Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 40
Capítulo 39




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Harry detestava as visões com Voldemort, de forma intensa e dolorida, desde o segundo em que o outro bruxo descobriu que Harry estava dentro de sua cabeça e usou isto como vantagem, montando aquela armadilha que terminou com a morte de Sirius. Mas, ao mesmo tempo em que as odiava, Harry agradecia por tê-las. Essas visões o deixava ao menos um mísero meio passo à frente de Voldemort e suas maquinações, ajudou a salvar a vida do sr. Weasley e agora, naquela noite de lua cheia, o ajudou a salvar a vida de Dallas. 

Harry não lembrava muito do que viu, nem ao menos lembrava de ter passado a informação adiante. Segundo Hermione, o que aconteceu foi que ele ficou estático no meio de uma conversa, ganhou um olhar perdido, então ficou pálido até que começou a gritar de forma desesperada, a debater-se e a manifestar magia descontroladamente. Entre os gritos de desespero, Hermione conseguiu decifrar algumas palavras desconexas e o nome de Dallas foi uma delas. Juntar dois mais dois não foi difícil para a grifinória. Hermione sabia da profundidade da conexão entre Harry e Dallas, o suficiente para perceber que a reação de Harry a uma visão de Você-Sabe-Quem significava que a sonserina estava em perigo. Então, alertar a Ordem da Fênix foi o segundo passo tomado por ela. 

Com a Ordem alertada, a partida do sr. Weasley e de Bill e Charlie, o que restou ao trio foi esperar. Harry perambulou pela sala como um leão enjaulado, a varinha dele tinha sido confiscada pela sra. Weasley e Ron e Hermione montavam guarda para impedir que o garoto cometesse alguma loucura. A cada girar, ele murmurava alguma coisa sob a respiração, o rosto ainda estava pálido e os dedos percorriam as mechas negras do cabelo em um gesto nervoso, deixando os fios mais bagunçados do que eram naturalmente. A espera era desconcertante, era enervante, e Hermione ainda sentia a magia de Harry estalar no ar de forma perigosa e fascinante. Ela sempre teve noção de que o amigo era poderoso, com um dom natural e profundo para magia, mas sentir este poder era uma experiência completamente diferente. Didaticamente, Harry era uma negação na área escolar, como muitos adolescentes da idade dele, o conhecimento dele de feitiços e poções resumia-se ao que ele forçava-se a aprender para as matérias de Hogwarts, porque o amigo era movido a instinto e em meio a uma batalha este fator pesava mais do que um conhecimento teórico vasto. E todos os feitiços de Harry sempre saíam mais poderosos do que o esperado. 

Foram uma hora e alguns minutos de espera tensa, com Harry não sossegando um segundo, dividindo-se entre perambular pela sala e lançar olhares acusadores para Hermione, quem tinha sugerido a sra. Weasley que confiscasse a varinha dele, somente para Hermione retribuir o olhar com a sua usual expressão de reprimenda que, como sempre, colocava os garotos em seus devidos lugares. E então, depois desta uma hora, o som de aparatação do lado de fora d’A Toca foi ouvido. Harry disparou para a porta tão veloz como um pomo de ouro e a abriu com um puxão feroz, sendo cumprimentando com a visão mais bela e perfeita de toda a sua vida: Dallas. Parada, a poucos metros de distância, em vestido de festa, com rasgos na barra, o cabelo estava desarrumado, havia fuligem manchando a pele exposta, arranhões no braço e um corte na bochecha que já tinha coagulado. A maquiagem dela estava borrada, a pele pálida brilhava com uma fina camada de suor e os olhos dela largos encontraram os de Harry e então foi como se algo tivesse partido dentro de Dallas. Lágrimas que Harry nunca pensou que veria escorrer pelo rosto bonito da menina começaram a descer pelas bochechas, borrando ainda mais a maquiagem. Ela tremia, o seu choro era silencioso, mas as suas emoções eram refletidas de maneira pura e intensa em seus olhos azuis. Harry terminou de cruzar a distância que os separava e a abraçou.

A abraçou apertado, quis sentir o corpo dela contra o seu, ter certeza de que ela realmente estava ali em seus braços, que não era uma miragem, e sentiu os braços dela o envolverem de forma hesitante no começo e então com maior confiança, o apertando, o usando como âncora para aquele momento de desequilíbrio emocional. Harry sentiu algo fazer um “clique” dentro dele, como peças de um quebra cabeça conectando-se de forma eterna. A sua magia, instável e inquieta desde a visão, acalmou-se no segundo em seu os seus dedos encontraram os fios bagunçados do cabelo de Dallas, a sua bochecha tocou a pele morna da testa dela em um afago, quando os olhos dela novamente encontraram os seus, o mirando de forma intensa, o fazendo questioná-la o por que da encarada tão profunda e recebendo uma dispensa como resposta. 

Afastaram-se após minutos, mais por causa da companhia que chegava na forma dos integrantes da Ordem aparatando nos jardins d'A Toca do que realmente pelo desejo de se separarem. Aurora novamente pousou uma mão no ombro de Dallas, a guiando para dentro da casa sob a sombra próxima e olhar ávido de Harry. Ao entrarem, Molly deixou o sofá em um pulo ágil, característico das mães prestes a correrem para socorrer os filhos, e foi até a jovem, onde a avaliou dos pés a cabeça e então sussurrou algo no ouvido dela que fez Dallas a responder com um aceno positivo de cabeça. Harry soltou um grunhido de desagrado do fundo da garganta ao ver que a sra. Weasley estava levando Dallas para longe, moveu-se na intenção de segui-las, mas os dedos magros de Hermione, apertando o seu pulso de forma dolorida, o fez permanecer no lugar. 

— Ela está segura, Harry. — a amiga lhe disse em tom brando, o mesmo tom que costumava usar quando queria acalmar o gênio intempestivo do garoto. Harry ainda ensaiou um protesto que foi calado por Hermione quando ela lhe estendeu a sua varinha em um gesto de paz. 

Quarenta minutos depois Dallas retornou para a sala, com os ferimentos tratados, cabelo ainda molhado por causa do banho e usando uma camisa de algodão de manga comprida, moletom e as botas que ela calçava quando chegou n'A Toca. Harry reconheceu as peças de roupas como sendo suas. Roupas novas e limpas, que ele costumava esconder dos Dursley no fundo de seu malão da escola. Os tios e primos não precisavam saber que ele era absurdamente rico, na mente deles Harry vivia da caridade do Ministério, tendo os seus gastos escolares pagos por alguma bolsa de estudos qualquer e qualquer peça menos surrada que ele usava, não herdada de Dudley, eles concluíam que deveria ser doação de algum dos amigos esquisitos que ele tinha. 

Harry atravessou o espaço da sala em segundos e segurou a mão de Dallas entre as suas, olhando dentro dos olhos dela e a perguntando de forma silenciosa se estava tudo bem. Dallas ensaiou um sorriso como resposta. Ênfase no ensaio, porque os lábios dela no máximo torceram-se em uma expressão dolorida antes de Harry guiá-la para o sofá e sentar-se ao lado dela. No momento em que acomodou-se sobre as almofadas, Dallas aconchegou-se contra o corpo dele, procurando conforto neste gesto tão simples e inocente, e Harry envolveu os ombros dela com um braço, a apertando mais contra si. Assim que estavam confortáveis, a atenção de ambos voltou-se para os outros ocupantes da sala. Hermione e Ron dividiam uma poltrona, compartilhando da proximidade de forma inconsciente. Molly sorria serena para eles, Aurora havia escolhido uma cadeira para acomodar-se e Dumbledore estava parado perto da lareira, mirando-a daquela forma vaga e pensativa que lhe era característica. 

— Minha família? — a voz de Dallas soou de forma rouca pela sala, deixando transparecer todo o cansaço que ela sentia. Aurora trocou um olhar com o diretor de Hogwarts antes de oferecer à jovem uma resposta. 

— Eles estão abrigados na sede da Ordem da Fênix. — esclareceu. — Temos curandeiros do St. Mungos na Ordem, eles estão cuidando de Samantha. 

— Eu quero vê-los. — Dallas pediu, ainda em tom cansado, mas com uma pitada de exigência em sua entonação. Dumbledore sacudiu a cabeça em uma negativa.

— O momento não é propício. Os curandeiros ainda estão fazendo o seu trabalho, os ânimos estão exaltados, todos estão cansados, o melhor é deixar a visita para amanhã. — Dallas não protestou diante da explicação do diretor, porque não tinha certeza se a recíproca era verdadeira. Queria ver a sua família, mas eles iriam querer vê-la? Porque a razão do ataque a mansão foi ela. Ela foi o alvo, os outros foram danos colaterais

Dumbledore retirou-se da sala, acompanhando de Aurora e Molly que informou que Hermione mostraria a Dallas onde a garota iria dormir. Assim que os adultos sumiram para além do beiral da porta da cozinha, Ron e Hermione trocaram olhares significativos e sem muitas desculpas, também deixaram a sala. Dallas permaneceu imóvel onde estava, sentada no sofá, aninhada sob o braço de Harry e mirando a lareira crepitando como se o fogo fosse lhe dar as respostas para os grandes mistérios da vida, como se as chamadas fossem transformar as memórias daquela noite em cinzas a serem varridas pela brisa. 

— A culpa é toda minha. — Harry murmurou no tom martirizado que costumava permear a sua voz cada vez que Voldemort arruinava um pouco mais a sua vida. Dallas o olhou de relance e o seu rosto ensaiou um sorriso de escárnio que não foi muito longe. 

— Por favor me esclareça isto. É sua culpa que Voldemort é um psicopata obcecado por um garoto de dezesseis anos? Por favor, o que você fez exatamente para ele ter tanta tara por você? 

— A profecia… — Harry a lembrou dos acontecimentos de alguns meses atrás, o ataque ao Ministério que resultou em Fudge finalmente reconhecendo o retorno de Voldemort, e a morte de Sirius.

— Você tem ciência de que esta profecia poderia estar falando de qualquer um, não? A resistência contra Voldemort era relativamente vasta entre 1978 e 1981, e ao menos oito casais que lutaram contra ele tiveram filhos neste período. 

— A profecia foi bem específica…

— Ela deu um mês e um dia, não deu um ano. Poderia ter sido qualquer um. 

— Mas Voldemort não escolheu qualquer um, escolheu a mim e agora eu tenho que carregar este fardo. 

— É, isto não tem como discutir. — e não tinha mesmo. No momento em que Voldemort marcou Harry como o seu rival, conectou o destino de ambos e condenou a ambos. — Grand-mère vai surtar. Vai querer mudar para a França pra ontem, e não vai aceitar um não mesmo como resposta.  — Dallas comentou após um minuto de silêncio e Harry demorou um segundo para responder.

— Acho que você deveria. — prontamente Dallas saiu de sob o abraço dele e o mirou com incredulidade.

— Como é? 

— Não vamos nos iludir Dallas. — Harry comentou em um tom agitado e saiu do sofá em um pulo, voltando a perambular pela sala com a mesma inconsistência de duas horas atrás, enquanto esperava por notícias de Dallas. — Voldemort não atacou a sua casa porque você tem algo que o interesse ou porque em algum momento você se opôs à ele e o contrariou, ele não saberia de sua existência se você fosse apenas mais uma bruxa na multidão. Mas você não é, você está conectada à mim, ele esteve dentro da minha cabeça, ele sabe o quanto você é importante para mim. O que acontecerá se eu perdê-la. 

— E o que acontecerá? — Dallas perguntou em um tom sóbrio, Harry parou de perambular e a encarou de modo sofrido. 

— Se eu a perder, qual razão então eu teria para lutar? — se isto fosse um romance adolescente da sessão matinê do cinema, toda aquela confissão se encaixaria perfeitamente com o cenário. Mas aquilo era a vida real.  Cruel e fria e com probabilidades baixas de final feliz, então Dallas sentiu-se mais enfurecida do que lisonjeada com a confissão. 

— Você não pode basear a sua vontade de lutar em minha contínua existência. É hipocrisia completa de sua parte me dar aquele discurso de que eu devo fazer o que eu quiser, desde que isto me faça feliz, para então vir me dizer que se eu morrer você desiste de lutar. — Dallas deixou o sofá em um gesto brusco, a sua expressão fechada prometia uma tempestade, e ela segurou a frente da blusa de Harry com força, o sacudindo levemente no lugar para ver se algum bom senso entrava na cabeça dele. — Você vai continuar a lutar, está me ouvindo? Porque alguém vai ter que ao menos vingar a minha morte, e é bom ser você! — Harry riu, porque não tinha como não rir daquela conversa absurda após uma noite tensa como aquela.

Dallas tinha razão, desistir não era a resposta, se algo acontecesse com ela, Harry vingaria a sua morte, mas e depois? A ideia do depois, de viver sem ela, era o que o aterrorizava. 

— Por favor, vamos parar de falar em sua propensa morte. Pensar no assunto me dá calafrios. — Harry comentou de forma sofrida e Dallas deu de ombros. 

— A única certeza que temos nesta vida é que iremos morrer. Mas sim, vamos mudar para assuntos mais leves, por exemplo: como foram as suas férias? As minhas foram uma bosta, mas ainda estamos em Agosto, tudo pode mudar. — Harry gargalhou. 

oOo

No dia seguinte, Dallas foi levada por um integrante da não tão secreta Ordem da Fênix para a base da mesma, no Largo Grimmauld, número 12. A mansão Black era tão sombria como a história e o nome da família, o quadro de Walburga já os recebeu aos berros e uma curandeira brotou de uma porta à esquerda do corredor de entrada, com uma carranca profunda em seu rosto já marcado pelo tempo, gritando "cala a boca! Cala a boca!" repetidamente, como se isto fosse surtir algum efeito sobre a pintura. Pelo contrário, as duas mulheres entoando as suas respectivas ofensas apenas aumentou a cacofonia que sonorizava o ambiente naquele momento. 

Um feitiço passou por cima da cabeça da curandeira, um feixe avermelhado de luz que atingiu o quadro, e Walburga desmaiou contra a moldura como uma marionete cujas cordas haviam acabado de ser cortadas. Outra curandeira havia feito o trabalho de desacordar Walburga e agora ralhava com a primeira curandeira sobre a cretinice de perder tempo discutindo com um quadro, elas tinham mais o que fazer. E então as duas mulheres continuaram a sua conversa acalorada enquanto desciam pelo corredor. O agente da Ordem que havia escoltado Dallas já tinha desaparecido pela casa e à ela nada mais restou do que achar o seu caminho dentro daquela mansão que ao primeiro olhar assemelhava-se a algum labirinto sombrio de um parque de diversões decadente. 

O corredor abriu na sala de estar da casa, igualmente decadente e assustadora comparada ao pouco da casa que Dallas já viu, o silêncio era fúnebre, poeira pairava no ar, sendo iluminada pelo feixe fraco de luz que vinha de uma porta entreaberta além de um arco de acesso a outro corredor. Dallas quis gritar, só para quebrar aquela quietude enervante que acometia o ambiente naquele momento, mas desconfiava que a curandeiro que apagou Walburga mais cedo faria o mesmo com ela se ousasse a dar um pio além do tom socialmente permitido naquele momento. 

Sombras moveram-se sobre o chão, vindas de além da porta entreaberta, não havia sons de conversas vindas da sala escondida atrás da madeira escura da porta, mas o movimento mostrava que havia pessoas ali. Dallas foi em direção a sala, a varinha recolhida do cós da calça agora era presa de forma firme pelos seus dedos. Danem-se as regras do Ministério, aquela casa lhe dava arrepios e não andaria por ela desarmada. Os seus passos eram suaves, cada pisada milimetricamente calculada, pois casa velha era danada para ranger, ainda mais sob os pés de desavisados que queriam passar despercebidos, Dallas alcançou a porta, apoiou o punho direito que segurava a varinha contra o antebraço esquerdo enquanto com a mão esquerda abria a porta. A sala revelou-se uma esquecida sala de chá, com uma enorme tapeçaria presa a uma das paredes de fundo e Nicholas estava parado em frente a mesma com uma expressão contemplativa no rosto.

— O seu nome está aqui. — ele comentou, sem desviar o olhar da tapeçaria, sem ter reconhecido com um minúsculo gesto que fosse a presença de Dallas ali, mas de alguma forma sabendo que era ela à porta. Dallas abaixou a varinha mas não a guardou, somente por precaução. A sua relação com os gêmeos nunca foi das melhores e agora as chances eram de que esta tivesse ido para o buraco de vez. Meredith estava morta e a ferida ainda era recente na família. Ela poderia ter sido uma péssima madrasta para Dallas, mas foi uma mãe devotada para os gêmeos. 

Dallas aproximou-se de Nicholas com a cautela de quem aproxima-se de um predador acuado e ferido. Ao parar ao lado dele, percebeu sobre o que o irmão falava. Então esta era a tal tapeçaria da qual Potter tinha comentado, a que tinha o nome dela atrelado ao de Narcissa Malfoy. 

— Hm. — foi o único comentário que Dallas dignou-se a dar naquele momento porque, sejamos sinceros, o que mais ela poderia dizer? A informação de que era filha de Narcissa não era mais nenhuma novidade. Na verdade, a novidade que ela queria saber naquele momento era outra. Queria perguntar sobre Samantha, mas não sentia-se no direito de inquirir tal coisa, queria perguntar como ele estava, mas Nicholas e ela nunca tiveram este tipo de relacionamento, nunca foram próximos, ela nunca se importou com ele e se demonstrava preocupação neste momento pelo estado mental dele era apenas um gesto de empatia normal a qualquer ser humano. A verdade era que Dallas não sentia pela morte de Meredith, não mesmo. Nunca gostou da mulher, a mesma não lhe faria falta na vida e por pior que tenha sido o que aconteceu com ela, Dallas não derramaria lágrimas em seu enterro. Portanto, mostrar comiseração por Nicholas neste momento soaria falso. 

— "Hm"? Isso é tudo o que você tem a dizer? "Hm"? — Nicholas virou-se para ela. Não havia ira em sua voz, mas o músculo teso de seus ombros e a forma como os seus olhos brilhavam na semi escuridão da sala mostrava que a raiva estava lá, apenas estava sendo muito bem contida por ele. 

— O que você quer que eu diga, exatamente? — Dallas deu de ombros e assustou-se quando uma mão grande e de dedos grossos fechou em seu braço e a arremessou contra a tapeçaria com força o suficiente para as suas costas baterem contra a parede e o ar ser expulso de seus pulmões com violência. 

— Que se importe! — Nicholas vociferou e socou a parede ao lado do rosto de Dallas que sobressaltou-se diante do súbito gesto de violência. — Samantha está cega! Minha mãe está morta! E a culpa é toda sua! 

— Não! — Dallas retrucou de forma endurecida. — A culpa é de um psicopata que acha que um garoto de dezesseis anos é a maior ameaça para o seu reinado de terror! 

— O quê? — Nicholas piscou repetidamente diante da resposta dela, que o desarmou por completo. O ataque não havia nem completado dezesseis horas de ocorrido, muito pouco tempo para o garoto inteirar-se verdadeiramente do que aconteceu e porque aconteceu. Mas o pouco que ele deve ter captado o fez chegar a conclusão estúpida de que a culpa era toda de Dallas. 

— Nicholas, eu sinto mesmo pela morte de Meredith, pelo que aconteceu com Samantha, foram fatalidades, mas você não espera que eu chore por isto, seria muito falso da minha parte, não acha? — e Dallas espalmou as mãos sobre o peito largo dele e o empurrou para longe. Nicholas havia crescido mais ainda, estava adquirindo o porte robusto de Albert, e, curiosamente, alguns traços dele. Talvez as acusações de Amélia e as insinuações de Meredith não passassem disto: provocações entre as duas mulheres. 

Nicholas deixou-se ser afastado, talvez por surpresa diante das palavras dela, talvez porque ele lembrava-se o que aconteceu da última vez em que contrariou Dallas. Afinal, ele ainda tinha as finas e claras cicatrizes daquele encontro desafortunado com o tampo de vidro da mesa. 

— Você é uma psicopata! — nossa! Cruel. Dallas era muitas vezes desconectada emocionalmente das pessoas, mas isto não a tornava uma psicopata. — Você não se importa com ninguém! — ah! Esta parte não era exatamente verdade, não é mesmo? Dallas importava-se com as pessoas, a questão é que Meredith e a sua prole nunca estiveram nesta lista quê, sejamos sinceros, era bem curta. — Não. — Nicholas recuou mais um passo, verdadeiramente surpreso. Com o quê, Dallas não fazia ideia. — Você não se importa conosco. Comigo, com a minha mãe, com Samantha.

— Bingo! — Dallas zombou. — Não venha me cobrar por consideração pelos seus sentimentos, Nicholas, quando vocês nunca tiveram consideração pelos meus. Não fique tão surpreso por este ser o resultado das porradas que levei a vida inteira de vocês, e menos ainda venha me cobrar satisfações ou lançar acusações. É no mínimo hipocrisia, no máximo burrice. 

— Quem é você? — Nicholas perguntou, verdadeiramente chocado, e Dallas percebeu ali, naquele momento, que os gêmeos viveram na ilusão constante de acharem que conheciam, um terço que fosse, Dallas Winford. Eles montaram toda a personalidade de Dallas sobre pré-conceitos que tinham dela, influenciados por Meredith, sobre as reações da garota as ações deles, mas eles nunca verdadeiramente conheceram a irmã ou sabiam quem ela era. E isto era uma revelação estranha e surpreendentemente libertadora. Porque não era pessoal, o problema dos gêmeos com ela nunca foi pessoal, eles não a conheciam o suficiente para isto. Patético. — O que é você? — o olhar dele desceu para o punho de Dallas, ainda segurando a varinha com firmeza. 

— Dallas! — o chamado de Amélia, à porta da sala, impediu Dallas de responder Nicholas. — Venham os dois, precisamos conversar. — ordenou e partiu sem esperar por resposta, com a certeza de que seria obedecida, como sempre.


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