Drania escrita por Capitain


Capítulo 26
Rasth


Notas iniciais do capítulo

Desculpa o atraso. sério mesmo.



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Eu tinha matado alguém. Intencionalmente. Diretamente. E eu não estava arrependida. Pelo contrário, eu me sentia quase viva, como se quase pudesse ouvir meu coração pulando no peito. O corpo morto do mago que me atacara estava apoiado contra a rocha, dobrado no meio, como um bêbado desmaiado na rua. Quase como se estivesse dormindo...

— Drania! - Aurora exclamou, me tirando do transe em que eu estivera absorta. - O que está acontecendo?

Eu sacudi a cabeça e voltei até onde ela estava, atravessando a fileira de assassinos.

— Eu não sei - respondi - mas acho que consigo lutar.

— Nada disso - Aurora foi rápida na resposta - eu preciso que você fique dentro do perímetro da cidade, não importa o que aconteça.

— Porque? - eu questionei - eu matei o mago, então eu posso...

— Você fez o que?

— Suguei a alma dele.

A bruxa parou por um segundo, e a barreira que ela tinha o seu redor cintilou um pouquinho, respondendo a sua quebra de concentração.

— Você não deveria ser capaz de fazer isso.

— Bem, eu fiz.

Os atacantes aproveitaram o momento de distração da bruxa para fechar o círculo, e eu percebi que dessa vez eles estavam equipados com armaduras. Era um pouco difícil de perceber, já que as peças eram revestidas de tecido preto. Dessa vez eles também tinham escudos. Eu rapidamente contei doze atacantes, um os quais tinha uma estaca de gelo atravessando seu braço. Sem pensar, eu atraquei.

Flutuando através da linha de soldados, eu entendi o meu braço e segurei um deles pelo pescoço. Ou melhor, fiz o movimento, sem realmente tocá-lo. Mas senti. Em poucos segundos, eu suguei a sua força vital, e ele caiu no chão. Os outros saltaram para trás, deixando escapar exclamações de surpresa. Eu não deixei que se reagrupassem, atacando mais um logo em seguida. Como eu não precisava me preocupar com obstáculos ou armas, eu conseguia me mover de forma extremamente rápida.

Desculpa, eu disse em pensamento, mas vocês estavam tentando nos matar. Para ser sincera, depois do mago, eu não estava realmente tentando mata-los. Mas aparentemente, era impossível usar essa minha nova habilidade apenas para incapacitar. Se eu pudesse usar as runas... um grito de dor chamou minha atenção para a luta entre Goroth e o outro orc. Olhando mais de perto, eu percebi duas coisas. Que o orc era o mesmo que eu havia encontrado mais cedo, na floresta, e que Goroth estava perdendo.

Com um chute, Goroth foi lançado para trás como um saco de batatas, rolando pelo chão coberto de pedras e cogumelos.

— Achei que você tivesse dito que me mataria - o orc disse, com escárnio no rosto - mas como sempre, é você quem está sangrando no chão.

Goroth levantou-se silenciosamente, um filete de sangue escorrendo pelo canto de sua boca. Ao invés de responder à provocação, ele saltou sobre o outro sem aviso. O orc desviou o ataque sem muito esforço, jogando Goroth para o lado com as costas da mão, quase como se estivesse espantando uma mosca.

— Goroth! - eu flutuei até o orc caído - você está...

— Saia daqui - ele me cortou - essa não é a sua luta. Fuja. Você prometeu.

Você prometeu. Ai. Eu prometi. O orc inimigo chutou Goroth nas costelas, enquanto ele ainda estava no chão. Goroth grunhiu. E eu quebrei minha promessa. Estendi minha mão na direção do orc inimigo.

— Não! - Goroth gritou.

Sentindo a energia do imenso orc, eu ativei minha recém descoberta habilidade, drenando sua força vital. O orc percebeu imediatamente que algo estava errado, virando-se para mim.

— O que você está fazendo? - ele exclamou.

— Eu disse que sugaria sua alma, não disse? - eu falei, enquanto a energia fluía pelo meu corpo. Junto com ela, algumas lembranças começaram a aparecer.

A lua cheia inundava as ruas de Vralgongard em uma luz prateada, tornando mais difícil que eu me esgueirasse entre as árvores dos jardins do Supremo Sumo Sacerdote. Os humanos que me seguiam, em seus robes negros, eram mais silenciosos do que gatos. Eles nunca haviam feito nada para provar sua lealdade ao Xamã. Mas mesmo assim, era eu quem estava sob suspeita novamente.

Prove que pode me servir, Rasth. Era o que ele havia dito. Traga-me as garotas. Vivas.

Eu irei, Xamã. Provarei minha lealdade a Kraaz.

sentia presas estavam por perto. Assim que chegamos ao muro de pedra, nos separamos em dois grupos, prontos para flanquear a mansão que estava do outro lado. Eu ficaria próximo ao muro, para chamar menos atenção, enquanto os humanos se infiltrariam na casa. Quando estivessem devidamente cercadas, eu atacaria.

Os humanos começaram a cercar a casa, um por um, em silêncio, e em menos de dez minutos me deram o sinal. Eu ergui minha perna e dei um passo sobre o muro, atentando os ouvidos para qualquer ruído no lado de dentro da casa. Não havia nada. Dei o sinal para que atacassem, e corri para os fundos da mansão, olhos e ouvidos abertos, a emoção da caçada começando a me animar. Os primeiros humanos entraram, esgueirando-se por janelas, silenciando os criados com as suas lâminas.

Então, o silêncio. O chefe dos humanos caminhava de volta até mim. Havia algo errado. Elas não estão aqui, ele sinalizou. Como elas sabiam? Eu imediatamente farejei o ar. Ainda tinha o cheiro delas. Não podiam estar longe. Meus ouvidos aguçados captaram o som de passos rápidos na mata próxima.

Sinalizei para os humanos a direção delas. Aquelas putinhas não perdiam por esperar.

Saia da minha cabeça!

Fui puxada para fora da lembrança, pelo grito de Rasth que ecoava em minha cabeça. o orc cambaleava para longe de mim, ainda sobre efeito do meu toque, mas lutando contra mim. Pela primeira vez, eu senti que a energia não fluía com facilidade para mim, mas ao invés disso lutava para se concentrar nas áreas vitais de Rasth.

— Pare! - Goroth gritava, ao meu lado - você prometeu!

— Mas... - a memória do orc era do dia em que eu morri. Só podia ser. - mas ele estava lá!

Se eu não parasse, eu iria mata-lo. Mas eu precisava de respostas. A resistência aumentou, e meu controle começou a diminuir. Eu podia parar. Mas eu tinha que saber mais.

Não!

Eu precisava procurar entre as memórias dele. ele podia ter as respostas que eu precisava. Rasth continuava cambaleando para longe, e a velocidade com que eu drenava sua energia continuava a diminuir. Algo me dizia que, se eu perdesse aquela chance, não seria capaz de fazer isso de novo. foquei minha recém descoberta habilidade no sistema nervoso do orc. Se eu conseguisse tomar controle...

Não posso morrer aqui. Não assim.

Preciso saber o que aconteceu. Sinto muito. Eu podia sentir algo diferente agora, quase como se pudesse ver a barreira mental que Rasth tentava erguer, tentando me manter fora da sua consciência, tentando impedir que eu roubasse a sua energia, tentando sobreviver ao meu toque mortal.

Saia!

— Drania! - a voz agora era de Aurora - Pare!

Não! Eu forcei a minha consciência através dos muros que Rasth estava tentando erguer, conseguindo livre acesso às suas memórias. Eu tinha que saber.

Xamã! Me ajude, mestre!

Quando eu estava prestes a entrar novamente em outra memória, uma força imensa surgiu do nada e me atingiu, como um soco mental, jogando-me para fora da cabeça de Rasth, quebrando minha conexão, atravessando minha alma como um raio. Eu gritei e voei para longe, instintivamente.

— O que aconteceu? - Aurora estava desesperada - Drania!

— Eu não sei! - eu disse - alguma coisa me forçou a soltar.

Rasth nos interrompeu com uma gargalhada.

— O xamã me ouviu - ele disse, em meio aos risos. -  Meu mestre está vindo.

A expressão de Aurora foi de confusão a desespero em um piscar de olhos.

— Drania, Goroth! - ela gritou - entrem na cidade, agora mesmo!

Antes que pudéssemos reagir, uma enorme explosão abriu uma cratera na parede direita da caverna, cobrindo tudo e todos com uma grossa cortina de poeira e fumaça. quando tentei me mover, percebi que estava sendo mantida no lugar por uma força titânica, como se eu estivesse sendo esmagada por toneladas de rochas em todas as direções. Tudo o que eu podia mexer eram meus olhos, que foram atraídos para a imensa cratera, de onde rolava uma densa fumaça negra.

Do meio da nuvem de ébano saiu uma figura difusa, vestindo longos robes negros, e um capuz que cobria sua cabeça. O seu manto parecia se desfazer e se misturara à fumaça conforme ele se movia, brincando com a luz emitida pela sua mão direita. O próprio ar parecia brilhar ao redor de seu punho fechado, num tom claro de azul. Conforme a fumaça se dissipava, percebi que não era a única paralisada. Goroth e aurora estavam flutuando no ar, com os braços e pernas esticados, presos por magia.

A figura se aproximou lentamente, o punho direito controlando a magia que nos mantinha presos, sem mostrar o menor sinal de cansaço, e parou bem na minha frente, a poucos centímetros do meu rosto.

— Pela glória de Kraaz - ele disse, com sua voz profunda e melodiosa - Você não faz ideia de como é bom te ver novamente, Drania.

 


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Notas finais do capítulo

enfim, esse atraso foi meio que necessário. eu estava prestes a introduzir o vilão quando eu lembei que eu não tinha nada além de uma vag ideia de quem ele era o o que ele queria, exatamente. então passei esses dias desenvolvendo o vilão, e acabei aproveitando pra consertar uma porrada de buracos na história, e melhorar algumas plotlines pra fechar os arcos dos personagens de um jeito satisfatório daqui a alguns capítulos...
enfim, vejop vocês nos próximos capítulos.
prometo que não demoro tanto dessa vez. nem tem como, deixando um cliffhanger desses...
ps: a falta de negrito no plusfiction deixa esse capítulo bem mais confuso. vou ter que arranjar uma solução melhor mais tarde.



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