Bravado escrita por Camélia Bardon


Capítulo 20
Acordos premeditados


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Quase que o capítulo não sai hoje KKKK acabei de terminar e não revisei, se virem algum errinho, por favor me avisem, sim?
Boa leitura!



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Antes de irmos passar as férias de verão em Paris, retornamos a Cambridge para ver se temos o direito de aproveitar férias. Se não fôssemos aprovados, isso significaria férias com o nariz atrás de livros tentando recuperar o conteúdo perdido durante o ano letivo. Inseguro do jeito que eu era já cogitei o pior. Então, quando o domingo chegou e com ele os resultados das provas finais, tanto eu quanto Thomas estávamos tensos e soturnos. Nem mesmo Hugh, que era a personificação da animação, parecia disposto a gastar energia com movimentos desnecessários. Nós nos cumprimentamos com um “bom dia” e rumamos cada um para seu quadro de avisos.

Procuro meu nome na lista do último ano. Psicologia é o último curso da lista, então não é como se fosse difícil se encontrar em meio a toda bagunça de papéis. A impressão é um pouco pobre, mas consigo ler meu nome entre os demais: Alexander Remy Banks – aprovado. Sinto minhas pernas bambearem e o alívio percorrer por todo o corpo, mas a sensação se intensifica quando Hugh se posta ao meu lado com um sorriso brincalhão.

— Ah, eu sabia que você iria se sair bem!

— Também foi aprovado? — engoli em seco, tentando em vão reprimir a rouquidão da voz.

— Eu não, mas pelo menos vou ser um repetente feliz com o meu amigo inteligente!

Primeiro, eu gargalhei. Depois, reparei no que estava implícito com a sua reprovação.

— Espere aí, mas isso significa que você não vai mais poder ficar encarregado da biblioteca...

— Precisamente, monsieur Banks, E também significa que já dei seu nome para vossa senhoria assumir o meu lugar, como prometi.

Abri um sorriso enorme. É claro, Hugh reprovar incluiria mais dinheiro em sua conta para gastar, mas também significava que no ano seguinte estaríamos no mesmo patamar. Terminaríamos os cursos juntos, por assim dizer, então também significava que eu não iria passar um ano inteiro sozinho. Chame-me de egoísta se quiser, mas a verdade era que eu estava muitíssimo feliz. Quem é que quer ficar longe dos amigos?

Fosse como fosse, quando Thomas chegou com um sorriso escancarado para o nosso lado, não foi preciso eu ele enunciasse em voz alta o que era óbvio. Apenas fizemos o nosso dever de amigos: o abraçamos e distribuímos tapinhas bem másculos em suas costas. No momento, optamos por isso por medo de quebrá-lo no meio de tanta emoção, mas vamos manter a versão de que somos muito fortes, sim?

Voltamos para nosso carro de aluguel apenas para sermos recepcionados por um abraço nada hesitante da mamãe – concretizando nossa teoria de que, sim, ela tem mais força física do que o papai, que optou por tirar o chapéu de maneira bem inglesa – e por Elena e Maélie, que nos beijam dos dois lados da bochecha, de maneira bem francesa. Evan, que fica no meio termo entre tudo, nos passou um cantil para cada e nos ofereceu uma piscadela.

— Nos vemos no próximo ano, Hugo, querido — mamãe sorri, optando por usar o nome de batismo de Hugh em seu cumprimento. Ela é mesmo demais. — O convite está estendido para nos visitar a qualquer dia em casa.

— Sim, senhora Banks — Hugh sorriu, realizando uma mesura tanto para ela quanto para o meu pai. Respeito em primeiro lugar. — Nos vemos no casamento, também!

— Oh, é mesmo! — Elena ficou com a boca num perfeito “O” de surpresa. Aparentemente, ela era a única que tinha se esquecido de que eu era o noivo do ano. Aparentemente, eu tinha me esquecido de que eu era o noivo do ano. — Nos vemos lá, senhor Shaw.

Hugh sorriu e, por um minuto, meu lado casamenteiro pensou que seria uma ótima opção tê-lo como cunhado. Bem, isso ficaria para depois. No momento, nossa ansiedade estava generalizada, como Maélie tratou de relembrar:

— Vamos, gente, eu tenho que me preparar psicologicamente para ser daminha de honra!

E, é claro, todos nós rimos de suas colocações.

Era o melhor dia de todos. Pelo menos, daquela semana.

┗━━━━━━༻❀༺━━━━━━┛

Maélie não parou de falar sobre o casamento por cinco minutos para respirar. A cada cinco minutos, ela se lembrava de algum detalhe do qual lhe havia passado despercebido. Qual seria o arranjo de flores? Quem seria o padrinho? E a madrinha? Ela também teria direito de ganhar presentes? E quanto à comida? Em algum momento que chegamos ao porto de Calais, Elena voltou ao seu personagem e pediu encarecidamente que ela se calasse.

Como de costume, os Bretonne mandaram uma carruagem nos buscar. Frequentemente caseiros, quase não colocavam o cocheiro para passear, a menos que se tratasse de algo referente às andanças de Gabrielle. Evan, Thomas e eu nos esprememos nos bancos de trás enquanto Maélie e Elena se comportam feito duas daminhas. Nossos pais estão no banco de cima com o cocheiro, então é nossa hora particular de nos alfinetarmos:

— O quanto vocês acham que o tio Émille está se mordendo de agonia? — Evan abriu um sorriso maldoso.

— Algo me diz que bastante — Elena gargalhou, voltando-se para mim. — Acho que, a essa altura, se por algum acaso alguém quiser se relacionar com Gabrielle vai ter que fazer um cortejo daqueles!

— O quê, aquela troglodita? Acho que faz mais sentido o tio se preocupar com a Gigi.

— Mas a Gigi só tem três meses... — inocentemente, Maélie comentou sem captar a malícia na fala do irmão.

— Exatamente — Evan replicou com um dar de ombros.

Se Adele estivesse ali, já teríamos trocado um olhar cúmplice. Nessas horas, numa carruagem abarrotada, é que valorizamos a invasão de espaço bem-vinda.

— Na verdade, acho que a tia está mais nervosa — Thomas opinou, tentando se ajeitar no banco. — É a filha mais velha dela... Mães cuidam mais dos filhos do que os pais. Na teoria o laço é maior.

— Concordo — opinei. — Preciso me lembrar de falar com ela em particular depois...

— “Desculpe, tia, por roubar a sua filha” — Elena fez uma péssima imitação da minha voz.

Abri um sorriso bem-humorado, aproveitando para dar-lhe uma piscadela.

— Na verdade, eu estive pensando em algo como “desculpe, tia, por não roubar sua filha antes”.

Evan assoviou, impressionado. Thomas apenas sorriu de lado, como se já esperasse que o convívio com ele tivesse provocado comentários do gênero. Mal sabia ele que tudo aquilo era feito de lições de insolência de Hugh Shaw.

Quanto a mim, não conseguia continuar pensando na tia Sienna enquanto sabia que Adele estava lá me esperando. Subimos a Rue Ramponeau e eu senti meu sorriso atravessando as bochechas. Era tão boa a sensação de ter alguém esperando em casa...

Naquele momento, percebi que não sentia mais aquela melancolia que sempre me dominava quando visitávamos Pais. Meu coração estava leve, repleto de expectativa com relação a apenas coisas boas. Não porque eu estava prestes a ser o centro das atenções, mas pela tranquilidade. Eu estava tranquilo porque não me sentia como se tivesse que impressionar alguém. E nem que não tinha nada a oferecer. Eu era alguém. Se não, estava prestes a ser alguém.

Para isso, eu ainda tinha uma pendência a resolver. Eu só esperava que Adele concordasse com o que eu pretendia propor.

Devo dizer que foi dificílimo respeitar as leis universais da educação em cumprimentar o tio e a tia primeiro, depois afagar os fiapinhos de cabelo de Gigi – e, é claro, não resistir em lhe dar um beijo estalado na bochecha apenas para ouvi-la gargalhar –, ser recepcionado por um soquinho amigável de Gabrielle e então – ah, meu Deus! – me limitar a beijar a mão de Adele. Castamente.

Sinceramente, quem inventou a castidade não entende como funcionam os hormônios.

Felizmente, nossos pais entendem como funcionam hormônios. Almoçamos juntos e nos foi concedido um tempinho na sala do piano. A primeira coisa que fiz foi segurar sua mão – como um cavalheiro, por favor –, mas me surpreendi quando Adele tomou a dianteira e colocou-se na ponta dos pés para me recepcionar com um beijo. Nada longo ou intenso, por mais que eu o desejasse, mas foi melhor do que nada.

— Seja muito bem-vindo, senhor Banks — ela sorriu, mordendo o lábio em seguida. — Como foi a longa viagem de Londres até aqui?

— Muito obrigada, senhorita Bretonne — devolvi o sorriso. — Devo admitir que ela foi terrível sem a presença da sua beleza incontestável.

— Ah, eu gosto muito do seu palavreado!

Compartilhamos um riso cúmplice, porém não me contive mais e fui obrigado – não pelos meus hormônios, mas pelo meu coração – a beijá-la com mais dignidade. Adele pareceu surpresa, porquanto que arquejou contra minha boca, porém interpretei como algo bom. Eu não podia ser inibido para sempre, certo?

— Minha nossa... O que foi que te aconteceu nesse tempo? — ela murmurou, com as bochechas coradas. Parabenizei-me por isso por dentro. — Eu não sei, mas está aprovado.

Sorri, beijando-a na testa.

— Estou feliz. Não tem nada de misterioso nisso, eu prometo.

Adele assentiu, indicando o banco do piano para que nos sentássemos. Acompanhei-a pronto para me retratar com ela e meus pensamentos. Respirei fundo e preferi dizer tudo numa tacada só:

— Adele... Eu gostaria de lhe pedir algo. É sobre nosso casamento.

Ela ajeitou a postura, assentindo com a cabeça. Vamos, fale.

— E-eu... Gostaria de convidar a Alice.

Adele piscou um tanto confusa. Eu não a julgava: até mesmo minha consciência havia me lançado um grande ponto de interrogação quando a ideia surgiu.

— Não posso dizer que entendo suas motivações, mas... Se você tem certeza de que é algo bom, eu... Confio em você, Alex. Por mim, tudo bem. Acha que sua mãe vai encarar bem?

Segurei as mãos de Adele ao lado dela no piano. Sempre teria um significado especial e eu até mesmo sentia vontade de tocá-lo. Seu sorriso de deleite sempre era adorável, e se para vê-lo eu precisava abdicar da minha falta de prática, eu o faria com prazer.

— Prometo falar sobre isso em breve. Por ora... Será uma surpresa. Ah, eu acredito que sim... Minha mãe não guarda rancor dela. Quer dizer, ela e Thomas não estão mais juntos, mas não quer dizer que sejam inimigos por isso. Não seria tão estranho ela aparecer aqui.

Poupei-me de contá-la sobre o beijo. Era passado. Silenciado.

— Sei... E como acha que Thomas vai encarar seu convite?

Suspirei. O que mais eu podia fazer?

— Eu espero que bem, Deli. Depois de tudo que aconteceu... Thomas merece que as coisas sejam boas para ele. Também espero que possa colaborar com isso de alguma maneira.

Adele deitou a cabeça em meu ombro, enviando uma onda elétrica por meu corpo. Sorri com o gesto, mais ainda quando ela concluiu:

— Você colabora com a felicidade de todos nós sem nem tentar, Alex. Se você está tentando, já é certeza que dará certo.

┗━━━━━━༻❀༺━━━━━━┛

Alice não se surpreendeu menos. Na verdade, ela arregalou os olhos azuis pálidos e ficou boquiaberta por alguns segundos. Não para menos, eu a tinha ido procurar em Sorbonne.

— Primeiramente... Meus parabéns pelo noivado — ela iniciou, colocando os cabelos curtos atrás das orelhas. — E depois... Hum... Obrigada pelo convite. Mas...

— Eu sei. Mas considere. Por favor.

Alice assentiu com a cabeça, me medindo com os olhos. Ergui a cabeça alguns milímetros, tentando me impor.

— Sabe, Alexander... Eu o admiro muitíssimo.

— Eu? — ergui uma sobrancelha. — Por quê?

— Você é fiel aos seus próprios sentimentos. Eu gostaria de ser assim, o problema é que eu tenho medo de sequer ter sentimentos.

Permaneci observando-a com atenção. As circunstâncias tinham mudado muito desde a última vez que nós nos “falamos”. Era o tipo de olhar que se dava quando se percebe que cometeu erros e que quer resolvê-los, mas não se sabe como. Compadeci-me dela. Melhor dizendo: simpatizei com ela. Tive a ligeira impressão de que ela e Thomas eram ainda mais parecidos do que eu já imaginava. Entretanto, até o momento, eu não conseguia determinar se isso era bom ou ruim.

— Você não é uma pessoa ruim, Alice.

— Quem me garante? — ela riu fraco.

Eu garanto. Importa quem é agora, não quem foi.

Levantei-me com tranquilidade, enquanto ela continuava me observando.

— Espero que esteja lá, Alice. Até mais ver.

Meu Deus.


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