presos na forma humana.

***

Kevin recuou um passo quando um disparo de laser se chocou no solo, levantando poeira. Os Cavaleiros Eternos batalhavam contra as naves triangulares com a determinação habitual e teimosa de sempre. Para Kevin toda a situação que se estabelecia no pátio externo do castelo só lhe afetava no âmbito do “como eu faço pra sair daqui agora?”

O jovem osmosiano observou Albedo que mantinha seu olhar direcionado às espaçonaves. Seu olhar não se direcionou um só momento para os cavaleiros que por horas o atormentaram a paciência. Apenas os “novos visitantes” eram dignos de sua atenção.

Albedo sempre fora conhecido por seu jeito de se achar superior às demais criaturas, por isso, Kevin estranhou o persistente silêncio do vilão.  Nenhuma frase de deboche ou comentário maldoso. Apenas permanecia com o olhar fixo nas espaçonaves.

De repente, uma reação: Albedo estalou a língua por trás dos dentes com desprezo, virou-se de costas à saída e voltou para dentro do castelo.

― Onde você pensa que está indo? ― perguntou Kevin.

― Fique com o Regulador de Entropia, já não me importa mais.

― Como é que é!?

Albedo continuou caminhando em direção a um corredor à leste.

― Sem chance de eu aceitar uma resposta dessas! ― Kevin começou a seguir Albedo à passos trôpegos. ― Você está fugindo!

Albedo parou de caminhar.

― Eu acertei! Eu acertei, não foi? ― Kevin apoiou a mão no ombro de Albedo e o forçou a olhá-lo de frente ― Quem são esses caras?

― Não importa quem eles são.

― É claro que importa! ― Kevin apontava em direção à saída. ― Você simplesmente desistiu do Regulador no instante que viu as espaçonaves. De duas, uma: Ou eles são um perigo pra você ou são um perigo pra todos nós!

Albedo permaneceu em silêncio.

― Eu já enfrentei esses caras antes, Albedo; e, pelo que me pareceu daquela vez, eles estavam atrás de você!

Kevin novamente viu medo no olhar do vilão.

― Eu acertei de novo, não é? ― disse Kevin.

― Não importa de quem eles estão atrás.

― É mesmo? Então não vai se incomodar se eu for ali avisá-los de que-

― Não faça isso!

― Ah, agora estamos nos entendendo... ― Kevin encarou Albedo sem uma gota de paciência em sua expressão. ― Quem são esses caras!?

― São a Guarnição Galvânica ― Albedo encarava o chão com seriedade.

― Viu, não foi tão difícil! Agora eu deveria reconhecer esse nome por que mesmo?

Albedo esboçou uma cara de desprezo e seguiu corredor adentro, largando Kevin que continuou a segui-lo. Em vários momentos, os dois eram obrigados a se esconder atrás de uma coluna ou dentro de alguma sala para não serem vistos pelos cavaleiros que se dirigiam em direção ao pátio.

― Por que eu nunca ouvi falar dessa tal Guarnição se eles são tão temíveis assim? ― perguntou Kevin.

― Você não vai me deixar em paz mesmo, né, osmosiano? Você já está com o regulador de entropia, não era isso que você queria: estragar meus planos? Pronto, conseguiu, agora me deixe em paz!

― Não.

― Mas que ótimo...

― Tem muita coisa aqui que não foi explicada.

― Jura? Volte para a Academia de Encanadores então e estude mais, você tem cara de que fugia das aulas.

― Na verdade eu nunca fui.

― Por que não estou impressionado?

― Só que agora quem está fugindo é você! Você poderia facilmente derrubar uma dessas paredes ou atravessá-las e escapar daqui usando o Omnitr-

― Muito bem, o que você quer saber!? ― Albedo parou e o encarou, diminuindo bruscamente o espaço entre os dois.

Kevin recuou o tórax com a súbita aproximação do vilão. Então começou a perguntar:

― Por que está fugindo deles?

― Porque eles são um bando de psicopatas e estão fortemente armados.

― Os Cavaleiros Eternos também são.

― Mas esses são diferentes.

― De onde eles vieram? ― perguntou Kevin.

― De Galvan Prime.

― Galvan? Mas Galvan é um planeta pacífico!

― Agora é.

― Está se referindo às-

― Às Guerras galvânicas? Sim, estou.

― Mas as guerras acabaram há anos! Por acaso são viajantes do tempo ou algo do tipo?

― Quê!? Claro que não! ― Albedo olhou para o lado, como se encarasse os próprios pensamentos ― Embora deveriam estar enterrados na mais profunda cova da história.

― Então o que eles estão fazendo aqui?

― Algum imbecil, e eu desconfio de quem seja esse imbecil, deve ter se sentido meio nostálgico e resolveu ressuscitar a força-secreta conhecida como Guarnição Galvânica para fazer seu trabalho sujo...

― Força-secreta?

― Exatamente, força-secreta. O auge da covardia. Com a desculpa de proteger a nação, ou os inocentes, ou o Governo, ou qualquer desculpa esfarrapada que você quiser pensar; os tais governantes optam por secretamente subjugar qualquer um que se coloque no caminho deles.

― Então não é uma força oficial?

― Hoje em dia com certeza não. Ou pelo menos não deveria ser. A Guarnição Galvânica é para Galvan uma das piores cicatrizes em sua história. Um exemplo claro do quanto uma espécie pode ser cruel em prol de um objetivo.

― Quão cruel?

― Sequestros, torturas, extermínios, desaparecimentos, o pacote completo. Foram os carniceiros da época da guerra. Para eles, qualquer um que não os apoiassem eram vistos como possíveis inimigos, independente da espécie...

― E o que esses caras estão fazendo aqui?

― Sério mesmo que está me perguntando isso?

― Já entendi, estão atrás de você ― disse Kevin, recebendo uma virada de olhos de Albedo como resposta. ― Preciso avisar os Encanad-

Com um estrondo, um buraco se abre na parede da sala em que se encontravam. Uma espaçonave da Guanição fora atingida em pleno ar e adentrou o castelo com a delicadeza de um elefante numa loja de cristal. Albedo e Kevin levaram os braços em frente ao rosto procurando se defender dos destroços do impacto. A nave girou em pleno ar e chocou-se na parede oposta, caindo inoperante.

― Mas que droga! ― disse Albedo.

― O que foi!?

Albedo saltou sobre os debris que agora ocupavam o recinto e seguiu em direção à saída mais próxima. Kevin movido pela adrenalina, seguiu logo atrás, ignorando seus próprios ferimentos.

De repente, um feixe laser de análise é emitido pela espaçonave caída e percorre o corpo de Albedo e Kevin. Uma voz metalizada é ouvida logo em seguida:

E-encontrado-do-do-do traços de energia O-o-o-omni.... ― e desativou de vez.

Albedo seguiu correndo e virou em direção a escadaria de uma das torres. Kevin seguia atrás. Á medida que subiam os degraus, eles observavam pelas janelas da torre a imagem do confronto do pátio cada vez mais distante.

― Pra onde você está indo? ― perguntou Kevin.

― Não interessa, aliás, porque ainda está me seguindo?

Nem eu sei direito... ― pensou Kevin.

Uma garra metálica adentra por uma das janelas e agarra Albedo, prendendo seus braços juntos ao corpo e o impossibilitando de alcançar seu relógio. A garra passou a ser tracionada por uma espécie de corda de energia, puxando Albedo em direção ao exterior da torre.

― Essa não!

Kevin acelera a subida dos degraus e alcança o alienígena momentos antes de atravessar a abertura da janela. Apoiou um de seus pés na parede, buscando manter Albedo dentro da torre, e com dificuldade, buscava abrir os braços da garra.

― Anda logo, osmosiano!

― Me faça um favor e só cala a boca! ― respondeu Kevin, obtendo pouca resposta de seu esforço contra a garra.

Subitamente, um pulso elétrico percorre a corda de energia e eletrocuta Albedo, fazendo-o soltar um grito agoniante. Kevin se assusta com a possibilidade de também ser eletrocutado e por impulso solta a garra que traciona de vez Albedo janela afora.

Kevin sobe na abertura da torre e observa a nave da Guarnição começar a se afastar, com Albedo inconsciente pendente como uma pelúcia de máquina de prêmios. O jovem apoia a mão nas rochas que compunham a janela e absorve matéria o suficiente para seus braços, então salta em direção à espaçonave.

Em pleno ar, ele deforma suas mãos em bolas de espinhos. Sua “mão” esquerda atinge a lateral da nave e se fixa no veículo que começa a oscilar no ar com a mudança brusca de peso. Kevin utiliza sua outra “mão” e golpeia a espaçonave novamente, fazendo-a girar em pleno voo. Albedo permanecia como um ioiô, rodando de um lado para o outro.

O veículo rodopiou e foi perdendo altura até chocar-se contra a muralha do castelo, arremessando Albedo pelo ar em direção à floresta. Kevin, por sua vez, saltou no instante que a espaçonave atingiu o muro de pedra e tentou inutilmente se agarrar à árvore mais próxima da muralha. O jovem caiu, colidindo de galho em galho até cair no chão de barriga para cima.

Por alguns segundos permaneceu nessa posição, primeiramente para verificar se estava realmente vivo, depois para pensar o que iria fazer em seguida:

Meu carro está escondido aqui perto...

Com muita dificuldade, Kevin levantou do solo e seguiu floresta adentro. Tentava andar rápido pois sabia que era questão de tempo até a Guarnição ou os Cavaleiros virem atrás dele, por isso, precisava ignorar as dores lancinantes que irradiavam de seus ferimentos.

Faltando poucos metros, ele já pôde visualizar seu carro escondido por entre galhos e moitas. Era uma estratégia que provavelmente ia arranhar a pintura? Sim, era, mas pelo menos funcionava.

De repente, um baque na região posterior de seu crânio fez sua visão embaçar. A grama do solo aproximou-se rapidamente de seu rosto. Atordoado e sem forças, ele apenas conseguiu ver a imagem disforme de um par de tênis se aproximar antes de finalmente apagar.

***

Primeiro foi o som da floresta voltando a preencher os ouvidos de Kevin. Em seguida, um filete de luz adentrou seus olhos e foi lhe trazendo a imagem da grama e das árvores. Apoiou uma mão no solo próximo de seu rosto e começou a tentar levantar. Sua musculatura tremia com o esforço. A dor de cabeça se reuniu ao festival de dor dos ferimentos e decidiu marcar presença com uma batida latejante. Sentou na grama. Procurou encontrar contexto para tudo aquilo.

Aos poucos, as dores, a floresta, o carro à sua frente, tudo voltou a ter seu significado. Inclusive:

― O regulador! ― disse Kevin, levando a mão até um dos bolsos.

Infelizmente, não encontrou nem traços do dispositivo. Ao contrário, encontrou um galho jogado próximo a ele, provavelmente a ferramenta utilizada para lhe nocautear.

― Aquele desgraçado! ― murmurou.

Movido pela raiva, Kevin ignorou as dores e se levantou. Seguiu cambaleante até o carro e removeu os galhos. Entrou no veículo, apoiou a cabeça e no encosto do banco e suspirou. Em seguida, ligou o carro. Apenas a vibração do veículo já era razão suficiente para aguçar ainda mais suas dores, imagine dirigir. Tocou no painel digital do carro e ativou o piloto automático com coordenadas para o Quartel dos Encanadores.

O carro começou então a se mover sozinho e seguir em direção à estrada mais próxima.

Kevin abriu o porta-luvas e tirou de lá uma pequena mala de primeiros-socorros. Apoiou a maleta no banco do passageiro e tirou a camiseta rasgada e chamuscada. Tirou de dentro da maleta dois comprimidos analgésicos e engoliu sem precisar de água. Pegou um frasco de soro, um pacote de gaze e começou a limpar suas feridas.

De repente, o comunicador começou a tocar. Kevin tocou no painel para aceitar a chamada e já começou a falar:

― Fala, Gwen, aconteceu alguma coisa?

― Kevin, onde você está? ― disse Gwen.

― Estou voltando para o quartel. Fui resolver uns negócios, mas já acabei por agora. Por quê? ― Kevin fez um leve chiado entre os dentes quando colocou a gaze com antisséptico na ferida de sua perna. ― Aliás, e o Tennyson?

― É exatamente por isso que estou te ligando. O Ben acordou-

― Mas que excelente notícia! Eu sabia que você ia conseguir! Eu tinha certeza que se tinha alguém que poderia fazer o Tennyson sair dessa seria você!

O carro começou a adentrar as mediações da parte industrial de Bellwood. Kevin começava a enfaixar a região de suas costelas.

― Eu também fiquei feliz! ― disse Gwen ― Só que temos um problema.

― O que houve?

― O Ben sumiu.

O carro pegou o acesso à rodovia e seguiu em direção à parte comercial da cidade.

― Como assim, sumiu? ― Kevin prendia esparadrapos na faixa ao redor de seu tórax ― Foi algum efeito colateral da magia ou-

― Não! Não foi. Ele acordou e fugiu. Algumas câmeras do quartel pegaram ele como Friagem atravessando paredes e saindo pelo lado Leste.

O carro diminuiu a velocidade devido o trânsito que se estabelecia no viaduto da rodovia. Abaixo do viaduto era possível observar os prédios comerciais, com suas telas enormes projetando propagandas e noticiários de última hora.

― Você ainda está no quartel? ― perguntou o jovem.

― Sim, mas o local está quase vazio, estamos nesse momento apenas eu, o Cadete Fickell e a técnica Sanmwell na sala de vigilância.

― Por que “quase vazio”, cadê o pessoal? ― Kevin vestia a camisa reserva que deixava guardada debaixo do banco.

― Estamos com uma situação complicada na parte central da cidade, que obrigou várias equipes a se deslocarem para o local. Eu estou quase sem mana então decidi ficar e tentar achar pistas de onde o Ben pode estar. Até pensei na hipótese de ele também ir para essa ocorrência, mas até agora ele não apareceu e, do jeito que está tendo cobertura da mídia, seria muita loucura ele expor sua identidade dessa forma.

Kevin olhou para fora do carro em direção a um dos telões. Uma repórter trazia informações atualizadas da situação do Central Park.

― Gwen...

― Fala.

― Acho que encontrei o Ben.

O noticiário exibia uma imagem aérea do Central Park. As naves triangulares da Guarnição Galvânica se posicionavam em círculo ao redor dos reféns. Caminhando em direção às espaçonaves, um jovem adolescente de jaqueta verde chamava a atenção dos repórteres.


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