Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 14
Capítulo 14 — Indesejado


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Espero que gostem do capítulo de hoje.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786179/chapter/14

A tarde chegava ao fim com um lindo pôr do sol, quando Rosalie decidiu voltar para casa, recusando o convite dos pais para jantar com eles.

Logo Emmett estaria de volta com Joshua, não queria correr o risco estar fora de casa quando acontecesse. Estava ansiosa para ter Joshua de volta. E, ainda que tentasse negar, encontrar novamente com o pai dele, também.

Deixou as chaves no aparador, pensando como todo aquele silêncio na casa já não era algo que gostasse. Sentia falta do barulho de Joshua. De sua energia. Dos brinquedos espalhados. Da televisão sintonizada no canal infantil. Foi automático o gesto de cruzar a sala e ligar o aparelho de televisão no canal favorito do filho. A intenção era lhe servir de companhia enquanto preparava o jantar na cozinha. Entre o picar, temperar e refogar repetiu junto com a televisão, as falas já decoradas dos personagens infantis.

Enquanto aguardava o jantar ficar pronto, olhou no celular mais de uma vez. Não escondeu o desanimo em não encontrar qualquer mensagem que mostrasse que estavam chegando. Desligou o fogo das panelas, deixou o telefone na ilha, e resolveu que precisava de um banho.

Escolheu o que vestir, pensando em Emmett. Imaginou a reação ao ver em seu corpo o vestido envoltório amarrado na cintura com decote em v, com babado na saia, de tecido leve, preto com estampa floral alaranjado, e mangas que encobriam todo o braço.

Achou-se tola, Emmett não estava nem aí para o que sentia, não iria dar a mínima para o que estava vestindo. Optou por mudar de roupa, mas, quando decidiu, a campainha tocou impedindo que o fizesse. Pensou que fossem eles na porta, o que a deixou ainda mais ansiosa. Deu uma última conferida no vestido olhando-se no espelho de corpo inteiro.

— Deixe de ser boba, Rosalie — queixou-se consigo mesma. — Emmett não se importa mais com o que veste. — O sorriso em seu rosto se desfez. Pensou em Joshua. — Ele, sim, — falou para si mesma — merece todos os seus sorrisos. — Foi pelo filho que não permitiu o sorriso deixar seu rosto. Saiu do quarto para recebê-los na porta da frente.

Abriu a porta de uma só vez, imaginando o sorriso que Joshua tinha para ela.

— Vida… — parou de falar, surpresa, mas não do jeito que esperava ficar. Não eram Joshua e Emmett do outro lado da porta. Não eram sorrisos de covinhas adoráveis.  Era um sorriso torto e ensaiado. Os pensamentos a levou ao momento que o carro passou em sua rua durante a madrugada. Ficou incomodada como há muito não acontecia. O sorriso reservado a Joshua se apagou aos poucos. — Royce? — se ouviu falando.

Ele moveu a mão mostrando-lhe a garrafa de vinho. Na outra, a sacola de papel transportando aperitivos.

— Queria me desculpar por ontem à noite — disse ele. — Trouxe vinho.

Rosalie olhou para o lado sem saber como agir. Não estava preparada para aquela visita. Para piorar, tão perto de Emmett aparecer.

— Algum problema? — Royce sondou.

Sorriu para ele, embora, não fosse sincero.

— Não, claro que não. Só não esperava te vir por aqui… agora.

— Eu posso entrar? — Deu um passo a frente com Rosalie chegando para o lado, sinalizando que fosse adiante.

Royce logo percebeu o som da televisão ligada.

— Ah — murmurou. — Josh já voltou?

Rosalie notou o tom de decepção na pergunta, mesmo ele tentando disfarçar.

— Ainda não — respondeu. — Liguei a televisão no canal que ele mais gosta para sentir que estava aqui comigo. É incrível a falta que ele faz.

Royce mudou de assunto relanceando o olhar à entrada da cozinha.

 — Posso ir até lá abrir o vinho?

Estava pouco à vontade quando respondeu:

— Claro! — E o acompanhou de perto.

— O cheiro aqui está maravilhoso — comentou sobre o cheiro do jantar.

Rosalie entregou-lhe o abridor de vinhos e foi pegar as taças no armário. As taças no formato de balão permitem o ar entrar e liberar o aroma e sabor, as mais indicadas para o vinho tinto. Royce havia dito isso uma vez, na época que tentavam um relacionamento.

— Acabei de preparar o jantar. Pode ficar e jantar com a gente, se quiser. — Não era o que desejava. Talvez pudesse ser útil, afinal. Lembrou-se do que disse Alice, e balançou a cabeça.

— Pensei ter dito estar sozinha. — Ele abriu o vinho, levou a garrafa à taça despejando cuidadosamente a bebida até atingir a metade do bojo. Para terminar de servir, virou levemente a garrafa para cima, mantendo-a sobre a taça para evitar respingos.

— Emmett está trazendo Josh para mim. Eles chegam a qualquer momento. — Na verdade, não tinha certeza do horário. Emmett não deu detalhes. Disse apenas que chagavam a noite. Só agora parou para pensar que talvez nem fossem jantar quando chegassem. Escolheu a louça e levou à ilha onde serviu o aperitivo de cheddar e salaminho.

Royce girou o vinho no interior da taça. Sentiu o aroma e o provou deixando-o passear pelas papilas gustativas por alguns segundos.

— Perfeito — murmurou. — Por que não prova um pouco? — indicou a Rosalie a outra taça cujo também havia servido.

Aceitou a sugestão, fazendo da mesma forma que ele, girando o líquido escuro no interior da taça. Sentiu o aroma, então, o provou.

— Você está sempre tão bonita — declarou olhando no rosto dela. Apreciando como degustava o vinho. — Uma pena nosso relacionamento não ter funcionado. Esteve sempre tão focada em ser mãe.

— Royce.

— Não foi para isso que vim — ele mesmo foi quem respondeu, percebendo a censura no tom de voz usado por ela. Voltou provar do vinho, sem deixar de reparar nela. O leve movimentar da mão ao mexer o vinho no interior da taça.

Rosalie percebeu o olhar. E tentou disfarçar o incomodo fazendo um comentário:

— Você sempre teve bom gosto na escolha de vinhos.

— Obrigado! — Ele inclinou a taça em sua direção. — Você sabe, meu pai pode ter me influenciado um pouco.

O som da campainha chegou até eles, forçando uma pausa a conversa.

— Ah — murmurou Rosalie, deixando a taça sobre a ilha. — Devem ser eles. Pode me dar licença um minuto? — pediu, apressando-se em sair da cozinha, cruzando a sala até estar de frente à porta. Pensando, já não aguentava mais a demora. Abriu a porta com um sorriso no rosto, pronta para receber Joshua com um abraço apertado.

— Oi, mamãe. — Joshua se lançou em seus braços com tanto entusiasmo que Rosalie cambaleou para cair.

— Oi, vida. — Ela beijou todo o rosto do menino, segurando o peso do corpo dele de maneira desajeitada. — Que feliz que você está, meu amor. — O colocou no chão atenta a expressão de felicidade. — Se divertiu com seu pai?

— Foi muito maneiro — disse Joshua. — Meu pai é o cara mais legal de todos.  — Nesse momento o olhar de Rosalie encontrou com o de Emmett. Ele tinha um leve sorriso enfeitando o rosto, apaixonado pelo modo como Joshua e a mãe se abraçaram e demostraram afeto.

— Oi, Emmett — cumprimentou cautelosa.

— Oi — dizia ele, quando Joshua interrompeu.

— A gente comeu um lanche. — O menino pulou para dentro de casa. — Ainda assim, estou com fome agora. Hummmm… o cheiro de comida é de dar água na boca. — Correu pela sala rumo à cozinha.

— Josh — Rosalie chamou, tentando avisar que estava recebendo visita —, espere… — Convidou Emmett a entrar na casa e fechou a porta atrás das costas dele. Emmett estranhou sua reação em ver Joshua correndo para a cozinha. Ficou imaginando o que significava.

Joshua parou abruptamente, firmando os dois pés, calçados de tênis, no assoalho como fossem freios. O menino encontrou Royce sentado numa das banquetas, esticando o braço para alcançar um pedaço de queijo na petisqueira.

— Vejo que já voltou do passeio com seu pai.

Joshua voltou à sala pisando firme no chão, os braços rígidos ao lado do corpo, os punhos fechados, fazendo cara de bravo.

— O que ele está fazendo aqui? — Jogou o braço para trás mostrando o caminho da cozinha.

Rosalie não soube como reagir à reação exagerada do filho a presença de Royce diante Emmett. Foi para perto de Joshua querendo que parasse com a cena que estava fazendo. Segurando seus ombros com as mãos.

— Não tem porque reagir dessa forma — falou ao menino. — Royce está apenas me fazendo uma visita.

— Será que alguém pode me dizer o que está acontecendo?— tentou Emmett, com olhar desconfiado.

Royce chegou à sala.

— Parece que descobrir minha visita deixou Joshua irritado — falou, atraindo toda atenção para si.

O olhar de Rosalie era de alguém preocupada. O de Emmett, de quem não entendia o que estava acontecendo. Mesmo assim, não gostou do que viu. Joshua era puro aborrecimento. E não escondeu ao sacudir os ombros obrigando a mãe deixá-lo.

— Estou falando dele — disparou exaltado sobre encontrar Royce na cozinha.

— Pare com isso Joshua — exigiu Rosalie, espantada com tanta revolta em alguém tão pequeno.

— Não! — Joshua gritou.

— Olhe a ousadia. — O olhar duro apontava o erro do menino em falar daquele modo com ela.

Ainda assim, Joshua seguiu desafiando:

— Ele não tinha de estar aqui. Mande-o embora.

— Você não me diz o que fazer mocinho. Eu, sim, te digo o que fazer. Vá para o seu quarto pensar a respeito do que acabou de fazer.

— Espere! — Emmett entrou na discussão. — Não sei o que está acontecendo aqui, mas se Joshua não quer que ele fique, deve existir um motivo.

— Não tem motivo. É implicância mesmo. Não gosta de Royce desde… — ela hesitou.

— Desde… — Emmett insistiu que continuasse.

Royce fez questão de responder por ela.

— Desde que fui namorado da mãe dele.

Emmett estreitou os olhos ao virar para olhar Rosalie no rosto.

— Ele foi seu namorado? — questionou como acusasse de algo.

— Sim, mas, isso já tem algum tempo. Hoje somos somente amigos.

— Não acha estranho Joshua ter tamanha antipatia em relação a seu ex-namorado?

— O nome disso é implicância. Josh nunca quis que eu namorasse ninguém.

Emmett avaliou a figura de Royce como buscasse outro motivo para a raiva de Joshua em relação a ele que não fosse recusa de a mãe ter um namorado.

Rosalie insistiu com o menino:

— Me obedeça, Joshua. Vá para o seu quarto. Volte quando estiver mais calmo, disposto a pedir desculpas por esse comportamento.

Joshua saiu da sala correndo.

— Royce é meu convidado para o jantar. Vai ter de se desculpar, querendo ou não.

Joshua empurrou a porta do quarto. Emmett conseguiu pôr a mão na frente antes que atingisse seu rosto.

— Ei — chamou —, você quase acertou meu nariz com a porta.

O menino pulou no colchão, em seguida, sentou com as pernas estendidas.

— Desculpe papai. Não é com você que estou chateado.

Emmett sentou ao seu lado.

— É mesmo pelo que sua mãe disse o motivo de não gostar de Royce? Ou tem algo que eu deva saber?

— É verdade o que a mamãe disse. Mas ele também nunca gostou de mim. Ficava me provocando quando a mamãe não estava por perto.

— Ah, é? Pode me falar um pouco sobre isso?

Joshua respirou fundo. Sentir raiva em excesso o deixou cansado.

— Royce dizia coisas ruins sobre você, papai.

Emmett mostrou interesse.

— Sobre mim, é? O que ele dizia? Pode me contar?

O balançar de cabeça, mostrou que sim.

— Dizia que era uma pessoa ruim. Que não me queria, por isso nunca vinha me visitar. Que não se importava comigo ou com a minha mãe.

— Hoje você sabe que nada disso é verdade, filho — Emmett afagou suas costas. — Só soube de você recentemente. Daria minha vida para ter ficado sabendo antes.

Joshua abraçou o pai.

— Ele também dizia que iria se casar com a mamãe. Que encontraria uma maneira de ela me mandar para uma escola onde eu só voltaria para casa nas férias. As únicas crianças que iria querer por perto seriam os filhos que teria com a mamãe.

— Tem medo que eles fiquem juntos e Royce consiga cumprir as ameaças que te fez — concluiu Emmett. Desejou arrebentar a cara sínica de Royce com seu punho. Tornou afagar as costas do menino. — Conhecendo sua mãe como eu conheço, e tendo visto o quanto ela é doida em você, jamais daria ouvidos aquele pateta. Você sabe por que sua mãe não está com ele.

— Por minha causa.

— E você sabe o motivo maior.

— Porque a mamãe me ama. Mais que a qualquer um.

— Exatamente.

— Royce ainda quer namorar ela. Agora que voltou a cidade fica rondando a mamãe de todas as maneiras. É como nos prosseguisse.

— Podemos começar causando problemas para ele.

— Como? — Joshua mostrou grande interesse.

— Podemos começar hoje mesmo, durante o jantar que sua mãe preparou. Vou te contar como…

[…]

Rosalie conversava com Royce na sala, pouco tempo depois, quando Joshua voltou do quarto na companhia do pai.

— Imagino que veio pedir desculpas — lembrou.

Joshua se colocou ao seu lado.

— Desculpe mamãe, por falar daquele jeito grosseiro com você.

— Você está arrependido?

Ele balançou a cabeça. Em seus olhos, Rosalie viu que disse a verdade.

— Tem que pedir desculpas a Royce também. Foi grosseiro com ele.

Uma careta modificou o rosto de Joshua. Ele esteve perto de desistir. De detrás do sofá, Emmett olhou seu rosto, sugerindo que fosse em frente. Mesmo contra a vontade, Joshua ficou de frente a Royce.

— Desculpe — falou depressa.

— Pelo quê está se desculpando? — a mãe exigiu que fizesse do jeito certo.

Um suspiro de puro desânimo, então, Joshua continuou:

— Desculpe por ser grosseiro. Você é bem-vindo a jantar na nossa casa, com minha mãe, meu pai e eu.

O olhar de Royce cruzou com o de Emmett. Ele ainda estava detrás do sofá, olhando Royce sobre os ombros de Rosalie. Nenhum dos dois estava confortável com a presença um do outro.

— Seu pai vai ficar para jantar? — comentou Rosalie. — Pensei que fosse preferir a comida de um restaurante — cutucou.

— Ele prefere ficar e comer com a gente. Não é papai? — Joshua o olhou com cumplicidade.

— Com certeza — respondeu, fazendo questão de olhar para Royce ao dar a confirmação.

— Já que todos estão bem com isso — acrescentou Rosalie se colocando de pé. — Vamos servir o jantar, então.

Foi difícil não notar que Joshua e o pai conversavam em voz baixa quase a todo instante. A troca de olhares. Havia cumplicidade em cada gesto. E, essa parte, ela gostou de ver.

Royce parecia querer ter sua atenção o tempo todo. Puxando um assunto atrás do outro, mal dava tempo para Rosalie tomar um ar.

Joshua levantou de seu lugar à mesa, e começou mexer nos armários.

— O que está procurando, filho? — Rosalie pediu.

— O copo para servir meu suco.

— Tem copo aqui, vida. — Serviu suco de laranja para ele no copo de vidro disponível na mesa.

Joshua olhou para trás, em seguida, voltou mexer nos armários.

— Não esse — recusou. — Aquele meu copo especial, de dinossauro, que o vovô Carlisle deu para mim.

Rosalie pediu licença ao levantar de seu lugar à mesa.

— Por que agora, vida?  — Se colocou ao lado do menino. — Você podia ter falado antes.

Joshua levou a mão atrás das costas, fazendo sinal de joinha para o pai.

— Então, está na cidade só de passagem? — comentou Emmett com Royce.

— Parece que você também — respondeu o outro.

Joshua se voltou para a mesa, com a mãe ao lado procurando no armário o copo que ele queria.

— Ele é meu pai, seu bobão — esbravejou. — Nunca vai estar de passagem.

— Joshua — Rosalie pôs a mão em seu ombro, forçando vira-se para o armário.

Emmett segurou a vontade de rir.

— Você ouviu — respondeu a Royce, que, com certeza, havia ficado com raiva. A mínima distração adicionou sal à bebida dele. Sinalizou um ok ao filho, logo depois.

— Não precisa mais, mamãe. Posso ficar com aquele copo mesmo que está na mesa.

— Mas você queria tanto. — Ela ainda procurava pelo copo. — Aqui, filho, mamãe encontrou. — Ergueu o braço, mas não conseguiu altura suficiente para pegar. — Espere um pouco, mamãe vai pegar uma cadeira.

Joshua a segurou pela cintura, mantendo a mãe onde estava.

— O meu pai pode pegar. Papai…

Emmett já estava de pé quando ele chamou. Contornou a ilha se colocando ao lado de Rosalie.

— Onde está o copo? — pediu. De forma discreta, mandou Joshua agir.

— Bem ali — Rosalie mostrou a localização —, logo atrás do copo florido.

Emmett chegou mais perto, encostando o corpo ao dela.

A proximidade cobrou seu preço. O palpitar no coração, a sensibilidade a cada centímetro de pele exposta.

Enquanto eles buscavam o copo exigido, Joshua se aproximou da mesa.

— Olha como meus pais ficam bem juntos — provocou. Joshua retirou o frasco de pimenta de debaixo da blusa. — Meu pai é um cara incrível — continuou falando, acrescentando pimenta escondido ao prato. O sorriso travesso no rosto.

— O que está fazendo? — Royce se virou de repente. E Joshua deixou o frasco de pimenta cair embaixo da mesa.

— Só admirando os meus pais. — Se afastou da mesa como nada tivesse acontecido.

— Aqui está — Emmett pegou o copo bem quando Joshua dava a volta em torno da ilha.

 — Vida, seu pai pegou o copo. — Rosalie se afastou, mesmo desejando estar perto, porque não suportava que Emmett não a tocasse. Que não quisesse ficar perto.

Joshua se aproximou. O pai entregou o copo, que foi apenas um pretexto. Estar tão perto de Rosalie trouxe mais uma vez o desejo de tocar sua nuca com os lábios. O ressentimento em ter sido enganado o forçou negar os sentimentos. Afastando-se dela.

Joshua passou o braço em volta da cintura de cada um deles.

— Não acha que somos uma família muito bonita? — pediu a Royce que opinasse, sorrindo de forma descarada.

— Penso que sua mãe ficaria melhor ao lado de outra pessoa.

— Que pena que essa pessoa não será você.

— Josh, chega né? Está passando dos limites hoje. O que deu em você? — Ela o conduziu de volta à mesa.

— Só ouvi verdades — Emmett defendeu o filho. Voltando ocupar, também, seu lugar à mesa.

Rosalie balançou a cabeça, achando incrível que pai e filho fossem tão iguais.

— Certo, mocinho — disse a Joshua. — Pegue seu talher e comece a comer.

Joshua olhou para Royce.

— Por que não prova primeiro? — tentou, soando desafiador.

— Josh…

— Mamãe, Royce é convidado. Tem de dizer o que achou da comida antes de todos nós.

— Desculpe — murmurou Rosalie o pedido a Royce.

— Não se preocupe — ele respondeu. E preparou os talheres para cortar o alimento. Joshua aguardou na expectativa. Royce levou uma garfada à boca, mastigando devagar. Gradualmente a queimação na boca e garganta foi crescendo. A expressão em seu rosto mudou. Apertou os lábios se obrigando engolir a comida. As bochechas ficaram vermelhas. Os olhos chegaram lacrimejar. Alcançou o copo de suco com a mão, tomando um bom gole. O gosto estava horrível, ele foi obrigado a pôr para fora.

Joshua e o pai trocaram olhares, sem interromper a refeição, como não fossem os culpados.

Rosalie ficou preocupada. Não entendeu o que estava acontecendo. Ofereceu o guardanapo a Royce.

— Você está bem? — arriscou.

Royce abriu e fechou a boca algumas vezes. Os lábios tão vermelhos como estivesse usando batom.

— É alérgico a algum tempero? — tentou descobrir. — Alimento?

A mão de Royce alcançou a sua sobre a mesa. Ao ver o que fazia, Joshua entornou o suco de seu copo de propósito na mesa.

— Josh.

— Desculpe mamãe. Não quis fazer isso. Foi um acidente.

— Tudo bem. Termine de comer, eu limpo isso.

— Acho melhor Royce ir ao hospital — propôs Joshua.

Royce o encarou certo de que havia sido ele.

— Estou bem — garantiu, sentindo a garganta ruim. — Não sou alérgico a nada.

— Não é o que parece — o murmúrio partiu de Emmett.

— Vocês dois tem algo a ver com isso? — tentou Rosalie.

— E por que teríamos? — Emmett respondeu com outra pergunta.

— Eu não sei. Me digam vocês.

— Não é minha culpa, nem do meu pai que Royce não saiba comer feito adulto.

Royce limpou a boca no guardanapo de tecido, deixando-o sobre a mesa ao levantar.

— É melhor eu ir embora.

Rosalie se levantou com ele.

— Me desculpe — pediu.

— É a primeira vez que concordo com ele — Joshua comentou com o pai, que o apoiou.

Royce se afastou da mesa.

— Não foi culpa sua — disse para Rosalie. — Eu vou indo. Falo com você em outro momento.

Rosalie o acompanhou até a porta da frente.

Joshua olhou no rosto do pai, compartilhando o mesmo sorriso.

— Esse é meu garoto.

Alguns pedidos de desculpas depois, Rosalie encontrou Joshua e Emmett no quarto. O menino na cama, recostado ao travesseiro, a pelúcia de dinossauro empoleirada embaixo do braço, nas mãos um  iPad.

O pai do outro lado do quarto sentado confortavelmente na poltrona. Os dois conversavam e também sorriam. Estranhamente se calaram quando chegou. Olhou de um para o outro, desconfiada. Era capaz de jurar que o que aconteceu a Royce durante o jantar foi coisa deles.

— Okay — disse, sabendo que não queriam que soubesse sobre o que falavam. Chegou perto da cama, tomando o cuidado em não tropeçar no colchão onde Emmett passaria a noite mais uma vez. — Já escovou os dentes? — falou com o menino.

Joshua não olhou para ela ao responder:

— Ainda, não.

— Bem, devolva o  iPad de seu pai e vá escovar os dentes.

— Não é do meu pai. — Ele a olhou um instante, voltando olhar na tela em seguida.

A expressão de confusão estava no rosto de Rosalie.

— Não?

— É meu. O papai deu para mim quando estava com ele em Raleigh.

Ela se virou de frente para Emmett.

— Podemos conversar lá fora um minuto. — Indicou o corredor.

Emmett fez como pediu. Ela fechou a porta do quarto de Joshua logo que passaram para o corredor. O menino observou o momento que os dois saíram.

— Sobre o que quer falar? — começou Emmett.

O incomodo foi visível no tom de voz de Rosalie.

— Deu um iPad a ele?!

— E daí?

— Não pode dar um presente desse tipo, sem falar comigo antes. Não quero que Josh use a tecnologia de forma descontrolada. A tecnologia não pode substituir as relações pessoais como o convívio com os colegas e familiares. São muitos os malefícios que a utilização indiscriminada pode trazer a vida dele.

Emmett deu um passo à frente.

— Dei o iPad a meu filho não com a intenção de confrontá-la. Pode seguir o tempo regulado, como tem feito até aqui. Dei o iPad para poder se comunicar comigo sem ter de ficar pedindo seu celular toda vez. Eu sei que pode não ter sido válido, uma decisão unilateral, mas, se quer saber, não me arrependo. O sorriso e o olhar dele quando descobriu qual era o presente valeu à pena. Ainda que o gesto de presentear meu filho seja visto agora com reprovação pela mãe dele.

— Primeiro você decidiu levá-lo — Rosalie o acusou. — Depois o  iPad. Precisa falar comigo antes de tomar certas decisões.

— Josh não é unicamente seu filho.

A porta do quarto abriu, Joshua saiu de lá com o iPad na mão. Tanto o pai quanto a mãe se calaram prestando atenção ao que fazia.

Ele esticou o braço entregando na mão de Rosalie o presente que ganhou do pai.

— Pode ficar — disse.

A atitude a pegou de surpresa.

— Por que está me entregando?

— Não quero mais. Não brigue com meu pai.

— Josh…

— Vamos, papai! — Ele segurou na mão de Emmett, puxando para longe da mãe. Emmett sustentou o olhar de Rosalie, até que ela desviou o rosto.

— Filho.

— Está proibida a entrada de garotas neste quarto — avisou bastante aborrecido, fechando a porta com a mãe no corredor.

— Não pode fazer isso — Emmett reprovou sua atitude. — Ela é sua mãe. Está sendo cruel com ela.

Joshua se voltou para ele.

— Ela é cruel — acusou.

— Sua mãe não é cruel. Ela te trata com muito amor e carinho. Não está sendo verdadeiro com suas palavras Joshua.

— Não estou falando de mim, papai.

— Não?

— Não. É de você que estou falando. Para começar a mamãe abandonou você me carregando na barriga dela. Isso magoou você e a mim, também. E agora brigam por coisas bobas. Não quero que fique chateado um com o outro.

— Isso é entre sua mãe e eu. Não tem que escolher um lado.

— Quero que sejamos um só lado. Um só time — concluiu Joshua com desânimo.

— Eu sei — Emmett pôs a mão em seu ombro trazendo-o para perto.

— Agora não vou mais ter o iPad para conversar com você, papai.

— Não se preocupe, ainda vou telefonar para o número de celular de sua mãe. Não vou deixar de falar com você.

— Tudo bem se for permitida outra vez a entrada de garotas neste quarto? — pediu Joshua, pensando ter sido injusto. O pai deu risada de sua pergunta.

— Com certeza é permitido.

Emmett assistiu ele correr até a porta. Segurar a maçaneta com ambas às mãos, afobado. Rosalie não estava mais no corredor. Os ombros do menino cederam em arrependimento.

— A minha mãe não está mais aqui — lamentou.

— Talvez tenha ido para o quarto dela. Por que você não vai escovar os dentes. Daqui a pouco ela volta.

— Tá bom — Joshua aceitou, desanimado.

Quando ele saiu do quarto, Emmett pegou o celular no bolso.

Rosalie estava retirando a louça da mesa quando chegou ao celular o aviso de mensagem. Largou algumas vasilhas na pia e foi conferir de quem era a mensagem. Era um vídeo enviado por Emmett.

No vídeo curto, ela viu o olhar de surpresa de Joshua ao abrir o embrulho. A afobação quando descobriu o que era. O brilho nos olhos quando olhou no rosto do pai. Ouviu a voz de Emmett ao fundo. Ele perguntava a mãe por que ela estava gravando? Carmen respondeu que não queria perder mais sorrisos colocados no rosto do neto. Finalizou a gravação dizendo que enviaria para ele mais tarde. A última coisa que viu, foi Joshua pedindo ao pai que o ajudasse ligar o iPad.

Assistiu uma segunda vez. E uma terceira, também.

Deixou o celular na ilha, pegando então o iPad. Deu uma leve batida a porta do quarto de Joshua antes de abrir. O menino e o pai brincavam com os dinossauros em cima da cama.

— Já escovou os dentes? — voltou a perguntar.

— Sim — Joshua respondeu. — Mamãe.

— Oi, filho?

— Eu não quis dizer o que disse. Você pode sempre entrar neste quarto.

— Obrigada, vida. Aqui! — Estendeu a mão a ele com o iPad. — Isso pertence a você.

Joshua ficou de joelhos na cama. Um sorriso de covinhas se alargando no rosto.

— Posso ficar com ele? — verificou.

— Pode. Mas, conhece as regras.

Joshua se preparou para usar o presente que ganhou do pai. Rosalie lembrou:

— Conhecendo as regras como conhece você sabe que é hora da leitura.

— Tá bom. — Ele foi guardar o iPad na gaveta da mesinha de estudos. Na prateleira, pegou o livro. O pai juntou os dinossauros aos pés da cama.

— Posso ler ou seu pai é quem vai fazer isso?

— Você lê mamãe. Mas o meu pai vai ficar para ouvir.

Ela relanceou a Emmett o olhar. Joshua se deitou enfiando-se embaixo das cobertas. Rosalie ficou ao seu lado. Deu início a leitura pouco à vontade. Em alguns momentos, olhou para Emmett de rabo de olho.

Sentado aos pés da cama, jamais deixou de observar Rosalie lendo para o filho.

Rosalie desejou saber o que estava pensando.

Estava enfeitiçado com o momento. Desejando que fosse uma família. Que nunca o tivesse enganado quando saiu de sua vida. Que não tivesse ocultado a existência do filho que tiveram juntos.

Não queria outro homem ao lado dela. Nem fazendo parte da vida de Joshua. Não queria outro vivendo uma vida que era sua.

Quis beijá-la. Fazer amor com ela àquela noite, e todas as noites que viriam depois, pelo resto de suas vidas.

A mágoa insistiu. O rancor impediu que se aproximasse.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não se esqueça de deixar seu comentário. Ele é muito importante.

Recomende, se julgar que merece.

Obrigada por chegar até aqui.

;)