It's a Match! escrita por mandy


Capítulo 5
Domingo de Travesseiro


Notas iniciais do capítulo

Oiê! Bem vindo aos novos navegantes e, a todos, obrigada pelos comentários! Eles são mesmo muito importante para mim.
Começo o capítulo de hoje com avisos: precisei mudar o nome dos capítulos anteriores por motivos de: insatisfação. O outro aviso é que o capítulo pode conter spoiler sobre Simon vs. A Agenda do Homo Sapiens (ou Com Amor, Simon, mas prefiro o primeiro título e só a minha opinião importa). É só.
Boa leitura!



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REGULUS: Livros rs. Alguns preferidos, outros recomendáveis.

REGULUS: Eu também jogo vídeo-game às vezes.

REGULUS: No colégio eu gosto de Química, e não é porque sou bom. Eu acho divertido, bem mais do que literatura até.

 

Mesmo quando dormia tarde, eu não costumava acordar muito tarde. Quase nunca precisva do auxílio do despertador e ainda assim, a primeira coisa que eu fiz ao abrir os olhos, foi pegar o celular, desta vez para olhar as mensagens. Ainda com os olhos meios fechados, sonolento, eu ri. Eu não conhecia Regulus de fato, mas de alguma forma Química parecia a cara dele. Não como químicos loucos e caricatos que se encontra na internet, mas aquele que levava a sério as teorias, as fórmulas, as coisas exatas.

Antes de responder, segui para o banheiro. A água quente do chuveiro ardeu minhas costas, ainda queimadas e, ao me olhar no espelho, percebi o rosto ainda vermelho. Nota mental: passar protetor solar antes de sair do quarto. Isso se aguentasse mais um dia de sol. A verdade era que eu não era muito fã de dias ensolarados e, mesmo que a piscina me seduzisse um pouco, ainda haveriam algumas dias para aproveitar.

De volta ao quarto, percebi os meus amigos conversando sonolentos enquanto Peter tinha um travesseiro sobre o rosto. Provavelmente ainda tentava dormir. Sentava nos pés de sua cama então, arrancando o travesseiro de seu rosto, enquanto o ouvia resmungar.

— Você está de férias num acampamento militar, meu jovem – implicava entre risos, balançando os cabelos molhados em cima dele – Up, up, up! Ou Sirius vai entrar no banheiro e nunca mais vai sair de lá.

— Ei! – recebia uma bronca audível do meu amigo.

— E você vai perder o café da manhã – prosseguia.

— Ainda tá cedo, Rems…

— Eu não acho legal a gente demorar tanto no café da manhã… – argumentei, me deitando em cima de Peter que ainda resmungava – Afinal, as moças estão aqui para trabalhar, e não ficar a mercê dos burgueses que vocês são.

— Ah, cala a boca, Remus – James pulava da cama com a cara amassada.

Mas ele sabia que eu tinha razão e, enquanto seguia para o banheiro, arrancava de mim a toalha o que, consequentemente, fazia Peter me jogar para fora da cama, entre os risos de Sirius.

No primeiro horário estávamos no café da manhã então. Não havia muita gente já que, aparentemente, as pessoas preferiam dormir até mais tarde num domingo. Nos servimos e sentamos na mesa de sempre, conversando sobre os inúmeros nadas que faríamos naquele dia, e então eu imaginava o meu cronograma solitário sobre o dos meninos: terminar o livro de Salinger, começar um novo, desta vez uma literatura mais tranquila, fora da minha zona de conforto. Simon vs. A Agenda do Homo Sapiens era literatura juvenil LGBTQ+ – ou ao menos era o que diziam as resenhas da internet. Não era algo que eu fosse familiarizado, mas porque não?!

Foi quando, há algumas mesas à frente, vi Regulus se sentar com os amigos. E somente então me lembrei da mensagem que não havia respondido. Aproveitei que os meus amigos estavam entretidos entre eles e, discretamente, respondi.

 

LUCI: Que blasfêmia, Química melhor que Literatura?

LUCI: Me desculpe, eu acabei dormindo.

LUCI: E não terminei o filme…

 

E continuei a observar com discrição, trocando meias palavras com os meninos, mas olhando sempre de rabo de olho para a mesa a frente. Às vezes Sirius acabava por entrar na minha frente, mas erguendo um pouco a cabeça eu podia vê-lo ali, ao lado de Bartemius. Vi quando ele pegou o celular e respirou fundo um momento depois, tomando um pouco do suco em seu copo e voltando-se a tela. Quando o meu celular vibrou eu quase dei um pulo da cadeira, bloqueando a tela no mesmo instante, atraindo os olhares dos meus amigos.

— Algum bicho mordeu sua bunda? – Peter questionou, mas eu ignorei, voltando a tomar o meu café da manhã como se nada houvesse acontecido.

Eu precisava contar para eles. Afinal, estava fazendo aquilo porque Sirius havia me pedido. No entanto, eu tinha a sensação de que, no momento em que contasse, Sirius tomaria as rédeas da situação para si e eu, como um leitor voraz, preferia imaginar a personagem Luci a minha maneira. No final das contas, ninguém poderia me acusar de não ter tentado. Mas ninguém poderia me acusar de qualquer coisa também se eu não contasse então, eu realmente precisava contar.

Mas primeiro precisava ler a mensagem.

 

REGULUS: Bom dia.

REGULUS: Basicamente a Química é exata. Literatura é um campo aberto demais, e você nunca irá descobrir se o seu pensamento está certo ou não, a não ser que converse com o autor. E ainda assim ele pode estar te enganando.

 

Desta vez o autor da careta fui eu. Voltei meus olhos para a mesa dele então, observando-o comer em silêncio, com a postura intacta. Eu imaginava que, em algum momento do dia, até as pessoas mais educadas precisavam relaxar, mas eu ainda não o pegara em nenhum deslize. Regulus parecia um molde de perfeição social, um adolescente prestes a entrar precocemente na área de negócios da família, trabalhar com cálculos, lidar com os funcionários como quem lida com telas de computadores. Às vezes me parecia que lidava assim até com os pais.

Mas não com Bartemius.

Talvez ser humano nenhum fosse capaz de ser tão polido vinte e quatro horas por dia. Talvez Bartemius fosse um meio entre as aparências e a naturalidade. Mas teriam eles alguma coisa, de fato, além da amizade?

Precisei respirar fundo antes de responder. Ainda com discrição, reli a mensagem.

 

LUCI: Muito cedo para filosofia, Regulus.

LUCI: Não são nem dez da manhã.

           

Novamente espiei quando ele pegou o celular. E então, a sombra de um riso se fez presente. Cerrei os punhos embaixo da mesa e, silenciosamente, comemorei a vitória.

 

REGULUS: Pense nisso depois de um café.

 

Não voltamos para o quarto depois do café. Eram algumas horas até o almoço e alguns alunos já saíam para aproveitar a piscina no sol frio da manhã. Nenhum dos quatro queria se arriscar ainda mais, estávamos com a pele vermelha do dia anterior então, sem preparo, nos isolamos nas sombras das árvores. James mesmo admitia que protetor solar seria uma boa ideia para quando decidíssemos entrar na piscina, mas eu não sabia mais se era queria ficar - já que mais havia passado o meu tempo agarrado ao livro do que fazendo farra na água.

— Acho que hoje eu abandono vocês… – lhes disse com um dos olhos fechados para me proteger da claridade.

— Ah, não… – Sirius revirava os olhos – Você jura que vai ser esse pé no saco hoje? O que tem de melhor do que a companhia dos seus melhores amigos? – Abria um sorriso de ponta a ponta.

— A cabana sem sol, o conforto da cama…

— Há controvérsias quanto ao conforto da cama – ouvia Peter resmungar.

— Você é o que mais dorme, não tem direito a voz – e logo Sirius intervinha.

— Tá tudo bem, Remus?

James tinha aquele olhar preocupado por baixo dos óculos. Era uma pergunta que eu tinha de encarar uma vez e outra e sempre tentava responder com a maior sinceridade possível. Quando pensava muito era porque, geralmente, tinha alguma coisa errada. Ao contrário disso, naquele momento, eu sorri e concordei com a cabeça.

— Eu só não tô muito a fim de sol, água e gente falando alto – encolhia os ombros com tranquilidade – Talvez eu nem fique no quarto, o acampamento é bem grande.

— Mas a área grande não está liberada para transitarmos ainda – Peter nos lembrava e eu assenti uma vez, ciente de que só poderíamos ultrapassar os portões para os demais espaços do camping quando com a devida autorização dos nossos monitores.

— A não ser que você queira desbravar – e Sirius passava um dos braços por meus ombros, com ares marotos no rosto – Todo mundo vai tá na piscina mesmo, ninguém vai notar.

Nah... – negava, como se aquela não fosse uma ideia verdadeiramente grandiosa – Prefiro ficar lendo um pouco, só por hoje.

— Remus no futuro será a tia chata da biblioteca, que pede silêncio de cinco em cinco minutos – James implicou.

— Não, eu sou a favor da expansão da criatividade e troca de ideias. Contanto que a conversa não atrapalhe outras pessoas, eu não vejo nada demais em dialogar dentro de um ambiente propício pra isso, como a biblioteca. E além do mais…

Shh… – Sirius levou o indicador até os meus lábios, apertando-os ali em sinal de silêncio – Ninguém quer saber.

Em resposta, levou um tapa nas costas vermelhas, coberta pela camisa. Doeu até em mim.

Depois de almoçar eu realmente decidi que o quarto era a minha melhor alternativa. Enquanto os garotos vestiam roupas de banho, eu apanhava na mala o livro novo e me jogava na cama em seguida. Antes de me deixar levar, no entanto, pegava na mochila o livro antigo, que ainda precisava terminar a última página e entregava para eles o protetor solar, dessa vez sem piadas. E tão logo eu estava sozinho no quarto.

Depois de terminar o Apanhador no Campo de Centeios, eu me voltava ao celular. Nenhuma mensagem nova no Tinder, então tratei de retomar o assunto que tínhamos começado.

 

LUCI: Devidamente acordada, eu te respondo agora: o autor está morto!

 

E, orgulhoso da minha resposta, eu abria as páginas do livro de Becky Albertalli, muito bem viva. Era um livro tranquilo, sem toda a densidade que eu procurava no último livro, sobre adolescentes e seus cotidianos na escola, em casa e suas vidas online. Tão logo me via preso no clima de tensão das primeiras páginas, quando um dos companheiros de classe de Simon, o protagonista, o chantageava para sair com uma de suas colegas. A base da chantagem era basicamente a sexualidade de Simon e, pensando nisso, me pegava questionando porque os jovens tinham tanto medo de se assumir num ambiente que deveria estar sempre em evolução, como a escola.

Até que o celular vibrou.

 

REGULUS: Viu só?

REGULUS: O autor está morto. QUE AUTOR?

REGULUS: A não ser os que estão mortos de verdade, o resto está vivo.

REGULUS: E isso não faz o menor sentido.

 

Regulus não sabia, mas estava me dando a oportunidade de exibir tudo o que eu sabia e mais amava na literatura. Se fosse um pouco mais próximo de Sirius, ele provavelmente seria alertado acerca do que os meus amigos chamavam de “Palestras Lupin”.

 

LUCI: É uma metáfora.

LUCI: Quer dizer que a partir do momento que um autor escreve um livro, ele não tem mais qualquer propriedade sobre aquelas ideias. Que a obra é de livre percepção e entendimento do leitor, contanto, é claro, que você não entenda que a chapeuzinho vermelho na verdade usava um gorro azul, porque a percepção do leitor só faz sentido quando embasada na obra. Mas nada impede o leitor de interpretar chapeuzinho vermelho como uma metáfora para manter as meninas trancafiadas dentro de suas casas ao invés de educar os meninos-lobos. Sendo essa a minha interpretação eu declaro: o autor está morto.

 

E dessa vez eu não consegui voltar ao livro. Fiquei aguardando a mensagem seguinte, relendo o que havia escrito, mordendo o canto da boca e imaginando o que o meu professor de literatura falaria acerca daquela interpretação. Provavelmente me aconselharia a observar o contexto histórico da obra, mas eu achava uma grande besteira quando, nos dias atuais, ainda existiam pais que tratavam suas filhas como Chapeuzinhos Vermelhos enquanto os garotos se viam livres para agirem como Lobos Maus. Parte das minhas ideias literárias surgiam em interação com Lily Evans. Ela tinha um senso crítico muito aguçado e para mim era proveitoso falar sobre coisas que eu nunca sequer havia imaginado, como a representação feminina nos contos de fadas - coisas que eu nunca discutiria com os meus amigos. Talvez não fosse justo eu estar me aproveitando de uma ideia feminina para enganar uma pessoa, mas eu imaginava que precisava usar de argumentos convincentes com ele. E Luci era uma garota, então…

            Um tempo depois ele respondeu.

 

REGULUS: Continua não fazendo sentido porque certamente o autor teve um ponto de partida, uma ideia central para escrever a obra. Do mesmo jeito que não podemos dizer que o chapeuzinho da menina era azul, também não podemos ignorar as ideias do criador da história. Ou simplesmente interpretar que Patrick, por exemplo, era apaixonado por Charlie e que depois de um tempo vão ficar juntos se não foi o que o autor pensou!

 

LUCI: Podemos sim.

LUCI: Chama-se shipp. (;

 

REGULUS: Que?

 

Não pude conter o riso.

Não era que de fato eu acreditava que pudéssemos ignorar os fatos contidos nos livros, mas o que mais me fascinava eram as entrelinhas. E a mente sem limites do leitor. A quantidade de fóruns de escrita que se empenhavam em descrever casais inimagináveis era imensa e aquela era outra coisa que eu não poderia ignorar. Mas falar sobre fanfictions e casais improváveis era como adentrar a fundo demais dentro de um Remus Lupin que nem mesmo eu pensava a respeito.

 

LUCI: Esquece.

LUCI: Vamos falar de videogame, que é um assunto que você entende.

 

REGULUS: Eu também entendo de literatura.

 

LUCI: Mas é cético.

LUCI: Você costuma jogar Mortal Kombat com qual personagem?


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Para este capítulo, não vi necessidade de expor as conversas na íntegra, porque ela já está na íntegra aí, toda escrita. Mas, como LC_Pena comentou comigo (obrigada, xuxu ♥), nem todos os leitores tem twitter e então resolvi disponibilizar essas conversas noutra plataforma. Eu não sei se é a melhor para isso então dicas são bem vindas!
O link de todas até aqui é este: https://www.pinterest.cl/amandaascosta20/its-a-match/extracenas/

É isso, babes. Espero que estejam gostando!
Até o próximo :3



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