Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 16
Capítulo 16 — Intruso


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Tudo bem com vocês?

Dedicarei o capítulo de hoje a Lana Ston. Lana, obrigada pela recomendação. Estou como? Apaixonada, claro. Espero que goste.

Uma boa leitura a todos.



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Rosalie sabia, a risadinha que ouviu de Joshua no corredor era resultado de tê-la deixado curiosa. Ele estava se divertindo com isso. Acabou rindo com ele, sua felicidade era mesmo contagiante. Tentaria descobrir o conteúdo da conversa que teve com o pai em outro momento.

Joshua escancarou a porta ao entrar no quarto, correu até a estante de livros, lembrando, então, de ter deixado o livro atual em cima da mesinha de cabeceira. Correu para lá, para pegá-lo. Verificou o marcador de páginas, onde parou a leitura. Nesse momento, teve a impressão de ouvir um barulho na janela. Olhou naquela direção, em seguida, pegou o dinossauro de pelúcia e o travesseiro na cama. Tornou ouvir o barulho na janela, algo como o trincar de uma pequena pedra. Curioso, foi até lá conferir.

Afastou a cortina tentando enxergar do lado de fora. Não encontrou nada diferente. Quando pensava em deixar esse assunto de lado, uma figura assustadora apareceu diante o vidro da janela; um corpo humano com cabeça de coelho, dentes enormes e olhos aterrorizantes. Não fosse pelo vidro que os separava, aquela coisa teria relado em seu rosto.

Joshua gritou, aterrorizado, ainda olhando aquela coisa na janela de seu quarto. Deixou cair das mãos os objetos que segurava e saiu correndo, aos gritos, para fora do quarto e pelo corredor.

Ao primeiro grito, o coração de Rosalie gelou no peito e passou bater num ritmo acelerado.

— Josh! — chamou seu nome apressando-se em ir ao corredor. O menino veio em sua direção, o tempo todo olhando para trás, e esbarrou nela. Deu um pulo e tentou se esquivar quando o segurou pelos ombros. Ele resistiu, obrigando a mãe forçá-lo parar. — Josh, é a mamãe. É a mamãe, vida — repetiu. O menino finalmente olhou em seu rosto. Ficou mais tranquilo quando percebeu ser a mãe, os braços se apertaram em volta de sua cintura. Rosalie afagou seus cabelos, atenta ao caminho de onde ele veio tão assustado, tentando entender o que aconteceu. Joshua não era uma criança que se assustava com frequência. Pelo contrário, gostava de se aventurar.

— O que aconteceu, vida? — pediu, acariciando seus cabelos e rosto.

— Tem uma coisa assustadora do lado de fora da janela do meu quarto — contou. — Uma coisa, muito, muito mesmo assustadora.

— Consegue dizer a mamãe como essa coisa se parece?— tentou.

Sentiu os braços de ele afrouxar o aperto em sua cintura.

— Tinha cabeça de coelho monstruosa e corpo de gente.

— Não é possível ser outra coisa e você pensou ser isso?— imaginou que pudesse ser à sombra de algum objeto se projetando na janela de forma que o assustou.

Joshua balançou a cabeça.

— Não, eu vi. É um monstro de verdade. Eu vi mesmo, mamãe.

Rosalie segurou firme sua mão.

— Vem com a mamãe.

— Para onde?

Rosalie entrou com ele no quarto dela, onde pegou o celular em cima da cama.

— Não é a primeira vez que tenho a impressão de ter alguém rondando nossa casa. Vou ligar para a polícia. — Afagou o rosto do menino, e o colocou no colo enquanto falava ao telefone. Permaneceu no quarto com Joshua até a polícia chegar. As luzes piscando do lado de fora indicaram que era seguro sair.

Contou aos oficias a sua porta o ocorrido. Foi feita uma busca no jardim e também no interior da casa. Como nada suspeito foi encontrado eles voltaram questionar Joshua. Avaliando se poderia ter sido um pesadelo e ele acreditou que fosse real. Mas Joshua não estava dormindo quando aconteceu.

Rosalie reafirmou o fato de se sentir observada em outra ocasião. Eles garantiram mais uma ronda no jardim e no quarteirão antes de irem embora. Pediram que telefonasse de novo, se algo estranho voltasse acontecer.

— Quero falar com meu pai — Joshua pediu, assim que os policiais foram embora.

— É tarde, Josh.

— Meu pai precisa saber o que aconteceu.

— Pode contar para ele amanhã.

— Ele podia estar aqui cuidando da gente agora.

Rosalie o abraçou.

— Eu cuido de você, e você da mamãe.

— Quero meu pai cuidando da gente. Ele é bem forte, ninguém vai nos machucar se ele estiver por perto.

— Eu sei…

— Você também queria que meu pai estivesse aqui?

Rosalie moveu a cabeça, pensando a respeito.

— Vá buscar o Dino no seu quarto. Vamos tentar dormir agora.

— Não quero ir lá sozinho. O coelho maligno pode estar esperando que eu volte.

— Eu vou com você.

Foram de mãos dadas ao quarto. Joshua soltou sua mão indo pegar as coisas que deixou cair ao se assustar. Rosalie aproveitou o momento para se aproximar da janela reparando com atenção o lado de fora, no jardim. Levou um susto com o guaxinim que cruzou a frente da janela. Pôs a mão ao peito, respirando aliviada ao constatar que era apenas um animal.

— Acho melhor irmos dormir na vovó hoje — falou para o menino. — Pegou tudo, vida?

— Sim, mamãe.

Os dois voltaram pelo corredor. Rosalie pegou as chaves da casa e do carro no aparador ao lado da porta. Entraram na garagem pela porta ao lado da cozinha.

— Entre no carro, vida — o menino obedeceu imediatamente. Ela se encarregou de conferir o cinto de segurança nele.

— Não tenha medo, mamãe.

— Não estou. — Ela olhou em seu rosto.

— Então, por que estamos indo para casa da vovó e do vovô? E você está conferindo meu cinto de segurança tantas vezes, como se fossemos sair voando?

— Porque te amo demais. Não posso deixar que algo ameasse sua segurança.

— Acho que o coelho monstro já foi embora.

— Sim, ele foi.

Joshua tocou seu rosto.

— Não precisamos ir, mamãe.

Ela beijou na mão dele.

— Só por essa noite — disse. Fechou a porta e foi se sentar atrás do volante.

Olhou mais uma vez, Joshua no banco de trás. Ele tentou sorrir acreditando que assim a mãe ficaria mais tranquila. O controle do portão da garagem foi acionado. Pelo tempo que levou até abrir, bateu as unhas ao volante com impaciência. Saiu com o carro devagar, atenta a tudo ao entorno do veículo.

Joshua se esticou no assento, olhando para os lados. Rosalie reparou nele pelo espelho retrovisor interno, reconhecendo que estava preocupado. Aquela noite ficou atenta à estrada mais que o habitual. Na esquina com a próxima rua, Joshua chamou sua atenção.

— Aquele carro é igual ao de Royce.

Rosalie voltou de ré com o carro. Se havia algum carro onde Joshua disse ter visto, saiu antes de ela voltar.

— Qual era a cor do carro? — arriscou, voltando a seguir viagem.

— Branco.

A resposta a deixou pensativa. Seria muita coincidência o carro ser na mesma cor que o de Royce. A cor do carro que viu cruzar sua rua na madrugada que se sentiu observada. Mais ainda, nas duas ocasiões, algo estranho aconteceu nos arredores de sua casa.

Joshua ficou um instante calado, então, chegou à conclusão:

— Ele fez isso.

Virando na rua onde vivem seus pais, Rosalie repetiu a fala do filho, mesmo não acreditando totalmente que pudesse ser verdade.

— Ele fez isso? Você está falando de Royce?

— Sim, ele mesmo.

— Que motivo Royce teria para fazer algo como o que acabou de acontecer?

Subiu com o carro na entrada de veículos na casa dos pais, pouco tempo depois.

— Porque eu… — Joshua estava dizendo, e parou de falar junto o motor do carro silenciando.

Rosalie retirou a chave da ignição se preparando para sair.

— Por quê?— insistiu que Joshua continuasse.

— Você vai ficar brava.

— Ficando brava ou não, você vai me dizer. Estou esperando — ela continuou, observando seu rosto.

— O papai e eu sabotamos o jantar dele, na outra noite.

Ela sorriu, mesmo sabendo que não era certo, pois assim Joshua julgaria que o que fez foi válido.

— Eu já sabia — confirmou.

Reconhecendo que a mãe não ficou brava, Joshua deu risada.

— Isso não significa que deve voltar fazer o que fez.

— Royce é um mala. Além de muito falso.

— Foi ideia sua ou de seu pai, sabotar o jantar?

— Promete não brigar?

— Prometo.

— Foi uma decisão em conjunto.

— Já estão até tramando juntos contra Royce — ela quase riu novamente, mas conseguiu segurar. Joshua não, ele riu com gosto. — Você amou seu pai ser quem ele é.

— Meu pai é o melhor. Você foi muito boba em fugir. Agora Gwen fica de conversinha com ele. — Fez caras e bocas demonstrando irritação com a amizade do pai com Gwen.

O rosto da mãe se tornou uma máscara de desgosto.

— É — aceitou —, eu fui sim muito boba em me afastar. Ei! — lembrou num tom de divertimento. — Você me respeite, mocinho.

Joshua voltou a rir, dessa vez com a mãe cutucando sua barriga.

— E essa Gwen, ela esteve com vocês em Raleigh?

— Não. Ela falou com meu pai por telefone.

— E eles são muito amigos?

— Acho que sim, porque o papai não gostou quando eu disse para não falar mais com ela.

— Você fez isso?

— Fiz, sim. — Ele sorriu. — Não quero que meu pai tenha uma namorada que não seja você. — Joshua observou o olhar triste da mãe. — Você é muito mais bonita que ela. E eu nunca irei gostar da Gwen.

Rosalie beijou seu rosto.

— Certo, vamos chamar sua avó. — Virou-se outra vez de frente para o volante, tentando ignorar o fato de Emmett ter uma relação próxima com Gwen.

Uma vez do lado de fora do carro, abriu a porta traseira e fechou assim que Joshua saiu carregando o travesseiro, dinossauro de pelúcia e o livro. Ficou atenta ao entorno da casa enquanto isso.

— Devíamos ter avisado que estávamos chegando — falou mais para si mesma que para o menino.

— Agora já era — respondeu Joshua, alguns passos a sua frente. — Vamos entrar em silêncio ou vamos chamar a vovó e o vovô?

Rosalie não percebeu o que disse, estava distraída olhando para trás.

— Mamãe — Joshua a cutucou com o cotovelo.

— Oi, vida?

— Vai chamar a vovó ou vamos entrar usando sua chave?

— É melhor chamar. De toda forma, vamos assustar aos dois.

Joshua encostou a cabeça na barriga da mãe, aguardando que os avós abrissem a porta. Rosalie o abraçou.

— Está cansado? — Joshua esfregou o rosto em sua barriga. — Vou levar você para a cama assim que seus avós vierem nos receber. Joshua deu um beijo estalado em sua barriga. E ela, um beijo no alto da cabeça dele. — Te amo, vida — murmurou. Ouviu o barulho da porta sendo aberta. — Eles estão abrindo. Vamos poder descansar agora.

— Vovô — Joshua disparou, assim que a figura do avô surgiu no umbral da porta.

— Oh, meu Deus — Rosalie ouviu a mãe murmurar atrás das costas do pai.

Carlisle saiu do caminho para que ambos pudessem entrar.

— O que aconteceu? — Esme pediu.

Carlisle emendou:

— Vocês estão bem?

Assim como Rosalie e Joshua, Carlisle e Esme também estavam em trajes de dormir. Provavelmente, foram eles a tirá-los da cama.

— Tinha um coelho monstro no nosso jardim — Joshua foi dizendo. — E a mamãe chamou a polícia.

Esme abraçou o neto, em seguida, a filha.

A expressão no rosto de Carlisle foi de quem não achava que fosse possível. Esme, assustada.

— Como assim? — ela insistiu com a filha. — Do que Josh está falando?

— Alguém invadiu nosso jardim usando uma cabeça de coelho falsa.

— Uma cabeça de coelho monstro — o menino lembrou.

— Isso — Rosalie olhou da mãe para ele, e novamente a mãe. — Resumindo, alguém invadiu nosso jardim e assustou Josh propositalmente.

— Mas quem faria isso? E por quê?

— Royce — Joshua escancarou o que pensava.

Carlisle olhou no rosto da filha esperando confirmação.

— Não temos certeza se foi mesmo Royce — Rosalie colocou dessa maneira.

— Eu tenho — Joshua afirmou convencido do que dizia.

Esme lembrou:

— Isso é muito sério, Josh.

— Já falei para ele que não devemos culpar as pessoas sem provas.

— Eu vi o carro dele, quando estávamos na rua.

— Você viu um carro branco, de longe. Não pode ter certeza que era mesmo o carro de Royce.

— Era ele, eu sei.

Rosalie afagou seu rosto.

— Está bem.

— Por que não telefonou? Teríamos ido buscar vocês — Carlisle confirmou.

— Você e Josh poderiam estar em perigo — disse Esme.

— A polícia esteve lá, acabou que não encontraram nada.

— Ainda assim, deveria ter ligado.

— Venha Josh. Vovô vai levar você para cama.

— Eu quero ficar com a minha mãe.

— Eu já vou, filho. Vá indo com seu avô.

Joshua ainda resistiu olhando para ela, antes de aceitar ir com o avô.

— Seu avô não vai deixar o coelho monstro entrar no quarto. Não precisa ter medo.

— Não estou mais com medo do coelho monstro. Agora eu sei que era Royce mala, fantasiado para me fazer sentir medo. Mas eu não quero ficar sem você, mamãe.

— Você não vai, filho — ela sorriu. — Só vou conversar um pouco com sua avó e já te encontro de novo.

— Eu não trouxe meu ipad. Posso ficar com seu celular e telefonar para meu pai?

— Amanhã.

O menino gemeu, contrariado. Carlisle pegou o travesseiro e o livro que o neto segurava, deixando apenas o dinossauro com ele.

— Vamos — insistiu. Joshua o acompanhou a caminho da escada. Rosalie observou ele subir os degraus logo atrás do avô, de tempos em tempos, olhando para ela.

Uma vez que eles sumiram de vista, Esme quis saber:

— Acha que Josh pode estar certo?

— Acho que está se certificando que eu não volte a ter contato com Royce. — Sentou no sofá e a mãe ao seu lado.

— Talvez devesse considerar. Joshua parece ter muita certeza quando diz que foi Royce.

— Estava escuro no jardim. A pessoa que fez isso usava a máscara de um coelho maligno. Josh ficou tão assustado na hora que quis fugir até de mim.

— Fez muito bem em chamar a polícia. Não temos como saber quais eram os planos dessa pessoa. Vocês podiam estar realmente em perigo.

— Confesso que fiquei assustada — contou Rosalie. — Nunca passei por nada parecido. Quem iria querer fazer uma maldade dessas com meu filho? Assustá-lo desse jeito? Josh é só uma criança.

— Royce? — arriscou Esme.

— Josh já convenceu você, mamãe.

— Não acha estranho que isso aconteça justo quando Royce está de volta a cidade? Que Josh tenha visto o carro dele, quando estava vindo para cá. Lembre-se que você pensou ter visto o carro dele passar pela sua rua na madrugada que saiu com Alice. E nessa mesma noite você e ele tiveram um pequeno desentendimento.

Rosalie pensou a respeito.

— Não desconsidere a hipótese de que, sim, pode ter sido Royce. Lembre-se que os dois nunca se deram bem.

— Tem razão — aceitou, por fim. — Mas não posso deixar Josh espalhando isso por aí sem provas. Ele quer contar ao pai — lembrou.

— Deixe que conte. É natural ele querer dividir isso com o pai. Quer aproximá-lo ainda mais de vocês.

— Se Emmett acreditar que foi mesmo Royce? Se for atrás dele para tirar satisfação?

— Não queira adivinhar o que vai acontecer. Já fez isso antes e não deu certo. Tudo é resultado de escolhas que fazemos.

— Tem razão — tornou dizer.

— Tente descansar um pouco agora. Vá ficar com seu filho. Ele quer estar perto de você agora. Foi um susto muito grande para ele.

— Obrigada, mamãe.

Mãe e filha se puseram de pé.

— Vai trabalhar amanhã?

— Sim.

— Está vendo, mais um motivo para descansar.

[…]

Rosalie abriu a porta do quarto devagar. Carlisle estava sentado com as costas apoiadas à cabeceira da cama e o livro que Joshua levou, em suas mãos.

— Ele dormiu? — perguntou em voz baixa.

O olhar de Carlisle encontrou o seu.

— Sim, mas, um sono agitado. — Deixou o livro na mesinha de cabeceira e se levantou. — Fique com ele — aconselhou.

Rosalie balançou a cabeça, concordando.

— E sua mãe? — ele pediu, se encaminhando a porta.

— Está esperando por você no quarto.

Ele pôs a mão no ombro de Rosalie ao passar por ela.

— Durma bem. Estamos aqui, para o que você e Josh precisarem.

— Obrigada, papai. — Olhou o filho dormindo. — Obrigada por ficar com Josh até ele dormir.

Carlisle aceitou, com um meneio de cabeça, o agradecimento.

— Descanse. — Então a deixou com o filho. Rosalie se aproximou da cama, e, sem fazer movimentos bruscos, deitou ao lado de Joshua. Ficou olhando seu rosto, cada pequeno traço que conhecia como a palma de sua mão. — Me perdoe, vida — murmurou. Sentiu um calafrio em pensar que namorou alguém capaz de desejar o mal a seu próprio filho. Beijou na pontinha do nariz de Joshua, que se agitou em seu sono. — Está tudo bem, é a mamãe. — Acariciou sua mão pequena e deu um beijo. — Te amo — sussurrou. — Te amo mais do que tudo.

Como sentisse seu carinho, Joshua a chamou enquanto dormia.

— Mamãe.

— Dorme — sussurrou mais uma vez. Passou a mão na testa dele, afastando os cabelos dos olhos. Em seguida, olhou no celular. Não pôde evitar ir até o perfil de Emmett no aplicativo de mensagens. Desejou tanto poder conversar com ele, mas faltou coragem. Seria pior ser tratada com frieza e indiferença, que ficar em silêncio. Sentiu-se triste com isso. E mais ainda, com a lembrança de ele ter ido embora sem se despedir, logo depois de terem feito amor. Então, lembrou-se de Joshua ter dito que perguntou sobre ela na última conversa deles. Teria descoberto mais, não fosse o momento assustador e estranho que acabaram de passar na casa deles. Pensou no que Emmett estaria fazendo agora. Estaria dormindo ou, assim como ela, pensando na história deles? Sacudiu a cabeça, sentindo-se tola. Talvez estivesse na companhia da tal Gwen. E os pensamentos todos voltados a ela.

Joshua virou de lado na cama. Rosalie tornou encobri-lo. Ele falou, dormindo, algo relacionado a monstros.

Não pôde evitar pensar que havia alguém tão ruim a ponto de assustar uma criança. E que esse alguém pode ter sido Royce. Chegou culpar a si mesma por tudo de ruim que estava acontecendo. O estômago embrulhou.

As horas se passaram e nada de o sono chegar. Cochilou duas vezes e nas duas ocasiões despertou com a sensação de estar sendo vigiada. Cochilou uma terceira vez e então acordou com o som de uma pancada, em seguida, o gemido de Joshua. E a voz dele chamando por ela.

— Mamãe, mamãe.

Sentou na cama com um sobressalto, sem saber o que estava acontecendo.

— Josh? Filho. — Esticou o braço buscando por ele no colchão. — Josh? — Apalpou o cobertor onde ele deveria estar confirmando sua ausência. — Onde você está filho?

A voz do menino soou novamente no escuro.

— No chão — outra vez um gemido. Ele tentou se levantar, atordoado.

Rosalie saiu da cama, dando a volta para encontrar Joshua do outro lado.

Ele pôs a mão na testa e voltou gemer.

— Eu caí.

Rosalie o agarrou no escuro.

— Onde está doendo? Fala para mamãe. — Tocou no rosto do menino, mesmo sem vê-lo direito.

— Bati minha testa no chão, eu acho. Ou foi na mesinha.

Rosalie ficou de joelhos para acender a luz do abajur. Então, afastou a mão dele avaliando o machucado na testa. Parecia vermelho o local da pancada. Esfregou a mão no machucado e Joshua tornou gemer se esquivando.

— Você está se sentindo tonto? — pediu.

— Não.

— Sua cabeça está doendo?

Joshua voltou pôr a mão na testa.

— Só aqui onde bateu que dói.

— Tudo bem. — Ela mostrou três dedos na frente dos olhos dele. — Quantos dedos têm aqui?

Joshua avaliou e concluiu:

— Seis. — O espanto no rosto da mãe foi automático, e ele riu descaradamente. — Estou brincando.

— Sem gracinhas, Joshua. Diga-me, quantos dedos você ver aqui?

— São três dedos, mamãe.

Ela respirou, aliviada.

— Não pode fazer gracinhas com coisas sérias. Assim, você me assusta.

— Eu estou bem, mamãe. É sério.

— Como foi que você caiu da cama, vida?

— Eu não sei. Eu estava tendo um sonho muito louco ai, pah, eu estava no chão.

Rosalie levantou, segurou na mão dele, e Josh também se levantou.

— Vamos à cozinha pegar gelo para passar nesse machucado antes que fique roxo e com um galo.

— Como fosse sair chifres em minha cabeça?

Rosalie achou graça. Pegou o cobertor no chão e jogou em cima da cama. Segurou na mão de Joshua outra vez e o levou para fora do quarto com ela.

— Sem fazer barulho — alertou. — Não queremos acordar a vovó e o vovô, mais uma vez.

Joshua concordou com um meneio de cabeça. Pisando devagar no chão, levaram mais tempo que o habitual para alcançar a escada.

— Eu sonhei com o coelho monstro — sussurrou Joshua.

— Você caiu da cama quando ele apareceu no seu sonho?

— Não, eu caí quando ele tirou a máscara.

A mãe não entendeu. Joshua então explicou:

— Era o rosto de Royce embaixo dela. — Rosalie deu risada, e Joshua acompanhou.

— Pare com isso, vai acordar seus avós.

— Você riu primeiro, mamãe.

— Porque você me fez rir.

Joshua riu um pouco mais.

— Pare com isso, seu safadinho. — Rosalie encobriu a boca dele com a mão. Isso só o fez rir mais.

— É sério, Josh.

— Tá bom. — Ele respirou fundo tentando se controlar. — Nunca mais quero ver aquela cara horrorosa do Royce. Ela me dá pesadelos. E também não o quero perto de você, mamãe.

Rosalie rolou os olhos.

Faltando poucos degraus para saírem da escada, Joshua voltou a falar:

— Mamãe.

— Oi, vida?

— Estou me sentindo um invasor.

Rosalie se esforçou para não cair no riso. Joshua pulou o último degrau na escada, e andou pela sala dos avós imitando o que, segundo ele, era o modo dos invasores andarem na casa de suas vítimas.

— O que está fazendo? — pediu.

— Brincando que sou um invasor.

Ela lhe ofereceu a mão.

— Vem para cá — sussurrou. — Não é hora de brincar.

Joshua moveu os ombros como estivesse aborrecido.

— Vem! — a mãe insistiu. — Vamos pegar o gelo e pôr nessa testa, menino.

— Estou bem, mamãe.

— Eu estou vendo. Uma hora dessas e está de um lado para o outro.

Joshua deu uma risadinha.

— Passa para a cozinha, seu danado. — Ficou o vendo passar, o jeito de andar igual o do pai. Pensou em Emmett, e desejou que estivesse com eles.

Na cozinha, Rosalie abriu a geladeira e pegou de lá alguns cubos de gelo. Embrulhou tudo em um pano e entregou a Joshua para pôr na testa, no local da pancada. Em seguida, puxou uma cadeira e sentou. Joshua permaneceu em seu colo pelo tempo que ficou com a compressa de gelo.

— Será que vai ficar igual aquela vez quando eu caí dando cambalhotas no nosso sofá?

A mãe afastou a mão dele com a compressa, avaliando o machucado.

— Acho que não foi tão forte assim. Graças a Deus!

— Que bom! Porque aquela vez ficou muito feio. E eu também não quero ter de ir ao hospital.

Rosalie afastou a mão dele com a compressa novamente e dessa vez beijou o machucado.

— Seu beijo é melhor que o gelo, mamãe.

A mãe beijou mais algumas vezes a testa dele. Joshua a abraçou segurando o pano com cubos de gelo. Após alguns poucos minutos em silêncio, tornou a falar:

— Mamãe, eu estou com frio.

Rosalie afastou a compressa úmida da testa dele.

— Já está bom. Vamos voltar para o quarto. A mamãe vai ter de trabalhar pela manhã e você, vai à escola. — O pano usado como compressa ficou na pia da cozinha. Mãe e filho voltaram para o quarto, dessa vez, sem fazer gracinhas.

[…]

— Me sinto como estivesse sendo vigiada — confessou a Alice, na recepção da pousada após deixar Joshua na escola.

— Que loucura. Será que Royce está mesmo por trás dessa coisa toda?

— A verdade é que não sei mais o que pensar — admitiu Rosalie. — Estou começando ficar com medo. Irritada, também. — Foram interrompidas pela chegada do entregador de flores.

— Entrega para Rosalie Hale — disse.

Rosalie olhou com surpresa o buquê de rosas vermelhas que, de tão grande, quase encobria todo o busto do rapaz.

— Sou eu — confirmou, num tom de desconfiança. — Obrigada! — agradeceu depois de receber as flores e entregar a gorjeta.

Alice buscou pelo cartão mesmo antes de o entregador se retirar. Rosalie deixou as flores no balcão para, também, tentar encontrar o cartão que revelasse quem as enviou.

— Não tem nada — comentou instantes depois.

— As flores são lindas — confirmou Alice.

— Sim, mas, quem as mandou?

— Eu tenho duas suspeitas — acrescentou Alice. — A primeira é que tenha sido o pai de Josh querendo se desculpar. A segunda, e que eu não gosto muito, é que tenha sido Royce. Ele também teria motivos para querer se desculpar.

O rosto de Rosalie se tornou uma máscara de desconforto à menção ao nome de Royce.

— Pede para alguém desaparecer com elas.

— Não pode fazer isso, se desfazer das flores.

— Se tem chance de ser de alguém que está tirando meu sossego, eu posso, sim.

— Não tem certeza se foi Royce. Considere a possibilidade de ter sido o pai de Josh. Seu grande amor.

— Emmett — Rosalie se viu dizendo ao pegar as flores nos braços novamente.

— Ele pode estar tentando se desculpar.

— Tudo bem. Eu vou ficar com as flores. Vou colocá-las em um vaso com água na minha sala.

— Muito bem! — Alice apoiou.

Durante todo o dia Rosalie se questionou se as flores teriam sido enviadas por Emmett. As levou para o carro quando saiu do trabalho para pegar Joshua na escola. No trajeto até lá, parou para abastecer o tanque com gasolina. Enquanto fazia isso, teve a impressão de ter visto o carro de Royce passando devagar pela rua. Pensou se estaria seguindo ela, e ao ver que parou para abastecer, seguiu direto pela rua. Balançou a cabeça, era possível que fosse só coincidência.

— Você ganhou flores? — questionou Joshua quando a mãe pegou as flores no carro e levou para a cozinha deixando no vaso em cima da ilha.

— Sim.

— Quem deu? — Ele avaliou de perto as flores.

— Não sei, não tinha um cartão.

— Foi meu pai.

— Não tinha cartão, vida.

— Foi meu pai, eu sei que foi.

Rosalie passou a mão nos cabelos louros dele.

— Vá tomar banho. Depois vá fazer a lição de casa. Então nós vamos jantar.

— Macarrão com queijo? — ele a olhou com olhos de expectativa.

— Hoje, não.

— Por favor, mamãe, macarrão com queijo. Macarrão com queijo.

— Já disse que não.

— Que chato!

Mais tarde, após ter feito o dever de casa e ter terminado o jantar, Joshua sentou no sofá com o iPad, aguardando a chamada de vídeo do pai.

Rosalie colocava roupas na máquina de secar quando ouviu Joshua falar em voz alta:

— Meu pai está ligando. É o meu pai.

Depois disso, seguiu-se uma longa conversa entre os dois. Joshua falou tudo o que se lembrava sobre a escola e o ocorrido na noite anterior envolvendo o coelho assustador. Rosalie ligou a máquina, e a conversa deles foi abafada pelo barulho do motor em funcionamento.

 


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