Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 41
Capítulo 40




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Samantha estava na sala, encolhida sob o abraço protetor de Montgomery, quando Dallas entrou no aposento. Uma pontada de ciúmes brotou em seu peito ao ver a cena, porque Monty sempre foi o seu protetor, o seu guardião e o seu mentor, e nunca desprendeu um pingo de consideração que fosse pelos gêmeos. Agora? Agora ele acolhia Samantha com a compaixão e misericórdia de um pai de coração partido ao ver o sofrimento da filha, e Dallas quis gritar e em um gesto de petulância infantil separar o homem da adolescente e rosnar no ouvido dela “ meu!” . Mas Samantha era uma cena patética e digna de comiseração. Os olhos dela estavam enfaixados, ela foi guiada por Monty até o sofá, os seus gestos eram incertos e tímidos, o rosto pálido vez ou outra torcia-se em uma expressão de dor, o corpo dela tremia, como se segurasse com muito esforço o soluço de choro, e quando os saltos de Amélia fizeram um clique-clique mais alto do que o usual no piso da sala, a garota encolheu-se contra Montgomery como se tivesse levado um tapa.

Nicholas rapidamente foi na direção da irmã para oferecer consolo à ela, mas ao tocar-lhe a mão, Samantha deu um pulo e soltou um grito aterrorizado, o que foi o suficiente para fazer o quadro de Walburga começar a berrar impropérios sobre trouxas manchando as paredes da sagrada e estimada mansão Black. Dallas quis azarar a pintura, profundamente, somente para aliviar o estresse que sentia no momento, mas o uso da magia por menor de idade na noite passada poderia ser explicado, seria relevado pelo Ministério porque ela encontrava-se em uma situação de perigo extremo, azarar a pintura de sua tia-avó não encaixava-se bem neste cenário. Felizmente, o olhar atravessado de Amélia e a ameaça dela de queimar o quadro sem dó, mesmo que tivesse que queimar a casa inteira junto, calou Walburga no momento em que Albert entrou na sala, vindo de outro corredor. Ele deu um passo na direção de Dallas, os braços levemente erguidos, na intenção de abraçá-la, mas Dallas reagiu de forma tão instintiva ao recuar do toque dele que Albert congelou no meio do caminho e mudou de ideia rapidinho, adotando em seu rosto a expressão sofrida de quem não entendia o que tinha feito de errado para ser rejeitado daquele jeito. Dallas quis vomitar diante da ignorância proposital de Albert. 

— Acredito que vocês queiram uma boa explicação do que aconteceu. — Amélia começou aquela reunião de família sem preâmbulos, sentou na poltrona com a elegância e suavidade que sempre lhe foi característica, e lançou um olhar significativo para a varinha na mão de Dallas, que a respondeu com um dar de ombros e guardou a varinha no cós da calça antes de sentar-se na cadeira mais afastada que havia daquele grupo. 

— Sim. — Albert lançou um olhar acusador para Dallas, como se ela fosse a responsável por todo aquele desastre, e Dallas empertigou-se toda em sua reação padrão a acusações infundadas. — O que cacete foi aquilo que eu vi ontem à noite?

— Albert! — Amélia o repreendeu com o mesmo tom que adultos usavam para repreender crianças, mas Albert era um homem feito, vacinado e emancipado, e não deixou-se acuar pela reprimenda implícita na voz dela. Dallas soltou um longo suspiro e esfregou os olhos com as pontas dos dedos. Para ser bem sincera, ela não estava muito disposta a explicar toda aquela situação, porque esta seria uma longa aula de História da Magia a ser dada e Albert ainda sim não ficaria sabendo da missa a metade. Felizmente, Amélia retirou este fardo de suas mãos e resolveu colocar os pingos em todos os is.

Ela explicou de forma sucinta e didática sobre o mundo mágico, sobre Voldemort e sobre os Comensais da Morte. Mas, principalmente, sobre Narcissa Malfoy e quem era Dallas Winford. Foi uma hora de história, sem interrupções, porque ninguém em sã consciência interrompia Amélia Winford quando ela estava falando, e quando terminou, Albert mirou Dallas como se fosse a primeira vez que a visse na vida o que, convenhamos, era uma verdade. Albert não conhecia tanto a filha quanto achava que a conhecia, não é mesmo?

— Você é uma bruxa. — Samantha disse com uma voz rouca e ainda encolhida sob o abraço de Montgomery. Dallas deu de ombros até que lembrou que a irmã não podia vê-la. 

— Essa foi a mesma reação que eu tive quando descobri este fato. Entre outras coisas sobre a minha herança genética. — comentou e lançou um olhar significativo para a avó que, em todo o momento em que estava explicando o que foi que aconteceu na noite passada, quem eram aqueles homens e mulheres mascarados e encapuzados, ela convenientemente deixou de fora da história que era uma veela e porque exatamente os Winford foram atacados. 

— E por que eles nos atacaram? — mas, aparentemente, Nicholas captou essa pequena “gafe” da avó deles.

Dallas e Amélia trocaram olhares significativos. 

— Eu já estou providenciando a nossa mudança. Durante a primeira guerra a França foi o nosso refúgio, mas a rede de influência de Voldemort está expandindo-se, portanto eu entrei em contato com alguns familiares no Brasil…

— Não! — Nicholas interrompeu Amélia com ferocidade e Samantha ofegou diante da ousadia do irmão. Amélia ergueu uma sobrancelha para o rapaz, genuinamente surpresa pela ousadia dele. — Não desconverse! Não mude de assunto! Esses tais Comensais da Morte não nos atacariam sem razão. Na visão deles somos uma mera e insignificante família não mágica. Por que, então, entramos na mira deles? — outro olhar significativo foi trocado entre Dallas e Amélia. — Eu estou certo, não estou? — ele disse com azedume. — A culpa é de Dallas. 

— Por que diz isto? — Amélia perguntou com a tranquilidade de um professor incentivando um debate sadio entre os seus alunos, como se não soubesse que na verdade estava adicionando gasolina ao incêndio para ver o circo pegar mais fogo. 

— Ela é uma bruxa, logo os Comensais a atacaram. — Nicholas argumentou. 

— O fato dela ser uma bruxa não a torna automaticamente alvo de Comensais da Morte. Pense, Nicholas, não me desaponte como nas milhares de vezes que você já fez no passado. Pense. — Nicholas ficou vermelho diante da reprimenda de Amélia, mas não reagiu com a violência e frustração que Dallas esperava. Ao invés disto, permaneceu em silêncio por um minuto antes de responder:

— Ela conhece alguém que é alvo dos Comensais. — o sorriso presunçoso de Amélia foi a confirmação para a acusação de Nicholas. 

— E por isso nós estamos indo para o Brasil. 

— Brasil? — Albert finalmente entrou na roda de conversa.

— Winford Inc. acabou de abrir uma filial em São Paulo, creio que fará bem para a família passar um tempo na cidade, para você observar esta abertura de perto, e eu estou devendo há anos uma visita a alguns parentes. — Amélia declarou com tranquilidade, como se ela não estivesse há um ano propositalmente planejando a abertura desta filial em São Paulo da empresa, com a finalidade de ter uma desculpa para mudar a família inteira para lá quando o Ministério da Magia finalmente reconhecesse o retorno de Voldemort. Dallas conhecia a avó o suficiente para saber que ela não dava ponto sem nó. Parentes no Brasil? Por favor! O que havia lá, no máximo, deveriam ser descendentes das primeiras veelas que migraram da América do Sul para a Europa. 

Dallas levantou da cadeira em um impulso. 

— Bem, boa mudança para vocês, então. — declarou e as reações dos presentes na sala foram instantâneas. Samantha e Nicholas reagiram com surpresa, Montgomery a olhou dividido em protegê-la de sua própria decisão louca de ficar diante do perigo que corria, ou continuar a proteger Samantha, Amélia permaneceu impassível em seu assento, mas Albert saiu de seu lugar com um pulo, como se tivesse levado um choque.  

— Por que você fala como se não estivesse vindo para o Brasil conosco? 

— Porque eu não estou. — Dallas respondeu com calma, sinceramente não compreendendo a expressão apoplética de Albert. 

— Amélia acaba de nos confirmar que os Comensais da Morte atacaram a nossa família por sua causa, que eles estão atrás de você, que a querem morta, e você vai ficar na Inglaterra? — Nicholas a olhou como se Dallas fosse louca. 

— Sim. — Dallas completou com um dar de ombros. A sua decisão foi tomada no instante em que Aurora a aparatou para a casa dos Weasley, em que Potter a abraçou tão apertado que fez estalar os ossos de seu corpo, em que discutiu com ele sobre não desistir se ela morresse. Potter deixou claro que ele persistiria lutando se perdesse Dallas, mas que a vingança seria a sua única motivação, porque nada mais importaria. E Dallas, após uma madrugada em claro olhando para o teto do quarto minúsculo de Ginny Weasley, percebeu que ela também não responderia por si se perdesse Potter. 

Não havia mais como negar que o que eles tinham era diferente, profundo e intenso, e que as suas vidas e almas estavam tão conectadas que a ideia de perder um ao outro era perturbadora o suficiente para eles perderem a própria sanidade. Não era um relacionamento saudável este, Dallas tinha que confessar, mas não era como se ela realmente tivesse tido algum relacionamento normal em toda a sua vida. Vide Amélia, Narcissa, Draco, os gêmeos e Albert, ela era disfuncional com uma família disfuncional e com uma ligação disfuncional com Potter. Então o melhor a fazer seria abraçar essa esquisitice, não é mesmo?

— Você se ilude se acha que eu vou permitir isto. — Albert protestou em um momento de lapso, em um momento em que ele lembrou que era pai de Dallas. Mas ele esqueceu de um pequeno detalhe: biologicamente ele era o pai de Dallas, a certidão de nascimento dela dizia que ele era pai de Dallas, mas legalmente ele não tinha nenhum poder para ordenar Dallas. Essa era a situação complicada que ele mencionou à ela naquele estranho dia em que a levou para conhecer a sede da Winford Inc. 

— Acho que você esqueceu que você não é meu guardião legal, não é mesmo? Portanto não pode obrigar-me a nada. — Albert recuou como se tivesse levado um tapa. Ele sinceramente achou que Dallas nunca iria descobrir este pequeno segredinho dele? Que ele aceitou a imposição de Amélia de registrar Dallas como uma Winford, como filha dele, mas que abriu mão de seus direitos paternos para a própria mãe?

— Do que ela está falando? — Samantha murmurou a pergunta para ninguém em especial, mas Amélia a respondeu mesmo assim.

— Ela fala do fato de que, legalmente, Albert não tem nenhuma autoridade sobre Dallas. E nem moralmente, na verdade. — acusou e Albert murchou em sua petulância rapidamente. 

— Você não pode concordar com este absurdo, não é mesmo? — Albert protestou, Amélia hesitou um pouco antes de responder, e Dallas surpreendeu-se ao ver que, mais uma vez, estava enganada sobre a avó, que já deveria ter aprendido há tempos a esperar o inesperado da sra. Winford. 

— Na verdade, estou. — Amélia ergueu-se da poltrona com a mesma elegância com que sentou nesta. 

— Dallas é menor de idade e a sua decisão de permitir que ela permaneça na Inglaterra está colocando em risco a vida dela. Eu posso recorrer na justiça sobre isto e requerer o meu direito paterno de volta. — Amélia riu da ousadia de Albert. 

— Usando que fundamentos? Você não vai poder contar a verdade para o juiz, eles não vão acreditar em você, e Dallas é uma bruxa e no caso dela as leis mágicas prevalecem sobre as leis trouxas. Dallas está sob a jurisdição do Ministério da Magia britânico e sob a guarda de Hogwarts durante a estadia dela na escola. — Amélia retirou algo do bolso do blazer e o estendeu para Dallas. Era uma chave dourada, uma chave de cofre do Gringotes. O cofre que ela disse ter aberto em nome da neta. 

— Eu não vou permitir…

— Pare, Albert. Simplesmente, pare. — Amélia o cortou. — Eu sempre esperei que o tempo fosse lhe dar maturidade e parece que finalmente as minhas preces foram ouvidas, mas você está apontando o seu senso de responsabilidade para a pessoa errada. Dallas não precisa de você e quando precisou você não esteve lá. Cuide de quem realmente necessita de você neste momento. — ela indicou com um gesto de mão Samantha e Nicholas. — Antes que também seja tarde demais. E quanto à vocẽ. — ela virou-se para a neta. — Faça-me o favor de não morrer. — Dallas riu. 

— Tentarei o meu melhor. — prometeu em um tom de brincadeira, inclinou-se na direção de Amélia e lhe deu um beijo longo na bochecha. — Au revoir grand-mère . — desejou ao pé do ouvido dela. Queria dar a Amélia somente um até logo como despedida, mas ambas não eram de se iludir desta maneira. Dallas sabia que era uma chance de 50/50. Ela poderia sobreviver como poderia morrer nesta guerra que estava estourando e na qual ela já escolheu lutar, do lado que ela não sabia se seria o vencedor, mas que sabia ser o certo. 

Adeus, então, lhe pareceu a despedida mais propícia.


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