Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 38
Capítulo 37




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Seria mentira dizer que o beijo mudou alguma coisa no relacionamento entre Harry e Dallas, porque não mudou. Com a exceção de que agora eles não re-encenavam a Guerra Fria nos corredores de Hogwarts, ambos evitavam a convivência contínua e contatos além do necessário. Não que Harry incentivasse esta prática, pelo contrário, o que ele mais queria era estar perto de Dallas, mas a garota tornou o hábito de desaparecer da presença dele praticamente uma arte, e quando ela não conseguia sumir, ela usava Malfoy de escudo, sempre correndo para o lado do sonserino, sabendo que Harry não iria procurá-la pois estava tentando evitar mais conflitos entre as casas e a perda de pontos para a Grifinória. E cada vez que ele a via grudar-se a Malfoy, uma pontinha de ciúmes começava a brotar em seu peito até que ele lembrava de que Malfoy e Dallas eram irmãos. 

Malfoy e Dallas eram irmãos. 

A lembrança o atingiu com a força súbita de um balaço. Malfoy e Dallas eram irmãos e será que ela sabia disto?

Foi com este pensamento que pela primeira vez em uma semana, e com a ajuda do Mapa do Maroto e da Capa da Invisibilidade, Harry conseguiu cercar Dallas no corredor a caminho da sala comunal da Sonserina. A garota soltou um gritinho surpreso quando sentiu alguém segurar em seu pulso e puxá-la e então camadas de pano a cobriram e quando deu-se conta, estava sob um tecido viscoso como seda e com Harry Potter a poucos centímetros de distância de seu rosto.  

— Hey. — Harry sabia que estava sorrindo feito um paspalho, podia sentir o seu rosto contorcendo-se em um sorriso idiota, mas ele realmente não conseguia segurar a sua reação ao tê-la novamente tão perto de si. Assim como não conseguiu evitar o movimento de seus olhos que fixaram nos lábios cheios e rosados, o que o fez recordar de como já os tinha experimentado com os seus e como queria enlouquecidamente repetir a experiência. 

— Potter! — Dallas sibilou o nome porque podia ver no rosto do grifinório o reflexo dos pensamentos impuros dele. Não que ela estivesse em melhor situação, o seu corpo inteiro vibrava querendo moldar-se novamente ao dele, era como se ambos fossem imã e metal se atraindo, mas felizmente ela tinha melhor controle sobre as suas reações do que Potter. — O que faz aqui? — perguntou em praticamente um sussurro. — E o que é isto em cima de nós? — porque ela duvidava que ninguém fosse perceber um monte de tecido movendo-se no meio do corredor. 

— É a minha Capa da Invisibilidade. 

— Como é?

— Capa da Invisibilidade. — Dallas franziu as sobrancelhas. Já tinha lido sobre alguns artefatos mágicos raros e a dita capa era um deles e incrivelmente Potter ter uma sob sua posse não a surpreendia. — Herança do meu pai. — completou. 

— Certo… E há alguma razão para você ter me arrastado para baixo da sua Capa da Invisibilidade? — na cabeça de Harry existiam várias razões e todas libidinosas, mas essas foram abafadas pela razão principal: Dallas e Malfoy.

— Sim, eu preciso te contar uma coisa, uma coisa que eu aprendi nessas férias, mas com tanta coisa acontecendo este ano em Hogwarts, fugiu completamente da minha cabeça. 

— E o que é? — Harry respirou fundo e contou à ela de forma resumida sobre Sirius Black, a ligação dele com os Potter, o fato de ser inocente, e como Harry passou parte das férias de verão na casa de infância de Sirius e descobriu que nesta tem uma tapeçaria com toda a linhagem dos Black. Quando ele chegou nesta parte da linhagem, viu Dallas empalidecer e recuar discretamente um passo.

— Você já sabe. — ele atestou, porque a reação dela deixou claro que ela já tinha completo conhecimento sobre o que ele tinha para falar. 

— Eu descobri no terceiro ano. Aparentemente — nisto ela abaixou ainda mais o tom de voz e puxou algo de dentro da camisa do uniforme, mostrando a Harry um cordão com um pingente com um narciso entalhado no verso, e a foto de um bebê nos braços de alguém fora do enquadro. — Narcissa tem o costume de presentear os filhos com um cordão com a nossa foto de bebê e a flor símbolo dela entalhada no verso.

— Malfoy também sabe? — Dallas rolou os olhos diante da pergunta estúpida.

— Como você acha que eu descobri? Porque a não ser que haja outro filho ligado ao nome de Narcissa naquela tapeçaria, Draco é o único que teria um cordão igual ao meu para comparação. 

— Claro, claro. — Potter comentou com uma voz quase sumida e Dallas o olhou de forma curiosa, tentando entender o que se passava na cabeça dele, por que ele tinha arriado os ombros em derrota como se estivesse profundamente magoado?

— O que foi, Potter?

— Nada, nada. É bobeira minha. — e realmente era. 

Por um segundo Harry sentiu-se chateado por Dallas não ter compartilhado isto com ele, por ter deixado que ele pensasse que a relação dela com Malfoy era algo de foro mais íntimo, mas então ele lembrou que ele próprio não compartilhava muita coisa com a garota. Ele disse que passou as férias na casa de Sirius, mas não disse que esta era a sede da Ordem da Fênix, ele disse que Sirius era o seu padrinho e era inocente, mas não contou que foi ele que ajudou o homem a escapar mais uma vez de Azkaban. Harry não disse a ela sobre os sonhos com Voldemort que estavam o atormentando este ano, ou sobre a ferida em sua mão que era o resultado da detenção com Umbridge, ou sobre as aulas de oclumência com Snape. Era impressionante como eles eram tão próximos e ao mesmo tempo sabiam tão pouco um do outro. Nem mesmo as cartas que trocaram por um tempo durante as férias possuíam conteúdo mais íntimo. A maioria das mensagens eram trocas de farpas e comentários ácidos sobre as lições de casa, maneiras irônicas e divertidas que eles encontraram para distrairem-se da realidade que era a vida miserável deles no mundo trouxa. 

— Eu tenho que ir. — Dallas declarou de súbito e movimentou-se na intenção de sair de debaixo da capa, mas Harry a segurou pelo pulso antes que ela fosse muito longe. Ambos congelaram diante do toque, os seus olhares prenderam-se um no outro e por um momento, e em sincronia, eles seguraram a respiração por um segundo antes de a soltar em uma longa exalada de ar. — Potter? — Dallas o chamou e a menção de seu nome pareceu ter quebrado qualquer encanto que caiu sobre eles naquele momento e Harry a soltou. Dallas ainda deu um último relance confuso para ele e deixou a segurança da Capa da Invisibilidade. Harry acompanhou o trajeto dela de volta a sala comunal da Sonserina pelo Mapa do Maroto e quando deu-se por satisfeito ao ver que ela estava segura dentro da sala, retornou para a Grifinória. 

Na quarta-feira, Marietta Edgecombe foi alvo não só da azaração de Granger por ter denunciado a Armada Dumbledore, como da própria Armada que lançava à ela tantos olhares venenosos, e usavam das Gemialidades Weasley para lhe pregar peças, que a garota estava pulando de susto diante de qualquer sombra que se movia e chorava sem qualquer motivo. Na quinta-feira à tarde, Draco entrou na sala comunal da Sonserina com um sorriso de orelha a orelha que não agradou Dallas. Quando o irmão sorria daquela maneira era porque alguma ele tinha aprontado. 

— O idiota do Dumbledore é fugitivo do Ministério. — ele disse como se o fato fosse a melhor coisa existente na Terra. — Ele assumiu a culpa por aquela tal de Armada Dumbledore. 

— Bem, faz sentido, o grupo tinha o nome dele. Logo, era coisa dele, não? — Pansy comentou, sempre a bajuladora de Draco. Dallas não sabia onde a garota pretendia chegar com esta atitude, mas se era conquistar o afeto de Draco, ela estava atirando no alvo errado. 

Naquele mesmo dia, Umbridge assumiu a direção interina de Hogwarts e uma guerra foi declarada dentro da escola. 

— Quantos galeões pelas bombas super potentes de bosta? — Dallas perguntou ao aproximar-se de George Weasley na manhã de sexta-feira. Potter poderia não ter lhe dito sobre a origem das marcas em sua mão, o assunto morreu para dar lugar a práticas mais interessantes, mas ela viu marcas parecidas na mão de outro aluno da Corvinal e não foi difícil juntar dois mais dois e culpar Umbridge. 

— Para a minha futura esposa? — o grifinório brincou e levou um tapa estalado na nuca do gêmeo. 

— Achei que iríamos dividir. — Fred resmungou e Dean, que surgiu ao lado dos amigos, riu de forma barulhenta. Felizmente os alunos do sétimo ano que saíam de uma classe da McGonagall eram grifinórios e lufa-lufas que sabiam exatamente a intenção de qualquer pessoa nesses dias que aproximava-se dos gêmeos Weasley e faziam-se de desentendidos, enquanto a professora em si fazia vista grossa para a situação. 

— A única coisa que vocês vão conseguir é virar dois cadáveres secos se Harry ouvir vocês. — Dean gracejou. 

— Eu não sou objeto para pertencer a Potter. — Dallas resmungou. 

— Não, — Dean disse de forma sábia. — mas isto não muda o fato de que quando Harry te vê os olhos dele brilham de forma possessiva. — okay, era machista e arcaico e ainda sim Dallas sentiu um friozinho na boca do estômago ao saber que ela estava no topo da lista de pessoas importantes na vida de Harry Potter. Ela nunca foi tão importante assim para ninguém, nem para Amélia, e isto a envaidecia. 

— Okay, voltemos aos negócios. Essas bombas duram quanto tempo? — Dallas dirigiu-se a George, que abriu um largo sorriso malicioso. 

— Quarenta e oito horas e! — ele pausou e ergueu o dedo de forma dramática, como um vendedor em comercial de TV tentando te convencer a comprar o produto dele. — Não são laváveis.

— Como é? — Dallas perguntou, surpresa, enquanto Fred remexeu dentro da mochila e retirou dela as bolas do tamanho de um pomo de ouro que explodiam ao contato e causavam um imenso estrago. 

— Para cancelar o efeito da bomba é necessário um feitiço específico que somente quem atira a bomba, e nós, sabemos. Então quem quer que seja o seu alvo, e não vamos nos iludir aqui porque sabemos exatamente quem é, não vai conseguir se livrar desse cheiro por dois dias. — Fred explicou.

— Dez dias, ao menos. — Dallas completou, recolhendo cinco bolinhas da mão de Fred. O dito feitiço de limpeza estava na superfície da bomba, simples e fácil de decorar e desapareceria quando a bomba explodisse. 

— Como? — Fred perguntou, confuso, e Dallas sorriu de forma cruel para ele. 

— Se eu vou lançar cinco bombas de bosta simultaneamente no meu alvo e elas têm o efeito de dois dias, quanto tempo você acha que o cheiro vai perdurar no lugar depois que elas desaparecerem? Bosta é algo que fede. Qual foi a base que vocês usaram? 

— Como? — desta vez foi George a perguntar. 

— Bosta do que que vocês usaram como base para o cheiro e consistência? 

— Ah, Erumpente. — Fred explicou e Dallas sacudiu a cabeça em negativa. 

— Erumpente são herbívoros, as fezes deles não são tão fedorentas assim, embora venham em grande quantidade. Quer um conselho? — e Dallas não podia acreditar que a coisa estava tão ruim que ela estava discutindo sobre matéria fecal no meio do corredor da escola. Mas tempos desesperados pediam por medidas desesperadas. — Nada fede mais que fezes humanas. — os gêmeos ganharam uma expressão contemplativa e Dallas comprou as cinco bombas pelo preço cheio.

O escritório de Umbridge fedeu por onze dias, mesmo após o desaparecimento da bomba, e a mulher ficou tão rosa de ódio que o seu tom de pele misturava-se ao de suas roupas. 

Na semana seguinte Dallas foi chamada ao escritório de Snape e por um momento tenso pensou que o professor tivesse descoberto sobre as bombas de bosta, até que lembrou que o corpo docente de Hogwarts fingia que não via 100% das peças pregadas contra Umbridge. Era praticamente uma anarquia e com plena aprovação das forças superiores e os alunos estavam adorando isto. 

— As opções para você são muito boas. — Snape comentou enquanto folheava alguns pergaminhos. — Você tem as maiores notas de seu ano, exceto o primeiro trimestre do terceiro ano em que você resolveu tirar A em todas as matérias, só porque você podia . — Dallas riu. Foi um desafio a si mesma que tinha feito naquele ano, em definir um parâmetro mínimo de erros que deveria cometer para tirar as mesmas notas em todas as matérias. Aparentemente Snape foi o único a perceber o padrão. — Você não se destaca em apenas um ramo, embora tenha uma aptidão nata para Poções. — Poções era praticamente o mesmo que Química, mas envolvendo magia, e ela sempre foi boa em Química. — Um carreira na área seria bem vinda, temos muito poucos mestres de Poções ultimamente. — Snape deslizou sobre a mesa várias panfletos com opções de carreira no Ministério, vários mesmo, e alguns eram de carreiras que não eram nem no Ministério da Magia britânico, mas no governo mágico de outros países. 

— Professor? — Dallas chamou em um tom de dúvida ao ver a gama de possibilidades sendo apresentada em frente aos seus olhos.

— Eu sei a sua história, Dallas, porque eu estive lá no dia em que você nasceu. — Dallas mirou Snape com olhos largos. 

— Como é? 

— O treinamento para Mestre de Poções nos permite adquirir conhecimentos em várias áreas, inclusive a médica. O seu nascimento era para ser um segredo e, ao mesmo tempo, Narcissa não poderia fazê-lo sozinha. No final das contas, você salvou a minha vida naquela noite, ao mesmo tempo em que eu te trouxe à este mundo. 

— Não entendi. 

— Eu não estava na Inglaterra quando o Lorde das Trevas caiu. Se eu estivesse, seria morto na certa. — Dallas ainda não entendeu o que Snape queria dizer com isto, que história poderia estar por detrás daquela revelação, por que ele estar na Inglaterra na noite da derrota de Voldemort na casa dos Potter causaria a sua morte? Talvez ele a contasse um dia, da mesma forma que lhe contou aquele fato. Dallas sempre teve curiosidade em saber como foi parar nos braços de Amélia porque, de acordo com a história que lhe foi contada, ela foi entregue a avó com poucas horas de nascida e uma Narcissa em resguardo jamais teria feito isto. Em um momento considerou ter sido um dos elfos que a mulher herdou dos Black, agora sabia que havia sido o professor Snape. Somente ele conseguiria ser furtivo desta maneira. 

— Ainda sim, não entendo aonde o senhor quer chegar. 

— O meu ponto é — Snape depositou a ponta de um dedo magro e pálido sobre um dos panfletos que fazia propaganda do Departamento de Aurores. — que você pode ser o que você quiser, onde quiser, independente das suas origens e da sua história. Não deixe os erros de terceiros a definirem, é você quem escreve a sua história, não os seus pais, a sua avó ou o seu nome . — Dallas recolheu todos os panfletos e os colocou dentro da mochila. Iria avaliá-los mais tarde, quando a sua cabeça parasse de rodar diante do que acabou de ouvir. 

— Obrigada, professor. 

— Ah, e Dallas? — Snape chamou quando ela já estava chegando a porta do escritório. — Eu não quero ver nenhum A no NOM's só porque você pode . — Dallas riu e fechou a porta atrás de si com um clique, sem oferecer resposta ao homem. 

Na quarta-feira, os gêmeos Weasley deixaram Hogwarts de forma triunfal, para o desespero de Umbridge e sob ovação de todos os alunos, a Brigada Inquisitorial patrulhava os corredores como se fossem a própria polícia, pegando qualquer aluno mais desatento no flagra enquanto este tentava armar mais uma das Gemialidades Weasley para Umbridge. As ampulhetas das casas nunca estiveram tão vazias diante da perda de pontos constantes que elas sofriam, com exceção da Sonserina. Visto que praticamente toda a brigada era composta de alunos da casa, a Sonserina estava na frente na disputa pela Taça das Casas. Dallas, avessa às regras desde o momento em que veio à este mundo, fazia questão de deixar o jogo igualado ao perder quantos pontos fossem necessários para a Sonserina, só porque ela podia. Snape torcia os lábios finos em azedume quando isto acontecia, mas não a recriminava, e Dallas interpretava isto como permissão para continuar a sua rebelião particular. Umbridge faltava estourar uma veia da testa por causa dela, porém não conseguia entender como não conseguia pegar a menina no flagra para puni-la. Algo sempre a impedia e Dallas saía deste embate vitoriosa e as gargalhadas.

O grande defeito de Umbridge era a absoluta arrogância e certeza que ela achava ter de estar sempre no topo de tudo e Dallas abusava desta fraqueza enquanto ao mesmo tempo praticava de forma intensa os seus poderes veela. Umbridge não era naturalmente imune ao Imperius e a sua mente era tão fraca que bastava um sorriso de Dallas para a mulher dar meia volta, seguir na direção oposta e esquecer completamente o que tinha acontecido naquele momento. E era tão estúpida que nem tinha juntado dois mais dois para compreender o que acontecia. 

Mas Harry sim. Ele percebeu que algo estava errado em uma das interações entre Dallas e Umbridge no corredor, enquanto corria pelo castelo sob a sua Capa da Invisibilidade, pronto para socorrer da Brigada Inquisitorial alunos desavisados. Dallas estava instalando um dos pântanos portáteis no corredor de acesso a diretoria quando foi flagrada pela professora. Umbridge ainda não tinha descoberto como desbloquear a passagem trancada desde a partida de Dumbledore, mas isto não significava que alguma hora ela não perderia a paciência e explodiria aquilo tudo, Dallas plantando aquele pântano era uma forma de apoio ao diretor e Umbridge simplesmente a pegou com a mão na massa e Harry estava prestes a ir ao socorro da garota quando no meio de um grito, Umbridge subitamente calou a boca, o seu olhar ficou vidrado e ela começou a balançar de um lado para o outro suavemente, como folha sendo balançada pela brisa. Dallas cantarolava alguma coisa sob a respiração e sorriu quando viu Umbridge ficar quieta. 

— O que a senhora estava falando, professora? Algo sobre não lembrar o que veio fazer aqui? Ou quem viu aqui? Algo sobre ir embora?  — a voz da sonserina era suave e em um tom quase musical, havia melodia nas palavras dela, algo tão doce e sereno que o corpo de Harry relaxou prontamente diante do tom, mas a sua mente ainda continuava completamente alerta, diferente do que parecia estar acontecendo com Umbridge. 

A professora soltou um ruído do fundo da garganta, o seu rosto redondo e inchado ganhou uma expressão paspalha e ela seguiu caminho pelo corredor, murmurando consigo mesma, como se nunca tivesse visto Dallas ali. Quando Harry comentou com os amigos sobre o ocorrido, Hermione rolou os olhos como se não pudesse acreditar que estava ouvindo tamanha besteira. Poxa, Harry sabia que não era o palito mais brilhante da caixinha, mas Hermione não precisava humilhar. Mas quando Ron também rolou os olhos, imitando a expressão da amiga, Harry sentiu-se um completo idiota. 

— O que foi? O que eu perdi? — ele perguntou porque geralmente Ron e Hermione jamais escondiam algo dele, ainda mais se esse algo fosse relacionado à Dallas. 

— Eu pensei que você já tinha descoberto isto mais cedo. Você mesmo nos disse que Dallas parou um Comensal da Morte no canto, na Copa Mundial de Quadribol. — Hermione explicou.

— Sim, e? — Ron rolou novamente os olhos e Harry o chutou na canela. De Hermione ele tolerava tal desdém, a amiga era comprovadamente mais inteligente do que ele, mas Ron e ele estavam no mesmo barco da estupidez, então o garoto não tinha moral para julgar o QI de Harry. 

— Dallas é uma veela , Harry. — Hermione confessou no mesmo tom que Hagrid usou quando revelou para ele que ele era um bruxo e Harry respondeu no mesmo tom quando ouviu tal revelação:

— Ela é o quê?

— Uma veela. — Hermione repetiu de forma paciente.

— Como Fleur. 

— Não, ela com certeza é mais poderosa do que Fleur. Dallas é a segunda geração veela de sua família, Amélia Winford é uma veela pura. Dallas tem praticamente quase todas as capacidades e qualidades de uma veela , exceto a transformação em harpia e o controle sobre o fogo.

— Ela bem que podia mandar Umbridge pular da torre norte, não? — Ron comentou e levou outro chute, desta vez de Hermione. 

— Ronald! — a garota o repreendeu. — Dallas não faria isto! — Harry concordava com a amiga. Dallas poderia ter vários defeitos, mas ela não era o tipo de pessoa que usava o poder que tinha para prejudicar ou ferir alguém, disto Harry tinha certeza. 

— Os poderes dela não funcionam em mim. — ele declarou ao lembrar-se vagamente de uma interação, anos atrás, na enfermaria, em que ela cantou para ele e disse que estava querendo testar uma coisa, mas nunca disse o quê. Hermione e Ron trocaram olhares cúmplices que não agradou Harry. — O quê?

— Bem, você é naturalmente resistente ao Imperius e este feitiço foi criado usando como base o Encanto Veela . — Hermione explicou. — E há outra questão sobre veelas terem parceiros. Usualmente o organismo delas possui um mecanismo próprio de defesa para não usar o Encanto no parceiro escolhido. — o coração de Harry falhou uma batida ao ouvir isto, ao pensar no que isto implicava, ao pensar nas possibilidades e nos caminhos que a sua relação com Dallas poderia tomar. 

— Como você sabe disto? — Ron perguntou, abismado. — Não existe tanta coisa sobre veelas na biblioteca, elas são uma sociedade bem fechada, não compartilham muitas informações sobre a espécie. — Hermione corou e abaixou um pouco o rosto.

— Eu tentei obter algumas informações com a Fleur, mas ela não foi muito solícita. Como você disse, elas são uma sociedade bem fechada. E se ela que é apenas ¼ veela não iria ajudar, a mãe e a avó dela menos ainda. Então eu recorri a Amélia Winford. 

— A avó de Dallas? — Harry estava surpreso com a ousadia da amiga e o desejo de aprender que ela tinha para resolver se arriscar desta maneira. Ele conheceu a sra. Winford e precisava dizer que a mulher era intimidadora, então ele entendia porque Dallas era assim. 

Hermione deu de ombros. 

— Ela foi resistente no começo quando eu enviei as primeiras cartas, mas depois forneceu alguma informação ou outra e me ajudou a entender um pouco mais sobre veelas . — Hermione lembrava claramente das cartas que enviou, solicitando encarecidamente por informações, e das respostas curtas e secas que recebeu de Amélia. Ela tentou todas as táticas possíveis para convencer a mulher a falar, inclusive a mais tradicional, ao dizer que fazia isto para ajudar Dallas, Hermione quase pôde ouvir as risadas de deboche da sra. Winford na carta resposta. 

“Se Dallas não descobriu sozinha o que deve fazer, então ela merece quebrar a cara.” 

E foi aí que ela percebeu que teria que mudar a abordagem. Hermione apresentou-se formalmente à sra. Winford, ela escreveu uma carta que era praticamente um currículo resumindo a sua carreira escolar e expôs as suas verdadeiras intenções. Ela estava curiosa, ela queria aprender, ela era uma sabe-tudo que não conseguia viver sem ter uma resposta para tudo. Amélia Winford demorou duas semanas para retornar o seu último pedido e quando o fez, foi com uma simples frase:

“O que você gostaria de saber?”

Hermione soltou um grito no meio da sala comunal quando leu a carta, a sua mente pipocou com centenas de perguntas que a fez desejar ter uma pena de escrita rápida para colocar tudo o quanto antes no pergaminho, mas então ela lembrou que a sra. Winford vivia em um universo diferente do dela, que era tão inteligente quanto a neta, e que provavelmente não toleraria uma carta cheia de garranchos e perguntas desconexas, escritas durante um momento de empolgação de uma garota de quinze anos. Então Hermione parou, respirou fundo e pensou cada pergunta relevante que queria fazer, a melhor maneira de fazê-las, e as listou em um pergaminho, como se fossem questões de prova. Ela recebeu a resposta uma semana depois e foi assim que ela começou a trocar correspondência com Amélia Winford, uma das mulheres mais conhecidas e mais poderosas da Grã-Bretanha.

No sábado, a Grifinória venceu a Corvinal na final da Copa das Casas e Patrick ficou inconsolável. 

— Como é que vocês puderam perder? Weasley é um goleiro horrível. — Dallas provocou o amigo que a respondeu com silêncio e um olhar contrariado. Na segunda-feira seguinte, os fiscais do Ministério baixaram em Hogwarts para aplicar os NOM's e por meio segundo Dallas considerou tirar somente A, só porque ela podia , mas então a conversa com Snape voltou à sua mente, o leque de possibilidades oferecidas pelo professor era uma promessa que a tentava, enquanto os panfletos atolavam o seu malão, mostrando tudo o que ela poderia ser se assim ela quisesse. Dallas deixou o teste com a certeza de que tirou a nota máxima em todas as provas, e uma dor de cabeça por passar tanto tempo debruçada sobre páginas e mais páginas de provas, lendo letras miúdas e procurando nas entrelinhas um segundo significado para cada pergunta. 

A semana seguinte ao NOMs foi relativamente tranquila, exceto pelo fato de Hagrid ter sido demitido, McGonagall atacada e Umbridge ter desaparecido na Floresta Negra por razões que ainda estavam mal explicadas, e então Dumbledore retornou como diretor da escola e a matéria d'O Profeta Diário naquela manhã foi uma manchete gigantesca afirmando que o Lorde das Trevas estava de volta, fazendo os alunos desacreditados finalmente caírem em si e empalidecerem de pânico diante da perspectiva de uma Segunda Grande Guerra no mundo mágico. 

— Já não era sem tempo. — Patrick comentou ao ler a matéria durante o café da manhã. 

— Aurora não disse que o Fudge estava negando tudo até morte? O que o fez mudar de ideia? — Dallas perguntou e Patrick aproximou-se dela e abaixou o tom de voz. 

— Talvez tenha sido porque ele tenha visto o próprio Voldemort quando este atacou o Ministério. Harry estava lá. — ele mirou a mesa da Grifinória que carecia da presença de um certo trio famoso.

Naquela noite, Granger abordou Dallas no corredor a caminho das masmorras, entregou à ela um pergaminho enrolado e ofereceu uma única explicação: "Harry precisa de você", antes de seguir caminho de volta para a sua torre. Ao abrir o pergaminho, Dallas viu tratar-se de um mapa que apontava a posição de todos dentro do castelo e que o ponto marcando H. Potter estava na torre de Astronomia e estranhamente imóvel. Dallas seguiu para a torre e encontrou Potter sentado sob a janela de observação. Não estava com os óculos e havia marcas de lágrimas em suas bochechas. O que quer que tenha acontecido, havia sido sério. Ela sentou ao lado dele e recolheu a mão dele com a sua. O toque foi o suficiente para Potter reagir, girar o corpo e esconder o rosto na curva do ombro dela com o pescoço. 

— Sirius está morto. — Dallas o ouviu murmurar contra a sua pele. — E a culpa foi minha. — completou e o corpo dele começou a tremer com mais choro. Dallas soltou um suave shhh sob a respiração e pôs-se a afagar os cabelos negros em um gesto de conforto. Passaram ao menos uma meia hora assim, com Harry chorando e Dallas o confortando, até que ele acalmou-se o suficiente para explicar tudo o que aconteceu, contar à ela sobre a profecia, sobre os pesadelos, sobre como ele deixou-se enganar tão facilmente, foi levado à uma cilada e uma pessoa que ele amava morreu. 

— Ele morreu por minha causa. — Harry choramingou mais uma vez. 

— Sim. — Dallas concordou e recebeu um olhar magoado do garoto. — E esta foi a escolha dele. Ele escolheu estar lá, te proteger, te salvar, dar a vida dele se fosse preciso para vê-lo seguro, porque ele te amava. Não honrar esta escolha dele é ofender a memória de Sirius. 

— Eu nunca pedi à ninguém para morrer por mim. 

— É uma pena, porque eles vão morrer, você gostando ou não da ideia. Você foi declarado o salvador do mundo mágico quando tinha um ano e poderia ter rejeitado este fardo, mas não o fez. Desde o primeiro dia, fosse por sobrevivência, fosse porque isto faz parte de você, você aceitou esta responsabilidade e isto instigou que os outros o seguissem. Você é um líder e quem luta ao seu lado esta lutando para defender a sua causa e, em alguns casos, para defender você. 

— Você lutaria pela minha causa ou por mim? — Harry perguntou e Dallas olhou bem dentro dos olhos verdes, tão expressivos mesmo detrás das lentes dos óculos que retornaram para o rosto dele. Ela não o respondeu, não verbalmente, a sua resposta foi um beijo longo na bochecha dele e então Dallas levantou do chão frio e ajeitou as suas vestes ao pôr-se de pé. 

— Você vai me escrever neste verão? — Dallas perguntou quando alcançou o acesso para a escadaria. 

— Sim. — Harry respondeu e com isto ela partiu. 


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