Pokémon - Unbroken Bonds escrita por Benihime


Capítulo 5
Aliança Inesperada




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Calista meramente assentiu para Lysandre, sem se incomodar em dar atenção às teorias do homem ruivo. Apesar de breve, o tempo de convivência já lhe ensinara a simplesmente fazer ouvidos moucos sempre que ele se deixava levar. Era melhor e mais fácil.

— Seu ceticismo é incrível, meu caro. — A jovem disse enfim, mantendo qualquer indício de reprovação longe de sua voz. — Acreditar tão firmemente que não há salvação possível para este mundo ... Não sei se devo condená-lo ou ter pena de você por tal opinião.

— Acredite, princesa, o caminho que preciso seguir jamais teria sido minha escolha. — Lysandre respondeu calmamente, mal parecendo se aperceber da crítica da jovem. — Não se houvesse outra forma.

— Talvez haja. — Calista rebateu. — E você simplesmente ainda não a tenha encontrado.

— Se for este o caso ... — O ruivo respondeu. — Posso garantir que não foi por falta de tentativas.

— Tentativas por conta própria. — A jovem kantoniana declarou gentilmente. — Aí é que está o problema, não acha? Uma pessoa sozinha não pode mudar o mundo.

— Exatamente o que sempre digo a ele. — Malva declarou, se pondo ao lado de Lysandre. — E também é por isso que Lysandre tem a mim.

— Sejamos honestas, Malva. — Calista rebateu acidamente. — O "plano brilhante" de vocês não passa de genocídio e todos nós sabemos disso.

A repórter ia responder, provavelmente começar uma discussão, mas Lysandre a impediu pousando uma das mãos em seu ombro.

— Acredite, minha cara, ninguém ficaria mais satisfeito do que eu se houvesse uma outra maneira. — Ele declarou fervorosamente, interrompendo a quase discussão das duas mulheres.

— Por algum motivo, monsieur De Lion ... — A jovem kantoniana disse, erguendo uma sobrancelha em um misto de descrença e malícia. — Sinto que não devo acreditar em você.

Por um instante o homem ruivo apenas a fitou, mudo de surpresa, embora seus olhos azuis também expressassem certo grau de admiração com a audácia da mulher morena. Não seria qualquer pessoa a atrever-se a lhe falar daquela forma.

Calista imediatamente se arrependeu de sua provocação impensada. Quisera meramente levá-lo a reconsiderar suas ideias extremistas, mas talvez o plano tivesse saído ao contrário e acabado por entregar a verdadeira identidade por trás de sua máscara.

— Bem, isso não importa agora. — Malva interferiu secamente, para alívio da jovem morena. — Nós três temos coisas mais importantes a fazer do que ficar parados aqui discutindo.

— Você tem razão como sempre, minha cara. — Lysandre assentiu. — Senhoritas, verei vocês mais tarde.

As duas mulheres se despediram do líder da Equipe Flare com meros acenos de cabeça, ambas já concentradas em suas respectivas atividades em seus computadores. Calista analisava dados geológicos, procurando pela possível localização de Zygarde, um dos pokemon lendários da região de Kalos. Quanto a Malva ... A jovem nem conseguia adivinhar, nem mesmo tinha certeza se queria saber.

Calista deixou sua atenção vagar dos dados na tela, sem conseguir acreditar no quanto aquilo tudo havia sido fácil. Desde que fora designada para trabalhar com a Equipe Flare no lugar de seu pai, a morena se vira recebida de braços abertos. Graças a uma combinação de franqueza calculada, beleza e charme, conseguira cair nas boas graças do próprio Lysandre, e em pouquíssimo tempo ficou óbvio que o ruivo, de certa forma, a admirava. Malva, como sempre, fora a única a ver além do disfarce. A única a desconfiar. Mas Calista a conhecia bem demais para não saber como dobrar aquela repórter cabeça dura, e logo nem mesmo ela era mais um problema.

As duas mulheres trabalharam juntas em silêncio, cada qual perdida em seu próprio mundinho interno. A jovem kantoniana, ao erguer os olhos por um momento, notou que a repórter havia pousado o queixo nas mãos e a encarava. Quando seus olhos se encontraram, Malva abriu um breve sorriso. Um gesto inofensivo, mas que prometia problemas.

— O que foi?

— Nada. — A mulher de cabelos cor de rosa respondeu, se pondo de pé com um movimento lânguido, gracioso como o de um felino. — É só que ... Você me faz lembrar de alguém.

— Pela forma como falou, suponho que seja um alguém bem especial.

— Quanto a isso não há dúvidas. — Malva declarou, com um leve sorriso se insinuando em seus lábios. — Ela é uma peça rara. Talvez tanto quanto você, Princesa Rocket.

 Algo na forma cheia de ironia como a repórter kalosiana pronunciara seu codinome fez o sangue de Calista gelar nas veias.

Ela sabe. A jovem pensou, alarmada. Nem imagino como, mas ela descobriu.

Não seja boba. Angel respondeu impacientemente. Ela não tem como saber.

Eu não a subestimaria, Angel. Malva pode ser mais inteligente do que você imagina.

A única resposta da Meloetta, empoleirada invisível no ombro direito da jovem kantoniana, foi bufar ironicamente. Mesmo sem poder vê-la, Calista pôde imaginar claramente a forma como sua parceira erguera o pequeno queixo arredondado, revirando os olhos verde-água com enfado.

A morena continuou a ler em silêncio por mais alguns minutos, até ser repentinamente surpreendida por uma xícara de café sendo pousada próxima à sua mão direita. A jovem ergueu os olhos e sorriu em agradecimento para Malva, que ela definitivamente não percebera haver deixado a sala.

— Expresso duplo. — A irmã de Ash disse baixinho ao tomar um gole. — Como você sabia?

— E como não saberia?

Calista foi distraída daquela resposta enigmática por uma pesada cabeçorra descansando em seu colo e uma língua quente e áspera tocando sua mão livre. Era Lyse, a Pyroar de Malva, que ergueu seus enormes olhos azuis para encará-la.

— Oi, garota. — A morena disse baixinho, sorrindo para a pokemon tipo Fogo. — O que foi? Sua treinadora está lhe ignorando de novo?

Com o que só poderia ser descrito como um miado lamurioso, Lyse assentiu, apoiou as enormes patas dianteiras no colo de Calista e esticou-se para esfregar o rosto contra o dela, ronronando alto enquanto a jovem acariciava sua longa juba, que lembrava um rabo-de-cavalo.

Ao olhar por cima do ombro da leoa pokemon, Calista percebeu que cometera um erro gigantesco, pois Malva agora a encarava abertamente. Em seus lábios, o sorriso de um Pyroar que aprisionara um Fletchling indefeso entre suas garras.

— Eu ... — A irmã de Ash fez o possível para esconder o tremor de puro nervosismo em sua voz enquanto se desvencilhava gentilmente da felina pokemon e se punha de pé.  — Eu volto num momento.

— Não tão rápido. — Foi a resposta, num tom quase risonho. Se não a conhecesse, Calista quase diria que a repórter kalosiana continha uma gargalhada. — Acha mesmo que eu vou deixar você fugir de mim desse jeito?

Magra e curvilínea, Malva era muito mais forte do que sua aparência elegante levava a crer. Somente no momento em que ela agarrou Calista pelo pulso direito, forçando a jovem a se virar e prendendo-a contra uma parede com o próprio corpo em um único gesto fluído cheio de graça, foi que a treinadora kantoniana se deu conta desse fato.

É claro, a Rainha de Kalos não era nenhuma donzela indefesa, apesar de sua aparência. Poderia facilmente revidar se quisesse, mas não viu sentido em fazê-lo. Seria um confronto desnecessário.

Não, Angel. A morena ordenou ao ver, pelo canto do olho, sua parceira já pronta para interferir no confronto silencioso com uma Bola das Sombras. Deixe comigo. Eu me entendo com a Malva. 

Mas é perigoso. Deixe que eu lide com isso.

Não, não é. Malva não vai me ferir. Posso garantir. Confio nela quanto a isso.

A Meloetta aquiesceu, embora de má vontade, enquanto Calista se recostava casualmente contra a parede atrás de si, erguendo o rosto para olhar Malva diretamente nos olhos.

— Boa menina. — A repórter elogiou calorosamente. — Por um segundo realmente pensei que você fosse tentar lutar.

— Eu teria todo o direito de fazê-lo. — A morena rebateu friamente, seu tom oferecendo um contraste agudo contra o brilho malicioso em seus olhos.

— Você não teria a mínima chance, e nós duas sabemos disso. — A repórter declarou casualmente. — Não esqueça quem a ensinou a lutar.

Por um segundo aquelas palavras e o tom de familiaridade da mulher kalosiana deixaram Calista boquiaberta de surpresa. A jovem rapidamente disfarçou o fato, tentando igualar a expressão irônica da mulher à sua frente.

— Você está completamente enganada. — A morena declarou. — E aqui estava eu, acreditando em Lysandre quando ele disse que você era uma das mulheres mais inteligentes que ele já conheceu. Ledo engano.

— Desista. — A repórter ordenou zombeteiramente, deixando escapar uma breve risada. — Você aprendeu um ou dois truques, garota, tenho que admitir. Mas não é uma atriz assim tão boa para me enganar.

— Eu não sei do que você está falando.

— Ora, vamos. — A repórter kalosiana protestou impacientemente. — Já vi Diantha usar todos esses truques na tela, então nem adianta tentar me fazer de boba. Mas tenho que lhe dar o devido crédito: você quase me enganou, e isso não é um feito dos mais fáceis. Meus parabéns, menina fada.

Menina Fada. O som daquele apelido jocoso dito tão afetuosamente fez o coração de Calista quase parar de bater, tamanha sua surpresa. Malva jamais o teria usado a menos que tivesse certeza absoluta, Calista a conhecia bem o bastante para saber disso.

— Malva, eu ...

— Na-ah. — A repórter sorriu, pondo um dedo sobre os lábios de Calista para calá-la. — Nem adianta tentar negar, doçura. Eu já sei de tudo.

Pegando Calista desprevenida, Malva segurou seu rosto entre as mãos, seus dedos rapidamente soltando os cordões que mantinham no lugar a máscara em forma das asas de Butterfree em um único gesto habilidoso. 

A morena ergueu as mãos numa fraca tentativa de impedi-la, seus dedos mal se fechando ao redor dos pulsos da mulher kalosiana. Em resposta Malva simplesmente mudou sua pegada de forma a prender os braços de Calista, imobilizando-a.

— Quietinha agora, Menina Fada.

A frase, embora uma ordem, foi dita suavemente. Calista sentiu os dedos longos e afilados da repórter deslizarem para sua nuca, entrelaçando-se entre seus cachos. Num momento ela havia soltado seu cabelo do coque bagunçado em que a morena o prendera, deixando que a pesada massa de cachos caísse em cascata pelos ombros da jovem kantoniana e em seguida correndo os dedos entre eles, segurando seu queixo entre o polegar e o indicador da mão direita quando Calista tentou virar o rosto.

— Então ...  — A repórter declarou, seu tom de voz uma zombaria brincalhona.  — As máscaras foram retiradas. Literalmente.

— Sua ... ! — Calista mal conseguiu pensar em um xingamento ruim o bastante. — Você vai me entregar a Lysandre, não vai? Vai contar a ele quem realmente sou.

— Ora essa, menina fada ... — A repórter kalosiana rebateu, traçando o contorno dos lábios de Calista com a ponta do dedo indicador enquanto falava. Apesar de suas melhores intenções e todo o seu auto controle, Calista não conseguiu evitar um arrepio de prazer. — Pensei que você fosse mais inteligente do que isso. Se eu realmente quisesse acabar com o seu disfarce, já o teria feito a essa altura.

Calista agiu com destreza, usando seus pés como ponto de apoio de modo a empurrar Malva. Uma vez que conseguiu impor alguma distância entre elas, a jovem encarou a mulher à sua frente de braços cruzados.

— Se ainda não percebeu, Malva ... — Ela disse acidamente. — Foi exatamente o que você acabou de fazer.

— Precisamente, Calista. — Foi a resposta. — Agora, com ninguém mais aqui além de nós duas. E, só para você saber, cada câmera nesta sala está gravando em um loop. Eu mesma me assegurei disso. Estamos completamente a sós por enquanto.

— Mas ... Por que? Por que manter meu segredo? O que você ganha com isso?

— Não temos tempo para essa conversa agora. — Malva declarou impacientemente. — Simplesmente cale a boca e me escute. Isso é importante.

A morena assentiu em concordância, acreditando plenamente nas palavras da repórter kalosiana. Conhecia bem demais aquele tom de voz, assim como o olhar de aço que fazia aqueles olhos dourados parecerem um par de pedras preciosas.

— Certo. — A morena cedeu enquanto as duas mulheres mais uma vez sentavam-se frente a frente. — Estou ouvindo.

— Eu sei que você é uma espiã. — Malva anunciou imediatamente, sem qualquer preâmbulo. — Se para seu pai ou para seus próprios fins, isso não me importa. O que quero saber é: o quanto você descobriu?

— O bastante. — A Rainha de Kalos respondeu evasivamente.

— Não tente fazer joguinhos comigo, Calista. — A repórter kalosiana quase rosnou, encarando-a imperiosamente. — Quero uma resposta melhor do que essa.

— Está bem. — Calista cedeu, sabendo que seria impossível mentir. Malva já provara que a conhecia bem demais para se deixar enganar. — Descobri o bastante para denunciar a Equipe Flare e garantir o fim de tudo isso.

— Perfeito. — Malva assentiu, abrindo um sorriso satisfeito. — Faça isso. Mas quero sua garantia de que vai funcionar. Não deixe pedra sobre pedra.

Essa declaração lhe ganhou mais um olhar desconfiado daqueles olhos cor de esmeralda, o que a repórter percebeu com satisfação. A tendência de Calista a confiar facilmente nas pessoas sempre a desconcertara.

— Por que está se voltando contra eles? — A jovem morena inquiriu rispidamente. — Ou, mais especificamente: por que está se voltando contra Lysandre? Pensei que fosse seu braço direito, totalmente leal a ele.

— Eu nunca fui leal a ele. — Malva revelou. — Meu plano sempre foi derrubá-lo assim que ele revelasse a Arma Suprema. Uma vez que Lysandre purificasse o mundo, eu o tomaria dele.

— Para assumir o posto e governar?

— Para mostrar a todos que o futuro é moldado por nossas escolhas. — Foi a resposta. — Uma tragédia como essa deixaria uma marca, mudaria para sempre a forma de pensar de toda a humanidade.

— Ou talvez você simplesmente concorde com os ideais distorcidos dele. — Calista rebateu. — Como você mesma me disse milhares de vezes.

Houve mais do que raiva na expressão de Malva ao ouvir aquela acusação. Frustração, com certeza, e algo que Calista não esperava: mágoa.

— Posso ser muitas coisas, Calista, mas jamais uma assassina. — A repórter kalosiana disse suavemente. — Eu não sabia que você pensava tão mal de mim.

— Não, Malva. Eu sei que você não é uma pessoa ruim. — A jovem morena declarou, agora mais suavemente. — Só estou confusa. Por que me contar isso agora? Por que simplesmente não ir em frente com o seu plano?

— Porque você tinha razão o tempo todo. — A mulher de cabelos cor de rosa admitiu, embora tal constatação lhe doesse. — Lysandre não é confiável, nem mesmo por um momento. Ele precisa ser detido, e você é a única em quem confio para isso. A única que tenho certeza de ser forte o bastante para lutar ao meu lado contra ele.

— Como posso ter certeza de que isso não é uma armadilha para me expor? Você jamais trairia Lysandre tão facilmente, disso eu tenho certeza. Mesmo que não seja leal a ele, está apaixonada. Eu vi em seus olhos, Malva, na primeira vez que os vi juntos. Não adianta tentar negar.

— E quem lhe disse que isso é fácil? — A repórter desafiou. — Mas todos tem uma linha que não estão dispostos a cruzar. Esta é a minha. Quanto a estar apaixonada por ele ... Talvez você tenha razão, mas isso já foi superado há muito, muito tempo. E então, menina fada, temos um trato ou não?

— Primeiro quero que me diga toda a verdade. — Foi a resposta. — Você quer deter Lysandre, mas isso não é tudo. O que mais você não me disse?

— Talvez ... Talvez eu simplesmente esteja cansada de ser a "bruxa má".— Havia tristeza na voz da mulher kalosiana, combinando com sua expressão sombria. — Mais alguma pergunta?

— Só mais uma: me diga como você sabia que eu era a pessoa por trás dessa máscara. Como adivinhou?

— "Uma pessoa sozinha não pode mudar o mundo". — Malva citou suavemente, quase com carinho. — Achou mesmo que eu não reconheceria essas palavras? As suas palavras, Calista. Eu soube no momento em que a ouvi.

— Qualquer um poderia dizer isso. — A jovem kantoniana rebateu, embora tenha corado de prazer com o fato de Malva lembrar tão claramente daquelas palavras, ditas na primeira vez em que conversaram de verdade, como aliadas.

— Tem razão. — Malva concordou — Essas palavras me abriram os olhos, mas eu sabia desde o início. Não me pergunte como. Além do mais, ficou óbvio depois da forma como Lyse reagiu a você. Só existe uma outra pessoa de quem minha garota gosta tanto assim.

— Um truquezinho sujo e desprezível da sua parte, a propósito. Golpe baixo. Absolutamente condenável.

— Funcionou, não é? — Malva rebateu, seus lábios se erguendo em um sorriso malicioso. — Além do mais, eu sei que você gostou. Admita, Caly. Consegui impressioná-la pelo menos uma vez.

— Bem, acho que não posso argumentar contra isso.

Calista cedeu a uma risada, aceitando a máscara em forma das asas de Butterfree que Malva lhe estendeu e recolocando-a com habilidade.

— Vocês são impossíveis. — A morena declarou jocosamente. — Mas acho que não tenho opção, não é? Está bem, Malva, seja como queira. Temos um trato.

Tem certeza de que isso é uma boa ideia, Caly? Angel inquiriu. Você não pode garantir que ela não vá esfaqueá-la pelas costas. Isso me parece um acordo com o demônio.

E talvez seja. A morena respondeu, seus lábios se curvando em um sorriso de maliciosa expectativa. Mas não importa. Agora estou curiosa demais para voltar atrás. Quero saber onde isso vai dar. Além do mais, Malva é orgulhosa demais para esfaquear pelas costas. Se ela quiser agir contra mim, estarei pronta.

Naquela mesma noite, Calista suspirou consigo mesma ao calçar as delicadas sandálias prateadas de salto alto. Não conseguia acreditar que justamente naquele ano seu aniversário seria comemorado com um baile de máscaras.

— Máscaras. — A jovem morena murmurou consigo mesma, desgostosa. — Sempre máscaras. Será que isso nunca termina?

— Huh? — Serena, que estava empoleirada na beira da cama de Calista, conversando com Dawn, inquiriu. — O que você disse, Caly?

— Nada. — A irmã de Ash forçou um sorriso para suas duas jovens amigas. — Eu só estava pensando alto.

— Coisas ruins, pela cara que você está fazendo. — Dawn declarou.

— Não exatamente. — A jovem kantoniana respondeu, ocupada em colocar seus brincos, um par estilo candelabro adornado com brilhantes. — Só estava pensando em como um baile de máscaras parece inapropriado. E em como Cynthia saberia tirar o máximo proveito disso.

— Ela provavelmente inventaria uma forma de tornar isso divertido. — A jovem treinadora de Sinnoh concordou. — Uma pena que Cynthia não pôde vir.

— Tudo bem, eu entendo. Ela está ocupada. — Calista deu de ombros. — Não é como se eu esperasse que a Cynth andasse o tempo todo ao meu redor. Não sou tão egoísta.

— Vocês duas percorreram um longo caminho. — Dawn comentou zombeteiramente. — Anos atrás você não a suportava, e agora até a chama de "Cynth". Quem diria, huh?

— Eu estava pensando a mesma coisa. — A irmã de Ash concordou com uma risadinha. — O tempo muda mesmo as coisas. E as pessoas.

— Será que as pessoas realmente mudam? — A jovem Coordenadora Pokemon rebateu. — Ou só se revelam com o tempo?

— Cuidado, Dawn, está começando a falar igualzinho àquela loira irritante.

— Vocês duas estão me dando dor de cabeça. — Serena declarou jocosamente, se pondo de pé, girando Calista pelos ombros de modo a que a jovem sentasse na cadeira estofada de veludo em frente ao espelho e começando a arrumar seus densos cachos negros em um coque. — Pare de analisar tanto as coisas, Caly, pelo menos por hoje. Simplesmente tente se divertir.

— Mas preciso concordar com a Caly. — Dawn comentou, ficando séria de repente. — Um baile de máscaras parece bem inapropriado.

— Ah, por favor! — A jovem performer kalosiana protestou. — É mais do que apropriado, é perfeito. Além do mais, vai ser divertido.

Calista se desligou do debate das duas meninas antes de ouvir a resposta de Dawn, soltando um longo suspiro de desapontamento.

Elas não entendem. A jovem kantoniana se pegou pensando. Diantha entenderia. Cynth também. Caramba, como eu queria que as duas estivessem aqui agora!

Se sua amiga Cynthia estivesse aqui ... Angel declarou gentilmente. Ela provavelmente lhe diria que se torturar pensando nisso não adianta nada, e que você precisa aproveitar. Afinal, é o seu dia.

É, ela provavelmente diria isso mesmo. Calista concordou com um breve sorriso. E Diantha provavelmente tentaria me fazer rir para esquecer tudo isso.

Pensar em Diantha como sempre fez Calista mais uma vez soltar um suspiro. Desde que descobrira a verdade sobre a atriz kalosiana, sua amizade não era mais a mesma. Mal tinha certeza se ainda havia uma amizade, para ser honesta.

Angel ... A morena chamou hesitantemente após alguns segundos, enquanto as mãos de Serena ainda estavam ocupadas em seu cabelo. Se eu lhe fizer uma pergunta, você promete que me dirá a verdade, sem tentar poupar meus sentimentos?

Prometo. A Meloetta respondeu solenemente. Pode me perguntar qualquer coisa.

Você acha que Diantha disse a verdade? Quer dizer ... Como vou saber que posso confiar nela quando se trata de Lysandre? As pessoas não são confiáveis quando se trata de quem amam.

Não há como ter certeza. Foi a resposta. Você simplesmente precisa seguir sua intuição. O que ela lhe diz?

Eu ... Não sei. A morena admitiu. Depois de tudo, é óbvio que não quero acreditar que ela tenha me ... Nos traído. Não posso fazer um julgamento confiável.

Nesse caso, Caly, apenas tenha paciência. A Pokemon Melodia aconselhou. Diantha prometeu que iria provar ser digna da sua confiança. Espere e dê-lhe esta chance.

— Pronto! — Serena exclamou com um largo sorriso, interrompendo o diálogo telepático das duas parceiras. — Terminei. Você está linda, Caly.

— Mais do que linda. — Dawn concordou entusiasticamente. — Está magnífica!

Calista sorriu ante os elogios das duas, que obviamente tentavam anima-la, se pôs de pé e encarou seu próprio reflexo.

O vestido azul-royal era belíssimo. O corpete era de veludo, abraçando as curvas de sua cintura e valorizando-lhe o colo com seu decote arredondado. A saia, de um tecido leve e diáfano, terminava logo acima de seus joelhos, deixando-lhe as pernas bem torneadas à mostra. A jovem kantoniana mal usava maquiagem, apenas um pouco de sombra branca para realçar seus olhos verdes e um batom vermelho que fazia seus lábios parecerem ainda mais cheios. Seus longos cabelos negros estavam presos em um coque despretensioso, com alguns cachos deixados soltos para emoldurar-lhe o rosto, contrastando com sua pele claríssima.

— Ainda falta alguma coisa, não acha? — Serena inquiriu sugestivamente.

— Não. — Calista respondeu de imediato. — Nem pensar.

— Vamos, Calista. — A menina loira insistiu. — Qualquer pessoa mataria para estar no seu lugar esta noite. Um baile de máscaras organizado em sua homenagem no Parfum Palace? Até eu estou com inveja!

— Eu trocaria de lugar com você se pudesse.

— Caly! — Serena exclamou, frustrada. — Já chega! Fiquei quieta até agora, mas isso passou dos limites. Foi você quem quis competir. Se tornar Rainha de Kalos era o seu sonho. E agora você simplesmente não se importa mais?! Resolveu desistir?

— Deixe-a em paz, Serena. — Dawn interferiu. — Não é você quem decide por ela.

Mais uma vez Calista pôde praticamente ouvir Cynthia nas palavras e no tom obstinado de sua jovem pupila. Uma onda de saudade a invadiu.

— Obrigada, Dawn. — A morena disse, abrindo um débil sorriso. — Mas Serena tem razão. Querendo ou não, ainda sou a Rainha de Kalos. E não posso fraquejar hoje à noite, por mais que as coisas estejam malucas ultimamente.

A única resposta da Coordenadora Pokemon foi abrir um sorriso de aprovação, obviamente satisfeita com aquela decisão. Pela expressão nos olhos azuis da menina, era exatamente o que ela esperava ouvir.

A jovem kantoniana estendeu uma das mãos para a caixa negra com forro de veludo que descansava em cima da penteadeira e momentos depois a coroa prateada de Rainha de Kalos brilhava aninhada entre os cachos negros da irmã de Ash.

— Conheci uma princesa uma vez. — Dawn lhe disse, observando o reflexo de Calista pensativamente por um breve momento antes de lhe dirigir um sorriso. — Princesa Sálvia. Você me faz lembrar dela, sabia? Devia usar essa coroa com orgulho.

Antes que Calista pudesse responder, as três ouviram o ronronar suave de um motor. Olhando pela janela, Serena anunciou a chegada da limusine que as levaria até Parfum Palace. Cerca de meia hora depois as três desciam na frente do luxuoso palácio kalosiano, magnificamente conservado desde os tempos remotos.

Calista, é claro, já visitara o local em uma pequena excursão privada em um dia de inverno, alguns anos antes. A lembrança de passear por aqueles jardins sob o céu nublado na companhia de Diantha mais uma vez a fez sentir um aperto no peito.

Mal as três jovens entraram no grandioso salão de baile, um homem ruivo veio ao seu encontro.

— Calista. — Lysandre disse calorosamente, curvando-se em uma cavalheiresca reverência e, como naquele dia distante em seu escritório, beijando delicadamente as costas da mão da jovem morena. — Adorável como sempre, minha cara. E feliz aniversário.

— Obrigada. — Calista sorriu, retribuindo o gesto com uma graciosa reverência. — Já conhece minhas amigas? Estas são Serena e Dawn.

— É um prazer conhecê-las, senhoritas. — O ruivo declarou com mais uma reverência para as duas meninas.

— O ... O prazer é todo meu. — Serena gaguejou em resposta, corando violentamente.

— É um prazer, Monsieur. — Dawn respondeu, retribuindo o gesto cavalheiresco do ruivo com a sua própria reverência.

Lysandre sorriu para as duas, antes de voltar seus olhos azuis para Calista mais uma vez e pedir que lhe concedesse uma dança.

A Rainha de Kalos hesitou por um longo instante, mas enfim aceitou a mão estendida do magnata kalosiano, lançando um olhar apologético para suas duas jovens amigas. Antes, porém, que o ruivo pudesse conduzi-la à pista de dança, foram interrompidos por uma mulher.

O queixo da irmã de Ash caiu de puro espanto assim que a viu. Malva estava absolutamente magnífica. Seu vestido era negro, porém o tecido tinha fios prateados que o faziam parecer um céu noturno coalhado de uma miríade de estrelas. O modelo justíssimo ressaltava cada curva daquele corpo voluptuoso sem, porém, ser vulgar, e seus cabelos cor de rosa caíam em uma cascata ondulada por suas costas nuas. Ela parecia a própria personificação da sensualidade.

— Ora, ora, Monsieur De Lion. — A repórter kalosiana disse jocosamente. — O pretendente de nossa ex campeã dançando com a Rainha de Kalos? Que escândalo! Que sorte eu estar aqui para ver isso.

— Não há escândalo quando há justificativa, minha cara Malva.

— Assim você pensa. — Malva rebateu com um sorriso ferino. — Mas eu não contaria com isso. O que Diantha iria pensar?

Lysandre deixou escapar uma breve risada, obviamente divertido com aquela provocação.

— Talvez você queira ter a honra. — O ruivo rebateu. — Isto é, se nossa rainha aceitar.

Malva meramente estendeu uma das mãos para Calista, que aceitou o gesto com alívio. Momentos depois as duas mulheres se dirigiam à pista de dança.

— Obrigada. — A morena sussurrou para a mulher ao seu lado.

— Parece que estou sempre salvando você. — A repórter rebateu jocosamente. — Não se acostume com isso, menina fada.

Uma valsa permeava o ar, sua melodia tão doce quanto melancólica. Malva enlaçou Calista pela cintura. Sua mão livre, que não descansava no quadril da jovem, entrelaçou os dedos aos dela. Aquela posição, muito mais íntima do que o necessário e praticamente um abraço, fez a morena imediatamente ficar tensa.

— Malva ... — Ela repreendeu quase num suspiro. — Não acredito que você repreendeu Lysandre por causar um escândalo apenas para fazer algo ainda pior.

— O que posso dizer? — Malva respondeu com um sorriso malicioso, uma de suas mãos traçando círculos na base das costas de Calista, o que fez a morena estremecer com uma onda de prazer. — Simplesmente não pude resistir.

A única resposta a esse comentário foi um sorriso. Depois disso, Calista perdeu a noção do tempo enquanto dançavam.

A certa altura, um giro as deixou subitamente muito próximas, seus corpos quase colados. Aproveitando a oportunidade, a jovem kantoniana fechou ainda mais o espaço remanescente entre elas até que seus lábios estivessem a centímetros de distância, tendo a satisfação de ver os olhos cor de âmbar de Malva se arregalarem de surpresa com seu gesto inesperado.

— Ora, ora. — A repórter ronronou, embora a mão que descansava na cintura de Calista a tenha empurrado suavemente, mantendo-a longe. — Você aprende rápido. Está se tornando uma jogadora e tanto, menina fada.

— Você ainda não viu nada.

— Eu não iria assim tão longe, doçura. — Foi a resposta, embora os dedos afilados da repórter tenham roçado as costas nuas da morena em uma discreta carícia. — A não ser que você realmente queira causar um escândalo.

— Talvez seja essa a minha intenção. — A jovem ronronou em resposta.

— Não esta noite. — A repórter rebateu. — Já chamamos atenção demais.

Olhando discretamente em volta, Calista viu que a mulher de cabelos cor de rosa tinha razão. Algumas pessoas já as estavam encarando. E, para sua própria surpresa, Calista não ligava a mínima.

— Talvez eu goste disso. — A morena disse, abrindo um lento sorriso para a mulher à sua frente.

— Tanto quanto eu. — Foi a resposta. — O coração quer o que bem entende, não é?

— Ah, por favor, Malva. — Calista respondeu, rindo baixo. — Você não tem coração.

— É isso que quero que todos pensem. — A repórter kalosiana rebateu maliciosamente. — É tudo atuação.

— E qual é a verdade, então?

— Isso, amor ... — Malva respondeu, a estima soando muito natural em seus lábios. Tão natural que fez Calista corar como nada mais até então havia conseguido. — Você vai ter que descobrir por si mesma.

A mulher kantoniana se desvencilhou apressadamente dos braços de sua parceira de dança, que a observou sumir entre os convidados com um sorriso. Sabia que havia vencido daquela vez.

Calista se misturou aos convidados, tentando ao máximo aproveitar a noite e principalmente a companhia de Dawn, que viera de Sinnoh especialmente para participar da festa em sua homenagem. Após cerca de uma hora, porém, viu-se escapando discretamente para uma sacada em busca de alguns momentos a sós. A morena recostou-se contra a balaustrada, jogando a cabeça para trás para admirar o céu estrelado enquanto respirava profundamente a agradável brisa noturna.

— Eu sabia que a encontraria aqui. — Uma voz familiar declarou. — Tantos anos e você ainda não mudou nada, meu bem.

Virando-se com um pulo de surpresa, a jovem kantoniana deparou-se com uma mulher em um vestido azul tão claro que quase chegava a ser branco. Seus cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo lateral caído casualmente sobre seu ombro esquerdo e uma delicada máscara que parecia feita de renda prateada ocultava-lhe o rosto. Os olhos azuis, porém, a delatavam. Calista reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar.

— Diantha. — A jovem cumprimentou friamente. — O que faz aqui? Pensei que não fosse comparecer.

— Era o que eu queria que todos pensassem. — A atriz respondeu. — Assim eu teria uma chance de falar com você a sós.

— Creio que já dissemos tudo o que precisávamos dizer.

— Creio que não. — A atriz rebateu. — Eu, pelo menos, ainda não.

Aquela declaração pegou Calista completamente de surpresa. Sua teimosia, porém, levou a melhor como sempre.

— Não há mais nada que valha a pena ser dito.

Uma comoção nos jardins abaixo impediu Diantha de responder. Trocando um breve olhar, as duas mulheres correram na direção da balbúrdia o mais rápido que puderam. Ao chegar ao local, depararam-se com algo inesperado: gelo. Uma fina camada de gelo cobria os jardins.

— Mas o que ...

— É melhor ficar longe, menina fada. — Uma voz atrás de si ordenou. — Até descobrirmos o que diabos está acontecendo.

Antes que qualquer uma das pessoas que havia saído para os jardins para presenciar aquele curioso fenômeno pudesse sequer piscar, um pokemon pousou próximo a uma das fontes douradas que decoravam o local.

A fera era colossal, bípede e com constituição draconiana, possuindo enormes presas que pareciam feitas de gelo puro. O que aparentavam ser gigantescas asas de gelo saíam de suas costas, e seus olhos amarelos sem pupilas fitavam a todos com malevolência, enquanto um ar glacial emanava da estranha aparição.

Rosnando baixinho do fundo da garganta, o estranho pokemon deu um passo na direção de Calista, que recuou quase por reflexo. A fera rosnou mais alto e mostrou as presas afiadíssimas, fazendo a morena congelar onde estava, incapaz de mover um músculo.

— Fique longe dela!

A voz feminina foi quase um rugido, e um Houndoom saltou na frente de Calista, rosnando para o adversário enquanto chamas brilhavam entre suas presas expostas. Um Pyroar macho logo se juntou ao cão pokemon, soltando seu próprio rugido de combate.

— Voltem todos para dentro. — Uma voz masculina ordenou. — Nós cuidaremos disso.

Lysandre e Malva avançaram juntos em sincronia. Calista tencionava juntar-se a eles, mas uma mão delicada a segurou pelo pulso.

— Não. — Diantha praticamente sussurrou para a morena. — É perigoso demais.

— Fique fora disso. — A morena rosnou, soltando-se com um puxão. — Sua bonequinha de porcelana covarde.

Calista não parou para ver o efeito de suas palavras, voltando-se novamente para a  batalha que se desenrolava. Pyroar e Houndoom investiram contra o pokemon misterioso, que não lhes deu a mínima atenção, agindo como se fossem meros Ninjask voando ao redor de um Groudon.

Uma Explosão Focalizada foi disparada paralela ao chão, na direção de Calista. Diantha, porém, agiu rápido, lançando no ar a pokebola que continha seu Tyrantrum e ordenando ao Pokemon Déspota que usasse Garra do Dragão. As garras poderosas do pokemon fóssil dissiparam a Explosão Focalizada em uma relativamente inofensiva, porém ainda poderosa, rajada de ar.

— Você não vai ajudar em nada ficando aqui. — A atriz kalosiana disse. — Mas pode me ajudar a controlar a situação lá dentro. Precisamos impedir que as pessoas entrem em pânico.

Calista não pôde protestar contra uma declaração tão certeira. A morena meramente assentiu e seguiu a atriz de volta para dentro do palácio, onde os convidados se reuniam no salão de baile, observando a luta que se desenrolava no jardim através das enormes janelas.

Juntas, Calista e Diantha conseguiram acalmar as pessoas petrificadas de pavor, guiando-as para a escadaria principal na frente do palácio, o mais longe possível do combate. Enfim, após o que pareceram horas, mas na verdade não passaram de curtíssimos quinze minutos, ouviram o rugido dolorido de um pokemon. Numa massa de ar glacial, a fera de gelo se ergueu acima do castelo e desapareceu entre as nuvens do céu noturno.

Seria impossível haver festa depois disso. Enquanto as pessoas deixavam o Parfum Palace, Calista e Diantha foram encontrar Lysandre e Malva nos jardins. Viram a mulher de cabelos cor de rosa sentada na beirada de uma das fontes douradas, parecendo pálida e exausta.

— Malva! — Calista gritou, correndo para se pôr ao lado de sua amiga. — Malva, você está bem?

— É claro que sim. — A repórter respondeu. — Uma daquelas Lança de Gelo me pegou desprevenida, só isso.

Só então Calista notou que uma das enormes mãos de Lysandre apertava com força o braço da mulher kalosiana, numa tentativa de estancar o sangramento de um fino, porém profundo, corte.

— Não se preocupe. — O ruivo disse gentilmente. — Não é tão sério quanto parece.

— Os diabos que não é! — Calista exclamou. — Esse corte precisa de pontos. Tenho que levá-la ao hospital agora!

— Lysandre tem razão, Caly. — A repórter de cabelos cor de rosa interrompeu. — Não se preocupe, eu estou bem. Ou vou ficar. Amanhã.

Aquela declaração, juntamente com o olhar de advertência da mulher kalosiana, fez Calista desistir de argumentar.

— É bom mesmo. — A jovem kantoniana disse simplesmente.

Mesmo obviamente com dor e zonza pela perda de sangue, Malva abriu um de seus infames sorrisos irônicos.

— Eu não sabia que se preocupava comigo tanto assim, menina fada.

— Não comece, bruxa. — Calista rebateu. — Cuide bem dela, Lysandre.

— Tem a minha palavra, cara Calista.

Após dizer isso o ruivo amparou a repórter pela cintura e os dois lentamente sumiram de vista dentro do palácio.

— Ela vai ficar bem. — Diantha declarou gentilmente. — Malva é mais forte do que parece.

Calista não respondeu de imediato, apenas ficou parada ali, tremendo no agora tépido ar noturno. Só depois de passado o surto de adrenalina foi que a Rainha de Kalos percebeu o quanto estava abalada.

— Calista ... ?

— Eu estou bem. — Percebendo a hostilidade em seu tom de voz, a morena respirou fundo para recompor-se. — É sério, Diantha. Obrigada por se preocupar, mas eu estou bem.

— Nós duas sabemos que isso não é verdade, meu bem. — A atriz rebateu. — Mas entendo por que não quer falar sobre o assunto, especialmente comigo.

— Não tem a ver com você.

Os lábios pintados de escarlate da ex campeã de Kalos se curvaram em um sorriso melancólico. A expressão de tristeza em seus olhos azuis era indisfarçável.

— Você não consegue mentir para mim, Calista. — Ela declarou simplesmente. — O que me lembra ... Com toda essa confusão, ainda não lhe dei seu presente.

— Você não precisava ...

— Eu sei. Mas eu quis. — Diantha declarou com aquele sorriso caloroso que Calista havia aprendido a amar. — Ou melhor, eu quero.

A mulher kalosiana lhe estendeu uma pequena caixa de veludo cor de lavanda. Dentro, aninhado no fundo de cetim branco-pérola, jazia um broche de diamante. A joia tinha a forma de um lírio, com uma ônix negra engastada no centro, onde seria o miolo da flor.

— É ... É lindo. —  Calista gaguejou, surpresa pela beleza e delicadeza do presente. — Eu nem sei o que dizer.

— Apenas me responda uma coisa. — A atriz disse gentilmente. — O que um diamante e uma amizade tem em comum?

Aquela pergunta inesperada era típica de Diantha e Calista imediatamente sentiu que se tratava do prelúdio de algo a mais, o que fez sua expressão ensombrecer. A atitude defensiva era quase um reflexo àquela altura.

— Ambos podem ser alterados. — A morena respondeu amargamente.

— Mas, mesmo alterados. — Diantha completou-lhe a frase com naturalidade, como já havia se tornado hábito entre as duas. — Nenhum dos dois jamais perde seu brilho, não importa a forma que assumam. Pense nisso, Calista. Talvez responda à pergunta que você me fez da última vez que nos vimos.

Calista piscou rapidamente para conter uma onda de lágrimas, emocionada com o significado por trás das palavras de sua amiga.

— Diantha, eu ...

— Não precisa responder agora. — A mulher kalosiana a interrompeu gentilmente. — Apenas pense no que eu disse.

— Eu sinto muito, Din. — Calista disse baixinho. — De verdade.

— Din, é? — A atriz provocou. — Minha nossa, não ouço esse apelido há anos! Onde foi que você o descobriu?

— Lysandre. — A morena respondeu, esboçando um minúsculo sorriso. — Ele sempre a chama assim. Acho que acabei me acostumando. Desculpe.

— Já chega de desculpas, não acha?

Calista assentiu e praticamente se jogou nos braços abertos de Diantha. A atriz abraçou-a com força, correndo os dedos por seus cachos negros num gesto maternal.

— Não fique assim, Caly. — A mulher kalosiana disse carinhosamente. — Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

A morena ergueu o rosto para encarar sua amiga, erguendo uma sobrancelha em sinal de descrença.

— Você sabe que não pode me prometer isso.

— Eu não prometeria se não pudesse encontrar uma forma de cumprir, meu bem.

Calista apenas sorriu ante essa declaração, deixando-se ser envolvida pelos braços e pelo perfume de rosas de Diantha.


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