Bravado escrita por Camélia Bardon


Capítulo 21
Banks


Notas iniciais do capítulo

já estamos na reta final e o meu coração não está mais aguentando de fofura ♥ espero que vocês gostem!



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Eu estava habituado a me trajar de paletó e gravata. Porém, aparentemente, havia um fenômeno irreversível chamado “nervosismo de casamento”. O colarinho parecia apertado demais. Consequentemente, parecia que eu iria sufocar até a morte a qualquer momento. E se eu morresse antes da cerimônia? Existia coisa mais aterrorizante do que morrer antes de se casar? Morrer durante a cerimônia, sim. E se eu dissesse não para o bispo ao invés de sim? Meu Deus, eu morreria de desgosto com essa. Não me surpreenderia se isso de fato acontecesse, mas... Não era para a noiva estar mais nervosa do que o noivo? Afinal de contas, o que eu estava fazendo além de ficar parado feito um poste, esperando?

E esperando... E esperando...

— Se ficar um pouco mais reto, sua coluna vai começar a dobrar para trás — Thomas murmurou ao meu lado, rindo baixo logo em seguida. Todos os convidados acompanharam o movimento com o olhar, enviando uma onda de vertigem pelo meu corpo. Isso foi suficiente para que minha coluna relaxasse um pouco. E não no sentido de conforto. — Quer um apoio? Eu busco uma madeirinha para te apoiar, vai ficar elegante.

Ri de nervoso. Era uma pena que eu não poderia praguejar na capela, do contrário acredito que o bispo não iria nos casar. Bispo esse, inclusive, que já nos olhava de esguelha.

— Adele não vai chegar nunca? — sussurrei para ele, arrancando um riso abafado do meu pai ao meu outro lado no altar da capela. — Já estamos ficando nervosos aqui, pelo amor de Deus...

— Calma, carruagens demoram a ser arrumadas, não aja como se não soubesse, é só o seu nervosismo falando mais alto.

Grunhi. Ele tinha razão. Mas dava para ver que ele também estava se balançando um pouco no seu canto.

— Eu gostaria de saber quem é que foi que convidou ela — Thomas inclinou a cabeça com leveza para Alice, sentada tranquilamente em seu banco, com seus cachos loiros perfeitamente emoldurados por um chapéu de penas que combinava com o vestido azul celeste. — Eu estou ficando nervoso.

— Tenho certeza de que ela não quer te morder, Tom. Vamos lá, eu fico tranquilo e você fica tranquilo, que tal?

Thomas riu baixo, ajeitando a própria postura. E, com certo orgulho, pude ver que ele também ajeitou a gravata com desconforto. Foi libertador.

— Pode ser — Thomas cedeu com um suspiro. — Ah, olhe, está tendo um burburinho lá atrás. Se ajeite novamente, acredito que é a sua hora.

Ah, meu Deus.

Fosse como fosse, Thomas estava certo. Logo o violinista deu entrada à Marcha Nupcial, e todas as cabeças se voltaram para trás. Menos eu, que só conseguia manter meu rosto voltado para frente com expectativa. E todo o meu fôlego perdeu-se em algum lugar do meu corpo, porque eu tenho certeza de que para o meu cérebro ele não encontrou o caminho.

Adele segurava um simples buquê de calêndulas. Amarelas como o reflexo castanho de seus olhos. Mais do que isso: calêndulas que me remetiam ao incidente com a tesoura no jardim. Como se tivesse feito de propósito – e eu tinha o palpite de que fizera –, Adele abriu um sorriso travesso, erguendo uma sobrancelha me perguntando se eu havia visto. Sorri de volta, sentindo o canto dos lábios tremendo de ansiedade. O restante da composição não deixava a desejar: o vestido de cetim trazia pequenas flores desenhadas combinando com o bordado do véu de renda branca. Apesar de detestar joias, os brincos de topázio ornavam perfeitamente com os olhos e as flores.

Parecia que o sol estava caminhando diretamente para mim. Isso, unido ao fato de que o sol transpassava pelos vitrais da capela, atribuía a tudo uma aura mais natural e mágica. Foi inevitável suportar o baque que a visão causou ao meu pobre coração.

Conforme Adele caminhava, sendo levada pelo pai carinhosamente pelo braço, todas as cabeças se viravam para acompanhá-la. Tio Émille sorria tomado por aquela emoção que acredito só começar a existir quando se torna pai e alcança a idade de ter de levar a filha até o altar. Sorri também para ele, apesar de mais contido.

Quando finalmente Adele chegou ao pé do altar e me foi oferecida para cuidar, aceitei a tarefa com zelo. Segurei-a pela mão e a trouxe mais para perto, ao meu lado. Seu sorriso reluzia como um milhão de sóis, e não hesitei em momento nenhum em sorrir de volta. Por cima do ombro, Adele lançou um olhar carinhoso à Thomas, que retribuiu-o com respeito.

E eu não havia morrido!

Lembro-me muito pouco da cerimônia. Acredito que deveria ter mais respeito com as coisas sacras, mas a missa de casamento foi realizada apenas aos convidados. Eu estava mais preocupado em não deixar minha mão pegajosa de suor e nem de tremer feito um cachorro. Já Adele estava tão concentrada nas palavras que eram ditadas que sua testa formava um vinco. Sorri de lado por todo o discurso, mas abandonei-o quando chegou minha vez de responder os votos cerimoniais. Adele respondeu o seu sim com doçura, ao passo que o bispo assentiu com solenidade.

— Que não se separe o que Deus uniu e sele-se o pacto entre os noivos.

E então, como se por parte de um rito místico, todos os convidados murmuraram em concordância.

— Amém.

— Então, eu vos declaro senhor Alexander Remy Banks e senhora Adele Elisa Banks.

De repente, o mundo parecia um lugar terrivelmente belo. E eu tinha muitíssima sorte de estar ali, vivo e ao lado de minha querida esposa.

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Ninguém sabia quem estava mais feliz: se era Gigi por estar sendo paparicada por toda a família, se era tia Sienna por finalmente ter um tempo sem Gigi no colo, se era minha mãe por mais uma mulher integrar-se oficialmente em sua família, se era meu pai pelo estoque ilimitado de conhaque que lhe fora oferecido ou se era Evan por ter o conhaque liberado para ele também.

Ou eu. Segurando-me à Adele como se fosse perdê-la a qualquer minuto.

O lado bom era que eu poderia me esconder atrás do fato de que sapatos de salto, ainda que baixos, eram criaturinhas traiçoeiras e, como todo bom cavalheiro, era cortês segurar a dama para evitar que ela caísse. Igualmente, ainda que Adele jamais pudesse dizer que meu nervosismo estava concentrado todo nela e não na cerimônia em si. Acredito que, se ela soubesse a extensão os meus sentimentos, fosse bem provável que me acusasse de ser desonesto. Havia tanta... Doçura em seu olhar. Tanta compreensão, tanta alegria... Eu não conseguia entender por que todos os parisienses simplesmente não se dobravam a ela em reverência.

Com um sorriso, ela se desvencilhou de mim e foi cumprimentar meus irmãos. Minha mãe mal cabia em si, partiu para o abraço sem hesitar. Quanto a mim... Bem, eu tinha outros assuntos a tratar.

Meu alvo – que já aguardava pacientemente – ofereceu um lugar para mim no banco dos fundos. Sentei-me com calma, não estabelecendo muito contato visual com Alice. Adele olhou-me de escanteio, curiosa com a série de gestos. Eu ainda a devia uma explicação, mas tudo dependia de para qual rumo correria aquela conversa.

— Parabéns aos noivos — ela sorriu torto, arrumando um cacho rebelde para dentro do chapéu. — Quase morri de tédio com a missa. Mas foi bonitinho. Sua irmã estava uma gracinha de daminha.

— Vou me lembrar de passar o recado para ela — ri um tanto para dentro, finalmente optando por olhá-la nos olhos. Azuis-gélidos, como o céu de inverno em Londres. Era fácil entender como Thomas havia caído em suas graças com tanta eficácia. — E obrigado... Por vir, também.

Alice assentiu com a cabeça, perscrutando meu rosto com atenção. Por sorte, eu não era mais o garotinho assustado que se deixava intimidar por uma garota bonita.

— Thomas me contou sobre o... Projeto de vocês dois — escolhi as palavras com cuidado. Com isso, recebi uma erguida de sobrancelha como resposta. — Tudo bem, eu não os julgo. Na verdade, é muito nobre da parte de vocês investirem nessa área. Eu sinto que será algo útil nos próximos anos.

— Se Thomas te contou, então sabe que não é mais um projeto. E que foi culpa minha.

— Sei sim. Mas não quer dizer que isso precisa acabar assim, Alice. Vocês podem voltar a trabalhar juntos.

Ela riu sem emoção, cruzando os braços.

— Thomas quer que voltemos a trabalhar juntos?

Ainda não. Mas ele vai querer, assim que você disser isso a ele.

— Ah, eu?

Seu tom de voz saiu como um guincho. Aparentemente, agora os papéis estavam invertidos: Alice era a garotinha assustada da vez. Por sorte, eu não era nenhum valentão oportunista.

— Sim, você. Thomas acabou de se formar e vai ter tempo de sobra para trabalharem nisso. Além de que provavelmente é bem mais fácil trabalhar em algo quando não há ninguém oferecendo a ameaça de te descobrirem. Certo?

Ela assentiu a contragosto.

— Tudo bem, o seu argumento é válido, mas por que sou eu quem tem de ir falar com ele?

— Porque, se é por sua culpa que o projeto foi encerrado momentaneamente, é sua responsabilidade garantir que, se ambas as partes desejam dar continuidade, isso aconteça.

— Mas, oras...!

— É a sua palavra contra a sua, srta. Bethencourt. É pegar ou largar. Porém, se eu fosse você, aproveitaria uma ocasião como essa, onde todos estão felizes e com foco nos noivos.

Alice gargalhou em completa incredulidade. Preferi agir como se tivesse contado a piada do ano.

Se eu fizer isso, quem me garante que Thomas irá aceitar a proposta? Ele me odeia.

— Se não fizer isso, não vai poder ter a carta na manga de quem tentou. E ele não odeia você... Só está ressentido com o que aconteceu. Não significa que é o fim.

— Então... — Alice respirou fundo, voltando-se para mim. — Está sugerindo que eu engula o meu orgulho precioso e vá pedir desculpas?

— Precisamente.

— E por que eu faria isso?

Abri um sorriso tranquilo, observando-a com pouca afetação. Alice retribuiu com um suspiro.

— Porque você só deu conta de que gosta dele quando o perdeu — comentei com compaixão. — E acha que, por ter estragado as coisas, isso significa que é uma pessoa ruim que não merece ser amada. Mas isso não é verdade, Alice. Só precisa se dar uma chance. Pode se surpreender com os resultados.

Alice riu fraco, abraçando o próprio corpo com cuidado. Ninguém era tão durão como aparentava.

— Como pode ter certeza disso?

— Não tenho. Mas estou dizendo que está lidando com pessoas abertas a acordos e diálogos. E acredito que você goste de debates... Bons ou ruins.

— Gosto sim — ela riu baixinho, voltando o olhar para mim. — Se está dizendo, eu... Vou tentar. Obrigada, Alexander.

Assenti com a cabeça, sorrindo bastante aliviado. Thomas ficaria feliz.

— Acredito que eu tenha que te deixar agora, srta. Bethencourt. Minha noiva está me esperando — sorri tanto para ela quanto para Adele, que me olhava de canto de olho. Gigi estava em seu colo e, apesar de amar a irmã como se fosse sua própria filha, ela parecia ansiosa para dar o fora de todo aquele movimento. — Tudo bem?

— É claro! Eu... Também tenho meus assuntos pendentes — daí, com uma reverência graciosa, Alice levantou-se do banco. — Foi um prazer conversarmos, sr. Banks.

— Igualmente, srta. Bethencourt. Até mais ver.

Então, ela me deixou sentado por ali, apenas observando seu trajeto até Thomas. Apesar de surpreso, pude ver seus olhos brilhando em expectativa. Então, permaneci bem quieto em meu canto enquanto o sol fazia seu caminho até mim. Adele sorriu e sentou-se ao meu lado oferecendo a mão para que eu a segurasse. Foi o que fiz, entrelaçando nossos dedos com os dela.

— Já cansou? — ela recostou a cabeça sobre meu ombro.

— Dos convidados? Ah, sim. Da senhora, não.

Adele gargalhou baixo, olhando para mim.

— Quer dar o fora daqui? Gigi babou em meu vestido...

— Querida, eu estava torcendo para que dissesse isso.

— Na alegria e na tristeza, querido.

Nessa parte eu prestei atenção!

Então, ela soltou uma risada que valeu a pena todo meu nervosismo.

Eu a amava.

Irrepreensivelmente.


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