Pokémon - Unbroken Bonds escrita por Benihime


Capítulo 6
Sobre gelo e vento




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Calista mal conseguiu acreditar quando a câmera foi ligada. Cynthia prendera os grossos cabelos loiros em um coque desleixado na altura da nuca. O penteado despretensioso expunha cada linha do rosto altivo da campeã, inclusive as cicatrizes. Ainda que já as tivesse visto mais de uma vez ao longo dos anos, a irmã de Ash sempre se espantava ao contemplar as marcas no rosto de sua amiga.

— Oi, Cal.

— Oi, Cynth. — Calista sentiu seus próprios lábios se erguerem em um sorriso involuntário de resposta ao sorriso da campeã. — Como tem passado?

— Eu é que pergunto. — A loira rebateu. — Tenho ouvido alguns rumores extremamente curiosos. E estou sendo gentil ao usar essa palavra.

— Todos falsos, posso garantir. — Calista respondeu, dando de ombros. — Você sabe que a mídia me persegue sempre que tem uma chance.

— É mesmo? — Cynthia ergueu uma sobrancelha, encarando a jovem morena com um olhar gélido. — Então, se eu fizer essa mesma pergunta a Diantha agora mesmo, receberei a mesma resposta?

— O que aquela primadonna tem a ver com isso?

— Tudo. — Foi a resposta. — Nem tente, Cal. Você é uma péssima atriz, não vai conseguir me enganar. Eu já sei a história toda. Só não consigo decidir o que é pior: ver você negar tão descaradamente ou saber que vocês duas tem mentido para mim.

— E você ainda teve coragem de acusar Din de ser dramática. — Calista zombou. — Nós não estávamos mentindo, Cynthia, nós só ...

— Só me deixaram de fora por não pensarem que eu conseguiria manter o segredo. — A campeã interrompeu, e a jovem kantoniana viu suas feições serem coloridas por um leve rubor, uma indicação do quanto estava furiosa. E magoada também, se Calista bem a conhecia. — Não foi isso, Calista?

— É claro que não! — A irmã de Ash protestou. — Caramba, Cynth! Sabe muito bem que não há ninguém no mundo em quem eu confie mais do que em você.

— Eu sei. — A campeã concordou segundos depois, ainda hesitante. — Eu só queria ver se você teria coragem de admitir isso.

— Caramba, Cynthia, sua insegurança não conhece limites!

— Deixe de ser boba, Cal, você sabe que não é disso que eu estava falando. — Cynthia rebateu, revirando os olhos azul-acinzentados com enfado. — Mas fico feliz que você não tenha insistido em manter segredo. Obrigada por isso.

— Qual seria o sentido, se você já sabe a história toda?

— Quem disse que eu sabia? Eu poderia estar blefando. Confiar nos outros assim tão facilmente ainda vai lhe causar problemas, Cal.

O comentário, obviamente uma provocação, fez Calista balançar a cabeça em reprovação.

— Você é a pior, Cynth.

— Só um gostinho do seu próprio veneno. — Cynthia rebateu de bate-pronto, soltando uma sonora gargalhada ao ver a expressão surpresa da Rainha de Kalos. — Vamos, Cal, admita, você não consegue ficar com raiva de mim mesmo que tente.

— É isso. — Calista quase rosnou. — Já chega. Nos falamos mais tarde, campeã. Quando você crescer um pouco.

— Ah, por favor. — A campeã zombou. — Espere aí. Que droga, Cal! Eu só estava brincando. Desde quando você é tão sensível? Pensei que tivesse mais senso de humor do que isso, Majestade.

Calista hesitou, mas por fim voltou e sentou-se na cadeira estofada em frente ao computador, esboçando um sorriso apologético.

— Tem razão, Cynth. Eu sinto muito. — A morena disse suavemente. — Ainda estou meio sensível. Ontem foi ... Um dia e tanto. Ou melhor, uma noite e tanto.

— Eu sei. Dawn me contou o que aconteceu. Como você está?

— Estou bem. Nenhum arranhão. — Calista asseverou. — Malva foi quem levou a pior enfrentando aquele Pokemon esquisito.

— Qual era a aparência dele, Cal? Acha que consegue descrever?

A irmã de Ash assentiu, dando o melhor de si para descrever em detalhes a aparência do estranho pokemon da noite anterior. Cynthia a ouviu em silêncio, sua expressão ensombrecendo mais e mais a cada palavra.

— Como eu pensava. — Ela disse enfim, quando a jovem morena se calou. Calista viu uma das mãos da campeã se mover, ligeiramente fora do foco da câmera, apenas para reaparecer momentos depois segurando uma pokedex. A loira digitou algo no dispositivo e o virou para que a irmã de Ash pudesse ver a imagem na tela. — O pokemon que você viu era este, não era?

— Sim! Era este mesmo.

— Se chama Kyurem. — A campeã explicou. — É um dos pokemon lendários da região de Unova, uma contraparte de Zekrom e Reshiram. Assim como os outros dois, Kyurem raramente é visto. Eu me pergunto por que ele a atacou em público daquela maneira. Não é um comportamento habitual.

Não gosto disso. Angel comentou, pousando no ombro de sua parceira e se tornando visível. Diga a ela que tenho um péssimo pressentimento sobre essa situação.

— Angel acabou de dizer que não está gostando nada disso. — Calista repetiu obedientemente. — Ela disse que tem um mau pressentimento.

— Eu também. — Cynthia admitiu. — Tem alguma coisa em tudo isso que simplesmente não se encaixa. Não faz sentido nenhum.

— E podemos deixar para lá, ou ficarmos malucas tentando descobrir o que é.

— Você é incorrigível, Cal. — Cynthia declarou, abrindo um sorriso afetuoso. — Mas tem razão dessa vez. Não adianta supor nada até descobrirmos mais.

— O que é justamente o que pretendo fazer.

— O que você tem em mente, sua cabecinha de pedra? — A campeã inquiriu, seu semblante se contraindo de preocupação. — Não vá fazer nenhuma loucura.

— Pode deixar, Cynth. — Calista rebateu, marota. — Além do mais, Angel diz que você não precisa se preocupar. Ela não vai deixar que eu termine me matando por agir sem pensar.

— Pelo menos uma de vocês duas tem juízo. — A loira declarou jocosamente. — Eu juro, Calista, vivo me perguntando em qual encrenca você vai se meter em seguida.

Pois somos duas. A Meloetta falou solenemente, porém seus lábios se curvavam de leve nos cantos em um sorriso malicioso.

— Odeio vocês. — Calista resmungou. — As duas. Odeio vocês com todas as minhas forças.

Você sabe que me ama. Angel provocou enquanto Cynthia meramente ria da declaração da morena. Não adianta negar.

Pegando as duas treinadoras completamente de surpresa, um borrão laranja pulou no colo de Cynthia com um gritinho agudo de prazer, de lá pulando para a mesa e cutucando a tela do computador com o focinho.

— Des! — A campeã repreendeu. — Venha já aqui, sua bobinha.

A Flareon obedeceu, pulando para o colo de sua treinadora. Seu enorme rabo peludo continuava balançando furiosamente, e ela parecia extática de felicidade por ver Calista.

— Oi, Destiny. — A morena sorriu afetuosamente. — Como vai, garota?

O sorriso da Flareon se alargou e, para espanto de Calista, Cynthia também sorriu. Havia um quê de malícia e travessura naquele gesto. A jovem Rainha de Kalos conhecia a campeã de Sinnoh tempo o bastante para saber que aquela aparência adorável não era nem um pouco confiável.

— Ela está ótima. — A campeã respondeu, pondo-se de pé ainda com a pokemon tipo Fogo nos braços. — Melhor do que nunca, eu diria.

O gesto de Cynthia ao se pôr de pé permitiu a Calista ver um cesto de vime cuidadosamente acomodado no canto do quarto, no qual duas bolas de pelo marrom dormiam a sono solto.

— Eu não acredito! — A morena exclamou. — Quando eles nasceram? Quantos são? Todos estão bem? E o mais importante: por que diabos você não me contou, campeã?

— Calminha aí, Cal. — Cynthia riu, obviamente achando graça na surpresa de sua amiga. — Eles nasceram há dois dias, todos os três perfeitamente saudáveis.

— Três? Só vejo dois. O que aconteceu com o terceiro?

O sorriso da campeã era uma mistura de malícia, afeto, travessura e satisfação. Iluminava seu rosto e a fazia parecer uma garotinha. A irmã de Ash sentiu seus lábios se erguerem em resposta. Jamais conseguira resistir àquele sorriso. 

— Ora, Cal. — Foi a resposta. — Dawn não lhe entregou o meu presente?

— Você não ... ! — A morena arquejou, sem palavras para conseguir terminar a frase. — Cynth, eu te adoro! Você é simplesmente inacreditável!

— Eu sei disso. — Cynthia deu de ombros casualmente. — E, a propósito: feliz aniversário, Cal, já que não tive a chance de lhe dizer isso ontem.

— Obrigada, Cynth. — Calista já esquecera qualquer preocupação acerca de Kyurem enquanto abria o pequeno embrulho quadrado que Dawn havia lhe entregado na noite anterior. — Falando nisso, você nunca me contou quando é o seu aniversário.

— Não é um assunto sobre o qual eu goste de falar. — A loira admitiu. — O ataque que matou meus pais ... Aconteceu um dia depois do meu aniversário. Nunca mais celebrei desde então.

— Caramba, Cynth, me desculpe! Eu não devia ter perguntado nada.

— Não precisa se desculpar, Cal. — Cynthia respondeu afetuosamente. — Se existe uma pessoa no mundo que pode me perguntar qualquer coisa, é você.

A morena dirigiu um sorriso caloroso à sua amiga enquanto abria a pequena caixa antes cuidadosamente embrulhada, revelando uma pokebola. Do dispositivo uma raposa marrom se materializou no colo de Calista.

O Pokemon Evolução era minúsculo, menor do que Cinnamon ou Mirabelle, que havia sido pequena mesmo para os padrões de uma Eevee. Calista encarou de volta enquanto o pokemon tipo Normal a analisava com curiosidade, soltando uma exclamação de puro deleite quando a criaturinha esfregou a cara peluda contra sua mão, como que pedindo um afago.

— Você é uma graça. — A morena declarou, recebendo como resposta um abano da enorme cauda marrom peluda do pokemon tipo Normal. — Obrigada, Cynth. De verdade. Você é a melhor amiga do mundo!

— Ninguém merecia isso mais do que você. — Cynthia declarou. — Afinal, Destiny talvez não estivesse viva se você não a tivesse ajudado.

— Se nós não a tivéssemos ajudado. — Calista corrigiu calorosamente. — É bom ver que tudo deu certo, pelo menos uma vez.

— E vamos acertar o resto, Cal. — A loira garantiu. — Você vai ver.

— Espero que você tenha razão, Cynth. — A irmã de Ash respondeu, dando um pulo de susto ao erguer os olhos e ver a hora no relógio no canto da tela de seu computador. — Ah, droga! Preciso correr, senão Malva vai me matar!

— O que ela tem a ver com isso?

— Não muito. — A morena admitiu. — Mas, depois de ontem à noite, fiquei preocupada. Ver se ela está bem é o mínimo que posso fazer.

— Tome cuidado com aquela mulher. — A campeã advertiu. — Já ouvi coisas muito ruins sobre ela.

— E aposto que quem disse todas essas coisas foi Diantha. — Calista rebateu. — Cuidado, Cynth, não se deixe influenciar por alguém que claramente não pode fazer um julgamento imparcial.

— Tudo bem, ponto para você dessa vez. — A loira declarou. — Até mais, Cal.

As duas se despediram e Calista se vestiu rapidamente, saindo pouco depois acompanhada por Mirabelle.

— A não ser que eu esteja muito enganada ... — A morena comentou com sua parceira. — Aquele comentário de ontem à noite sobre estar bem hoje foi um convite. E, se bem conheço Malva ... Há, eu sabia! Olhe lá, Mira.

Mirabelle abriu um sorriso malicioso ao ver a mulher de cabelos cor de rosa acompanhada por uma Pyroar. Malva ainda não notara a presença da dupla, e Calista se pegou sorrindo também.

— Vá em frente. — Ela disse. — Pegue ela, garota. Sei que é o que você quer.

Foi todo o encorajamento de que a pokemon tipo Fada precisava. Investindo a toda carga, Mirabelle saltou sobre a Pyroar de Malva. A leoa pokemon rugiu e girou o enorme corpo para acertá-la com uma patada.

— Mirabelle. — Calista ouviu Malva dizer enquanto se aproximava. — Eu já devia ter adivinhado. Você nunca se cansa de arranjar encrenca, sua marota?

— É claro que não. Uma vez problema, sempre problema. Essa é a minha garota.

— Exatamente igual a você, menina fada.

— Ouch! — A morena exclamou, sorrindo quando a repórter ergueu o rosto para olhá-la nos olhos. — Você sabe mesmo ser má.

— O que eu posso dizer? — Malva deu de ombros casualmente. — É um talento.

As duas treinadoras observaram suas pokemon em silêncio por alguns instantes. Mirabelle e Lyse trocavam patadas, rosnando uma para a outra de quando em quando. Para qualquer observador, as duas pareciam determinadas a estraçalhar uma a outra. Suas treinadoras, porém, sabiam que não era bem assim. Desde a primeira vez que se enfrentaram em batalha aquelas duas se tornaram rivais, o que evoluiu para uma amizade improvável de ambos os lados.

— Falando sério agora ... — Calista enfim quebrou o silêncio. — Você está bem?

— É claro que sim. — Malva respondeu, dando de ombros. — Um arranhão daqueles não vai me derrubar.

— Foi bem mais que um arranhão, Malva. — A morena repreendeu. — Não tente bancar a durona. Não dessa vez. Não comigo.

— Honestamente, Caly, você está se preocupando com as coisas erradas. — A repórter kalosiana declarou. — No seu lugar, eu me preocuparia mais com o que levou a isso do que com o fato em si.

— Pois, para mim, uma amiga é mais importante do que descobrir os motivos por trás de tudo isso.

— Vamos ter que concordar em discordar dessa vez. — Malva declarou simplesmente. — Mas, de qualquer forma, eu não baixaria a guarda se fosse você, doçura.

— Quer dizer para o caso de Lysandre tentar mais alguma coisa?

— Vamos, menina fada, você é mais inteligente do que isso. — A mulher de cabelos cor de rosa disse jocosamente. — Acha mesmo que o que aconteceu ontem teve algo a ver com Lysandre?

— Na verdade ... Eu tenho certeza absoluta.

— Pois então sinto lhe informar que você está redondamente enganada. — Malva rebateu. — Lysandre não teve nada a ver com aquele Kyurem da noite passada.

— Como você pode ter tanta certeza?

— Porque conversamos sobre isso depois que tudo acabou. — Foi a resposta. — Eu queria saber se ele havia percebido.

— Percebido o que?

— Aquele pokemon não atacou até você aparecer. Depois, não desviou os olhos de você. — Por um momento os lábios da repórter se retorceram em uma expressão de desgosto. — Não importa como se olhe, é óbvio que o alvo dele era você o tempo todo.

— Você está forçando. — Calista declarou. — Isso mal faz sentido. Por que eu seria o alvo?

— Quanto a isso, não faço ideia. — Malva admitiu. — Mas Lysandre concorda comigo. Por algum motivo, tem alguém por aí que quer muito acabar com você.

— Ora essa, Malva, agora você está tentando me assustar.

— Não estou. — A repórter protestou. — Caramba, Calista, deixe de ser teimosa! Estou preocupada de verdade. Não quero ver você sendo alvo dessa loucura.

— Eu sei que você se preocupa, Mal. — Calista disse suavemente. — Mas não precisa. Posso cuidar de mim mesma.

— Talvez. — Malva concordou. — Mas, mesmo assim, é melhor não me culpar por ficar de olho em você até tudo isso acabar.

A irmã de Ash sorriu e se aproximou, passando um braço pelos ombros da amiga de forma a lhe dar um beijo estalado na bochecha.

— De forma alguma. — A morena declarou afetuosamente. — Obrigada, Malva.

Calista ficou surpresa quando, ao fazer uma pequena pausa no ensaio daquela tarde, viu o homem de cabelos prateados a observando, casualmente recostado contra uma parede. Quando seus olhares se encontraram, ele abriu um sorriso malicioso.

— Steven! — A jovem exclamou, deliciada. — O que você está fazendo aqui, campeão?

— Nada de mais. — Steven respondeu casualmente. — Eu estava por perto. É claro que não perderia a chance de ver você.

A morena abriu um largo sorriso, descendo do palco diretamente para os braços abertos do campeão de Hoenn, que a abraçou com o afeto de um irmão.

— Vou admitir. — Ela disse quando o homem de cabelos prateados a soltou. — Essa é uma surpresa e tanto.

— Uma boa surpresa, espero.

— Excelente. — Calista asseverou calorosamente. — Você tem algum tempo, Steven? O centro pokemon no final da rua tem um café expresso maravilhoso. Podemos ir até lá e colocar a conversa em dia, se você não estiver muito ocupado.

— Caly, você definitivamente sabe como tentar um homem. — Steven provocou. — E tem uma boa memória assustadora.

— Se eu não fosse assustadora, como manteria os abutres longe de mim?

— Falando em boa memória ... — O campeão de Hoenn disse enquanto cavalheirescamente ajudava Calista a colocar o elegante casaco de lã cor de canela que a jovem havia trazido para se proteger do clima frio do outono kalosiano. — Não pense que esqueci seu aniversário, Caly.

— Cynth nunca lhe disse, Steven? — A morena provocou, virando-se para seu amigo com um sorriso malicioso. — Depois de uma certa idade, nenhuma mulher gosta de ser lembrada que está ficando mais velha.

— Garanto que você não vai pensar assim quando vir seu presente.

— Presente?! Steven, você não precisava ...

— Não se preocupe com isso, Caly. — Steven disse simplesmente. — Estenda as mãos e feche os olhos.

Calista obedeceu, embora ainda desconfiada. O homem de cabelos prateados riu ao perceber que a jovem espiava discretamente por entre seus longos cílios.

— Nada de espiar, mocinha. — O campeão de Hoenn repreendeu. — Você continua trapaceando sempre que tem uma chance, huh?

— Isso porque você é tão confiável quanto um Purrloin selvagem.

Apesar de sua declaração, Calista meramente balançou a cabeça e cedeu, sentindo algo gelado ser depositado em suas mãos.

— É um cristal? — Ela inquiriu, sabendo que só havia um motivo para seu amigo provocá-la daquela forma.

— Quase isso. — Steven respondeu. — Tente de novo.

— Eu não faço ideia, Steven. Posso olhar agora?

— Está bem. — O campeão cedeu jocosamente. — Mas estou decepcionado. Você não costumava desistir tão fácil.

— Ah, nem comece!

Ao abrir os olhos a jovem viu uma pedra perfeitamente oval e transparente, de um tom de azul que imediatamente a fez pensar em Diantha, por ser quase exatamente da cor dos olhos da atriz. No centro da pedra haviam veios de um branco puríssimo, quase iridescente, que juntos formavam a figura de um floco de neve.

— É uma Pedra de Gelo! — A jovem kantoniana exclamou, seus olhos verdes se arregalando de surpresa e deleite. — Steven, como você sabia?!

— Imaginei que você um dia talvez vá querer usá-la em Inari. — O campeão respondeu. — Que bom que gostou, Caly.

— Eu adorei! Muitíssimo obrigada, Steven, é o presente perfeito!

Inari, com quem Calista estivera ensaiando e que se escondera atrás das cortinas do palco ao perceber a presença do campeão de Hoenn, espiou curiosamente.

— Venha aqui, sua medrosa. — A morena chamou. — Venha dar uma olhada nisso.

Embora hesitante, a pequena Vulpix obedeceu. Seus profundos olhos azuis brilharam ao ver a Pedra de Gelo nas mãos de sua treinadora.

— Posso ver por que você resolveu usá-la em suas performances. — Steven comentou. — Aposto que sua Vulpix se sai bem no palco.

— Se sairia melhor se não fosse tão tímida. — A morena respondeu, embora sua crítica tenha sido suavizada pelo sorriso afetuoso que lançou à sua pokemon. — Aposto que Wallace poderia nos derrotar em questão de segundos.

A menção a seu amigo de infância e mestre dos Concursos Pokemon da região de Hoenn fez Steven abrir um sorriso maroto.

— Eu não teria tanta certeza. — O campeão declarou. — Acho que, com um pouco mais de treino, nem mesmo Milotic poderia derrotar a sua Inari.

— Obrigada, Steven. — A morena disse, corando violentamente com o elogio. — E então, vamos pegar aquele expresso?

— Às vezes acho que você lê minha mente, Caly.

— Quem sabe, huh? Talvez seja verdade.

Steven simplesmente riu daquele comentário enquanto ele e Calista seguiam para fora do estúdio de dança. A jovem e o campeão de Hoenn conversavam casualmente enquanto caminhavam, quase como irmão e irmã.

— Cuidado, garota. — A morena advertiu depois de alguns minutos, quando já estavam acomodados no centro pokemon com copos de café expresso nas mãos. Inari, que estivera contemplando curiosamente a Pedra de Gelo na mão livre de sua treinadora, ergueu os olhos para encará-la. — Não toque nisso. Se encostar nessa pedra, você vai evoluir para uma Ninetales.

— Talvez seja isso que ela queira. — Steven sugeriu.

— Talvez. — Calista concordou, equilibrando a pedra na palma de sua mão e oferecendo-a à pequena raposa tipo Gelo. — O que me diz, raposinha? Quer mesmo evoluir?

A pokemon estendeu uma pata, que pairou a centímetros da pedra. Logo em seguida, porém, Inari recuou, o que fez sua treinadora sorrir.

— Eu sabia. — Ela disse afetuosamente. — Mas tudo bem, não precisa decidir nada agora. Vou manter a pedra por perto, está bem? Para quando você estiver pronta.

— Não consigo acreditar que essa pequenina foi criada por você. — Steven comentou. — Vocês duas são totalmente opostas.

— Tem razão. — Calista concordou com um sorriso. — Ao contrário de mim, Inari não é impulsiva.

— Impulsiva é um eufemismo em se tratando de você, Caly. — O campeão de Hoenn provocou. — Ainda não me esqueci de quando você domou aquele Salamence selvagem.

— Ah, por favor. — A jovem riu, revirando seus olhos verdes. — Seu Metagross me ajudou, caso contrário eu teria levado uma tremenda surra.

— Não tenho muita certeza. — Steven rebateu jocosamente. — Acho que o Salamence perderia a briga.

— Caramba, Steven! — A morena exclamou com uma sonora gargalhada. — Você está falando igualzinho ao Ash.

— Talvez porque o que ele diz seja verdade.

Calista meramente sorriu. Conhecia Steven há tempo demais, e gostava demais dele para se ofender com qualquer coisa que aquele homem dissesse. Entre ele e Lance, era como se tivesse dois irmãos mais velhos. Dois irmãos mais velhos que pareciam ter tomado para si a missão de provocá-la sempre que podiam.

— Bem, é melhor eu ir. — O campeão disse após mais alguns minutos de conversa. — Ainda tenho trabalho a fazer.

— Que tipo de rochas você espera encontrar dessa vez?

— Nada em particular, por enquanto. — Foi a resposta. — Mas, depois que Diantha me falou sobre a Caverna Brilhante, é claro que eu não desistiria até investigar o lugar.

— É claro. — Calista rebateu, sorrindo. — Entendo por que você e Cynth são tão amigos: formam um perfeito par de nerds.

Steven lançou-lhe um olhar falsamente ofendido, mas a jovem sabia que ele não se importava com suas provocações. Longe disso. Se o sorriso que brincava nos lábios do campeão fosse alguma indicação, a língua afiada da morena o divertia.

— Nos vemos por aí, Caly. — Ele disse simplesmente. — Juízo, está bem?

— Não prometo nada.

Os dois amigos se despediram na frente do centro pokemon e seguiram caminhos opostos, Calista em direção ao estúdio de dança e Steven montando em seu Skarmory para voar até a misteriosa Caverna Cintilante.

— Sabe ... — A jovem morena comentou com a Vulpix empoleirada em seu ombro, acariciando-lhe as orelhas aveludadas. — Aposto que você seria uma Ninetales bem bonita. 

Inari sorriu, esfregando a bochecha contra a mão de sua treinadora. Calista passou a acariciar-lhe sob o queixo enquanto andava, bem onde sabia que ela gostava mais.

— O que me diz de deixarmos o ensaio de lado por hoje e irmos dar uma voltinha? — A treinadora kantoniana sugeriu. — Podemos fugir de Lumiose por algumas horas.

A Vulpix sorriu e assentiu entusiasticamente. Puxando de sua bolsa um par de óculos escuros ao atingir uma das ruas principais da cidade, mais movimentada, Calista continuou a andar na direção do portão no extremo da parte Norte da cidade, que levava à rota 5.

Sendo a Rota 5 uma estrada ladeada por campos de grama alta, era quase deserta. Naquele dia em especial ninguém além de alguns patinadores que frequentavam a pista de skate se fazia presente. Calista e Inari puderam se deitar juntas sob uma árvore, deixando que o sol filtrado através da teia de galhos as aquecesse.

Foram despertadas daquela tranquilidade pouco tempo depois por uma poderosa rajada de vento. Olhando rapidamente em volta, alarmada, Calista viu nuvens negras pesadas correndo pelo céu.

— Droga! — A morena exclamou. — Parece que vem uma tempestade por aí. É melhor voltarmos, Inari.

Calista se pôs de pé apenas para ser lançada contra o tronco da árvore por outra rajada, com tanta força que a jovem chegou a perder o fôlego. Pontos negros dançaram em sua visão devido à dor. Assim que conseguiu enxergar novamente, viu um pokemon verde de forma humanoide encarando-a, suas íris amarelas brilhando com uma luz cruel.

A cauda do pokemon, uma estrutura branca em forma de nuvem, estremeceu enquanto ele se afastava voando em alta velocidade. Lâminas afiadíssimas de ar foram disparadas por seu deslocamento, num poderoso golpe Corte Aéreo. Para sua surpresa, Calista viu Inari saltar à sua frente, usando o poder psíquico de seu golpe Extrassensorial para bloquear o ataque adversário.

— Obrigada, Inari. — A morena disse. — Agora vamos, corra!

Treinadora e pokemon dispararam pela estrada de terra, sendo constantemente derrubadas pelas rajadas de vento do pokemon misterioso. Uma delas derrubou Calista com tanta força que a jovem sentiu seu tornozelo esquerdo torcer sob seu peso. Por sorte a grama alta amorteceu sua queda, mas nem mesmo assim a morena pôde evitar um gritinho de dor.

Angel! A jovem kantoniana exclamou, pondo toda a urgência que pôde naquele chamado telepático. Angel, eu preciso de você!

Mas, por mais profunda que fosse sua conexão com a Pokemon Melodia, Calista não conseguia sentir nem traço dela por perto. Estava sozinha. Tudo o que pôde fazer naquela situação foi se pôr de joelhos e puxar Inari para si, protegendo a pokemon com seu próprio corpo.

Numa reação completamente inesperada, a pequena Vulpix rosnou de raiva, desvencilhando-se dos braços de sua treinadora e saltando na direção do pokemon adversário, que dispersou seu golpe Pó de Neve com mais um Corte Aéreo.

— Inari! — Calista exclamou. — Inari, não!

O pokemon misterioso tentou atacar Calista com um Braço Martelo, porém Inari saltou no caminho, usando Clarão Deslumbrante para desorientar e forçar o inimigo a recuar. Funcionou apenas por um momento, antes de a pequena pokemon tipo Gelo ser lançada para longe pelo golpe tipo Lutador.

Longe de ser derrubada pelo golpe super efetivo, a Vulpix apenas pareceu ainda mais determinada. Ela se pôs de pé em um salto, disparando um Raio de Aurora à queima-roupa. Seu adversário, porém, simplesmente voou para fora de seu alcance e voltou em rasante momentos depois para atacar com Onda de Calor.

— Inari! — Calista chamou mais uma vez. — Já chega! Pare!

Mas a pokemon não a ouviu. Sempre que o misterioso adversário tentava investir contra Calista, ela se punha no caminho. Não recuaria enquanto ainda tivesse forças para batalhar, isso era óbvio.

— Inari, recue! — Calista ordenou, pondo-se de pé com dificuldade devido ao tornozelo ferido. — Recue, sua idiota!

A Vulpix gritou de fúria ao ver sua treinadora ser derrubada novamente por outra rajada de vento do pokemon misterioso. Ela saltou na direção de Calista, atingindo a mão esquerda da jovem com suas caudas. A Pedra de Gelo, que a morena não percebera estar segurando, voou pelos ares.

Inari pulou ainda mais alto, estendendo uma pata para tocar a pedra. Num segundo a pequena raposa foi envolvida por uma luz ofuscante, tão brilhante quanto uma supernova. Quando o clarão de luz se dispersou, Calista não viu mais sua pequenina Vulpix.

Os olhos da morena se arregalaram e, mesmo naquela situação, suas feições se iluminaram com um sorriso de deleite. À sua frente estava uma magnífica raposa de nove caudas. Com as presas expostas e rosnando ameaçadoramente, a pokemon tipo Gelo disparou mais um Raio Aurora, que o inimigo dispersou com Onda de Calor.

O rosnado de Inari transformou-se em um uivo de pura fúria que lembrava o som do vento durante uma as nevascas mais violentas, enquanto a Ninetales de Alola saltava e girava em pleno ar, disparando um poderoso sopro de Neve em Pó em espiral.

O sopro de pequeninos flocos de neve se condensou, assumindo um brilho azul misterioso enquanto o golpe glacial dobrava de intensidade, girando como um ciclone. Não era mais um ataque Neve em Pó, e sim um poderoso Respiração Congelante.

O misterioso pokemon verde, porém, mal pareceu ser afetado, e revidou em seguida com um rasante, usando Braço Martelo. Esse golpe foi demais para que a delicada pokemon tipo Gelo, já ferida, aguentasse.

— Agora, Dialga, Gema Poderosa!

A voz conhecida fez Calista perder o fôlego novamente, tamanha sua surpresa. Num segundo um massivo pokemon azul escuro de mais de cinco metros de altura se interpôs entre ela e o pokemon misterioso, cercando-se com estilhaços afiadíssimos de rocha que lançou contra o oponente com força suficiente para fazê-lo girar descontroladamente em pleno ar.

Antes que o oponente pudesse se recuperar, as barbatanas no pescoço de Dialga, que eram prateadas e reluziam como se feitas de puro aço, dobraram de tamanho. O Pokemon Temporal abriu sua bocarra, soltando um rugido tão ensurdecedor que fez Calista precisar tampar os ouvidos. Uma esfera azul-índigo, em tudo semelhante a um pequeno buraco negro, foi lançada da boca de Dialga e atingiu o misterioso pokemon verde, lançando-o para longe em meio às nuvens. O Pokemon Temporal meneou o longo pescoço, parecendo satisfeito com o resultado de seu ataque Rugido do Tempo.

— Caly. — Steven, que Calista não percebera estar ao seu lado, chamou. — Você está bem?

— Estou ótima. — A jovem kantoniana respondeu, aceitando a mão que o campeão estendeu para ajudá-la a levantar. Apesar de não parecer, Steven era forte e a puxou de pé com facilidade. — Só torci meu tornozelo. Nada de mais. Vai melhorar logo.

— Talvez em algumas semanas. — Foi a resposta, enquanto o campeão passava um braço por sua cintura para apoia-la.

— Isso não importa. — Calista rebateu. — Como você sabia que eu precisava de ajuda? E como descobriu onde eu estava?

— Dialga me alertou assim que nos despedimos em Lumiose. — O campeão de Hoenn respondeu. — Então fiz a única coisa sensata: segui você.

— Espere aí! Dialga avisou você?! Avisou tipo ... Falou com você?

— Creio que o termo certo seria telepatia. — Steven rebateu, abrindo um breve sorriso malicioso. — Mas, de qualquer forma, a resposta ainda seria sim.

— Eu não acredito! — A morena exclamou. — Você também foi escolhido. Por que não me contou assim que nos vimos?

É melhor deixar as explicações para depois. Uma voz profunda, que ressoava como o rugir de mil trovões distantes, declarou. Tornadus ainda pode voltar.

— Dialga tem razão. — Steven declarou. — É melhor voltarmos para Lumiose.

Calista apenas assentiu em resposta, soltando uma exclamação de surpresa ao ver o colossal pokemon tipo Dragão desaparecer diante de seus olhos.

— Não se preocupe. — O campeão de Hoenn disse, percebendo a expressão da jovem. — Dialga virá ao nosso encontro se achar necessário.

— Isso tudo é ... É ... — A morena se interrompeu, sem conseguir pensar em como completar a sentença.

— Eu sei. — Steven disse gentilmente enquanto tirava seu Skarmory da pokebola. — Venha, vamos voltar.

Mais uma vez Calista simplesmente assentiu, buscando a pokebola de Inari. Era quase um milagre que o dispositivo ainda estivesse em seu bolso depois de tudo o que acontecera, e a Ninetales logo estava em segurança dentro de sua pokebola.

Steven pôs Calista sobre Skarmory, montando logo atrás da morena de forma a poder segurá-la se ela caísse. Em pouco tempo estavam de volta à Lumiose, acomodados em poltronas confortáveis no lobby.

— Você está estranhamente calada. — O homem de cabelos prateados comentou. — Seu tornozelo está doendo?

— Não. — Foi a resposta, dada num tom distante. — Eu estou bem.

Steven assentiu para si mesmo, percebendo a causa da atitude unusual de sua jovem amiga. Mudando de posição para sentar-se mais perto dela e poder falar em voz baixa, o campeão explicou brevemente sobre como, durante uma exploração na região de Sinnoh, fora desafiado e em seguida reconhecido como parceiro por Dialga.

— Eu não pretendia contar a mais ninguém. — O homem de cabelos prateados confessou. — Até agora, apenas Cynth sabia sobre isso.

— É claro. Ela tinha que estar envolvida. Aposto que foi ela quem lhe disse onde encontrar Dialga. — Calista bufou ironicamente. — Aquela loira ... !

O que quer que a jovem fosse dizer sobre a campeã de Sinnoh, porém, foi interrompido por um borrão branco que atravessou a sala correndo e se jogou em seu colo, encarando-a com seus enormes olhos azuis.

— Inari! — A treinadora kantoniana exclamou, abrindo um largo sorriso de alívio enquanto lançava os braços ao redor de sua pokemon num abraço de urso. — Você está bem!

— Ela está ótima. — A voz da enfermeira Joy soou. — Eu ia lhe dar a notícia, mas sua pokemon já cuidou disso.

— Obrigada. — Calista disse fervorosamente. — Muito obrigada, Joy.

— Não foi nada. — A enfermeira pokemon sorriu enquanto girava nos calcanhares para voltar ao trabalho. — Fico feliz em ajudar.

A isso Calista não pôde responder, pois Inari requisitou sua atenção total, esfregando a bochecha contra a sua enquanto murmurava suavemente de prazer. Seu pelo prateado, embora frio, era extremamente macio ao toque.

— Retiro o que eu disse antes sobre vocês duas serem completamente opostas. — Steven declarou. — Inari tem muita coragem, e isso ela com certeza aprendeu com você.

— Obrigada. — A morena disse, soltando sua pokemon apenas para aninhar seu rosto entre as mãos. — E obrigada a você também, raposinha. Aprendeu aquele golpe Respiração Congelante para me proteger, não foi? Foi mesmo muita coragem.

A Ninetales de Alola assentiu orgulhosamente, sorrindo e lambendo a ponta do nariz de sua treinadora, o que fez a morena rir. O sorriso, porém, não durou muito.

Somente então, depois que tudo já acabara, o choque dos eventos ocorridos começava a se instaurar e crescer, gerando mais perguntas do que respostas.

— Malva talvez tenha razão. — A jovem disse, sua voz ligeiramente trêmula. — Eu não quis acreditar mas ... Talvez eu realmente seja o alvo.

— Ora, vamos, Caly. — Steven falou calmamente, embora a olhasse com preocupação. — Isso não é uma suposição um tanto exagerada?

— Também pensei isso na hora. — Calista admitiu. — Mas depois de hoje ... Não mais.

— Isso não importa. — Steven garantiu. — Eles não vão feri-la, Caly. Eu não vou deixar.

— Obrigada, Steven. — A jovem abriu um leve sorriso em resposta às palavras do campeão de Hoenn. — Mas não posso pedir isso a você nem a ninguém.

— O que você planeja, então?

— A última coisa que qualquer um esperaria: vou para casa.

— É perigoso. Será o primeiro lugar em que vão procurá-la.

— Eu sei. — A morena sorriu, um plano já começando a se formar. — Por isso mesmo vou cuidar para que não seja assim.


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