Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 39
Capítulo 38




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Como sempre, Amélia esperava por Dallas quando esta desembarcou em King's Cross. No colo dela, uma cópia d'O Profeta Diário com a foto de Fudge na capa e uma declaração dele, que parecia quase profética, nas linhas abaixo da imagem, sobre o retorno de Voldemort.

— Eu já estou preparando a nossa mudança. — Amélia não disse nem um oi para a neta, apenas começou o seu discurso com aquela notícia que fez Dallas torcer o nariz em desagrado. 

— E qual a desculpa que você usará agora? — porque há dezoito anos deve ter sido fácil manipular Albert, Meredith e Francis para eles irem para a França, talvez Amélia tenha usado um pouco de Encanto Veela para isto, mas agora Dallas não tinha tanta certeza que a mesma história colaria duas vezes e os gêmeos jamais iriam abandonar os seus amigos e a vida que conheciam para trás sem uma boa razão. 

— Eu não preciso de desculpas, eu ainda sou a matriarca desta família, a minha voz é a lei. — Dallas não comentou e nem mesmo começou a discorrer todas as razões pelas quais ela não arredaria o pé da Inglaterra. A cara de Amélia era de raros amigos e agora não seria um bom momento para contrariar a avó. 

A viagem para a mansão Winford seguiu em silêncio, que foi quebrado quando o carro estacionou em frente a escadaria de acesso às portas principais e Dallas reparou um vai e vem atípico para a casa. 

— O que está acontecendo? — perguntou enquanto fazia o processo rotineiro de retirar o seu malão do bagageiro do carro e soltava Osíris de sua gaiola. A ave fez do bosque que rodeava a propriedade o seu segundo lar, depois do corujal de Hogwarts. 

— Antes de irmos embora, os Winford irão sediar o Baile de Debutantes deste ano. — Dallas tinha praticamente esquecido disto, deste baile de tradições arcaicas que acontecia há décadas dentro da nata da sociedade britânica, onde as damas da sociedade apresentavam as suas filhas adolescentes a bons partidos, esperando que dali saísse um vantajoso acordo de casamento. Geralmente Dallas e Samantha não participavam deste baile, elas não tinham idade o suficiente para isto, até agora. Em outubro ela faria quinze anos, o que significava que a sua presença na festa era obrigatória, mesmo que desnecessária. Afinal, estava tecnicamente noiva de Allen Halliwell, embora estivesse começando a reconsiderar este acordo. 

Em outras notícias, as férias de verão começaram com um silêncio desagradável provindo do mundo mágico. Pelo Profeta Diário, Dallas soube que Lucius Malfoy estava em Azkaban, mas por alguma razão ela não recebeu carta alguma de Draco reclamando sobre este caso. O silêncio dele a enervava. De Potter ela recebeu os tradicionais bilhetes curtos e regados de um sarcasmo que foi-se aprimorando com os anos, o que a deixou bem orgulhosa. Em casa, Dallas ignorava a existência dos gêmeos e Samantha exibindo-se com o seu vestido de festa feito sob medida, como um pavão mostrando-se para o público. Ela havia crescido alguns centímetros, mas não chegou nem perto do surto de crescimento de Dallas, o corpo reto dela havia ganhado algumas curvas, mas os seios continuavam chatos e não preenchiam em quase nada o decote do vestido. As curvas de Dallas ganharam mais curvas, o seu rosto estava perdendo as últimas gorduras da infância e as suas pernas seguiam por quilômetros até o seu quadril. O vestido que optou usar para o baile era curto, fugindo a tradição dos longos cujas caudas arrastavam-se no chão, com a saia tule que mal chegava ao meio das coxas, decote em coração que valorizava o seu colo e na tradicional cor preta, o que refletia o seu estado de espírito para aquele evento. 

A noite do Baile de Debutantes foi de lua cheia e estrelada. A mansão Winford acolhia um movimento incomum para as suas estruturas, todas as famílias da mais alta estirpe do Reino Unido preenchiam os salões e salas de festa da casa. Samantha girava pelas rodas de convidados, flertava com alguns rapazes, sorria e exibia-se de forma a indicar que estava disponível para qualquer negócio. Em um bom dia, Dallas entraria naquele jogo de mentiras e manipulação, sorriria, aplicaria um pouco de seu charme veela, só por diversão, surrupiaria alguns goles de vinho das taças que passavam nas bandejas dos garçons, mas algo a incomodava anormalmente naquela noite e era mais do que os olhares cobiçosos dos rapazes, a despindo naquele momento, catalogando os seus traços de modo a usá-los como fonte de suas fantasias mais despudoradas. 

— Alguma coisa errada? — Montgomery, que rodava o salão com o seu olhar de águia e estava prostrado a poucos centímetros de distância, como a sua sombra, perguntou a Dallas quando notou pela terceira vez ela tocar o antebraço esquerdo, coberto pela luva de seda sem dedos e que complementava o seu visual. Monty notou desde o início da festa que havia um relevo sob o tecido, longo e estreito, causado, obviamente, pela varinha dela e ele sabia, pelas poucas conversas que ouviu entre a menina e a avó, nas viagens de Londres para a mansão, que à bruxos menores de idade não era permitido a usar magia fora da escola em período de férias. Dallas estar de posse de sua varinha, naquela noite, era suspeito. Isto e o fato de que a jovem estava tensa e em postura de constante alerta.

— Eu não sei. — Dallas comentou como resposta. Alguma coisa estava errada, alguma coisa a incomodava naquele cenário, algo ali não estava certo. Os seus olhos percorreram o salão, passaram pelos convidados, encontraram o rosto de Amélia e ela notou na expressão da avó que a mesma sentia um incômodo igual ao dela. — Nós precisamos tirar essas pessoas daqui. — Dallas anunciou de súbito para Montgomery. Um arrepio desagradável tinha acabado de descer pela sua espinha. Do outro lado do salão, Amélia estremeceu de leve, o seu olhar azulado encontrou o de Monty, que reagiu em reflexo, afastou-se de Dallas e começou a convocar funcionários para escoltar os convidados para fora da propriedade ao mesmo tempo em que Amélia começava um discurso em que agradecia a presença de todos ali, mas teria que encerrar o evento antes do horário determinado.

Mas Dallas pôde sentir, no segundo arrepio que desceu pelas suas costas, que não era o suficiente, que não seria o suficiente e que eles estavam reagindo tarde demais. Através das grandes janelas do salão, um reflexo esverdeado iluminou o gramado dos jardins, antes banhado pela luz prateada da lua. Dallas aproximou-se da janela em passos lentos, caminhando entre as pessoas com a vagarosidade de quem tentava movimentar-se dentro de uma piscina preenchida com o mel mais denso. Ao chegar ao batente, ao erguer os olhos para o céu, o pior aconteceu: 

A Marca Negra, gigantesca, medonha, pairava metros acima de sua casa e então o estalo ensurdecedor de aparatações sobrepôs-se ao som da banda. 

— Monty! — Dallas gritou o nome no instante em que as portas de entrada da mansão explodiram, arrancadas de suas dobradiças com a violência do feitiço de arrombamento que foi empregada neles. Comensais da Morte entraram na casa como um enxame de abelhas em pleno ataque. Dezenas deles, disparando feitiços a torto e a direito, com a intenção de mutilar, de matar, e os convidados levaram um segundo crucial para compreender que as suas vidas estavam em risco e então o pânico generalizado instalou-se sobre todos. 

Primeiro veio a gritaria, depois a correria, e então o som de passos pesados, gente atropelando-se, berrando, sendo arremessada contra paredes, sangue espirrando, o estalo doentio de ossos partindo, choro, histeria, terror misturando-se ao eco ensurdecedor de móveis e decoração sendo quebrados. Dallas também demorou um segundo para reagir, primeiro o pavor tomou conta de seu corpo, e então algo pareceu desligar dentro de seu cérebro, como um interruptor sendo desligado. Com gestos bruscos da varinha que arrancou com força o suficiente de dentro da sua luva a ponto de rasgar o tecido, ela transfigurou os seus saltos Louboutin em botas e disparou o primeiro feitiço que veio a mente contra o Comensal mais próximo. Os convidados mais próximos, ao verem a manifestação de magia, a olharam em puro choque, com os seus rostos pálidos, olhos largos e bocas entreabertas. 

— O que vocês ainda estão fazendo aqui? — Dallas vociferou para o grupo de otários parado, observando tudo. — Fujam! — ordenou e ela soube neste momento que o Encanto Veela entoou em sua voz. Os convidados ganharam aquele olhar vazio mas a obedeceram de pronto. 

A mansão estava puro caos, corpos caídos no chão, mortos, feridos, impediam o avanço de Dallas. Montgomery veio correndo na direção dela, com um tiro certeiro de sua Sig Sauer derrubou um Comensal em seu caminho e então, ao alcançá-la, a segurou com força o suficiente pelo braço para deixar marca. 

— Tenho que tirá-la daqui! — ele berrou para fazer-se ouvir acima do som do caos que espalhava-se ao redor deles. 

— A minha avó! Onde ela está? — um corpo embolado em capa negra foi arremessado contra a parede ao lado deles. Dallas viu Amélia do outro lado do salão, em posição de arremesso, os olhos em um tom violeta profundo, e uma ideia brotou em sua mente quando viu a avó ser perigosamente cercada. — Incendio ! — Dallas cortou o ar com varinha, em forma de arco, e um círculo de chamas lambeu o chão ao redor de Amélia, criando uma barreira de fogo entre ela e os Comensais. O sorriso que surgiu no rosto da matriarca dos Winford prometia dores intensas, feridas profundas e cicatrizes permanentes e em gestos graciosos, como uma bailarina, ela começou a movimentar braços e mãos de forma que as labaredas eram atraídas do círculo de fogo para a sua palma e então subiam pelos seus braços pálidos como a carícia de um amante, antes de crescerem de forma perigosa e ameaçadora e então serem arremessadas contra os Comensais. 

— Dallas! Vamos! — Montgomery a puxou, porque Dallas sabia que aqueles Comensais não estavam ali por um acaso, não estavam ali por causa de Amélia ou de uma família trouxa rica qualquer, eles estavam ali por causa dela. Ela era o alvo, era ela quem eles intencionavam matar, ou sequestrar, sabe-se lá quais eram as ordens de Voldemort, e era a missão de Monty protegê-la. Então, ela deixou-se ser arrastada pelo segurança/motorista, até que ouviu um grito dolorido e agoniado e ao olhar por cima do ombro encontrou Samantha, com o rosto coberto de sangue, olhos cerrados, berrando, ferida, chorando, desesperada, com dois Comensais a encurralando, apontando as suas varinhas para ela, entoando o feitiço mais mortal de todos. 

Dallas reagiu por instinto e soltou-se de Monty com um puxão. Enquanto corria na direção de Samantha, já proferia o feitiço que acertou o primeiro Comensal de forma violenta e destrutiva, mas o segundo escapou de seu ataque, a sua varinha erguida já emitia o brilho verde do Avada Kedavra e um borrão praticamente cruzou a sala e em um ato chocante, Meredith estava na frente de Samantha e recebia de cheio o impacto da maldição imperdoável. Dallas freou, surpresa, chocada demais, sem reação por um segundo, isto até que o Comensal ergueu novamente a varinha para dar continuidade ao seu trabalho e ódio tomou conta de Dallas. Do mais puro, mais fervente, que fez o seu sangue praticamente evaporar dentro de suas veias de tão quente que estava. O feitiço que acertou o Comensal foi fraco, foi proposital, a intenção dela não foi desarmá-lo ou feri-lo, mas sim chamar-lhe a atenção e quando o rosto mascarado virou-se em sua direção, Dallas derramou toda a sua fúria sobre ele. 

Se perguntarem à ela se Dallas lembrava daquele momento, daquela noite e daquele duelo, a resposta dela seria não. Nada vinha à mente dela, uma memória que fosse. Tudo o que ela lembrava-se era retornar a si e o Comensal estar caído aos seus pés, uma figura irreconhecível, mutilada por diversos feitiços proferidos por uma garota de quinze anos com um vasto conhecimento de magia e em um puro acesso de raiva veela. 

Mais estalos de aparatação ecoaram em meio ao caos, Dallas retesou todos os músculos, preparando-se para mais uma leva de ataque, mas os bruxos que apareceram naquela sala destruída, naquele campo de batalha, tinham rostos familiares. Dumbledore foi o primeiro deles que identificou, e então ela reconheceu Aurora Gordon em seu uniforme de auror, e outras dezenas de bruxos que começaram a duelar com os Comensais, atacá-los com a mesma ferocidade com que os seguidores de Voldemort os atacavam, até que os Comensais, percebendo a desvantagem, começaram a desaparatar da mansão, dando a sua missão por fracassada. 

Demorou-se um minuto após a partida do último Comensal para todos aqueles ainda vivos dentro daquela casa finalmente relaxarem. 

— Mãe! — este foi Nicholas gritando e então abraçando o corpo morto de Meredith, cujos olhos abertos e expressão aterrorizada estava eternamente congelada em seu rosto pálido. Samantha ainda resmungava e chorava, não abria os olhos, mostrando que havia algo de errado nesses, e Dallas notou que o sangue no rosto dela não era de um ferimento na cabeça escorrendo pelo rosto, mas sim vindo dos próprios olhos. Ao rodar os olhos pelo salão, encontrou Amélia, ainda de pé, dentro do círculo de fogo agora diminuindo e com corpos chamuscados aos seus pés. O salão era um campo de batalha, com feridos de ambos os lados, e mortos. 

— Dallas. — Aurora pousou a mão no ombro de Dallas, chamando a sua atenção. — Nós precisamos ir. 

— O quê? — Dallas perguntou, ainda aturdida com tudo o que tinha acontecido, com o caos ao seu redor, com a morte de Meredith, com Nicholas em desespero enquanto Albert consolava Samantha, assustada e não querendo ser tocada pelos estranhos que não conseguia ver. Monty fechava os olhos vítreos de Clarisse, Amélia apagava o fogo que Dallas tinha conjurado para ajudar a avó a se defender, aurores surgiam na propriedade para ocultar aquela confusão e Dumbledore trocou um olhar significativo com Aurora, que Dallas compreendeu quando a mulher tocou-lhe o braço e ela sentiu o puxão característico no umbigo da aparatação. — Não! — Dallas ainda tentou protestar, dizer que não queria ser levada embora, mas nada conseguiu exceto tropeçar sobre os próprios pés quando o mundo parou de girar ao seu redor.

O local para o qual tinham aparatado era estranho. Alguns metros a frente havia uma casa de vários andares e tão torta que somente magia poderia estar mantendo-a de pé, com um jardim de gramado alto e mal cuidado a cercando. A porta da casa abriu com um estrondo e então ela reconheceu a silhueta de Potter, vindo correndo em sua direção, pálido como cera de vela, até que ele freou a poucos passos dela e estendeu a mão e um gesto hesitante, como se tivesse medo de tocá-la, como se não pudesse acreditar que ela estava realmente ali, na frente dele. 

A descarga de adrenalina que tinha tomado conta do corpo de Dallas no início do ataque esvaiu naquele segundo e então ela sentiu os seus olhos embaçarem, o seu coração acelerar, o pavor tomar conta de seu corpo e então as lágrimas rolaram abundantes pelo seu rosto. Potter encarou esta reação como um incentivo para se mover e então com mais dois passos aproximou-se o suficiente para envolvê-la em um abraço apertado, a esmagou contra o corpo dele, a protegeu, naquele gesto, de todos os males daquele mundo. 

— Shh, está tudo bem, você está segura. Está tudo bem. — ele murmurou contra o ouvido de Dallas enquanto acariciava o cabelo dela com uma mão e a abraçava pela cintura com o outro braço. E o curioso é que ela sentia-se segura. Dallas tinha plena ciência de que a única razão para Comensais terem atacado era por causa de sua ligação com Potter e, ainda sim, era nos braços dele que sentia-se bem, que sentia que estava a salvo. Que sentimento era este que os conectava de forma tão profunda? Isto que era amor? Este que era o famoso amor? Porque se era, este era um sentimento da qual ela não queria desapegar. Potter era alguém de quem ela jamais iria querer desapegar. Dallas sabia que deveria, não era seguro, olha o que aconteceu! Clarisse estava morta, Meredith também. Ela pode nunca ter gostado da mulher, mas jamais desejou a sua morte. Samantha? Dallas suspeitava que a visão da irmã estava perdida para sempre, mais o trauma que todos eles passaram, danos colaterais de uma guerra da qual eles nem tinham conhecimento e não faziam parte. Danos colaterais causados porque ela era o alvo principal dos Comensais, simplesmente por causa de sua relação com Potter. A mesma relação que fez Narcissa, Draco e Amélia surtarem. A relação que faria a sua avó a arrastar para fora da Inglaterra e ela não queria, ela não iria partir. 

Ao afastarem-se e olhar dentro daqueles olhos verdes brilhando por detrás das lentes dos óculos, ela lembrou das palavras que disse à Potter há tão pouco tempo. As pessoas lutavam e morriam por ele porque o amavam, porque sonhavam com uma comunidade mágica segura novamente e o elegeram como líder dessa causa e ele abraçou esta posição, e ela lutaria por ele também e ao lado dele, até o fim, se fosse necessário. 

— Dallas? — Harry perguntou ao ver a forma longa e intensa com quem ela o olhava. — O que foi?

— Nada. — Dallas respondeu depois de um minuto. — Nada. — completou e então o abraçou novamente.


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