Equilibrium escrita por Diane


Capítulo 14
Capítulo 13 - A pia




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Acho que o problema primordial foi fazer Layla olhar o celular. Como eu não tinha certeza da capacidade auditiva de vrykolakas, eu não podia falar meu plano em voz alta — Certamente, Vanessa iria fazer uma tabela no Excel sobre as falhas dele — então, falar via WhatsApp parecia ser uma boa opção. 

Acenei para o celular de Layla que estava na mesa.  

— Que foi? — Ela me encarou.

Apontei para o celular. 

— Gente, parece que essa mesa levou um tiro — ela falou

E não é que tinha um buraco na mesa? Eu nem tinha reparado de tão focada que estava no celular. Pouco me importava se tivesse tido um tiroteio estilo Bang Bang na casa, eu só queria que ela olhasse o celular. Talvez eu nem me importaria se a casa fosse mal-assombrada de verdade.  

Apontei mais diretamente para o celular. 

— Por que você está agindo como uma mímica? 

Suspirei dramaticamente.

Peguei meu próprio celular e liguei para ela. Não tocou, a porcaria estava desligada. Em um lapso de desespero, peguei o celular dela e joguei no colo dela. 

— Urgência — falei. 

— Que urgência? — Alec perguntou, lá da cozinha. 

— Eu acho que estou precisando de absorventes — falei.

E ele calou a boca. Bendito seja o tabu que homens possuem em relação a menstruação.

Layla me olhou, cética. 

Você não está precisando de absorventes, ela escreveu no Whatsapp, seu espírito maligno deve estar precisando de caos para se alimentar. 

Logo abaixo, tinha o sticker de um gato com olhos estreitados e com cara de desconfiado.

Acho melhor modificar o modo de escrita pra não confundir ninguém. Nunca narrei uma conversa de aplicativo. Ah, isso é tão literatura contemporânea. 

Yo: Eu tenho um plano.

Layla: Sticker de uma escultura de um anjo da guarda com aparência de desespero e desolação.

Eu: Minha autoestima acabou de decair 10 pontos.

Layla: Acho que isso é insignificante perto do score total. 

Eu (já me irritando): E qual é seu plano? 

Layla: Nothing. 

Eu: Aparentemente, é usar anglicismos até a adaga aparecer por piedade linguística. 

Layla: Ah, deuses, pode começar a narrar. 

Uma leve pausa para explicação: Layla tem um pé atrás com meus planos desde que quebrou a perna em um deles. C'est lá vie. 

E aí contei o plano. As reações já eram esperadas.

Layla: Isso não vai dar certo. Você acha que sua mãe mandou dois vrykolakas para ficar de enfeite do seu lado? Eles servem para sua proteção.

Eu: Mas eles nunca vão me deixar fazer isso.

Layla: Porque não parece efetivo.

Eu: Layla, minha filha, a gente não vive em La Casa de Papel, não vamos conseguir roubar uma adaga toda especial da casa do deus dos roubos. Isso é, se a adaga estiver na casa dele. A criatura é um deus, pode ter posto em qualquer lugar do mundo. 

Layla: É, se eu fosse uma deusa, iria jogar em algum canto no fundo do oceano. Quem iria ir procurar lá?

Eu: Exatamente, exatamente. Só vamos ter a bendita faquinha se ele quiser dar. 

Layla: E se ele não quiser?

Eu: Vou convencer ele, não fiz aula de retórica a toa.

Layla: E por que você não usa suas aulas de retórica para convencer Alec e Vanessa? 

Eu: Eles já tem uma opinião pré-formada. 

Layla: O que te faz pensar que vou aceitar seu plano?

Eu: Você é minha melhor amiga, não vai me abandonar. 

Layla: Abandonada na Sicília. Aposto que você vai amar comer gelato todos os dias enquanto pensa em um plano melhor.

Eu: Você é a pessoa mais racional aqui, você consegue ver que isso é a única coisa que faz sentido. 

Meus amigos, apelar para o elogio sempre funciona. 

Layla: Faz um pouco de sentido.

Eu: Então me ajuda.

Layla: E se você morrer no meio disso?

Eu: Como? Hermes não vai me matar, ele não vai querer que minha mãe arranque a cabeça dele. Você sabe, eu li que ela pode destruir a imortalidade de deuses, então, ele não vai colocar a cabeça dele na guilhotina. Alguém mandado por Trivia? Bom, Idia já me protegeu antes, ou seja, ela já me protegeu mais que Alec e Vanessa, além dela ser de mais confiança. E tem um lado triste, mas verdadeiro: Trivia jamais apostaria que a Diana que fugiu de um portal era a verdadeira. Aposto que ela está seguindo a coitadinha da Maré igual uma louca. 

Layla: Um sticker de pinscher sorrindo.

Vale ressaltar, pessoal, que todos os stickers foram fabricados por mim e ela era uma ladra de stickers. 

Layla: Tá, pelo menos vai ser engraçado. Quero ver a reação deles quando verem a pia. 

Eu: Aposto que Alec incendeia a pia. 

Layla: Ele vai incendiar a casa hahahahaha.

 

A parte dois do plano envolvia corante vermelho, algodão e uma torneira. 

Agora, você deve estar se perguntando: Que tipo de criatura no mundo leva corante vermelho concentrado para a Sicília? Bom, eu estava viajando com Vanessa e Alec, é claro que eu levaria meus instrumentos de tortura. 

A propósito, o sangue de vaca foi pedido em um açougue porque eu não ando com litros de sangue de vaca por aí. 

Esperem, o sangue de vaca só vai aparecer mais tarde. Esqueçam isso. 

Voltando ao foco, fui no banheiro e analisei a torneira. Como a maioria das torneiras, ela tinha uma gradinha na parte que sai água e essa grade estava anexada na parte final da torneira. É, não sou especialista em torneiras, mas espero que tenha entendido. Aí, usei o máximo de força possível para desencorroscar essa parte da torneira, girando ela. Depois, embebi o algodão no corante e coloquei dentro da tubulação da torneira. E no fim, coloquei a gradinha de novo. 

O efeito final era simples: A água iria sair com menos força, mas escarlate, cor de sangue venos, praticamente. 

O fato é que qualquer um tem um suave infartinho quando invés de sair água, sai algo parecido com sangue. Não banquem os durões, sei que todo mundo iria dar uns pulinhos no mínimo. 

Depois de sair do banheiro, anunciei em alto e bom som que iria cochilar e arrastei Idia comigo para o quarto. Fiquei alguns minutos no quarto, rezando pra ninguém inventa de usar o banheiro lá de cima e arruinar tudo — Ou talvez ajudasse o plano, iria ser um pânico mais convincente que o atuado de Layla.

Pra minha sorte plena, Vanessa ainda inventou de ir comprar comida. Pasme, humanidade, não era só eu que estava morta de fome. 

AGORA, sinalizei para Layla.

Fiquei deitada na cama, escutando os passos dela subindo na escada. Alguns minutos, só ouvi ela gritar:

— Alec!

Tenho que admitir que Layla era esperta. Simples e direta, sem muitas palavras para não ter chance de soar artificial no meio, ela não desceu as escadas, então ele não iria poder ver a expressão facial dela — E logo que ele visse o sangue fake, nem iria reparar mais em nada — e uma pessoa em pânico não fica elaborando frases mais complexas. 

Obviamente, ele subiu. 

Assim que parei de ouvir os passos dele, me levantei e fiz o sinal de "vem" para Idia. Felizmente, ela era mais interpretativa que Layla e me seguiu.

E assim, consegui sair da casa sem ninguém no meu pé, exceto a gata e um livro de terror.

 

Saí da casa rápido e fui para o lugar alvo igualmente rápido. Sei lá, mas eu tinha uma premonição que Alec podia descobrir tudo, aparecer do nada e me arrastar para a casa. Felizmente, ele não apareceu. 

Contei as partes essenciais do plano para Idia e, é claro, só fiz isso quando notei que não tinha ninguém na rua. Apesar de me vangloriar de não ligar para a opinião alheia, admito que a perspectiva de um monte de italianos sussurrando "ragazza matta" não me agradava. 

Decidi que gostava mais de Idia do que eu já gostava antes — Se meu amor por qualquer tipo de felino é grande, imagine ele por uma felina gigante que salvou minha vida — porque ela não me criticou, inclusive, me ajudou. 

— Mas, para funcionar direito — falei — Eu preciso chamar a atenção dele. No exemplo que li no livro, o cara ficou comendo toneladas de morangos até a duquesa ficar curiosa e se aproximar.

Idia balançou a cabeça.

— Você está pensando em comer gelato até sair pelas orelhas. 

Sorri. Lembrem-se, gula está no hall dos pecados.

— Mas — a gata prolongou o som do mas — você não vai precisar disso. Semideuses são facilmente reconhecíveis, eles são têm características incomuns e exóticas. Olha para o seu cabelo, parece ser castanho escuro, mas se tiver a iluminação certa, como no sol agora, você vai notar uns fios cor de bronze e dourados. Mesmo em outros lugares, você tem olhos incomuns, a angulação deles é diferente, além de ter alguns dentes parecendo presas de javali — Ela me olhou divertida nesse trecho — Quase uma górgona. 

— Eles são bonitinhos — bati de leve nos meus dentes. 

Em minha defesa, devo dizer que não tenho dentes de javali. Mas meus dentes tem formato triangular e não só meu canino, praticamente todos meus dentes do fundo tem esse formato afiado.

É, já levei muito bullying na época do Crepúsculo. Obrigada, Stephanie Meyer, caso esteja lendo. Você deixou minha vida bastante infeliz na pré-adolescencia quando resolveu reavivar a cultura de vampiros no ocidentes. 

Depois disso, ela ficou em silêncio, contemplando os trechos de praia.

— Você já veio pra cá antes? — perguntei. Eu não sabia praticamente nada sobre ela. 

— Para a Sicília, específicamente, não. Mas já estive no mediterrâneo. 

E foi só. Nada mais, até chegarmos na loja de gelatos, exceto o povo parando pra agradar a Idia. Aí, cheguei a conclusão que eu não precisava fazer muita coisa pra chamar atenção, qualquer um que saia por aí com um gato sem nem coleira já atraí bastante atenção. 

 

A loja era beira-mar, em uma esquina e com janelas de vidro que davam vista para a praia — para a minha alegria. Acho que observar a paisagem poderia ser relaxante, mas por via das dúvidas, tinha trazido o It. Eu não sabia se deuses podiam farejar emoções ou algo do tipo, mas o seguro morreu de velho. Era óbvio que eu estava ansiosa, nunca tinha conhecido um deus — além de mamãe — e tudo podia ir por água abaixo rápido demais. Ele podia me ver, decidir que eu era chata ou irritante ou ambas alternativas e que não iria me entregar a adaga nem a pau. E ainda poderia rogar algum tipo de maldição leve — esperançosamente, se minhas teorias sobre o impacto da mamãe nos deuses estivessem certas — em mim.

Então, eis o livro. Melhor parecer a semideusa que fica tensa lendo — e eu fico as vezes. Não é mentira de tudo — do que a semideusa que parece ansiosa com a presença dele. Aliás, o plano era parecer plenamente natural, como seu eu tivesse decidido tomar um gelato de tardezinha. E nenhuma anta fica ansiosa tomando gelato. 

Agora, mudando de assunto, a loja também servia mini-pizzas, o que facilitou minha vida. Sempre me sinto meio tonta se como algo doce quando estou com fome antes de comer algo com sal. 

Fiquei lá, lendo e comendo lentamente. A atendente da loja amou a Idia. 

Segundo a escala de horários que minha mãe me deu, Hermes aparecia na lanchonete por volta das 14 horas da tarde. Então, para não parecer estranha e suspeita, cheguei antes dele. 

Minha mesa era do lado da janela e perpendicular a porta, ou seja, eu poderia ver quem estava chegando e essa pessoa não iria ter uma visão frontal de mim. Pegaria mal se ele notasse que olhei na direção dele intencionalmente. Lembrando, o foco ali era parecer tão inocente quanto um bebê foca. 

Uns dez minutos depois que cheguei — se eu tivesse demorado mais para sair de casa, teria me lascado — ele chegou. Por sorte, ou as Parcas trabalhando ao meu favor, ele passou pelo lado da minha janela. 

Nunca fui boa em descrever pessoas, até prefiro pular essa parte, mas suspeito que meus leitores tenham curiosidade sobre a aparência de um olimpiano e vão jogar meu livro no lixo logo depois de fazer resenhas negativas se eu não descrever nada. 

Acho que o principal detalhe sobre a parecia de Hermes, além dele ser bonito — o que não é nenhuma surpresa, já que deuses seriam considerados medíocres se não fossem bonitos — era que os traços do rosto dele tinham um ar delicado e infantil. Será que Zeus fazia a exigência que seu garoto de recados realmente tivesse cara de garoto? Mas, continuando, ele não era bronzeado, apesar de morar no mediterrâneo e o cabelo dele era bem curto e escuro. Não consegui reparar a cor dos olhos pela janela, mas ele parecia ter uma boca bonita e certamente era alto. 

Agora você deve estar se perguntando: Como você sabia que ele era Hermes e não um turista querendo gelato? Sei lá, mas eu sabia. Além disso, senti uma sensação estranha, algo como repulsa ou um incômodo quando vi ele pela primeira vez. Nem sei descrever isso direito, talvez fosse algo semelhante ao conceito de "o santo não bateu". Provável que algum dia saí algum estudo sobre feromônios e primeiras impressões negativas — se não já saiu, admito que o tema nunca me atraiu. 

Logo depois que notei ele pela janela, parei de analisar a paisagem e comecei a ler. Idia miou, satisfeita. 

Depois disso, lamento, não foi muito interessante. Não olhei para ele nenhuma vez, embora Idia tenha me assegurado que notou ele me encarando de vez em quando, Hermes não falou uma palavra para mim. 

Mas, tudo bem, isso era uma possibilidade, inclusive, ocorreu com o cara dos morangos, a duquesa só teve confiança para falar com ele depois de alguns dias. Mas era bom que Hermes me visse, comendo gelato e lendo pacificamente, ele iria familiarizar meu rosto e, esperançosamente, se aproximaria primeiro. Se eu aparecesse do nada, parecendo uma stalker desesperada por uma adaga, ele iria me associar a uma ameaça — de novo, o fator "possível medo da minha mãe". 

Daquele jeito, era muito mais fácil que ele me considerasse algo mais amigável. Eventualmente, ele iria ficar curioso sobre o porquê da filha de Nix — minha aparência já devia ter rodado o mundo já que a fofoca é mais rápida que a luz — estava comendo gelato tranquilamente junto com uma gata enquanto o Apocalipse se aproximava.

A questão era: quanto tempo isso iria levar?





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Notas finais do capítulo

Oi, acho que voltei mais cedo do que vocês previam. Apesar da Christine ter mencionado o livro no texto, vou falar de novo que a maior parte de psicologia comportamental foi baseado no "Manual de Persuasão do FBI".

Sei que vocês esperavam um diálogo por agora da Chris e do Hermes, mas, isso seria fácil demais para ela caso ele puxasse assunto logo de cara. E como ela citou na questão da psicológia comportamental, ela ativaria o lado detector de ameaças dele caso viesse para cima.

Mas, aguardem haha.



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