Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata
Um novo dia amanheceu e, como de costume, Hijikata Toushirou acordara cedo e já estava vestido com sua farda preta. Antes de ir ao refeitório tomar o café da manhã, decidiu sair para caminhar pelo pátio do QG do Shinsengumi, a fim de preparar sua mente para o que poderia vir a seguir no decorrer do dia. Estando fora de sua linha temporal e, por consequência, de sua rotina e zona de conforto, o Vice-Comandante queria ao menos preparar seu espírito para o que quer que fosse.
E precisava de algumas respostas a certas perguntas que martelavam sua cabeça desde os primeiros instantes de sua viagem acidental pelo tempo. Parecia que suas preces seriam atendidas, ao avistar seu alter-ego mais velho quando este passava por ele enquanto seguia de volta ao alojamento.
― Ei. – Hijikata chamou-lhe a atenção.
― Diga. – o outro respondeu enquanto guardava o isqueiro em forma de frasco de maionese no casaco preto após acender mais um cigarro.
― Há duas coisas que me intrigam desde que vim acidentalmente com o Yorozuya e os companheiros dele para esta época. A primeira é quando me confundiram com você. Um daqueles caras de farda amarela me disse “Depois do Distrito Kabuki, será o Shinsengumi”. Isso significa que o Shinsengumi é o próximo da lista, certo?
― Ao que parece, sim. Como nós estamos ainda meio desfalcados da última batalha mesmo depois de alguns meses, a Junta sabe que estamos enfraquecidos. Ainda antes daquela Batalha do Terminal, tivemos que lidar com um ataque direto quando Shimura-san abrigou em casa o Yorozuya da nossa época.
― Entendo. Pelo o que o pirralho de óculos me contou – o mais jovem também acendeu um cigarro, deu um trago e liberou lentamente a fumaça pela boca. – Isso foi entendido como um ato de rebeldia contra aquele governo. E hoje, como está a relação com o atual governo?
― A Junta ainda mantém o Shinsengumi como força policial, mas para operações de pouca ou nenhuma relevância. Argumentam que é algo provisório, até que nosso efetivo se restabeleça totalmente. Assim seria possível saber quantos poderíamos recrutar para ocupar os postos dos que foram abatidos no antigo Terminal. Kondo-san já havia se oferecido para ir pessoalmente a Bushuu recrutar alguns novatos. Claro que tudo ficaria mais fácil se tivéssemos um superintendente para nos comunicar diretamente, mas desde que o velho Matsudaira foi assassinado em rede nacional, o cargo nunca foi preenchido. Shimura-san e eu já até tínhamos um bom nome para indicar. – o mais velho finalizou com um sorriso sugestivo.
― Kondo-san? – o outro também sorriu com certo humor. – Será que é uma boa escolha?
― Em vinte anos ele pouco mudou. O caráter ainda é o mesmo. Ele continua ganhando discípulos no dojo dos Shimura, até viu potencial em alguns para o Shinsengumi.
― Eu ainda me pergunto por que exatamente ele abriu mão do comando do Shinsengumi, que ele fundou. Não creio que seja apenas por gratidão pelo Quatro-Olhos ter salvo sua vida.
O Toushirou daquela linha temporal suspirou enquanto dava mais um trago no cigarro:
― O Gorila tem seus motivos além da gratidão. Apesar de sua “aposentadoria”, ele continua com um vínculo muito forte com a gente. E o Shimura-san é um comandante esforçado, tenta seguir à risca o Kyokuchuu Hatto. Eu poderia ter reivindicado para mim o cargo de Comandante? Poderia, era o meu direito. Mas tenho um grande respeito pelo Kondo-san, que confiou ao cunhado seu cargo... E me pediu para dar-lhe o suporte necessário.
― Um Gorila visionário ele, não é? E a gente ainda o segue...
― Com certeza. Kondo-san foi ousado ao mudar o comando do Shinsengumi, ao contrário do Mimawarigumi. Após a Batalha do Terminal, o Sasaki decidiu deixar o comando. Disse que era melhor deixar o Mimawarigumi nas mãos de alguém mais jovem, então a Vice-Comandante assumiu seu cargo.
― Imai Nobume, não é? – o Hijikata vindo do passado mais afirmou do que perguntou.
― É. Ela é a nova comandante e, por enquanto, o cargo de Vice-Comandante está vago. Parece que o Sasaki também estaria interessado em ser o superintendente da força policial.
― Se houver essa concorrência, será um duelo bem interessante.
Houve uma breve pausa na conversa. Os dois homens deram um último trago nos cigarros que acabavam e apagaram as bitucas em um cinzeiro. O mais velho tirou os óculos de grau, cuja armação era preta, e limpou as lentes para depois colocá-los de volta ao rosto. Comentou:
― Pode ser que em sua linha de tempo você fique míope quando ficar mais velho, então é bom fazer exame de vista de vez em quando. Enrolei pra fazer isso quando a miopia começou e só me importei quando já estava enxergando tão mal quanto aquela kunoichi que persegue o Yorozuya. Perdi as contas de quantas vezes eu confundi o Shimura-san com o Yamazaki até resolver usar óculos.
― Pensarei nisso. – o mais jovem disse enquanto se encostava na parede e cruzava os braços.
O mais velho ajeitou os óculos recém-colocados e indagou:
― Você me disse que tinha dois questionamentos. Qual o segundo?
Os olhos azuis do Vice-Comandante vindo do passado encararam os olhos azuis de sua contraparte:
― Você tem certeza de que Taichirou é seu filho com Mitsuba?
― Quase. Se ele tiver a idade que penso que tem, tenho quase certeza de que sim. Ele disse que nasceu em Bushuu e é filho adotivo de Myojin Katsuji. Tem hábitos alimentares iguais ao meu e ao de Mitsuba e Sougo. Penso em pedir para investigar a respeito para ter 100% de certeza, porque não é apenas a postura de militar dele que me intriga. Além disso, dias antes de sair de Bushuu para vir a Edo, dormi com Mitsuba.
― Hã...?! – o Hijikata vindo do passado arregalou os olhos em legítima surpresa. – Você o quê?!
O mais velho tirou mais um cigarro do maço que trazia no bolso e o acendeu, para depois levá-lo aos lábios. Ficou intrigado com aquela expressão de sua contraparte mais jovem.
― Por que a surpresa?
― Porque lembro muito bem que nunca fiz isso antes de vir a Edo. Eu sei que não cheguei a esse ponto de... De estar com Mitsuba. Eu a dispensei...
― ... Pensando no bem dela, não foi? – o mais velho completou, para depois dar um trago no cigarro e liberar fumaça pela boca e encarar seu alter-ego. – Eu também fiz isso. E, a julgar pela sua surpresa, parece que temos diferenças entre nossas épocas, mesmo que em um ou outro detalhe. Provavelmente Taichirou não existe em sua linha de tempo, assim como o filho do Yorozuya também pode não vir a existir.
Mais um momento de silêncio se fez entre eles. Era estranho pensar nisso, mas por esse acontecimento era possível cogitar uma espécie de multiverso com todas as realidades possíveis a partir de sua linha de tempo. Era como as aleatoriedades que volta e meia o destrambelhado de cabelo prateado mencionava a respeito de Dragon Ball. Embora Tosshi – seu alter-ego otaku inútil – tivesse desaparecido, alguns resíduos da maldição da espada Muramasha ainda permaneciam nele, como o fato de ter lido volumes da Shounen Jump suficientes para entender o mínimo do que o Yorozuya mencionava.
Odiava admitir, mas aquele descabelado às vezes dizia coisas que faziam algum sentido, por menor que fosse.
*
Acordou pela primeira vez após em seu último pensamento antes de perder a consciência jurar que havia morrido naquele momento. A princípio, pensou que fora apenas um horrível pesadelo, mas após fazer um movimento involuntário sentiu que havia curativos em seu peito e um pouco de dor nos ferimentos por eles protegidos, além de alguns eletrodos grudados. Sentiu também a agulha de um acesso venoso em seu braço esquerdo, o que o fez concluir que realmente havia acontecido aquele ataque e ele quase morrera.
Passou a mão pelo rosto e sentiu que estava sem a sua bandana branca. Esperava não a ter perdido, pois considerava-a como uma espécie de talismã... E também gostava por deixá-lo com um ar mais marrento.
Entretanto, em sua mente havia várias perguntas a serem respondidas, como o que aconteceu após ele ter sido atingido e perder a consciência. A última imagem que se recordava, mesmo de forma borrada, era a de Kagura entrando na sua frente com o guarda-chuva aberto para protegê-lo do pior.
Será que conseguiram derrotar aquele Yato louco? Será que seu pai e os outros sobreviveram e protegeram o Distrito Kabuki?
Uma parte de seus questionamentos foi respondida ao chegar o visitante.
― Finalmente acordou, hein, “Belo Adormecido”!
O largo sorriso de seu pai logo também estampou seu rosto ao vê-lo. O alívio era igual, um estava aliviado ao ver o outro com vida.
― Bom te ver também, pai. E aí?
Gintoki tirou de sua cintura uma katana embainhada e a entregou a Ginmaru:
― Vê se toma cuidado com sua katana, moleque. Se você quebrar de novo, a Tetsuko vai cobrar mais caro pelo conserto e eu vou arrancar suas orelhas.
O jovem acabou rindo, pois sabia que a bronca não era tão séria assim, a julgar pela expressão no rosto de seu pai. Desembainhou a katana e viu que a lâmina fora reforjada. Bastou tocá-la com o dedo para perceber o impressionante fio de corte. Não era à toa que Murata Tetsuko era considerada a melhor ferreira de Edo.
Aquela katana fizera história nas mãos do lendário Shiroyasha.
― Claro que vou tomar cuidado. – Ginmaru sorriu.
― Espero que sim, porque o Distrito Kabuki vai receber um novo ataque.
― Um novo ataque?! – o jovem arregalou os olhos rubros. – Como assim, um novo ataque? Quem descobriu? Como você soube?
― Calma lá, pirralho, não seja tão impaciente... – o mais velho disse enquanto limpava o nariz com o dedo mindinho. – Não precisa se apavorar, eu te explico tudo.
― Como assim, pai? Kabuki vai ser atacado e você tá nessa calma toda?
Gintoki deu um sorriso confiante:
― Confia no pai aqui... Nós não estamos sozinhos. O “Rei de Kabuki” tem reforços!
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!