Equilibrium escrita por Diane


Capítulo 15
Capítulo 14 - Rainha no tabuleiro




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Voltar para a casa foi fácil fácil, Vanessa e Alec estavam no quarto deles, provavelmente planejando alguma coisa contra mim ou falando mal de mim, então, Layla só teve que abrir a porta pra mim quando liguei para ela. 

Aí, fiquei deitada no sofá igual um gato preguiçoso — posso dizer com propriedade porque Idia estava com a mesma postura no sofá do lado — e conspirando com Layla pelo Whatsapp. Sim, as conspirações de antigamente eram via carta, muito mais elegante e romântico, mas bem menos prático e sem a expressividade dos stickers.

Layla: Deu certo?

Eu: Um sticker do Sócrates dizendo "Só sei que nada sei".

Layla: Um sticker do anjo desolado. 

Eu: Bom, ele não falou nada. Mas segundo o livro, demora para eles se aproximarem. 

Layla: Isso não vai funcionar.

Eu: Obrigada pela positividade. Agora vou ficar mais ansiosa. Mas, mudando de assunto para as coisas divertidas da vida, qual foi a reação da criatura.

Layla: Incendiou a pia. 

Eu: No creio.

Ok, admito, essa cena parecia adorável para mim. 

Layla: Pode crer. Ele até quis acordar você para darmos o fora daqui e eu tive um trabalho do cão para convencer ele que não era para te acordar. 

Eu: Sticker de cachorrinho rindo.

Layla: É um milagre que ele e Vanessa ainda não te relataram o ocorrido 

Eu: Eles devem ter pensado melhor e chegaram a conclusão que é melhor deixar a assombração da casa me engolir.

Layla: Eu não duvidaria, ó assombração da casa.



Depois disso, Layla foi tirar um cochilinho de verdade e esta fiquei jogando Lords Mobile — Excelente jogo, super recomendo — pacificamente. Estava de tardezinha, o sol não estava me tostando e eu estava me sentindo tão alegre quanto um jacaré tomando um solzinho. 

— Você gosta de sol demais para uma filha da deusa da noite — Alec comentou, encostado no batente da porta.

É claro que eu gosto de sol. Não de sol escaldante do meio dia, mas sol de quando está quase anoitecendo. Era terapêutico, dava uma sensação que nada de ruim podia acontecer e além disso, minha pele ficava com um tom de dourado fenomenal na iluminação certa. 

"Me deixa relaxar em paz, infeliz", pensei.

Aí decidi ignorar ele. 

— Aqui tem um tabuleiro de xadrez — ele mencionou.

Abaixei meu celular e dei o meu tradicional sorrisinho diabólico. Eu nunca tinha jogado xadrez com Alec, isso podia ser interessante. Quando digo interessante, digo que seria legal ganhar e esfregar no focinho dele pelo resto da viagem. Aposto que você deve estar me achando infantil, mas a competitividade nunca morre. Não me julgue, tem tanta gente pior, por exemplo, já li um caso de uma criatura que morreu porque estava competindo sobre quem conseguia beber mais água.

— Talvez, talvez — falei.

Larguei meu celular e me estiquei no sofá. Tive a audácia de fingir que estava pensando sobre a hipótese. 

— Eu li um artigo joguinhos idiotas atrofiam o cérebro — Alec disse — Talvez isso explique porque você não está com a adaga. 

Então ele sabia, ou pelo menos suspeitava da minha saída mais cedo. C'est la vie.

— Poxa, dia 1 na Sicília e você já quer que eu tenha a adaga. Particularmente, amo a fé que você tem em mim — Nem neguei nem afirmei a teoria dele. Ponto para mim. 

Aí, eu me levantei do sofá, onde eu estava relaxada e feliz jogando Lords Mobile — que não era um jogo besta como Alec dizia, era altamente estratégico e, inclusive, tenho quase certeza que ele já jogou — e fui me sentar na mesinha de frente para o tabuleiro. 

Encarei ele. Aquilo parecia ser suspeito, ele estar sendo amigável comigo. Em geral, eu posso alegar que ele e Vanessa nunca foram com a minha cara e agora, após a descoberta da minha origem divina, se eles gostavam um pouquinho de mim, esse pouquinho foi para o ralo.

Não seja neurótica. Um jogo de xadrez não vai matar ninguém, pensei. As vezes, as pessoas podem só querer jogar xadrez.

Layla iria ficar feliz se visse isso, me ver socializando. Pena que ela estava dormindo. 

Um tempo depois, eu estava quase ronronando como um gatinho. Eu tinha uma fileira de peças dele capturadas e acho que estava sorrindo igual o Cheshire — capturar peças e queimar castelos me dão uma satisfação incrível. Acho que no fim, meu cérebro não estava tão atrofiado.

— Você sabe como é o sistema de governo dos descendentes de deuses? — Alec soltou uma peça e me encarou. 

Fiquei quieta. Ah, estava bom demais para ser verdade. 

— Não posso negar que os descendentes de deuses são — ele deu uma pausa para pensar — um pouco como animais, valorizam os mais fortes.

Eu não arriscaria dizer que isso era uma especificidade de descendentes de deuses. Humanos valorizam quem tem a conta bancária mais forte, o status mais forte e etc. Nada de novo sob o céu.

— Me diga uma novidade — falei e revirei os olhos. 

Ele deu um sorriso irônico e pude jurar que vi algumas chamas negras dançando entre os dedos dele. 

Novidade ou não, eu não era a mais forte daquele universo. Não era nem meia-boca ou razoável. E lá estava ele, literalmente brincando com fogo que apagava almas. 

Inveja definitivamente entrou para o meu hall dos pecados capitais.

— Desde que a última rainha sumiu, elegemos um governante por vias semelhantes da democrática e como você deve supor, os mais poderosos angariam mais votos — ele suspirou — Ilithya tinha expectativas em relação a mim, você mesma viu. Não há muitos como eu.

Não, provavelmente não tinha mais garotos que apagavam almas com chamas — uma benção não ter mais da espécie, admito.  

Por dois segundos, pensei em dizer: Bom, querido, você e sua tia podem pegar a preciosa coroa e enfiar onde bem entenderem. Mas, não, ceder é tão entediante.

— Lamento que tenha perdido sua oportunidade, Alec — mantive minha expressão impassível. Lamento o cacete — Você deve estar decepcionado, uma figura mítica reencarnada eclipsa qualquer coisa ao redor.

E temos que admitir que eu estava certa porque não importava o quanto ele fosse forte, ele não era uma lenda reencarnada. Os descendentes de deuses cresciam ouvindo histórias sobre Diana, sobre mim e ele era só um bebê vrykolaka poderoso. 

Ele capturou minha rainha do tabuleiro e ergueu uma sobrancelha.

— Nem sempre as rainhas duram muito.

— A atual Elizabeth da Inglaterra discorda dessa afirmação — Sorri, mostrando minhas presas de javali, como Idia diria.

Observei a rainha preta removida do tabuleiro. Que coisa magnífica, aparentemente, ele era o próximo na linha de sucessão e agora era responsável pela minha defesa — isso iria ser de uma eficiência magnânima. Comecei a me sentir enjoada, lá estava uma criatura que eu conhecia desde criança e estava praticamente me ameaçando enquanto eu jogava xadrez. 

Será que Alec, o garoto que foi meu rival nas olimpíadas científicas de física, que me fez ficar com os dentes verdes por uma semana, que eu competia na escola, que era a paixonite de Layla, que era irritante e foi o… iria conseguir cortar minha garganta enquanto eu dormia? Talvez não, talvez fosse mais fácil deixar algum enviado de Trivia me matar. A chance da minha mãe transformar ele em um esquilo — supondo que ela estivesse gentil — era menor. 

Comecei a me sentir decepcionada. Uma coisa era conviver com a ideia que uma reencarnação de uma feiticeira louca — só para ressaltar, que nunca me conheceu — queria me matar, agora saber que gente que cresceu comigo queria me matar era diferente, tem um certo apelo emocional. Se você está me julgando, imagine que sua tia avó está planejando te matar. É, decepcionante e constrangedor.

 

Tenho que admitir que uma parte minha gostava dele e de Vanessa, bem pouquinho, mais aquela questão de respeito pelo oponente. E, aparentemente, ele perdeu todo o respeito pelo oponente. 

Me levantei e fui beber água. Alec ficou na mesa, provavelmente satisfeito como um gato que comeu um passarinho, pensando que tinha me assustado. 

Se há algo nessa vida que eu odeio, é o clichê da mocinha assustada, sem personalidade e que é humilhada. Pelo amor de tudo que é sagrado, escritores e roteiristas, custa colocar uma graminha de maldade nas veias daquele ser literário? Mas, retornando ao assunto, Alec estava achando que eu era uma dessas criaturas clichês, que iria ficar assustada com as ameacinhas dele. A criatura praticamente ignorou toda minha inteligência, esperteza, talento para maldade e etc só porque sabia que eu tinha algum problema com meus poderes. Isso doía, parar de ser a genial Christine, a garota de ouro para ser reduzida a Christine, fraca sem poderes.

Coloquei o copo na pia sem fazer barulho e retornei para a mesa, praticamente queimando ódio puro. Deslizei meus dedos no ombro dele bem suavemente sobre a camiseta. Eu praticamente pude sentir a nuca dele se arrepiar.

É assustador como garotos baixam a guarda tão facilmente. Ou será que eu não parecia uma ameaça digna?

Cravei meus dedos na garganta dele, bem na laringe e com força suficiente para sentir a cartilagem cricóide diminuir de diâmetro. Será que vrykolakas morriam de laringe esmagada?

— Tente me matar. Se falhar, vou garantir que a cabeça ruiva da sua irmã seja arrancada bem na sua frente — fiz uma pausa — talvez a da sua tia também.

Impulsionei meu braço e fiz a cabeça dele ir para trás, de modo que eu pudesse encarar ele. Para o crédito de Alec, ele não parecia estar muito assustado, mas eu conseguia perceber que ele estava imóvel demais, olhos estavam alguns milímetros mais abertos que o normal e a pulsação, bem, a pulsação não mente. 

Era provável que aquela fosse a primeira vez que reparei pra valer nos olhos dele. Além de ter cílios invejáveis, ele tinha olhos bem azuis, não aquele azul acinzentado sem cor. Mas a coisa mais incomum era o aro dourado envolvendo as pupilas. 

Acho que apertei mais forte.

— Se uma rainha pode ter duração curta, quanto será que dura um bastardo? 

 


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Notas finais do capítulo

Ok, admito que Christine tenha uma pontada de maldade interior. O que acharam?

Dios, eu postei rápido dessa vez.



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