Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 35
Capítulo 34




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787448/chapter/35

— Uh! Isto vai deixar marca. — Patrick comentou quando Draco executou uma jogada mais violenta, despertando a ira dos grifinórios. Dallas já previa como aquela partida iria terminar e não errou quando a Grifinória venceu e os sonserinos partiram para a briga. No fim, mesmo perdendo no Quadribol, Draco ainda sim saiu vitorioso quando Fred e George Weasley e Potter foram banidos do time por Umbridge. 

— Você acha isto justo? — Dallas comentou quando passou pelo irmão na sala comunal da Sonserina, mas não obteve resposta. Draco estava ocupado demais sendo elogiado e bajulado por alguns colegas de casa para dar atenção à ela. Felizmente, nem todos concordavam com o modo como ele tinha lidado com as coisas e Davon Yale era um exemplo disto, sentado à um canto da sala com a expressão amarrada e braços cruzados sobre o peito. 

Dallas não perdeu mais tempo tentando arrancar uma explicação que fosse de Draco para os atos dele, até porque o sorriso presunçoso que ele ostentava a dizia que ela não iria gostar do que o irmão fosse dizer. Ao invés disto, tentou outra vertente e caminhou até Yale. 

— Você não pode suspendê-lo? — perguntou, meneando a cabeça na direção de Draco. Devon era o capitão do time da Sonserina, ele tinha autoridade para tanto. 

— Infelizmente não. Malfoy tornou-se o novo queridinho da Umbridge e esta é uma briga que infelizmente eu não tenho cacife para comprar. — Dallas não poderia culpá-lo. Os Yale eram uma família sangue-puro escocesa há quatro gerações, eram ricos, mas não tinham o mesmo poder de influência que os Malfoy. — Mas você está livre para quebrar o nariz dele de novo, prometo que desta vez eu não vou te parar. — Davon comentou com um leve tom de brincadeira e Dallas deu um sorriso para ele.

— Vontade não me falta, mas o momento que nós vivemos não é propício para este tipo de picuinhas. — ela abaixou o tom de voz. — Não posso arrumar inimigos dentro da minha própria casa, não quando a maioria desses alunos são… — Dallas cortou o pensamento ao meio. Os Yale não tiveram participação na primeira guerra, saíram da Grã-Bretanha quando Voldemort alçou-se ao poder, não querendo estar na mira do bruxo como propenso aliado ou inimigo quando eles recusassem aliança ao homem, mas isto não significava que Devon era confiável. Ele ainda era um sonserino, e tinha orgulho disto. 

— Quando a maioria deles são filhos de Comensais da Morte e portanto não é uma boa ideia contrariá-los agora que Você-Sabe-Quem voltou? — Devon completou os pensamentos dela em uma voz baixa. 

— Você acredita no que Potter e Dumbledore dizem sobre o retorno do Lorde das Trevas?

— Tem que ser muito idiota para não acreditar. O Ministro está nos arruinando fingindo não ver o óbvio. Deveríamos estar fortalecendo as nossas defesas, procurando aliados, preparando-se para a guerra, ao invés disto ele enfia uma maluca em Hogwarts para espionar o diretor e fica instigando fofocas no Profeta Diário de modo a desacreditar Potter. Quando Você-Sabe-Quem atacar, vai ser violento e mortal, como o bote de uma cobra. Vai ser bem na jugular e nós vamos sangrar até a morte porque o Ministério é estúpido demais e tem medo de ver a verdade. 

— E é por isso que, mesmo querendo muito, eu não posso quebrar o nariz de Draco. — Devon riu. Sim, esta era uma das razões, a outra era que se o fizesse, era capaz de receber um desagradável berrador de Narcissa e Dallas não estava pronta ainda para reconhecer a autoridade materna da mulher. 

A vida, como sempre, retorna ao eixo bem rápido em Hogwarts. A novidade do banimento dos gêmeos Weasley e Potter morreu para dar lugar ao desespero da aproximação dos NOM’s. Bem, não tão próximos assim, ainda faltavam meses para os testes mas, para os alunos que já lotavam a biblioteca, parecia que os NOM’s seriam realizados no dia seguinte. 

— Eu não entendo como você não pode estar preocupada. — Daphne comentou de passagem quando Dallas cruzou com o grupo de meninas do quinto ano da Sonserina, todas debruçadas sobre pilhas de livros como se fossem conseguir absorver os últimos quatro anos de Hogwarts em apenas quatro horas. 

Ela não estava preocupada porque os NOM’s serviam para garantir uma carreira no mundo mágico e Dallas não tinha futuro nesta sociedade. 

A realidade deste pensamento a assolou como um soco na boca do estômago. 

Dallas não tinha futuro no mundo mágico porque o futuro dela já estava planejado. Seria uma faculdade trouxa e então, após a formatura e obtenção do diploma, o casamento com Allen Halliwell. Os mesmos Halliwell que iriam para a festa de Natal este ano na mansão Winford, festa esta que Amélia exigiu ter a presença de Dallas.

A lembrança tirou todo o bom humor que ela tinha naquele dia, o suficiente para quando a Armada Dumbledore encontrou-se na Sala Precisa sob lições de como conjurar um Patrono, Dallas não conseguiu emitir nem uma faísca prateada da ponta de sua varinha. Ela não tinha muitas lembranças felizes ao longo de sua vida, se fosse falar a verdade, e recordar de que estava comprometida e com o futuro já selado, o suficiente para não preocupar-se com os testes do Ministério, não a ajudou em nada a completar aquela lição. 

Por duas horas Dallas tentou conjurar um Patrono, completamente em vão. E, quando a aula terminou, os alunos despediram-se uns dos outros desejando um Feliz Natal, e deixaram a Sala Precisa. Granger e Weasley foram os últimos a partir da sala, após lançarem um longo e significativo olhar para Potter, um gesto que Dallas ignorou ter visto em favor de conjurar aquele maldito Patrono. 

— Qual lembrança que você está usando? — a voz de Potter, perto de sua orelha, a assustou a ponto dela interromper o feitiço no meio. O Patrono desapareceu antes mesmo que pudesse pensar em ser formado. 

— Sinceramente? Nenhuma em especial. Eu não tenho lembranças suficientemente felizes para conjurar um Patrono. 

— Isto não é possível. — Dallas sentiu as pontas dos dedos de Potter tocarem o seu punho fechado, o que justamente segurava a varinha. O corpo dele estava praticamente moldando-se ao seu, o que fez o seu coração acelerar tanto as batidas dentro do peito que ela achou que o mesmo quisesse fugir de sua caixa toráxica. — Você só precisa fazer uma forcinha. A lembrança não precisa ser a mais feliz de todas, mas sim uma que, quando você traz de volta à superfície de sua mente, cria uma reação em cadeia, gerando emoções positivas. — lembranças felizes que gerassem emoções positivas ao serem recordadas? Dallas não estava conseguindo puxar nenhuma à mente, porque todos os seus sentidos estavam ocupados demais registrando a proximidade de Potter de seu corpo, o toque dele quase inexistente na pele exposta de seu pulso, a respiração quente dele em sua nuca. 

— Lembrança feliz e emoções positivas, certo? — Dallas pigarreou, na tentativa de recuperar o controle de seu corpo, sem muito sucesso. O seu coração acelerou mais a batida em seu peito, os seus joelhos estavam estranhamente fracos, e quando a outra mão de Potter pousou em seu ombro, ela achou que iria desmontar diante daquele toque.

Todas essas sensações eram estrangeiras e ao mesmo tempo familiares. Eram sensações que raramente acometiam o seu ser e que, quando aconteciam, era na presença de Potter ou por causa dele. E então Dallas lembrou do primeiro olhar que trocou com ele no Gringotes, do sorriso tímido que ele lhe deu no Olivaras, da primeira tentativa frustrada de amizade no primeiro ano deles, do olhar abobalhado quando ela o beijou após o incidente da Câmara Secreta, da primeira vez em que viu Edwiges entrar pela janela de seu quarto, trazendo entre as garras uma mensagem fuleira mas que ela ainda guardava como o seu bem mais precioso em seu cofre na Mansão Winford, do abraço que Potter lhe deu depois de um confronto com Draco, do beijo de despedida que recebeu no Baile de Inverno...

— Expecto Patronum ! — o feitiço brotou da ponta de sua varinha em um estouro de prata brilhante e tomou forma poucos segundos depois. A lince tocou o chão com a suavidade e elegância de todo felino, lambeu uma das patas brilhantes e então, sem cerimônia, foi até Dallas, roçou em suas pernas em um gesto de carinho e então desapareceu como fumaça no ar. 

— Muito bom. — a voz de Potter não estava mais tão próxima de sua orelha e Dallas notou com desgosto que ele havia afastado-se durante a execução do feitiço. O corpo dele não mais moldava-se contra o dela e ele não a tocava mais. Dallas sentiu um estranho vazio interior diante deste afastamento. — Oh! — Potter completou em um tom suave e Dallas não entendeu o que ele queria dizer até ver que os olhos verdes estavam mirando algo que descia do teto. Um ramo de visco que acabava de se formar sobre a cabeça deles. Agora Dallas só não sabia dizer se quem desejou o visco havia sido Potter ou ela. 

— Clichê. — Dallas murmurou e quando baixou os olhos do visco, viu Potter bem mais próximo do que estava antes, próximo o suficiente para os seus corpos novamente estarem moldando-se um ao outro. Ele estava bem mais alto que no ano anterior, o suficiente que, para olhá-la, precisava abaixar um pouco a cabeça e Dallas precisava erguer a dela a ponto de seus olhares se conectarem. As pontas dos dedos dele tocaram a bochecha pálida de Dallas, cujo coração desistiu de bater acelerado e parou de vez dentro de seu peito. A cena inteira acontecia em câmera lenta, Dallas sentia que tudo ocorria em câmera lenta, a aproximação do rosto dele do seu, o toque imperceptível dos dedos de Potter em sua bochecha, o modo como os olhos dele desviaram dos de Dallas para focarem em seus lábios. 

Dallas sabia o que iria acontecer no próximo segundo, e todo o seu ser almejava por aquele beijo, mais do que qualquer coisa que ela já tivesse desejado na vida. Mas o beijo era reconhecer algo entre eles, algo que vinha ocorrendo há anos, crescendo e amadurecendo há anos, era finalmente admitir um sentimento que era perigoso de sentir e Dallas não podia dar esta ilusão a Potter. O Destino dela já estava trançado, determinado desde o seu nascimento, ela tinha um acordo com Amélia e Potter tinha coisas mais importantes com o que se preocupar neste momento. A volta de Voldemort sendo a maior delas. Por isso que foi com pesar e o coração em pausa em seu peito que ela abaixou os olhos e então o rosto. O gesto deixou clara a sua rejeição para Potter e da mesma forma lenta em que ele se aproximou, ele se afastou.

— Eu não posso. — Dallas disse com a voz quase sumida e sem dar muitas explicações. — Eu sinto muito. — pediu, porque ela realmente sentia muito, porque ela realmente queria mudar o status quo entre eles, porque ela queria mais do que tudo finalmente assumir o que havia entre eles, mas não podia. Tudo o que ela pôde fazer naquele momento foi deixar a Sala Precisa sem olhar para trás. 

oOo

— Você ficou sabendo? — foram as primeiras palavras a saírem da boca de Patrick quando ele sentou no banco oposto à Dallas, dentro da cabine do Expresso de Hogwarts. Dallas mirou o amigo com a sua usual expressão de quem julgava o nível inteligência dele e considerava a mesma falha, mas a resposta de Patrick para isto foi um rolar de olhos seguido pela abertura do Profeta Diário. — Arthur Weasley foi atacado dentro do Ministério e está internado no St. Mungus. — havia uma foto de Arthur Weasley no rodapé da página do Profeta, que Patrick girou para a observação de Dallas, mas o título da matéria informava que um funcionário do Ministério da Magia havia ferido-se em uma inspeção de rotina. 

— O Profeta Diário clama diferente. — Dallas comentou e foi a vez dela de receber de Patrick o olhar de quem julgava o nível de inteligência dela e a considerava falha. 

— Sim, porque o Profeta Diário é um jornal sério e 100% crível, não é mesmo? — a resposta de Dallas ao sarcasmo de Patrick foi um rolar de olhos. — O que está acontecendo com você nesses últimos dias? Você já foi melhor, mas anda estranhamente dispersa desde… — ele hesitou, estreitou os olhos na direção dela e Dallas percebeu o momento em que as engrenagens rodaram dentro do cérebro corvinal do garoto e somaram dois mais dois, chegando a quatro. — O que aconteceu entre Potter e você na Sala Precisa, depois daquele último encontro da Armada?

— Nada. — Dallas não mentiu. Tecnicamente, não havia acontecido nada entre eles. 

— Nada uma ova! Não venha me dizer que não aconteceu nada quando Potter tem te lançado olhares longos e sofridos nos últimos dias. — Patrick comentou com o usual tom dramático que ele empregava quando o assunto era a novela mexicana que desenrolava entre Dallas e Potter. 

— Talvez, e somente talvez, tenha quase acontecido um beijo…

— O QUÊ?! — Dallas quase ficou surda com o grito do amigo. Verdade. Os seus ouvidos zumbiam diante da forma como o “e” saiu mais agudo que o normal ao final do grito. Ainda bem que a porta da cabine estava fechada e ela costumava colocar um feitiço abafador nesta para ter momentos de leitura tranquilos. — Você beijou o Harry? 

— Não! Eu disse que quase o beijei. O ato não foi concretizado.

— Como? Por quê? Por quê?! Ele deu para trás? — Patrick tinha largado o Profeta Diário em favor desta história ainda mais mirabolante do que qualquer coisa que o jornal pudesse lhe oferecer. 

— Não. 

— Você deu para trás?! — Dallas não o respondeu, mas a sua expressão e silêncio foram o suficiente para Patrick saber o que precisava saber. — Meu bom senhor, dê-me paciência. — ele jogou os braços para o alto e rolou os olhos, como se realmente pedisse força aos céus, antes de inclinar-se para frente e segurar as mãos de Dallas entre as suas. — Dallas, eu estava deixando o rio seguir o seu fluxo, mas a corrente está encontrando tantas pedras no caminho que está começando a me dar nos nervos. — Patrick olhou bem dentro dos olhos da amiga antes de dizer: — Harry gosta de você, e você gosta do Harry, então por que cacete vocês não se beijaram?! — Dallas retirou as mãos de entre as deles com mais brusquidão que o necessário. O palavrão foi rude, o drama de Patrick exagerado, mas o tom dele de incredulidade era genuíno e a pergunta era verdadeira. Se eles se gostavam, por que não se beijaram?

— Porque eu estou noiva e Potter tem o Lorde das Trevas com quem se preocupar. 

— Epa, epa, epa! Que história é esta de que você está noiva? — Dallas recostou no assento e Patrick imitou os seus gestos. Este detalhe de sua vida era algo que ela nunca havia compartilhado com o amigo porque era algo que ela convenientemente tendia a esquecer.

O casamento com Allen Halliwell era um fato sacramentado desde o seu nascimento, algo que ela aceitou como parte de sua realidade e absorveu porque, convenhamos, Dallas nunca imaginou-se como uma mulher adulta com um amplo círculo social de amizade e com grandes experiências no amor. Sentimentalismo não era algo que combinava com a personalidade dela, então um casamento arranjado não seria um fardo tão grande assim, ainda mais um casamento que lhe traria mais lucro do que prejuízo. Mas ela também nunca pensou que na sua equação perfeita entraria a variável de sua herança bruxa e um herói do mundo mágico. 

— Dallas? — Patrick a chamou em um tom mais brando e preocupado. Dallas suspirou e contou para ele sobre o famigerado acordo que a sua avó fez com a família Halliwell. — Eu poderia protestar dizendo que isto é absurdo e arcaico, que a sua avó não pode usá-la como moeda de troca desta maneira, mas esta é uma prática que algumas famílias sangue-puro ainda empregam, então o melhor a fazer é ficar com a boca fechada. — ele comentou ao final do relato. 

— Grand-mère não está me usando como moeda de troca, ela está garantindo estabilidade em meu futuro, isto sim. 

— Eu não compro esta. Não mesmo. 

— Por quê?

— Dallas, você é uma menina inteligente, provavelmente a mais inteligente de toda a escola. Você pode fazer qualquer coisa, ser qualquer coisa, dentro e fora do mundo mágico, por que então se conforma em ser uma esposa decorativa para um cara rico? Não faz sentido algum! 

— Porque eu não sei ser outra coisa. 

— Continuo não acreditando nisto. — Patrick comentou petulante e cruzou os braços sobre o peito, em um gesto desafiador. Dallas reprimiu um bufo de impaciência. O amigo não entendia, ele não entendia esta vida, este mundo. Dallas poderia ser o que ela quisesse, mas somente a inteligência dela não bastaria, havia um estigma a cercando, tão arcaico quanto certas tradições trouxa e bruxa. Ela não teria portas abertas em nenhuma das sociedades. Para os bruxos, ela era uma bruxa sem nome, destinada a mediocridade porque mesmo sendo uma sonserina ela não tinha laço algum com os seus colegas de casa e nem queria ter, visto que a maioria deles eram filhos de Comensais da Morte, incluindo o seu próprio irmão. Ninguém sabia que ela era uma Black e se descobrissem, também descobririam como o sangue Black foi parar em suas veias. 

A mesma coisa acontecia no mundo trouxa, a sua reputação estava arruinada desde o seu nascimento, as portas estavam fechadas para ela por causa de erros de terceiros, e os Halliwell eram a única chance dela ter algum futuro promissor pela frente, por menor que este fosse. E Potter? Que futuro ela tinha exatamente com Potter? Ele que tinha um alvo na testa e poderia ser morto amanhã? E a ideia de perdê-lo a aterrorizava tanto que preferia não tê-lo, sob a ilusão de que doeria menos se algo acontecesse à ele. 

— Não me interessa se você acredita ou não! — Dallas disse por fim, no instante em que o Expresso foi desacelerando até parar completamente, indicando a chegada deles à Londres. — Porque não é a sua vida, é a minha! — completou e deixou a cabine com um bater da porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Extremos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.