O Beijo das Sombras escrita por Mei Terume


Capítulo 6
Em algum lugar fora do Mapa


Notas iniciais do capítulo

Acrescentei um trecho da música de Slipknot ao capítulo. Algumas das letras deles representam bem os pensamentos de Bo. Talvez eu escreva um capítulo narrado por ele.
Boa leitura!!



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...

24 de Julho de 2003

Após a chamada de Cheryl, decidi desligar meu celular, e o joguei no fundo da bolsa.

O sorriso de Bo se alargou para mim.

— Então quer dizer que você já fugiu para o Brasil?

— Sim. Respondi me recordando daquela maravilhosa viagem. _Sempre quis conhecer o Brasil.

— E como é lá? Bo me encarava com sua Heineken nas mãos.

— O paraíso. Respondi. _ Um Oasis.

— Isso parece perfeito. Seus olhos não saiam da minha boca.

— Quer fugir para lá comigo, agora?

Bo ponderou alguns minutos.

— Isso é muito tentador. Mas não tenho dinheiro para isso.

Fato que dava pra perceber.

— Eu não perguntei se você tem dinheiro.

 _ Jamais usaria seu dinheiro. Ele sorriu envergonhado.

Enfim, machismo puro. Decidi mudar o rumo da conversa, já que não nos levaria ao Brasil de qualquer maneira.

— O Brasil é um país incrível e gigante, com várias culturas diferentes entre si. Eu conheci apenas o Rio de Janeiro, e as mulheres são realmente as mais belas, parecem ter sido beijadas pelo sol.

 Ele me pareceu ter imaginado o cenário. E afirmou negativamente com a cabeça.

— Prefiro as garotas beijadas pela lua, e tocou minha pele alva. O que fez com que um arrepio subisse pelo meu corpo.

...

Em algum lugar fora do Mapa

Havíamos adentrado a uma cidade realmente pacata ao anoitecer, não vi absolutamente ninguém na rua, apesar de ouvir sons de pessoas para todos os lados.

Estacionei atrás da camionete de Bo que logo veio ao meu encontro me ajudar com a mala.

— Eu preciso te pedir uma coisa Carly, espero que não tenha medo e me compreenda.

— O que é? Já me assustei um pouco com o tom de Bo.

Duvido que alguma coisa pudesse ser pior do que a fachada de sua casa era escurecida pelo tempo e suja.

E a cidade era bem menor do que eu esperava, dava quase pra contar nos dedos a quantidade de casas ali.

— Meu irmão Vincent, ele tem uma deformação no rosto, não se assuste com isso e nem fique encarando ele muito tempo ele pode ficar triste. Não recebemos muitas pessoas aqui por esse motivo.

— Tudo bem, eu não tenho problemas com deformações, não sou uma pessoa superficial apesar de parecer. Respirei aliviada. _ É só isso?

— Ele também não fala, é mudo. Preciso que você espere aqui alguns minutos se não se importar, preciso falar com ele sobre você. E essa casa deve estar uma bagunça, dois homens morando sozinhos, é um pouco complicado. Espero que não se importe com isso.

— Não se preocupe Bo. Pode ir lá falar com ele.

Disse sorrindo amarela com a situação.

Realmente não me importava com a deformação dos outros, mas em questão de casas bagunçadas eu tinha pavor.

Gosto de ambientes amplos e limpos.

 Estava com certo receio do que me esperava lá dentro, pela vista de fora, talvez ainda desse tempo de ir embora, seria uma desfeita tremenda com ele depois de tudo e ia pensar que eu era uma pessoa bem esnobe.

Não queria que ele pensasse isso de mim, após ter sido tão legal comigo e se oferecido para me ajudar sem nada em troca.

E além do mais seriam só alguns dias. Podia ficar só um dia ou dois e ir embora sem ofendê-lo.

— Prontinho Carly. Bo me chamou me arrancando de meus pensamentos.

Tinha alguém com ele agora. E realmente se ele não tivesse me avisado eu teria me assustado. Tinha um cabelo cumprido horrível e nada que ele tivesse por baixo podia ser pior que aquela máscara de cera meio derretida.

Mas eu estava enganada, estava totalmente enganada sobre tudo.

— Oi, é Vincent, muito prazer! Disse estendo minha mão pra ele.

Ele ficou meio apreensivo a principio.

— Tudo bem Vincent. Bo disse a ele acenando afirmativamente com a cabeça.

Ele fez sinais para Bo que eu não entendi direito.

 _ Vamos entrando então. Bo disse tentando quebrar o clima estranho que surgiu entre nós.

Bo pegou minha mala e a levou para dentro. Vincent me deu a sua frente nas escadas, e então avistei o interior da casa.

Era de fato desorganizada e suja, mas suportável, ampla com sua mesa de sinuca no centro, e várias mobílias velhas enxovalhadas nos cantos.

Bo me encarou ao observar a casa. Não sou muito boa em esconder minhas reações, ainda mais quando são ruins.

— Sei que não é o que você esperava. Mas posso dar uma arrumada nela amanhã, pra você se sentir mais confortável.

— Não precisa, a casa é sua, não precisa mexer nas suas coisas por minha causa. E além do mais é por pouco tempo não é mesmo. Sorri amarelo para ele.

— Nem chegou e já quer ir embora. Eu sei que está muito ruim. Só tenho preguiça mesmo, como não recebo muitas visitas. Mas amanhã vou tentar melhorar isso para você.

— Eu te ajudo amanhã então. Disse apesar de não fazer á mínima ideia de como se arruma uma casa.

O simples fato de eu ser gentil com os empregados já era motivo suficiente para minha mãe revirar os olhos.

— Você esta com fome Carly?

— Na verdade só queria tomar um banho mesmo e descansar.

— Vem comigo então. Como vê a casa não é muito grande. E como o quarto de hospedes esta bem pior que os outros, vai ter que ficar no meu quarto essa noite, se quiser amanhã eu arrumo ele pra você.

Eu o prendi no corredor.

— Vim aqui pra ficar colada no seu corpo. Não quero saber de quarto de hospedes.

Ele me beijou e me ergueu em seus braços me colocando na parede, prendi minhas pernas em seu corpo.

Arrastou-me pelas paredes até seu quarto e me colocou na cama.

— Preciso pegar sua mala que larguei no corredor.

Ele se levantou rapidamente, buscou a mala e a colocou em um canto qualquer do quarto. E então continuou de onde havia parado.

...

Ela apareceu toda vestida pra mim

Todo o tormento e dor

Vazaram e me cobriam

Eu faria qualquer coisa pra tê-la pra mim

“Só para tê-la para mim”

Slipknot

 

Ambrose, 28 de Julho de 2003

Bo Sinclair ainda era sexy nu, apenas com suas munhequeiras, ainda não tinha perdido a graça para mim, apenas me deixava mais ávida por prazer a cada transa bem sucedida.

Eu ainda não tinha me atentado a isto, mas achei peculiar ter os dois punhos abertos. Por que outra razão ele usaria munhequeiras, mas eu estava mais preocupada com outras partes do corpo.

Bo havia me chupado acho que por três dias, e fizemos aquele sexo forte com o qual eu estava facilmente me acostumando, em sua cama de lençóis ruins ou nas suas paredes desgastadas, junto as suas mobílias velhas e abarrotadas.

Ninguém arrumou a casa, ninguém saiu da cama por muito tempo, apenas Bo para buscar comida pra mim. E depois nos entregávamos a Luxuria novamente com muito vinho ruim, ou qualquer outra coisa que tivesse álcool.

Aquilo era insano, mas era delicioso ao mesmo tempo. Dentre tanta coisa ruim ali, Bo superava tudo.

Mas, no entanto, eu precisava voltar para a vida real, ligar pro Nick e para Cheryl dizer que eu estava bem e segura e que eu muito em breve voltaria para casa.

Precisava sair daquele quarto e ver gente de verdade além de Bo Sinclair, e meu corpo precisava de pelo menos alguns dias sem álcool.

...

12 de Janeiro de 2006

 

Depois de dois dias consegui retomar a psicoterapia intensiva, após a morte de Cheryl, e isso eu devo a Dean Winchester, o estranho que realmente tinha me salvado.

Me salvado da escuridão, me salvado de mim mesma, apesar de meus sentimentos por Bo, eu consigo enxergar as coisas, diferente do que os médicos acham, eu consigo ver quem é o vilão aqui.

A maneira como Dean me olhava, o modo como me tocava, como se eu fosse um cristal, tinha mais em seus olhos, coisas que eu queria descobrir.

Se ha algo de bom que Bo me ensinou era como me afundar nas pessoas. Mas em Dean eu sei que nunca me afogaria.

...

Ele te manteve por três dias alcoolizada no quarto? Perguntou o Acusador.

— Eu acredito que ele estava adiando meu assassinato, não queria que eu descobrisse a verdade sobre Ambrose. 

Eu nunca ia saber o que Bo pensava o porquê fez aquilo, mas depois de dois anos, não que eu pense que ele me amava, não seria tão boba ao pensar algo assim, mas acredito que ele tenha desenvolvido algum tipo de sentimento por mim, eu nunca saberia dar um nome para o que tínhamos, mas sei que ele sentiu, em um dado momento, ainda que fosse a ausência de sentimentos ruins, ou eu pensava no início que eu era uma espécie de troféu para ele. Mas pra quem ele me exibiria?! Não fazia nenhum sentido.

— Desde o primeiro momento eu acredito que Bo queria me matar, mas aí acho que tornei as coisas divertidas pra ele. Como brincar com a comida. Mas em algum momento ele se perdeu, e acabou por não conseguir mais fazer isso, não quer dizer que não tenha tentado.

Os médicos analisavam a cada gesto, cada palavra, cada olhar minuciosamente.

— Você não suspeitou dele em algum momento, te mantendo bêbada e não a deixando sair do quarto? O Observador aguardava minha resposta que demorei uns segundos para conseguir responder.

— Eu estava gostando, não tinha porque eu querer sair do quarto até então, não posso dizer que ele me prendeu, não nesses primeiros dias.

Era tudo que eu vinha buscando até então. Fugir de tudo, de todos e de mim mesma.

E durante esses dias trancada naquele quarto, bêbada com Bo Sinclair, pude me entregar ao abismo que habitava dentro de mim.

Mas eu sabia que essa queda livre precisava ter um fim.

...

28 de Julho de 2003

 Nesta manhã acordei antes de Bo, e consegui fugir sorrateiramente para cozinha. Mas Vincent estava lá.

Aproximei-me dele com um grande sorriso tentando de alguma forma criar um contato mais amistoso com ele.

Eu me sentia sexy na camisa de velório de Bo.

Vincent me deu uma olhada de cima a baixo, mas não se demorou muito.

Sentei-me na mesa a sua frente e ele logo me empurrou o leite e a caixa de cereal.

— Muito obrigada Vincent.

Ele acenou afirmativamente com a cabeça.

Mas logo fomos interrompidos por Bo, chegando exasperado na cozinha.

— O que foi meu bem? Disse acariciando seu rosto.

— Eu acordei e você não estava na cama. Ele disse se recompondo.

— Eu não fugi, não dessa vez. Disse com uma dose de sarcasmo.

— Espero que você não vá embora sem se despedir.

— Mas é claro que não. Disse me levantando e lhe dando um beijo.

Ele correspondeu, mas logo notou a camisa curta e olhou pra Vincent.

Puxou-me para a sala e me deitou na mesa de sinuca.

— Por mais tentador que seja te ver assim tão sexy andando pela minha casa, quero que seja um privilegio só meu e não de meu irmão também._ Já dividi coisas de mais com ele. Disse num tom mais sério.

Machismo puro. Mas não quis contrariá-lo.

— Vou subir e vou me trocar, toma um café então pra você me mostrar á cidade.

Ele pareceu ponderar por um longo tempo.

— Você tem certeza? Não quero te decepcionar com Ambrose ainda. É uma cidade muito parada, você não vai gostar.

— Eu vim até aqui não vim? Provoquei.

— Pensei que tivesse vindo por mim. Indagou.

— Já não te provei isso por três dias meu bem. Preciso de mais._ Vai me mostra qual o motivo pra você viver aqui. Não me parece um homem pacato. Provoquei sensualmente mordendo sua orelha e pescoço.

Ele se esquivou e respirou fundo.

— Vai então se veste, sem pressa minha boneca. Quero você bem linda pra eu mostrar pra essa cidade o que é beleza de verdade.

Sorri e o beijei demoradamente, até ele me descer na mesa.

Antes de trocar de roupa, revirei minha bolsa e não encontrei meu celular, eu precisava ligar para casa. Voltei para a sala perguntar a Bo quando o vi cochichando para Vincent.

— Se eu contar a Carly ela vai querer ir embora, e eu vou perdê-la você entende. Eu não quero perdê-la ainda.

Eu não gostei das palavras que eu ouvi, mas não sabia o que pensar.

Será que Bo era casado, pelo tom da conversa, algo que me faria querer ir embora, mas se ele era onde estava ela?! Ele meio que fazia o tipo cafajeste. Será ele divorciado com um monte de filhos, talvez ela more na cidade e se ver a gente pode criar algum tipo de confusão, cidade pequena, garota menor de idade. O que quer que seja ele terá que me contar. Mas pensando por outro lado se ele tivesse esse tipo de problema não teria me trazido pra cá.

Comecei a me questionar se tinha sido boa ideia ter vindo parar aqui.

Quando eu acabei de me vestir com minhas paranóias, Bo invadiu o quarto tirando suas roupas, logo estava vestido e alinhado novamente em um novo terno barato, mas dessa vez não era preto.

— Você é casado? As palavras saltaram de minha boca. _ Divorciado? Tem filhos?

Bo começou a rir histericamente.

— Mas é claro que não, de onde você tirou isso? Ele me olhava incrédulo.

— Eu não sei. Já tem idade pra ser casado, ter filhos e tudo mais. Dei de ombros.

— Eu tenho 28 anos, e sou solteiro convicto. Mais alguma coisa?

— Eu não sei, me pareceu estranho agora.

— Estranho o que exatamente? _ Eu gosto de sexo, mas gosto de ser sozinho. É simples. E até o dia de hoje não perdi pra nenhuma mulher.

— Como assim?

— Não perdi meu coração. Ele se aproximou de mim, menos debochado agora. _ Não quer dizer que com você vai ser igual. Talvez você seja a garota que vai mudar tudo isso. Ele beijou minha testa e me abraçou.

Se eu pudesse ver naquele momento o que ninguém mais vê, eu diria que ele estava rindo por dentro.

— Eu ouvi você e o Vincent, você disse pra ele que se eu soubesse a verdade eu ia querer ir embora, que verdade é essa Bo? O que ia me fazer fugir daqui?


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