Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 16
Previsão de mau tempo




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Tsukuyo olhou para o céu nublado do novo dia que se iniciava e prometia ser chuvoso. Chuvoso e repleto de tensão, para ser mais precisa. Naquele momento encerrava a sua ronda noturna de costume, na qual ela e as integrantes da Hyakka não detectaram nada fora do normal em Yoshiwara.

“Amanhã a previsão é de mau tempo”, Gintoki lhe dissera noite passada, por telefone. Não se tratava de um mero boletim meteorológico apresentado por Ketsuno Ana, a eterna garota do tempo do noticiário da qual ele continuava muito fã. Na verdade, aquela frase aparentemente casual escondia um código que eles haviam definido entre si. Quando dizia “mau tempo”, era o aviso de que o Distrito Kabuki tinha ou havia tido problemas.

Chamava-lhe a atenção ele ter dito “amanhã”. Tinha quase certeza de que haviam descoberto algo e estariam se antecipando a um eventual ataque. Ele não dera a entender como soubera, mas deduzia pelo tom entre preocupado e confiante. Aquele tom confiante a deixava um pouco mais tranquila.

Desde que Ginmaru havia sido ferido dias atrás, ela estava preocupada com pai e filho, mas principalmente com Gintoki. Ele estava aos poucos se adaptando a tantas mudanças depois de reaparecer após uma década de ausência e isso requeria bastante esforço da parte dele em restaurar laços que haviam sido rompidos bruscamente naquela época.

Depois daquele dia no bar, meses atrás, quando confessara os sentimentos que nutria há anos por ele, temeu que tivesse atrapalhado esse processo de readaptação da parte dele. Entretanto, ele pareceu um pouco mais seguro... Talvez por ela não ter mudado tanto no decurso de uma década. Nesse período, as outras pessoas passaram por várias mudanças, especialmente aquelas que lhe eram mais próximas, como o filho Ginmaru e Shinpachi.

Era como se ela fosse uma espécie de porto seguro para um homem aparentemente à deriva. Pelo menos, era o que parecia. A relação entre eles era relativamente recente, então ainda não tinham um grau tão grande de cumplicidade, a ponto de desnudarem suas almas por completo um ao outro. Mesmo assim, tinham uma confiança mútua e ele ficara surpreso em saber que ela, assim como Ginmaru e Shinpachi, acreditaram durante uma década inteira que ele regressaria.

Quando ele lhe dissera sobre o mau tempo por telefone, ela comentara que, se não fosse por Yoshiwara também estar correndo o risco de ser apagado do mapa, iria a Kabuki dar-lhe suporte. O Yorozuya tratou de tranquilizá-la, mencionando que “não faltaria guarda-chuva para o ‘Rei de Kabuki’ enfrentar a tempestade”.

Significava que Gintoki não estaria sozinho nessa. Desejou-lhe boa sorte e que os dois voltassem a se encontrar em breve.

Deu um trago em seu kiseru e lentamente liberou a fumaça num sopro. Os dois tinham muito em comum, até mesmo o papel que desempenhavam atualmente nos distritos em que viviam. Ele, protegendo Kabuki e ela, Yoshiwara.

Se ele estava confiante, ela não precisaria se preocupar tanto com ele. E era uma confiança em que dava para realmente acreditar. O Yorozuya parecia saber o que estava fazendo e não era blefe ou um daqueles momentos em que ele adorava se gabar de suas supostas façanhas e pérolas de sabedoria.

Esperava por boas notícias. Um “superamos a tempestade”, até mesmo mais uma selfie como aquela que recebera.

Mas a melhor notícia seria ele dar as caras em Yoshiwara.

 

*

 

Ele optou por ir à paisana, pois desta vez não iria à luta como um integrante do Shinsengumi, mas como um civil do Distrito Kabuki. Sentia-se na obrigação de ir lutar para defender aquele lugar onde vivia e que continuava sendo seu lar. Não se importava se depois fosse chutado do comando do Shinsengumi. Hijikata-san poderia assumir o seu posto sem problemas.

Vestiu seu quimono branco com detalhes em azul e seu hakama azul, para depois ajustar seus óculos de grau e colocar a katana embainhada à cintura. Entretanto, não iria sozinho. Kondo iria junto sem a farda preta do Shinsengumi, mas com quimono cinza e hakama verde-musgo. Os dois iriam representar o Dojo Koudoukan, pertencente à família Shimura, mas que atualmente era administrado por Kondo. Sua experiência em Bushuu ajudara o então dojo falido a se tornar também uma referência, tal como o dos Yagyuu. Além disso, alguns de seus alunos tinham potencial para futuramente se tornarem o sangue novo do Shinsengumi, e aquele era um ótimo momento para os melhores serem postos à prova.

Para eles, o Distrito Kabuki era mais do que um lugar onde moravam. Era um local cheio de particularidades, quase um mundo à parte apesar de estar dentro dos limites geográficos de Edo. As pessoas que moravam naquele lugar eram diferentes, até mesmo bastante peculiares em alguns casos. Era um distrito que pulsava em seu próprio ritmo, tanto de dia como à noite. E seus habitantes possuíam uma grande força para enfrentarem o dia-a-dia e até mesmo as adversidades.

Sim, Kabuki era quase um mundo à parte.

Chegaram até onde havia um grupo considerável de pessoas reunidas para o que iria ocorrer de agora em diante. Tudo poderia acontecer naquele momento, se fosse conforme haviam sido avisados. Sob o céu cinzento, na rua de chão batido em frente ao prédio vermelho com uma placa chamativa no segundo andar, reconheceram boa parte das pessoas agora armadas com espadas, naginatas, lanças e tudo aquilo que pudesse ser utilizado como arma.

Basicamente, o homem de cabelos prateados, denominado pela Junta como “Rei de Kabuki”, havia agregado aquele pessoal mais uma vez. Hosts, hostesses, okamas, yakuzas, mestres e alunos de dojos e integrantes do Joui haviam se reunido e um grupo à frente iria agir como uma espécie de “comissão de boas-vindas”.

O Trio Yorozuya do passado estava nesse grupo, assim como Katsura, Elizabeth, Kyuubei e...

― O... OTAE-CHAN...?! – Kondo exclamou.

― MANA...?! – Shinpachi fez o mesmo, ao mesmo tempo que o cunhado.

― Ora, ora... – ela disse com seu costumeiro sorriso enquanto conferia se a lâmina da naginata estava bem afiada. – Estávamos esperando por vocês, Shin-chan, Isao-san.

― E a Ichiko? – seu marido questionou, embora tivesse uma vaga ideia da resposta. – Onde você a deixou, e com quem?

― Ela está segura com o Hijikata-san que veio do passado e Okita-san... E não vim sozinha. – ela apontou para o Vice-Comandante daquela linha de tempo.

Hijikata, obviamente, não estava nem um pouco à vontade naquela situação. Claro que era necessário zelar pela segurança da mulher do antigo comandante do Shinsengumi e irmã do atual, mas, até ser ameaçado pela lâmina afiada de uma naginata em seu pescoço e uma bazuca apontada para a cabeça de sua contraparte do passado, seu plano não era ser um guarda-costas. Guardou o isqueiro em seu yukata escuro após acender um cigarro enquanto não fazia qualquer questão de esconder seu aborrecimento com aquela situação.

Só esperava sinceramente que Sougo não matasse seu alter-ego do passado.

Gintoki passou por eles, se dirigindo até o Trio Yorozuya e Katsura. Estava bastante compenetrado e, ao mesmo tempo, ansioso. Era tão chato entrar em batalhas poucos meses depois de uma batalha em que quase morreu... Mas era o jeito, se queria sobreviver junto com Kabuki. Tudo o que queria era voltar a ser o mesmo preguiçoso irresponsável de sempre que prestava esporadicamente seus serviços de faz-tudo. Fazer o quê? Se quisesse um pouco de sossego em seu processo de readaptação àquela época, teria mesmo que lutar.

Para proteger tudo o que amava, valia a pena lutar e se arriscar.

Não demorou muito para que chegassem os adversários, cuja linha de frente era formada por homens vestidos com fardas brancas. E o líder daquele grupo possuía um rosto conhecido.

― Ei, ei, Hijikata-kun – Gintoki encarava o moreno com um sorriso irônico enquanto sacava a bokutou. – Parece que o Junior não é um cara tão bonzinho assim...

― Bem como eu desconfiei – ele disse ao mesmo tempo que sacava a Muramasha. – Sabia que de santo ele não tinha nada.

Era a primeira vez que viam Miyojin Taichirou envergando o uniforme branco do Mimawarigumi, cuja modelagem ainda mantinha semelhança com o uniforme preto do Shinsengumi. Era o Capitão da Quinta Divisão quem liderava o grupo encarregado de iniciar a nova investida contra o Distrito Kabuki e avançou alguns passos à frente de seus liderados.

― A Junta deseja que não haja mais conflitos. – ele vociferou para, pelo menos, aqueles que integravam a linha de frente, sobretudo Gintoki e o Trio Yorozuya vindo do passado. – Se vocês depuserem as armas e se renderem, nada lhes acontecerá. Caso contrário, seremos obrigados a lutar.

Apenas se ouviu um burburinho entre os presentes. E parecia uma piada realmente botarem aquele cara para fazer um “pedido”... Ou seria na verdade uma provocação?

― Ei, ei, Mayojin-kun – Gintoki avançou com um sorriso debochado, até ficar frente a frente com Taichirou. – Acho que o pessoal atrás de mim não tá muito afim de depor as armas e deixarem fazer com Kabuki o que quiserem.

― É Miyojin. – Taichirou corrigiu contrariado o sobrenome e desembainhou a katana. – E estou apenas dando um alerta. Seria melhor que vocês obedecessem às ordens da Junta, que visa o bem do país.

― E desde quando governante se importa com o povo? – o albino sacou a bokutou. – Essa conversinha furada de “pelo bem do país” é bem velha pra mim, já ouvi esse papo desde moleque e nunca passou disso, de um amontoado de palavras bonitas. E palavras bonitas não resolvem nada.

― Ora essa... – o moreno de cabelos compridos sorriu de forma sádica, um traço herdado dos Okita. – É bastante prepotente para um cara apelidado como o Rei de Kabuki.

― Eu nem sei de onde tiraram isso de “Rei de Kabuki”, mas obrigado por massagear meu ego... – Gintoki respondeu com sarcasmo e partiu ao ataque. – Mas as cordialidades terminam aqui!

Esse foi o sinal para que começasse um combate generalizado entre os moradores de Kabuki e a Quinta Divisão do Mimawarigumi. Era um combate bastante encarniçado e caótico, onde tudo o que importava era impedir que os homens de branco avançassem para causar ainda mais problemas àquele lugar. A rua de chão batido virou uma verdadeira praça de guerra onde as lutas faziam com que muita poeira fosse levantada.

O Trio Yorozuya se defendia de qualquer investida inimiga e não se separava enquanto lutava. Gintoki e Shinpachi sabiam que deveriam se proteger o máximo possível por conta do paradoxo temporal que afetava tanto a eles quanto às suas contrapartes daquela época. Kagura dava-lhes cobertura disparando rajadas de tiros com a metralhadora embutida ao seu guarda-chuva roxo e abrindo-o para evitar que os três fossem atingidos de algum modo.

Katsura e Elizabeth lideravam os homens do Joui, que combatiam furiosamente os inimigos. O Mimawarigumi não viera sozinho, tinha o suporte de alguns amantos de fardas amarelas. A criatura abrira o bico, do qual surgiu um cano de metralhadora e, com uma placa, anunciou “ATACAR!!”. Os tiros começaram a ecoar, fazendo alguns adversários dançarem e derrubando outros enquanto seu parceiro abatia os inimigos com sua katana, esbanjando agilidade e habilidade.

Kondo, Shinpachi, Tae e Hijikata, junto aos alunos do Dojo Koudoukan, também partiram ao ataque. Tae, com sua naginata, derrotava impiedosamente seus adversários, mostrando que na verdade não precisava de nenhum “guarda-costas” e que provavelmente Hijikata viera meio que à toa. Este, por seu turno, fazia com que a Muramasha gerasse lufadas de vento a cada golpe poderoso, aliado à sua experiência como Vice-Comandante do Shinsengumi. Com força e velocidade, derrubava vários adversários de uma vez. Kondo também abatia numerosos adversários de forma aguerrida, graças ao seu porte físico avantajado e sua experiência. Seus alunos também seguiam o seu sensei, lutando da mesma forma aguerrida, mesmo não sendo com katanas. Usando as espadas de madeira, faziam danos suficientes para causar estragos nos inimigos.

Shinpachi também lutava com valentia e determinação, demonstrando a sua maestria com a katana. Abria caminho entre os demais para chegar até onde estava o Trio Yorozuya do passado e os demais da linha de frente. Com poderosos golpes de sua lâmina, foi abatendo vários inimigos até chegar perto de sua contraparte adolescente, que mostrava a mesma determinação com uma bokutou. Kagura e Gintoki seguiam na luta, a Yato investia sem piedade com golpes e tiros de seu guarda-chuva, enquanto o Yorozuya lutava com tudo, não só usando sua espada de madeira, mas também se valendo de sua força, empregando socos e chutes para atacar e se defender.

Um pouco mais adiante, o Gintoki mais velho seguia em um duelo bastante difícil com Taichirou. O Capitão da Quinta Divisão do Mimawarigumi oferecia uma boa resistência aos poderosos golpes do albino, que buscava minar sua defesa de qualquer maneira. Entretanto, o Miyojin conseguiu travar a bokutou do Yorozuya, fazendo com que os dois se encarassem bem de perto.

Ele era um espadachim bastante hábil, Gintoki percebeu. Os Miyojin realmente tinham uma técnica refinada, lembravam um pouco os Yagyuu, cuja representante lutava com grande desenvoltura em meio àquele caos. As espadas seguiam travadas, ambos usavam a força para evitar que o adversário se movesse.

Sim, o Mayora Junior era muito bom!

Gintoki optou por dar um poderoso chute para desequilibrá-lo, o que foi feito com sucesso. Ambos por fim se separaram, mas logo Taichirou contra-atacou. Com um golpe poderoso e, ao mesmo tempo, veloz, conseguiu desarmar o albino, jogando para longe de seu alcance a sua bokutou.

Apontou a katana para o peito de seu adversário e lhe dirigiu um sorriso irônico:

― E agora, “Majestade”? Capturei o Rei de Kabuki. Devo dizer que é um xeque-mate?

Neste momento, alguém surgiu num salto, para aterrissar entre os dois e desarmar Taichirou, jogando sua katana longe. Um jovem albino, vestindo um yukata branco aberto com detalhes em ondas azuis nas mangas e na barra sobre a camiseta regata preta e as calças brancas, e calçando um par de tênis. Para completar o visual, usava uma bandana branca na testa.

― Não deveria cantar vitória antes da hora... Ninguém vai capturar o Rei do Distrito Kabuki. Eu, Sakata Ginmaru, não vou deixar um zé-ruela traíra como você derrubar este lugar. – apoiou a katana de forma displicente no ombro e sorriu confiante. – Antes de capturar o Rei, terá que derrubar o Príncipe do Distrito Kabuki, seu inseto!


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