Drania escrita por Capitain


Capítulo 25
Limites


Notas iniciais do capítulo

desculpa a demora, novo capítulo em breve.
boa leitura!



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Quais são os seus limites? A pergunta não desistia, enquanto eu lutava contra o impulso de responde-la e sair dos meus sonhos. Algo estava acontecendo no mundo real. Eles estavam aqui. O culto estaria atacando? Eu não ouvia nada, não sentia nada. Apenas a pergunta me convidando a lembrar, a responder.

Quais são os seus limites?

Cale a boca.

Eu girava na escuridão, perseguida de perto pela sensação de terror. Havia algo errado. Eu precisava acordar. Eu precisava...

Eu precisava de água. A luta havia acabado alguns minutos antes, e tudo depois disso havia sido um borrão. Eu mal consegui me levantar e cambalear até uma das paredes, na sombra. Minha garganta parecia feita de areia, e eu nem sentia mais a dor no meu corpo, só uma sensação de cansaço absoluto. A única coisa que me impedia de dormir ali mesmo era a sede, e as golfadas incertas de ar seco atravessando meu peito como facas.

Levou um minuto para eu perceber que havia alguém parado em pé, a minha frente. Espremi meus olhos para tentar enxerga-lo direito. era Caleb, o cara que eu tinha acabado de derrotar. Ele abaixou-se e me ofereceu um cantil. eu o esvaziei em dois ou três goles, tão rápido que minha garganta parecia querer rasgar. O lutador sorriu ao receber de volta o cantil vazio.

— Você lutou bem - ele disse - não me divertia assim em anos.

eu não respondi. A febre ainda tomava conta da minha cabeça, deixando-a enevoada, mas eu iria coloca-la sobre controle assim que tivesse algo para comer. Eu tinha queimado todas as minhas reservas de gordura de uma vez só, deixando apenas músculo e fibra. Foi o momento em que eu percebi o quão perto eu estivera de morrer. Nada abaixo de 10% de gordura era saudável por muito tempo. A única outra vez que eu tivera níveis tão baixos de gordura fora quando Zhar me encontrara, morrendo de fome e frio, sob uma camada de neve.

Eu mal ouvia a conversa entusiasmada da plateia, mas sabia qual devia ser a expressão em seus rostos. espanto.

— eu não achei que você fosse se arriscar tanto - Caleb sussurrou, estendendo a mão para me ajudar a levantar - vamos para um lugar mais calmo.

Eu aceitei a mão dele. mesmo em meu estado debilitado, eu senti o toque. Ele estava tentando me sentir. Eu estava muito fraca para rejeitar o toque, mas consegui esconder o mais importante: as informações sobre meu rosto real. Caleb sorriu.

— Eu não estou interessado - ele disse, me ajudando a mancar até uma das arquibancadas, longe dos olhares gerais. - Só queria saber se você estava bem.

— Vou viver - eu respondi - e seria idiotice compartilhar, mesmo que não fosse.

Ele sorriu e estendeu um embrulho de pano.

— Coma - ele - sua amiga parece bem preocupada.

Alice chegou correndo, com a expressão chocada em seu rosto.

— Drania, você está bem?

Minha mente foi puxada para fora do sonho novamente. Onde eu estava? O que eu estava fazendo?

Eles estão aqui.

Droga, eu havia me perdido novamente. Eu precisava acordar. Aurora e Goroth estavam em uma fria, com certeza. eu precisava...

O que você pode fazer, de qualquer forma? De que jeito você pode ajudar? Você não consegue usar magia. Você não pode sequer tocar o mundo mortal.

Quais são os seus limites?

Eu não sei!

— Por Vraal, você me assustou lá atrás. - Alice comentou, alegremente - eu achei que você fosse morrer!

— Eu não morria de um jeito tão besta - eu repliquei - além disso, eu precisava vencer, ou meu precioso marco de ferro iria pro brejo.

Alice pareceu que ia fazer uma observação, mas desistiu. Ao invés disso, ela ajeitou o boné - um gesto que ela repetia a cada dez minutos, como se para garantir que ela ainda estava lá - e acelerou o passo.

— Eu estou faminta - ela disse, fazendo biquinho.

Deuses, ela era uma criancinha.

Pensei um pouco. A minha luta tinha rendido quatro marcos de ferro, e eu estava começando a ficar desconfortável carregando tanto dinheiro. Especialmente porque que ainda estava enfraquecida. Depois de comer o pão que Caleb me ofereceu, eu fui capaz de ajeitar algumas coisas, embora não pudesse regenerar nada muito óbvio para não levantar suspeitas. E eu precisava repor aquele estoque de gordura.

— Eu prometi que ia te apresentar à feijoada, não é?

Alice sorriu. De repente, o seu rosto ficou sombrio, e a escuridão preencheu meus sentidos.

— Acorde! - ela disse.

Dessa vez, funcionou. eu abri os olhos, e não estava mais no vazio, nem numa lembrança. Eu estava em algum lugar com paredes de pedra, embora eu não reconhecesse a sala. Imediatamente eu flutuei ao redor e olhei em volta. era uma das residências élficas abandonadas. Aurora devia ter me movido para cá enquanto dormia. havia uma quantidade absurda de flores artificiais e cogumelos, e apenas uma porta. Eu saí, perscrutando o ambiente em busca de ameaças. A casa estava vazia. Flutuei para fora.

— Aurora?

Havia uma batalha acontecendo lá fora. Haviam dez dos mesmos encapuzados que haviam nos atacado na clareira, em um semicírculo, disparando flechas em aurora, que mantinha uma barreira similar à que usara antes. Embora ela parecesse cansada, ela não estava tão mal quanto na clareira, e parecia não ter nenhum arranhão. E Goroth...

Goroth lutava com um orc que tinha o dobro do seu tamanho, usando nada além das suas mãos. Os golpes do outro orc eram brutais, e carregavam força o suficiente para partir rochas, mas de alguma forma, Goroth conseguia sempre esquivar-se ou bloquear. Não pareciam haver muitos atacantes, nem um mago entre eles. Mesmo assim, eu voei em direção a batalha.

Quais são os seus limites?

Você não pode lutar. você não pode proteger. Você devia fugir.

Cale a boca, pensei.

Você prometeu.

É verdade. Eu tinha prometido.se alguma coisa acontecesse, eu fugiria. Eu não podia lutar. mas eu podia voar. E isso seria suficiente. Flutuando determinada em direção a Aurora, eu soltei um grito de guerra meio desengonçado, para chamar a atenção dos encapuzados.

Quais são seus limites?

Assim que me viram, os encapuzados recuaram, e gritaram um sinal. Droga. Eles estavam esperando eu aparecer.

De algum lugar escondido entre as rochas, eu ouvi um comando. E uma força invisível começou a me puxar para longe.

Quais são os seus limites?

Eu tentei flutuar na direção contrária, e comecei a ganhar terreno contra o feitiço. A puxada se intensificou.

Quais são seus limites?

Algo estalou dentro da minha cabeça. A pergunta havia encontrado uma das respostas que estivera procurando. Eu sentia a força sendo aplicada sobre meu corpo, e, naquele momento, eu entendi. Eu não podia tocar o mundo mortal, e portanto, não podia senti-lo. Mas se aquela magia era capaz de me carregar... eu podia tocá-la.

Curiosa, eu abri meus sentidos, como faria para tentar sentir uma pessoa. O toque da magia era feito de nada além de pura energia. Porém, controlando aquela energia, estava uma mente humana. Eu podia sentir a presença do mago que controlava o feitiço.

Quais são os seus limites?

Em rápida sucessão, várias imagens e sensações ecoaram em minha cabeça. e meus instintos tomaram conta. Eu parei de resistir ao feitiço, e ao invés disso, comecei a acelerar na direção do mago que o estava lançando. Eu sabia o que fazer a gora. A língua absoluta havia me obrigado a entender.

Com transmorfa, eu sempre fora capaz de sentir coisas vivas, sua energia, suas células. Eu achei que essa habilidade havia sumido agora que estava morta, e não podia tocar em nada. Mas ela ainda estava lá. eu podia sentir a mente do mago, sua alma. eu podia sentir a energia ao meu redor, a vida, e a morte.

Quais são os seus limites?

Eu pairava em frente ao mago, que tinha o rosto coberto por um capuz negro. Mas o capuz não podia esconder a sua energia de mim. Lembrei da clareira, e quão chocada havia ficado quando aurora me disse o que teria que fazer para sobreviver. Ela me dissera que teria que roubar a alma dos mortos. Mas nunca me dissera que eu também podia suga-la dos vivos.

A princípio, eu não sentia nada além da calma, e da sensação de alívio de finalmente ter respondido à pergunta. Então senti a energia se mover. O mago deu um passo para trás, surpreso, quando meu toque ordenou que ele me dessa sua força vital. Eu pude sentir sua mente entrando em desespero por um breve segundo, e então a alma dele me atingiu. Eu sabia o que esperar, dessa vez, quando a energia atravessou meu braço, e as lembranças do mago começaram a se derramar em minha cabeça. eu as ignorei, e continuei puxando.

O calor do seu corpo começou a diminuir. Ele começou a respirar mais rápido. Seu coração disparou. A energia necessária para mantê-lo vivo sendo drenada por mim. Em instantes ele colapsou ao chão, morto.

Quais são seus limites?

A pergunta se repetiu mais uma vez, antes de desaparecer.

A minha mente ficou clara mais uma vez. Eu não sabia todos os meus limites. Não ainda. mas havia algo no fundo do meu ser, pronto para borbulhar para fora. Algo preso, escondido, rejeitado, esquecido. Algo tão profundo quanto eu mesma. Algo que aquela pergunta trouxera à tona. Ira. E poder. Entranhada em meu corpo morto, havia uma verdade que eu estivera ignorando até agora.

Eu não era inútil.

Eu podia lutar.


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Notas finais do capítulo

+fiction looking good, huh?
pena q essas notas iniciais e finais vão ser perdidas.
anyway, vejo vcs nos próximos capítulos!



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