Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 17
Capítulo 17 — Feliz Aniversário




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Quinta-feira à tarde, véspera do aniversário de Joshua. Rosalie aguardava por ele no carro na frente da escola. Pouco a pouco, as crianças começaram deixar o prédio, barulhentas, carregando suas mochilas nas costas. Levou mais uns poucos minutos até avistar Joshua na companhia dos amigos, Summer e Dilan. Dilan se despediu dos dois, e saiu correndo pela direta do prédio. A mãe o esperava no carro, mais a frente.

Summer demorou um pouco mais se despedindo, tanto que a mãe precisou chamá-la, aparecendo na janela do veículo uma vez. A menina abraçou Joshua, em seguida, se afastou. Joshua sorriu para Rosalie ao avistá-la no carro. A mãe acenou para ele.

Joshua passou a caminhar mais rápido. Estava com um sorriso no rosto ao ocupar o assento elevatório no banco de trás. Retirou a mochila das costas deixando no banco junto à lancheira.

— O que é isso? — a mãe perguntou a respeito do papel que segurava.

Joshua se inclinou entre os assentos da frente, mostrando-lhe o papel.

— É um desenho. — concluiu Rosalie. — Quem são as pessoas representadas nele?

Ao explicar, Joshua encostou o indicador em cada uma das figuras.

— Esse é o Dilan. — Mostrou o boneco representado com cabelos escuros. — Está é a Summer, e este — pausou o dedo no boneco de cabelos louros —, sou eu.

— Foi Summer quem deu o desenho a você? Vi que te entregou algo antes de te abraçar.

Joshua balançou a cabeça, confirmando.

— Olha! — mostrou mais abaixo. — Amigos para sempre, ela escreveu.

O carinho de Summer por Joshua fez Rosalie pensar no começo de sua história ao lado de Emmett, ainda lá atrás quando crianças.

— Summer deu um desenho ao Dilan também?

— Esse ela desenhou pelo meu aniversário que é amanhã. Ela já fez um para o Dilan, no aniversário dele. Dilan desenha muito bem, às vezes, Summer fica com vergonha de seus desenhos.

— Entendi. E a mamãe, vai ganhar um beijinho hoje?

Joshua se inclinou para frente dando um beijo estalado em seu rosto. Estava rindo quando se afastou.

— Que delícia de beijo. Agora sente no seu lugar e põe o cinto de segurança, por favor.

— Vamos para casa agora ou vamos à casa da vovó? — Fechou o cinto, e guardou o desenho na mochila.

— Nenhuma das duas opções. Preciso passar no mercado para algumas coisas que estão faltando em casa.

— Vou levar cupcakes na escola amanhã?

— Todos os anos a sua avó faz cupcakes. Esse ano não será diferente.

— Legal! Que bom que amanhã meu pai chega! Estou muito ansioso.

— Eu sei. Vai ser seu primeiro aniversário ao lado de seu pai. — Sorriu para ele, logo depois, pôs o carro em movimento, se distanciando da escola.

Joshua se agitou em seu assento no banco traseiro.

— Nem consigo acreditar — comentou em voz alta. — Vai ser o melhor aniversário de todos.

— Fico muito feliz que seja assim. Você é o amor de minha vida, sabe disso. Se você está feliz, eu também estou feliz.

— E o meu pai?

— O que tem o seu pai?

— Ele também é o amor de sua vida?

— Josh…

— Responde para mim, mamãe.

— Me reservo no direito de permanecer calada.

Joshua rolou os olhos com impaciência.

— Responde mamãe.

— Não quero falar sobre isso.

Joshua cruzou os braços sobre o peito, com uma expressão emburrada no rosto.

— Não aceito que seu amor seja Royce. Nunca irei aceitar. Nunca. Nunca.

Rosalie o observou pelo retrovisor interno.

— Royce não é meu amor. Nunca foi e jamais será. Você pode ficar tranquilo.

Viu a expressão no rosto dele mudar outra vez. Um sorriso cresceu descaradamente.

— Então é o meu pai, mesmo que não diga. Tem de ser o meu pai.

— Você é fogo, menino. Meu Deus!

— Fogo, fogo, fogo… — cantarolou Joshua, como acontecia sempre que a mãe dizia isso para ele.

Rosalie entrou com o carro no estacionamento do mercado e estacionou.

— Fala mamãe. Fala para mim.

— Você sabe que seu pai foi o grande amor de minha vida. Já te falei milhares de vezes.

— Foi? Não é mais? — seguiu insistindo.

Rosalie soltou o cinto de segurança, virando-se no assento, alcançou a barriga de Joshua com cócegas.

— Você é terrível, menino. — Joshua se contorceu rindo alto. Mais um pouco, e ela parou com as cócegas. — Vamos lá? — Ela saiu do carro primeiro. Joshua correu, como sempre, para pegar o carrinho. Deu o impulso e entrou no mercado pendurado no carrinho, parando alguns metros à frente. Ao se aproximar, Rosalie pôs a mão na lateral do carrinho.

— Já chega!

— Só mais uma vez, mamãe — tentou Joshua, cheio de energia para gastar.

— Não, a mamãe precisa do carrinho agora.

— Só mais uma — o olhar de quem implora voltado para ela.

— Se você esbarrar em alguém ou em uma prateleira, como fica?

— Peço desculpas? — arriscou.

— Espertinho. — Se colocou ao lado dele. — Deixe que a mamãe leve o carrinho agora.

Joshua desistiu do carrinho. Os pensamentos voltados à outra coisa de seu interesse.

— Posso escolher doces?

— Um doce apenas. Seu aniversário está chegando. Vai se empanturrar de doces que eu sei.

Joshua disparou pelo corredor.

— Josh, fique onde eu possa te ver.

— Mas os doces não estão aqui, mamãe.

— Vamos passar pelo corredor, tenha paciência.

O menino sacudiu os braços, parado, olhando ela ir à sua direção.

— Paciência. Isso é muito chato. — Inclinou a cabeça de lado, fingindo cochilar. — Eu fico até com sono.

Rosalie não conseguiu evitar sorrir. Isso deixou Joshua em alerta outra vez.

— Posso ir, mamãe?

— Vou colocar você para praticar ioga.

— Me deixe fora dessa. Ioga é uma chatice.

— Precisamos de açúcar. Pode ajudar a mamãe pegando o açúcar e trazendo até o carrinho?

Joshua se balançou de um lado para o outro, então, foi pulando fazer o que a mãe pediu.

— Quanto de açúcar você precisa, mamãe?

— Pegue dois pacotes, em casa ainda tem um pouco. — Mais adiante, Rosalie pegou café, e Joshua, achocolatado. Assim, os dois foram enchendo o carrinho. Após pagarem pelas compras, Joshua ajudou colocar tudo no carro.

Fechava o porta-malas quando ouviu alguém chamar seu nome.

— Rosalie.

Ambos se viraram, tentando descobrir quem estava chamando. A expressão de raiva rapidamente se fez no rosto de Joshua. Rosalie, nitidamente incomodada ao descobrir quem a chamava.

— Royce — falou devagar. Levou a mão no carrinho de compras vazio, encontrando nele o motivo para fugir de uma provável conversa.

— Coincidência encontrar os dois aqui fora. Outro dia, os encontrei lá dentro.

— Você está seguindo a gente — Joshua acusou.

Rosalie olhou de Royce para o filho.

— Entre no carro — disse ao menino, mas ele não se moveu.

Royce disfarçou o incomodo causado pela acusação, se defendendo.

— Não estou fazendo isso — havia raiva em seus olhos ao olhar Joshua, o oposto de quando olhava a mãe dele, sempre simpático.

— Entre no carro — Rosalie insistiu. Dessa vez Joshua obedeceu, mas, antes lançou um olhar feio a Royce. Rosalie aguardou a porta bater para voltar a falar: — Estou começando pensar que está, sim, nos seguindo.

— Claro que não — defendeu-se mais uma vez.

— Posso até estar ficando doida, mas posso jurar ter visto seu carro passando durante a madrugada na minha rua outro dia. Tive a mesma impressão, mais de uma vez, enquanto ia a alguns lugares.

— Invadiu nosso jardim para me assustar — Joshua acusou com a cabeça para fora da janela.

O olhar de Rosalie foi de Royce para o menino e novamente para Royce.

— Do que ele está falando? — Royce questionou.

— É muito incomoda toda essa situação — confessou Rosalie.

— Não sei ao que Joshua se refere.

— Se é verdade ou não, eu não sei. O que sei é que para mim já deu, essa sensação de estar sendo seguida, observada o tempo todo. Desde que voltou, força um contato que apenas você deseja.

A expressão no rosto de Royce variou entre surpresa e descontentamento, ainda que tentasse disfarçar.

— O que aconteceu na casa noturna, não era para ter acontecido. Disse isso desde o primeiro momento. Não estava pensando em você quando aconteceu. Eu sinto muito. Tivemos nosso tempo, mas ele acabou. Foi uma tentativa, você sempre soube, nunca escondi. — Afastou o carrinho de compras vazio de detrás do carro dando alguns passos.

— Sempre achei que perdeu muito tempo de sua vida, lembrando-se de uma pessoa que não esteve ao seu lado quando mais precisou — Royce cutucou.

Rosalie apertou os olhos, se esforçando em manter o controle, antes de virar e responder:

— Você sabe que não foi assim. Não como está tentando fazer com que pareça. Fui eu que me afastei. Emmett não sabia de Josh.

Royce moveu a cabeça, como duvidasse.

— Podíamos ter sido felizes — lamentou. — Só tinha de deixar esse cara no passado, onde é o lugar dele.

— Emmett é parte do meu passado, que esteve sempre presente. E, o mais importante, eu nunca deixei de amá-lo. O que eu e você tivemos, não foi nada comparado ao que vivi ao lado dele.

— Eu podia ter sido um pai para seu filho.

— Josh tem um pai, não precisa de outro. Por favor, Royce, pare de forçar um contato que não está dando certo. Na verdade, nunca deu.

— Está com ele? — tentou.

— Não estou com ninguém. Isso que está fazendo, quero que acabe aqui.

Suas palavras pareceu finalmente atingi-lo. Royce deu um passo para trás.

— O garoto está sempre em primeiro lugar — jogou para ela.

— O que esperava Royce? O garoto é meu filho. Minha responsabilidade.  — Moveu a cabeça, achando um absurdo o que ouviu. Aproximou-se da porta no lado do motorista. — Só pare com o que está tentando fazer. — Alcançou a porta com a mão e entrou no carro sem esperar que respondesse. Respirou fundo ao se colocar atrás do volante.

Joshua se pendurou na janela. Royce ainda estava ali, olhando o carro deles.

— Sente direito e coloque o cinto — Rosalie pediu.

— Royce ainda está lá — disse o menino.

— Faça o que estou pedindo, Josh.

— A cara dele — avaliou Joshua. — Parece sentir dor.

— Joshua.

Após ouvir seu nome, Joshua entendeu que precisava obedecer. Sentou-se e apertou o cinto. Ainda tentou enxergar Royce de seu assento, mas não conseguiu.

— Ele ainda está lá, mamãe?

Rosalie observou pelo retrovisor interno.

— Está.

— Estou ficando com medo — confessou Joshua. — Ele parece maluco.

Rosalie sentiu as mãos trêmulas ao volante. Olhou novamente no espelho retrovisor interno, Royce estava finalmente se afastando.

— Ele já foi?

— Sim. — Conseguiu finalmente manobrar, saindo da vaga e também do estacionamento.

Perto de casa, Rosalie avistou um carro estranho estacionado junto ao meio-fio. Estacionou atrás do veículo desconhecido, soltou o cinto de segurança, sem saber o que esperar.

— Espere aqui — disse para Joshua, que se agitou no assento, arrancando o cinto com impaciência.

— É o meu pai — observou o menino. No instante seguinte, estava saindo do carro às pressas.

— Você sabia que seu pai viria hoje? — Joshua não parou para responder. Rosalie saiu do carro enquanto ele corria para encontrar-se com o pai.

— Papai.

— Ei, garotão.

Rosalie assistiu aos dois se abraçarem do outro lado da cerca branca. Feliz por vê-los juntos outra vez. Porém, recordar a última vez que esteve com Emmett a deixou triste. Permitiu que se abraçassem, voltando para pegar a chave da casa no carro e a bolsa. Pegou também algumas sacolas de compras que iriam ao refrigerador. Passou pelos dois sem interrompê-los, estavam tão felizes. Abriu a porta e foi direto para cozinha, onde abriu a geladeira e começou guardar parte das compras.

Percebeu que Joshua e o pai também entraram. E conversavam animados na sala.

— Que maneiro — comemorou Joshua.

Rosalie voltou pela sala para pegar o restante das compras no carro. Eles não paravam de falar. O sentimento de exclusão apertou o coração. Vê-los juntos era como estar vivendo um sonho. Por outro lado, a rejeição e frieza por parte de Emmett, doíam bastante.

Dedicou-se guardar o restante das compras. Antes de começar preparar o jantar, foi à sala pedir que Joshua fosse para o banho.

— Vida — pai e filho pararam a conversa prestando atenção ao que dizia —, é hora do banho.

— Ah — Joshua gemeu, contrariado. — Me deixe ficar mais um pouco com meu pai, por favor.

— Seu pai ainda vai estar aqui quando terminar.

— Vá tomar banho, campeão. Eu não vou a lugar algum.

Joshua se voltou para o pai com um sorriso no rosto.

— Está bem, eu vou. Espere por mim, papai.

— Pode ir tranquilo. Ainda estarei aqui quando voltar.

Joshua saiu correndo pela sala e então pelo corredor até estar no banheiro. O barulho da porta revelou a Rosalie que era seguro tentar uma conversa com o pai dele.

Emmett tentou se distrair mexendo num dos dinossauros do filho que ficou no sofá, ignorando o fato de Rosalie estar ao seu lado.

— Até quando vai me tratar assim? — questionou. Sentiu um nó na garganta e uma imensa vontade de chorar.

Assistiu ele mudar o dinossauro de mão em silêncio. Incomodada, retirou o brinquedo das mãos dele como teria feito se fosse Joshua a ignorar sua presença.

Finalmente, conseguiu sua atenção.

Emmett encontrou em seus olhos raiva por estar sendo ignorada, mais do que isso, encontrou tristeza e mágoa.

— Até quando? — insistiu ela.

— Até achar que merece.

— É isso? — anunciou. — Tudo não passa de um joguinho onde o objetivo é me ferir, me punir. Pode comemorar, está conseguindo, Emmett — respirou fundo antes de voltar a falar: — O modo como saiu daqui, após termos ficado juntos, acabou comigo. Usou de meu amor por você para me ferir. Ainda que eu não te amasse, não tinha o direito de fazer comigo o que fez.

— Nem você — apontou. — Tirou de mim o direito de estar com meu filho nos primeiros anos de vida dele.

— Nada do que fiz foi pensando em seu mal. Por que é tão difícil assim para você entender?

— Você entende a mim?

— Já pedi desculpas.

— Desculpas não são suficientes. Não traz de volta todo tempo perdido. Não muda o fato de que a garota que eu tanto amei me enganou todo esse tempo. Me privou de parte importante de nossas vidas.

“Que amei”, essas duas palavras ficaram incansavelmente martelando na cabeça de Rosalie.

— Não dá — declarou com a voz trêmula — Não consigo passar por isso sem me sentir destruída. Eu pensei em você… muito.

— Já que minha presença te faz mal, posso ir para um hotel depois que meu filho dormir.

A voz de Joshua os interrompeu antes mesmo de sua presença ser notada.

— Por que está mandando meu pai embora? — ele vestia cueca com estampa de dinossauros, e seus cabelos estavam úmidos.

— Não estou mandando seu pai embora — respondeu, preocupada com que poderia ter ouvido da discussão.

Joshua se colocou ao lado do pai.

— Se meu pai for embora, eu vou com ele.

— Josh… — a voz soou chorosa. Medo e choque pelo que ouviu do filho.

Joshua segurou na mão do pai como quisesse provar ser verdade o que dizia.

— Quer estragar meu primeiro aniversário ao lado do meu pai. Por que está fazendo isso?

— Não. — Balançou a cabeça. — Quero que seja o melhor aniversário que já teve.

— Então não brigue com meu pai.

Emmett passou a mão na cabeça de Joshua.

— Vai ficar tudo bem. Não vou me afastar. Agora volte lá e termine de se vestir.

— Eu vou com você, papai?

— Vá vestir seu pijama.

— Tá! — o menino saiu de fininho, olhando a mãe como fosse botar o pai dele para fora a qualquer momento.

Outra vez sozinhos, Rosalie começou dizendo:

— Não pode fazer isso, levar Josh para longe de mim em um dia tão importante. Nunca ficamos um só aniversário longe um do outro. Sempre fui a primeira pessoa a lhe desejar feliz aniversário.

— Esse ano vai diferente.

Rosalie agiu no desespero ao agarrar seu braço.

— Não o leve — Emmett a olhou. — Por favor — implorou, libertando o braço dele do aperto de seus dedos.

Emmett ergueu o braço para tocar seu rosto, desistindo do gesto no caminho.

— Vai ser diferente — começou —, porque vou estar aqui, desejando feliz aniversário a Josh ao seu lado. — Viu alívio no rosto dela ao dizer aquelas palavras. — Não irei fazer nada que possa afastá-lo de você. Apesar de tudo, nosso filho não poderia ter mãe melhor. Agora, ainda que minha presença te incomode, posso ficar para passar a noite e acordar perto do meu filho?

— O que me incomoda é que finja… — Joshua retornou impedindo de continuar o que dizia. Agora de pijama, olhou os pais tentando descobrir o que diziam antes de ele chegar.

— Eu tenho de preparar uma mochila, papai?

— Não, filho. Você vai dormir na sua cama.

— Se você vai, eu também vou.

Emmett quase sorriu.

— Não vou a lugar algum, Josh.

— Minha mãe não quer mais que você vá?

Emmett olhou Rosalie um instante.

— Ela nunca quis que eu fosse.

O menino cruzou a sala para abraçar a cintura da mãe. Ela afagou seus ombros, e também as costas.

— Quem sabe um dia sua mãe possa me perdoar.

Joshua olhou para ele, depois para a mãe, sem entender ao que se referia.

— Perdoar pelo quê? O que você fez?

O olhar de Emmett cruzou com o de Rosalie. Ela enxugou uma lágrima antes que essa alcançasse o rosto.

— Ela sabe ao que estou me referindo.

Joshua avaliou o rosto da mãe. — Não fique triste, mamãe. Eu quero que estejamos os três juntos.

Rosalie balançou a cabeça, segurando a vontade de chorar. Então, passou a mão nos cabelos do menino.

— Eu te amo, vida.

— Também amo você, mamãe. Mas eu não gosto quando ficam discutindo, os dois. Eu tenho medo.

[…]

Pouco antes de o horário de Joshua levantar para ir à escola, Rosalie foi até o quarto dele, levando um cupcake com creme verde em cima e uma vela laranja.

Abaixou-se ao lado do colchão onde Emmett dormia. Receosa, encostou a mão ao seu braço sacudindo para acordar. Levou um instante para que abrisse os olhos. Ele pareceu surpreso ao ser acordado por ela. Mesmo àquela hora da manhã, estava linda; de pijama branco, os cabelos soltos acariciando os ombros nus.

Sentou-se, sem deixar de olhar no rosto dela, desejando acolhe-la em seus braços uma vez mais. Rosalie sentiu o carinho em seu olhar. De alguma forma, isso a vez sorrir de leve.

Sentindo que o dia começou bem em relação à Emmett, conseguiu falar sem receios:

— Quer acordar ele cantando parabéns junto comigo?

Emmett segurou sua mão com o cupcake.

— Eu quero muito fazer isso ao seu lado.

Rosalie sorriu, e este sorriso chegou aos seus olhos. Emmett esteve a ponto de tocar seu sorriso com os dedos e desistiu.

— Vamos? — testou ela. Ambos ficaram de joelhos no colchão ao lado da cama de Joshua, se preparando.

Emmett tocou na perna do menino enquanto ele dormia. Rosalie ainda segurava o cupcake.

— Parabéns para você… Parabéns para você… — cantarolou o pai e a mãe juntos.

Joshua se virou de lado, ainda querendo dormir.

— Parabéns para você… — seguiram cantando.

Joshua se espreguiçou. De repente, se lembrou de que era seu aniversário e que o pai e a mãe estavam juntos dando-lhe os parabéns antes de qualquer pessoa. Observou os dois juntos rodeando-o com tanto amor. O melhor aniversário de todos, pensou. Um sorriso com covinhas que enfeitavam o rosto, não demorou aparecer. Um sonho seu se realizava naquela manhã.

— Parabéns, querido Josh. Parabéns para você — finalizaram o pai e a mãe, sorrindo para ele.

— Está feliz, vida?

Joshua sentou na cama.

— Sim! — disparou, empolgado. — Muito, muito, muito feliz.

— Sopre a vela, filho — instruiu Emmett. O sorriso em seu rosto o reflexo do sorriso de Joshua.

— Faça um pedido — Rosalie lembrou.

— Eu desejo… Eu desejo… Que o meu pai e minha mãe me levem na escola hoje!

— Não pode falar o desejo em voz alta — a mãe lembrou mais uma vez.

— Eu preciso que vocês saibam, porque é um desejo para este dia. Para esta manhã.

Rosalie e Emmett trocaram olhares. Joshua soprou a vela. Muito animado, se agarrou ao pescoço dos dois em simultâneo, forçando a estarem próximos. Ainda enquanto se afastava, questionou:

— Terei meu desejo realizado?

Os pais trocaram olhares novamente. Emmett viu no olhar de Rosalie, o pedido silencioso. Querendo muito que ficassem os três juntos um pouco mais, confirmou com um balançar de cabeça. E para o filho disse:

— Hoje é você quem manda.

Uma gargalhada gostosa fez o corpo de Joshua sacudir.

— Quem o é neném da mamãe que está ficando mais velho hoje? — A mãe fez cócegas até ele estar se contorcendo.

— Não sou neném — retrucou entre risos. — Sou um menino grande.

— Uh! — brincou Rosalie. — É meu neném, sim.

Joshua pediu reforços, gargalhando.

— Papai, me ajude.

Rosalie olhou no rosto de Emmett, quase tão feliz quanto o filho estava.

— Você não acha que ele é um neném? — pediu.

Joshua se contorceu, afastando as mãos dela de sua barriga.

— Não, o meu pai não acha.

Rosalie pegou na mão de Emmett. Ele estava enfeitiçado com os dois interagindo com tanta alegria. O sorriso que ela tanto ama, no rosto dele, assim como estava no rosto de Joshua.

— Ele finge, mas gosta que faça cócegas nele — comentou, sugerindo que Emmett fizesse cócegas, também, no filho.

Um instante depois, os três estavam embaralhados na cama de solteiro, rindo como fossem três crianças. Joshua foi quem falou primeiro:

— Posso faltar na escola hoje?

— Não — o pai e a mãe responderam juntos.

Joshua voltou se sentar, ainda sorrindo.

— Eu não ligo — admitiu. — Estou muito feliz. — Vibrou, pulando na cama.

— Precisamos passar na casa de sua avó, para pegar os cupcakes que ela fez para você levar na escola hoje. — Ela se levantou. — Vá se trocar, vida.

Joshua pulou nas costas do pai, assim que ele se sentou.

— Meu pai me ajuda hoje.

— Não demorem, está bem? Lembre-se que não pode chegar atrasado.

Ainda conseguiu ouvir Joshua dizendo ao pai que estar nas costas dele fazia com que se sentisse feliz e também muito alto.

[…]

Joshua tinha um sorriso no rosto quando o pai parou o carro, com a mãe no banco do carona, na frente da casa dos avós maternos onde pegariam os cupcakes que dividiria com os colegas em sala de aula.

Rosalie foi quem mostrou a Emmett o caminho. Preparou-se para sair, assim que o veículo parou.

— Vou pegar os cupcakes — falou. — Eu não demoro. Josh, sua avó vai querer te dar um beijo. — Fechou a porta, e aguardou o filho sair também do carro. Joshua largou a porta do carro aberta, correu até a porta da frente da casa dos avós e tocou a campainha.

— Vovó — chamou, cheio de ansiedade.

— Ela já está vindo, filho.

Joshua subiu e desceu nos calcanhares, concentrado em olhar a porta fechada.

Enquanto aguardavam ser atendidos, Emmett saiu do carro. Viu quando Esme abriu a porta e, com um sorriso amável, abraçou o neto, desejando-lhe um feliz aniversário. Carlisle apareceu logo atrás dela, e também abraçou o neto. Vê-los ali, tão unidos, trouxe conforto ao seu coração. Apesar da escolha equivocada de Rosalie, em fugir escondendo a gravidez, nunca faltou amor e carinho a Joshua.

Os pais dela notaram sua presença, acenando então em sua direção. Acenou de volta para eles. Os quatro conversaram, mas não conseguiu perceber do que falavam.

— Quando Emmett chegou? — Carlisle perguntou a filha.

— Ontem — Joshua respondeu pela mãe.

Carlisle assentiu, prestando atenção no rosto da filha, tentando descobrir se estava tudo bem.

— Carlisle, querido — sugeriu Esme —, vá com Josh pegar as caixas com os cupcakes na cozinha.

— O meu pai está esperando, vovó.

— Eu sei querido. Não vai demorar. Vá com seu avô, um instante.

Joshua olhou para trás, buscando um sinal do pai que indicasse que esperaria por eles. Emmett fez sinal positivo com a mão, só assim, Joshua se sentiu confortável em entrar na casa com o avô.

— Então, como vocês estão? — Esme aproveitou para verificar.

— Não sei direito. — Rosalie olhou discretamente na direção do carro onde Emmett os aguardava, recostado à porta. — Tivemos uma discussão ontem e Josh viu. — Esme tocou seu braço em sinal de apoio. — Mas ficou tudo bem, depois. Eu acho.

— Já falaram sobre o que aconteceu na última vez que estiveram somente os dois juntos?

— Esse meio que foi o que deu início a discussão. Não chegamos a falar abertamente sobre o assunto ainda. — Avistou Joshua voltando com o avô, cada um carregando uma caixa de cupcakes. — O motivo vem vindo aí — emendou. E sorriu para o filho.

— O vovô ficou com um cupcake para ele — entregou.

— Carlisle — Esme repreendeu num tom de brincadeira.

— Eu vou levar pro carro — avisou Joshua, passando direto pela avó e a mãe para ir encontrar o pai.

— Agradeça sua avó, vida.

— Obrigado, vovó — ele agradeceu enquanto andava.

— Desculpe mamãe. Ele está empolgado demais com o pai por perto hoje.

— Não se preocupe, eu entendo perfeitamente. É o primeiro aniversário que passa com o pai. Seu pai também entende. — Ela olhou para o marido e o encontrou mordendo o cupcake. Pegou a outra caixa que estava com ele e entregou nas mãos de Rosalie. — Leve antes que seu pai coma todos os bolinhos das crianças.

Rosalie sorriu.

— Obrigada, mamãe. — Se despediu dos pais, levando a segunda caixa de cupcakes para o carro.

Emmett esperou ela entrar no carro para fazer o mesmo. Joshua ocupava seu assento, pronto para ir.

[…]

Os dois acompanharam Joshua até a entrada da escola. Rosalie carregou ambas as caixas de cupcakes uma em cima da outra.

— Consegue carregar tudo, vida?

— Consigo, sim.

— Josh — os amigos, Summer e Dilan, chamaram do corredor. — Feliz aniversário! — disseram, em seguida, correram para receber o amigo.

Rosalie e Emmett observaram com satisfação o carinho dos amigos com Joshua.

— Summer, você ajuda Josh levar os cupcakes?— pediu Rosalie a menina.

Summer estendeu os braços, pronta para receber uma das caixas.

— Obrigada, querida.

Após entregar uma das caixas a Summer, Rosalie beijou no rosto de Joshua.

— Te amo — disse-lhe.

Então foi a vez do pai se despedir com um abraço.

— Tenha um bom dia, filho.

— Amo vocês — Joshua declarou, virando-se para ir com os amigos.

Ocorreu uma troca de olhares entre Rosalie e Emmett, na porta da escola, em meio a um silêncio estranho. Emmett decidiu então falar:

— Está fazendo um excelente trabalho com Josh.

— Obrigada, tenho me esforçado. Às vezes não é fácil.

Enquanto retornavam juntos para o carro, ele tornou dizer:

— A amizade entre Summer e Josh, me soa familiar.

Sem olhar para ele, Rosalie sorriu, recordando a época onde tudo começou.

— Então, onde devo deixá-la agora? — pediu.

— Preciso trabalhar. Pode só me levar de volta para casa. Lá, eu pego meu carro e vou para trabalho.

— Posso levar você no trabalho. — confirmou. — Fica livre no horário que Joshua sai da escola, certo? Posso pegar você primeiro depois nós vamos juntos pegar nosso filho.

— Se não for incomodar.

— Não estarei fazendo nada o dia inteiro. Quero dizer, além de ir comprar o presente de aniversário de Josh.

Rosalie mexeu na bolsa, procurando a chave de casa.

— Fique com ela — disse ao entregar a chave na mão de Emmett. Nesse momento, suas mãos se tocaram. O contato reavivou sentidos e memórias. — Podemos ir?

— Obrigado — respondeu, olhando nos olhos dela, ainda pensando no toque de suas mãos e no que sentiu quando o momento aconteceu. Fez sinal indicando que fosse à frente.

Rosalie começou ir em direção ao carro. Emmett se colou ao seu lado.

[…]

— Então é aqui que trabalha? — comentou, no estacionamento da pousada quando se despediam. — Parece ser um lugar tranquilo e aconchegante.

— E é — Rosalie confirmou. Olhou a fachada da pousada, criando coragem para dizer o que estava pensando: — Te vejo mais tarde, então. — Se inclinou beijando no rosto dele, os lábios se demorando na pele, sentindo a leve textura da barba recém-aparada. Suas testas chegaram a se tocar. A respiração ficou pesada. Não resistiu em acariciar o rosto dele. Lutando contra o desejo de se entregar, afastou-se. Emmett desejou o mesmo, embora, não tenha dito nada.

Rosalie avistou o carro de Royce a poucos metros de onde Emmett estacionou o carro alugado. O corpo reagiu com tensão à presença incomoda.

— O que houve? — Emmett pediu. A mão tocando seu cotovelo sutilmente.

— Royce.

Olhou na mesma direção que ela olhava. E fez menção de sair do carro.

— O que vai fazer? — pediu nitidamente preocupada. — Emmett, não. — Ela saiu do carro para ir atrás dele. Tentou impedi-lo segurando seu braço, mas ele não parou.

Emmett bateu com a mão na lataria do carro de Royce ao se aproximar. Lá dentro, ele se moveu como tivesse levado um susto. Emmett se dobrou na janela do carona.

— O que pensa que está fazendo? — questionou Royce.

— Não gosta de levar susto? — lembrou Emmett. Sem paciência, enfiou a mão no interior do carro, puxando Royce pela camisa de botões. — Fique longe de Rose e de meu filho. — Empurrando-o ao soltar a camisa. Bateu mais uma vez na lataria do carro. — Josh jura que foi você quem assustou ele usando a máscara ridícula de coelho. Também disse que anda incomodando aos dois. — Voltou pôr a mão no interior do carro, e Royce se esquivou. — Fique longe deles, ou vai ser pior para você.

— Está me ameaçando?

— Estou te dando um aviso. — Bateu mais uma vez na lataria e se afastou do carro. Encontrou Rosalie no caminho, pôs a mão em suas costas, escoltando-a até a entrada principal da pousada.

— O que disse para ele? — questionou, sem olhar para trás.

— Que ficasse longe de nosso filho. E que não voltasse incomodá-los.

Ficou de frente para Emmett ao alcançar a porta.

— Obrigada.

— Volto para irmos buscar Josh no final do horário letivo. — Segurou nos dedos dela, resistindo em soltar, mas quando o fez, não olhou para trás. Rosalie se pegou observando suas costas largas à medida que se afastava.

 

 


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