Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 15
Capítulo 15 — Ouça Meu Coração




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Mesmo tão cedo, o céu estava lindo lá fora. Rosalie abriu as persianas permitindo a luz entrar enquanto preparava o café da manhã, antes de Joshua sair para a escola. O pai estava auxiliando ele no quarto. Ocasionalmente, ouvia os dois rindo.

É verdade que estava arrependida de ter enganado Emmett como enganou. Mas nunca, nem por um segundo, se arrependeu de ter um filho com ele.

Não sabia se Emmett tomaria café com eles. Dividir com ela suas decisões parecia não ser mais importante. Na dúvida, fez ovos mexidos com bacon e torradas suficientes para os dois. Disponibilizou algumas frutas à mesa. Optou por mamão com granola, mel e um iogurte natural.

Ouviu os passos de Joshua quando chegava à cozinha. Ele correu até a mesa ocupando o lugar de costume.

— Meu pai vai me levar na escola hoje, como fez na outra vez que esteve aqui. — Estava inquieto na cadeira.

Rosalie levou para ele a comida.

— Coma devagar. Tem tempo ainda. Suco ou leite? — perguntou.

— Leite, por favor. — Enfiou a colher cheia de ovos mexidos na boca.

A mãe preencheu o copo dele com leite.

— Sabe se seu pai vai tomar café conosco? — Ela olhou para o lado. Emmett acabava de chagar a cozinha, vestido de forma impecável, pronto para levar Joshua na escola, então deixaria a cidade como fez da outra vez em que esteve com eles.

— Vou tomar café com meu filho. Espero que não se importe.

Ainda que tenha deixado claro que era por Joshua, gostou de saber que estaria com eles para o café.

— É claro que não me importo. — Ela tinha um quase sorriso no rosto quando respondeu. — Josh preferiu leite, mas, tem suco de laranja e café. Fique à vontade para escolher.

— Vou ficar com o café. — Ele se movimentou pela cozinha. — Não se preocupe, eu mesmo posso me servir. — Buscou uma caneca no armário e foi até onde ficava a cafeteira.

Rosalie acompanhou todos os seus movimentos com o olhar. Pegou-se imaginando, Emmett indo até ela, descansando as mãos em sua cintura, então, beijando-a como fazia quando ainda namoravam. Tomado pelo desejo louco de fazer amor com ela.

Forçou-se deixar os pensamentos de lado. Acanhada, percebeu Emmett já sentado à mesa de frente a Joshua.

— Mamãe.

— Oi, vida?

— Não vai sentar?

— Vou, vou sim — respondeu. E puxou a cadeira ao lado de Joshua, onde sentou.

Emmett não conversou qualquer coisa com ela. Foi como apenas Joshua estivesse sentado à mesa. Desistiu de esperar uma palavra ou mesmo um sorriso que fosse. Terminou a primeira refeição do dia olhando os objetos a mesa, entristecida.

Pediu licença e foi deixar a louça que usou na pia. Mesmo sem olhar, soube que também haviam se levantado.

Joshua deixou a louça na pia. Quando terminou, abraçou sua cintura.

— Tchau, mamãe — despediu-se finalizando o abraço.

— Tchau, vida. Tenha um bom dia na escola.

— Você também, mamãe. Tenha um bom dia no trabalho.

Não saiu do caminho ao perceber Emmett trazendo a louça para a pia como haviam feito ela e Joshua. O corpo dele chegou roçar ao seu. Foi o melhor momento da manhã. Esperou que se despedisse, em vez disso, limitou-se agradecer.

— Obrigado pelo café da manhã.

— Tchau! — se pegou dizendo. Emmett olhou para trás, em seguida, saiu da cozinha acompanhado por Joshua, depois da casa.

Rosalie se apressou em chegar à sala, se posicionando atrás da janela a tempo de ver um pouco mais, antes de ele voltar para a vida em Nova Iorque e levar a semana inteira para voltar a vê-lo. O viu abrir a porta do carro para o filho. Se certificar de estar preso ao assento e tornou fechar a porta. Ele estava sorrindo. Sentiu-se triste. Nem sequer um sorriso voltou a ser seu desde a discussão no porão da casa dos pais dele, quando contou sobre Joshua. Teve a sensação dolorosa de ter sido apagada da vida dele.

Emmett entrou no carro e partiu. Antes, percebeu Joshua olhar a casa, mas, não soube dizer se a viu espiando na janela. Deixou os pensamentos de lado e tratou de ir organizar umas coisas na casa antes de sair para o trabalho.

[…]

Emmett estacionou em frente à escola primaria. Retirou o cinto de segurança e se virou para falar com Joshua.

— A Summer e o Dilan já chegaram — disparou Joshua, ansioso por se encontrar com os amigos.

— Acho que estão esperando por você.

O menino se livrou do cinto rapidamente.

— Espere um pouco — pediu o pai. — Quero fazer uma foto nossa. — Procurou pelo telefone celular.

Joshua percebeu que ficou preocupado. Então, se colocou de pé entre os brancos para falar:

— O que aconteceu, papai?

— Não estou encontrando meu telefone. — Ele parou de procurar, olhando para Joshua. — Devo ter deixado na casa de sua mãe.

— Se não estiver lá, como vai fazer para nossa chamada de vídeo à noite?

Emmett ergueu a mão até estar na nuca do filho.

— Se não encontrar, comprarei outro. Nada vai impedir de eu falar com você. Agora, dá aqui um abraço no papai.

Joshua o abraçou. Emmett abriu a porta no lado do motorista e Joshua saiu do carro por ela. Colocou a mochila nas costas dele e entregou a lancheira. Deram-se mais um abraço do lado de fora do carro. Joshua correu para se juntar aos amigos. As três crianças acenaram para Emmett da porta da escola.

[…]

Retornou à casa de Rosalie, deixando o carro junto ao meio-fio. Precisava tentar. Não podia ir embora sem o telefone, toda sua agenda de trabalho estava nele. Torceu para encontrá-la em casa.

Apressou-se até a porta da frente. Levou a mão à campainha, mas nem chegou a tocar. A porta foi aberta revelando Rosalie do outro lado, pronta para sair. A expressão de quem não entendia o que estava acontecendo marcou seu rosto.

— Não encontro meu celular — começou. — Devo ter deixado ao lado da cafeteira quando fui servir meu café.

Saiu do caminho para ele poder passar para o lado de dentro.

— Por pouco não me encontra em casa. Estava saindo agora mesmo para o trabalho.

— Não quero atrapalhar. Pegarei o telefone e irei embora. — Se encaminhou a cozinha, sem mesmo olhar para trás.

— Emmett, espera… — Ele não esperou. Voltou a vê-lo já na cozinha, com o telefone na mão. Moveu a mão para que visse que o havia encontrado. Ele veio em sua direção, passando direto outra vez. — Emmett — insistiu, segurando seu braço. — Não me trate assim — pediu.

Ele focou a mão segurando seu braço, então, o rosto de Rosalie.

— Assim como? — questionou num tom desafiador.

— Como não importasse para você. Como tudo que vivemos juntos não tivesse significado nada.

— Você tratou nossa história assim, quando decidiu mentir para mim. — Moveu o braço forçando soltá-lo. Ela o soltou, mas foi para tocar seu rosto. A barba bem feita. A sensação de poder tocá-lo mais uma vez, foi reconfortante.

— Sinto falta de você sorrindo para mim.

Emmett balançou a cabeça tentando ignorar o que a carícia causava a seus sentidos. Resistindo aos sentimentos e o desejo de tê-la outra vez em seus braços.

— Ainda te amo — murmurou Rosalie. — Jamais deixei de te amar.

Finalmente, conseguiu que olhasse em seus olhos, no fundo, como pudesse ver sua alma.

— Quero você. — Passou os braços em volta do pescoço dele. — Me faça recordar como é ser sua. Sinta as batidas de meu coração. Ouça o que ele diz.

Emmett permitiu a testa encostar a dela, respirando fundo, recordando como era fazer amor com ela. Os lábios de Rosalie roçaram-se aos seus arrebatando os sentidos, o controle, a sanidade.

Ergueu-a do chão no impulso. As pernas dela se prenderam a sua cintura. As mãos, a seu pescoço.

— Vai me deixar maluco — falou com dificuldade, unindo os lábios dela aos seus com voracidade. Agoniado, explodindo o desejo de estar com ela uma vez mais.

Rosalie arrancou a própria blusa, restando ainda o sutiã de renda na cor salmão. Emmett beijou seu pescoço e colo, e novamente buscou seus lábios. As costas dela alcançaram a parede no corredor. Antes disso, o vaso e uma mesinha tombaram na sala, os cacos se espalharam no chão. A porta do quarto dela bateu. No chão, a trilha de roupas ficou para trás. O telefone, outra vez esquecido num canto qualquer.

[…]

Acordou do cochilo, após ter feito amor com Emmett, sozinha na cama. Gostaria de ter acordado com a cabeça apoiada ao peito dele, da mesma forma como adormeceu, a mão dele acariciando seus cabelos e costas.

— Emmett — chamou por ele, a voz sonolenta, esperando que fosse responder de dentro do banheiro. Notou o silêncio na casa e os pássaros no jardim. — Emmett? — dessa vez, chamou com desconfiança. Enrolada ao lençol saiu da cama indo verificar no banheiro. Depois, abriu a porta do quarto e olhou no corredor. O sentimento de abandono machucou. Foi até a sala, seguindo a trilha de roupas que era agora só sua. Nem mesmo o telefone, o motivo pelo qual voltou. Emmett havia ido embora. Não esperou para se despedir. Sentiu-se usada. Incapaz de segurar o choro. Com um quase grito, se sentou no sofá, as pernas encolhidas embaixo do corpo. A maquiagem feita antes para ir ao trabalho, borrada agora. O corpo sacudiu com soluços. Encostou a cabeça à almofada, manchando o tecido com as lágrimas. Com dificuldade em aceitar que a deixou sozinha.

[…]

O som do carro ligado, tocando uma de suas músicas favoritas, as mãos ao volante, a atenção na estrada, porém, os pensamentos inteiramente em Rosalie, no que aconteceu recentemente na casa dela. Ainda não conseguia acreditar que voltou acontecer. Tantos anos depois, ainda sentiam o mesmo desejo e fogo de quando começaram se envolver. Conheciam um ao outro como outro alguém jamais chegou conhecer. Foi tão bom quanto recordava.

A imagem de Rosalie deitada, descansando a cabeça em seu peito após terem feito amor, começando cochilar enquanto a respiração normalizava. Quase desistiu de ir embora. Por muitos anos guardou memória semelhante. Jamais deixou de amá-la, e, mesmo agora, seria impossível acontecer. Sentimentos conflitantes não permitiu ficar ao lado dela. Mesmo amando-a como no primeiro dia, desejava puni-la.

Não se sentiu orgulhoso, tampouco ficou confortável em sair da cama, do quarto e também da casa, sem se despedir. Sem deixar um bilhete, qualquer coisa que não o fizesse tão canalha.

A primeira parada no sinal de trânsito foi como um desafio. Pensou em voltar, quem sabe teria sorte e a encontraria ainda na cama. Pediria flores e diria que levantou para preparar um lanche.

Mesmo antes de o sinal abrir, o telefone tocou. A ligação de trabalho exigia sua presença na empresa em algumas horas. Seguiu com o plano inicial; chegar a Raleigh, entregar o carro alugado e partir para o aeroporto com destino a Nova Iorque.

[…]

Rosalie perdeu a noção do tempo, largada no sofá da sala, ora chorando, ora cochilando.

A campainha soou ao longe, como fosse um sonho. Não parava. Batidas na porta intercalaram o som da campainha. Alguém gritou seu nome do lado de fora. Só a partir desse momento entendeu haver alguém a sua porta, de verdade.

Levantou enrolada ao lençol. Os cabelos uma bagunça. Os olhos inchados de tanto chorar.

Esme estava do outro lado, quando finalmente abriu a porta. O olhar preocupado e ao mesmo tempo de alguém que não acreditava no que via.

— Meu Deus! — exclamou. — O que aconteceu com você? — Rosalie se afastou. Esme fechou a porta ao entrar na casa.

— Mamãe, o que está fazendo aqui essa hora?

— Me ligaram da escola de Josh. Não foi buscar ele. E ele não tem permissão para voltar no ônibus.

As palavras da mãe lhe causaram espanto. Não era possível que fosse tão tarde como estava dizendo. Movimentou-se pela sala procurando para conferir a hora no visor do celular.

— Não pode ser — as palavras escaparam com espanto.

— Mas é.

Puxou o lençol embrulhando-se um pouco mais, pensando em correr ao quarto e pôr uma roupa decente.

— Seu pai foi buscar ele.

O suspiro de alívio foi audível.

— Liguei para seu número, tanto do celular quanto o fixo, várias vezes e não atendeu. — Esme continuou. — Tentei o número de Alice. Ela me disse que enviou uma mensagem de texto muito tempo depois de ela, também, ter tentado falar com você. Disse a ela que não estava se sentindo bem por isso não iria trabalhar. Vai me dizer agora mesmo o que aconteceu, porque sei que isso não foi o motivo. Se fosse assim, teria me telefonado e pedido para buscar Josh na escola. — Esme a olhou como a culpasse. — Nunca esqueceu o horário de pegar seu filho na escola, ou qualquer lugar que estivesse a sua espera. Mesmo quando é seu pai ou eu a buscar Josh, está sempre nos pressionando. Nós lembrando o tempo todo o que precisamos fazer. Como fossemos esquecer nosso neto por aí. — Esme percebeu a bagunça na sala, o vaso quebrado, a mesinha tombada. Peças de roupas no caminho que levava ao quarto. — É nítido que não está bem. Porém, as razões estão longe de ter envolvimento com sua saúde, ao menos sua saúde física. Alguma coisa aconteceu aqui após ter deixado Josh na escola pela manhã.

Rosalie voltou sentar no sofá, agora que sabia que o pai estava indo buscar Joshua na escola.

— Tem alguma relação com você pensar ter visto o carro de Royce passando aqui na rua pouco mais das três da manhã? — Meneou a cabeça se recusando aceitar o que estava pensando. — Por favor, me diga que ele não invadiu a casa e abusou de você. Diga-me que não foi nada disso.

— O que aconteceu aqui não tem nenhuma relação com Royce.

O alívio foi quase imediato. Esme sentou ao lado da filha no sofá.

— Então, meu Deus — completou —, o que significa tudo isso. A bagunça, o vaso quebrado. Seu desespero. Essa dor enorme que estar em seus olhos. Meu neto sozinho na escola, depois de os colegas terem voltado para casa.

— Sou uma péssima mãe — lamentou com voz de choro.

— Não é péssima mãe. Sempre foi muito responsável. Nada como isso aconteceu antes. Sei que não foi falta de cuidado e zelo.

Rosalie uniu as mãos sobre o colo enquanto as olhava, evitando olhar no rosto da mãe.

— Emmett voltou aqui após levar Josh na escola. Tinha esquecido o celular…

— Está me dizendo que Emmett…

Rosalie se apressou em esclarecer.

— Não, nem por um minuto. — Ela olhou para o lado, e voltou olhar as mãos unidas sobre o colo. — Nós ficamos, mas foi porque eu quis. Eu iniciei tudo.

— Me ajude, porque não estou percebendo bem. Você e o pai de seu filho, o homem por quem sempre foi apaixonada, ficaram juntos depois de muito tempo. Você queria e iniciou tudo. Por que não está feliz, então? O que deu errado?

— Foi maravilhoso — assumiu, em tom de lamento.

— Juro que está difícil de te entender — Esme respondeu.

Rosalie enxugou os olhos com a palma da mão.

— Ele foi embora logo depois… Não se despediu, não deixou um bilhete… Nada.

— Ah — murmurou Esme, chegando mais perto para abraçar a filha. — Ele não deveria ter feito isso.

Rosalie deitou a cabeça em seu ombro.

— Me sinto um lixo, mamãe. Você sabe quanto sofri por ter de me afastar dele. Quanto foi difícil ficar sem ele todo esse tempo, vendo nosso filho crescendo enquanto fazia perguntas. Por um instante, foi como tivéssemos voltado no tempo. Mas eu o magoei, e ele não consegue me perdoar. Não sei se posso suportar ele me desprezando. Eu o vejo sorrir e olhar cheio de amor para nosso filho. Quero que seja assim comigo também. — Sentiu a mão gentil da mãe afagando seus cabelos.

— Se você sentiu que foi como voltar no tempo, é porque ele ainda te ama.

— Gostaria de poder acreditar que não me odeia.

Chegou um aviso de mensagem no telefone de Esme. Rosalie se afastou deixando que verificasse.

— É de seu pai — Esme explicou, com o celular na mão. — Ele quer saber se pode trazer Josh para casa?

— Não posso acreditar que deixei meu bebê esperando tanto tempo.

— Vou dizer para levar Josh para tomar sorvete. E você, vai tomar um banho e ficar apresentável. Porque é claro que não vai receber seu filho desse jeito. De início iria assustar ele, só depois iria querer saber o que aconteceu. E, conhecendo meu neto, não iria te dar sossego. Explico tudo melhor para seu pai mais tarde.

— Estou sempre fazendo besteiras e você e meu pai me socorrendo.

— Pare com isso — pediu Esme. — Vá dá um jeito nessa aparência. Deixe que eu arrume tudo por aqui. — Sinalizou os cacos no chão e as roupas.

Rosalie se pôs de pé, embrulhada no lençol.

— Me desculpe — pediu. — Estou envergonhada.

— Não tem tempo para sentir vergonha. Seu filho quer vir para casa. Não demora, vai deixar seu pai encurralado.

— Me desculpe…

— Meu bem, faça como estou dizendo.

Saiu da sala, envergonhada, vendo a mãe catando roupas no chão. Sabendo que os próximos seriam os cacos do vaso quebrado.

[…]

Após enrolar Joshua tempo suficiente com guloseimas, Carlisle levou o neto de volta para casa.

— Mamãe! — O menino pulou nos braços da mãe, assim que abriu a porta.

— Oi, vida. — Abraçou-o apertado, se desculpando pelo ocorrido. — Perdoa a mamãe por não estar lá quando deu o horário de vir para casa.

— Tá tudo bem, mamãe. No começo, eu fiquei nervoso, depois bravo, mas o vovô chegou e me explicou que teve um problema com seu carro.

Rosalie olhou no rosto do pai, movendo os lábios fazendo um agradecimento silencioso. Joshua pareceu não ter notado nada.

— O vovô me levou para tomar sorvete — contou se mostrando alegre. — Estou adorando que todo mundo me lava para tomar sorvete, sempre.

Ela sorriu de leve, bagunçando os cabelos de Joshua na palma da mão.

— Não se acostume, não.

O menino deu uma risadinha que dizia “Me acostumo sim”.

— Vá para o banho — Rosalie pediu. — A vovó está preparando o nosso jantar.

— Obá! A vovó e o vovô vão jantar aqui com a gente hoje.

— Isso mesmo. Agora vá para o banho rapazinho.

— Será que meu pai conseguiu achar o telefone dele?

Rosalie sentiu tristeza reivindicando lugar. A pergunta do filho levou a pensar em Emmett. No que compartilharam ainda no começo do dia.

Carlisle olhou em seu rosto. A vergonha que sentiu, não permitiu ficar muito tempo ali, então, acompanhou Joshua até o banheiro.

— Ele me prometeu telefonar, mesmo que tivesse de comprar outro telefone — Joshua seguiu dizendo. — Posso usar o iPad depois, mamãe?

— Depois do banho, do jantar e de fazer a lição de casa, sim.

— E se meu pai não tiver o telefone ainda? E nem um computador por perto?

— Não se preocupe, vida. Seu pai encontrou o telefone dele.

— Como você sabe?

— Ele me contou.

— Não estão mais bravo um com o outro? — Sorriu ao fazer a pergunta, acreditando que a resposta seria positiva.

— É hora do banho — advertiu.

— Mas tomar banho não me impede de falar. Nem mesmo de saber sobre meu pai e você, minha mãe.

— As roupas — avisou já no banheiro.

O menino rolou os olhos, e se pôs a retirar a blusa.

— Queria que meu pai estivesse aqui — confessou.

— Eu também — Rosalie respondeu sem pensar. Os olhos marejaram. As lembranças voltando. Virou-se de costas para Joshua não notar. — Tome banho. Vou estar na cozinha com a vovó e o vovô.

— Tá bom.

Ainda estava no corredor, encostada a porta fechada do banheiro. Percebeu o barulho de água caindo, depois Joshua cantando no chuveiro. Estava a salvo de seu caos emocional, aos menos por enquanto.

Carlisle conversava com Esme enquanto terminava o preparo do jantar. Rosalie soube que o assunto era ela quando se calaram a sua chegada. Esme levou um refratário com batatas assadas à mesa. O pai pegou o celular no bolso. Não pôde deixar de se sentir desconfortável, mesmo eles disfarçando.

— Em que posso ajudar mamãe? — pediu.

Carlisle falou qualquer coisa sobre o minigolfe olhando a tela do telefone.

— Você pode pôr a mesa — Esme sugeriu que fizesse.

— Tudo bem — Rosalie fez menção de ir pegar no armário a louça, quando Joshua chegou à cozinha vestido de pijama e chinelos nos pés, correndo atrás de uma bola de futebol.

Carlisle sorriu com a cena, deixando o telefone de lado.

Rosalie segurou nos ombros de Joshua mantendo ele no lugar.

— O que eu falei sobre jogar futebol dentro de casa?

Joshua esticou a perna tentando alcançar a bola com o pé. Foi então que a mãe reparou na bola.

— Onde conseguiu essa bola, Josh?

— Foi meu pai que me deu. — Ele correu para pegar a bola quando as mãos da mãe o deixaram livre. Retornando com a bola nas mãos. — Olha! — mostrou bem perto do rosto da mãe. — Tem seu nome escrito bem aqui.

Rosalie se pegou pensando em Emmett mais uma vez, no passado. Em tudo que viveram juntos. No quanto se magoaram. Incapaz de imaginar o futuro. Teve medo das opções.

Esme reconheceu no olhar triste o que estava acontecendo. Segurando seu pulso quando pegou a bola na mão.

— Josh, por que não ajuda sua mãe pôr a mesa? — a avó sugeriu, sem deixar de olhar no rosto da filha.

— Tá bom, vovó. — Ele correu para pegar o jogo americano nas gavetas do armário. — Eu gostei muito de saber que foi você que escreveu seu nome na bola, mamãe. — Pegou o que precisava e fechou a gaveta. — Meu pai me contou que foi você. — Ele fez uma careta. — Não gostei nada daquela amiga dele. A Gwen. Ela falou com meu pai por chamada de vídeo.

O olhar de Esme sugeriu que Rosalie deixasse a bola de lado. E deixasse, assim, de pensar em Emmett.

Carlisle levantou e foi ajudar o neto pôr a mesa.

— Vovô vai te ajudar — falou com Joshua.

— Mas não era a mamãe que iria fazer isso?

— Está dispensando a ajuda do vovô? — Carlisle falou num tom de brincadeira.

— Claro que não, vovô.

— Ah, bom.

— Ela é muito chata.

— Quem? — Carlisle tentou descobrir.

— A amiga do meu pai. A Gwen.

— Entendi.

Avô e neto começaram trabalhar juntos, conversando enquanto faziam isso.

Esme comentou de forma que apenas Rosalie ouvisse:

— Josh vai acabar percebendo que há algo errado com você?

Com a voz embargada, Rosalie sussurrou:

— Emmett está se desfazendo de nossas lembranças… — Deixou a bola no chão. Deu a volta em torno da ilha e foi se apoiar na pia da cozinha, de costas para todos eles, respirando fundo. Sentiu lágrimas nos olhos e as secou rapidamente com a mão antes que Joshua notasse. Ouviu-o rindo de algo que o avô disse.

— Não, meu bem. Emmett as compartilhou com Josh, sendo ele a maior e mais importante lembrança de tudo que viveram. — Esme afagou suas costas.

Rosalie fingiu se ocupar na pia pelo tempo que levou para deixarem a mesa pronta, para que o filho não a visse triste.

Jantaram os quatro à mesa da cozinha. Joshua conversando o tempo todo, de tudo um pouco; futebol, desenho animado, jogos de videogame, dinossauros, carrinhos de corrida e a família paterna.

Esme ainda deixou a cozinha da casa da filha limpa antes de ir embora com o marido.

Joshua conversou com o pai por chamada de vídeo usando o iPad que ganhou de presente. Mesmo a televisão ligada, Rosalie não conseguiu deixar de prestar atenção na conversa deles.

Falaram sobre muitas coisas, mas em momento algum Emmett perguntou por ela ou deu entender arrependimento, ainda que Joshua não soubesse o motivo. A cada novo assunto que surgia e ela era esquecida, tinha vontade de chorar.

Não pôde mais ficar na sala sem chorar, então, levantou e foi para o quarto. Joshua não percebeu sua saída, até se despedir do pai e estar sozinho com o iPad nas mãos.

— Mamãe — como não respondeu, encontrou um de seus joguinhos favoritos e começou jogar. O tempo passou e seus olhos começaram ficar pesados. Deixou o iPad no sofá e foi atrás da mãe.

Encontrou-a no quarto, olhando o lado de fora pela janela.

— Mamãe.

Rosalie limpou as lágrimas no rosto antes de se virar de frente para o filho.

Joshua avaliou seu rosto.

— Estava chorando? — pediu.

— Não — quase fungou na hora de dar a resposta.

— Acho que estava sim. Só não quer me dizer o motivo.

— Já terminou de falar com seu pai?

— Já tem um tempão. Até fiquei jogando no iPad.

Ela chegou mais perto e o abraçou.

— Quem deu permissão?

— Ninguém. Você não estava comigo na sala, nem respondeu quando chamei. Por isso, só joguei.

— Só jogou? — questionou, fazendo cócegas nele. — Você só jogou?

— Sim. — Joshua se contorceu, batendo os pés no chão. Ela parou com as cócegas e ele ainda permaneceu rindo.

— Certo. Agora vou te levar para seu quarto e você vai deitar na cama. Vai dormir gostoso, porque já está tarde e amanhã tem aula logo cedo.

— Posso dormir aqui com você?

A mãe pareceu pensar.

— Estou com saudade, mamãe.

— Como vou dizer não, depois disso. É claro que meu bebê pode dormir hoje comigo.

— Não sou um bebê.

— Isso é você quem está dizendo. — Deu um tapa de leve no bumbum dele. — Vamos ler aqui mesmo na minha cama. Vá pegar o livro.

— O Dino também — ele lembrou.

— Sim, o Dino também. Não podemos esquecer o Dino.

— Sabia que antes de se despedir, meu pai perguntou de você? — revelou como fosse a cartada final. Muito contente e orgulhoso de si mesmo.

— Ah, é? O que ele disse exatamente?

Joshua deu uma risadinha, e correu para pegar, no quarto ao lado, o livro e a pelúcia com a qual dormia todas as noites.

— Volte aqui, garoto! Conte-me isso direito. — Joshua nem olhou para trás. Rosalie imaginou se ele e o pai teriam combinado de fazer isso.

 


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