(Re) Nascer escrita por EsterNW


Capítulo 9
Águas passadas


Notas iniciais do capítulo

Olá, povo! Prontos pra ouvirem a história do Lys?
Só pra saber: a maior parte do capítulo é composto por flashbacks em diferentes pontos dos últimos dois anos da vida do Lysandre. Eles são separados por trechos da música Duas Lágrimas da banda Fresno, que também é a música do capítulo.
Boa leitura ;)



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"Uma lágrima rolou do meu olho ao perceber

Que era a última vez em que eu ia ver você"

 

Lysandre passou mais uma das fotos da galeria de seu celular. Uma com a professora, outra com Castiel, outra da turma toda, outra com seu diploma em mãos, outra com ela… O rapaz cessou de passar as imagens para frente, parando para analisar com atenção aquela em específico. Seu dedo percorreu o escorrido dos cabelos compridos, jogados por sobre o ombro e deslizando pelo braço moreno em uma trança. Seus olhos e lábios sorriam, bem como os dele. Mesmo que os olhos bicolores estivessem mais focados em observar com um olhar apaixonado a moça que estava em seus braços. Era difícil se lembrar de um tempo em que não olhou para ela com um daqueles olhares, com um daqueles sorrisos. Que não olhou para ela como sua musa inspiradora para os versos que compunha.

— Vocês dois tavam tão lindos nesse dia. Pena que não pude ir na sua formatura, meu filho — a voz de George disse repentinamente na cama ao lado da cadeira em que Lysandre estava sentado. O rapaz quase derrubou o celular das mãos com um sobressalto.

— Achei que ainda estivesse dormindo, pai — ele disse, guardando o aparelho no bolso do sobretudo e ficando de pé, pronto para atender a qualquer pedido de George. — Está com fome? Quer que eu chame a enfermeira para alguma coisa? — ofereceu, no que o senhor apenas abanou a mão que não estava presa no soro.

— Precisa não. A comida do hospital é insossa demais — o senhor reclamou e o filho ajeitou os travesseiros na cama do pai, para que este pudesse ficar em uma posição sentada. — Falta muito pra sua mãe chegar? Ela ia trazer aquela sopa dela que eu amo — o senhor disse com carinho, fazendo o filho sorrir.

— Ela foi com Rosalya para o apartamento do Leigh, descansar — Lysandre afirmou, sentando-se de volta na cadeira ao lado da cama. O rapaz observou o pai com atenção, procurando por qualquer sinal que fosse de alerta. Apenas encontrou as linhas de cansaço, que se tornavam cada vez piores.

George resmungou alguma coisa sobre não precisar que se esforçassem tanto por ele. Lysandre apenas abaixou a cabeça.

— Já saiu as fotos da sua formatura? — o senhor questionou repentinamente, recordando-se da imagem que o filho via instantes antes no celular. O rapaz assentiu. — Deixa eu ver? — pediu e Lysandre tirou o aparelho eletrônico do bolso.

Abrindo a galeria, começou a passar as fotos aos poucos, ao que George tecia comentários, pedindo ao filho que passasse para a próxima após algum tempo de observação.

— Nem acredito que você tá formado, meu filho — o senhor comentou. — Parece que era ontem que você era piquitico correndo com as galinhas. — Lysandre riu da lembrança, no que o pai sorriu com nostalgia. — Pena que não vou poder te ver formando na faculdade — ele soltou de repente.

As sobrancelhas de Lysandre uniram-se de exasperação com a fala.

— Não fale assim, pai — censurou.

— Tudo bem, meu filho, tudo bem — George preferiu não contrariá-lo e sorriu para ele, dando algumas batidinhas na mão do rapaz para ressegurá-lo. — Tem mais foto?

Com a pergunta, Lysandre passou para a próxima. Dele e da namorada abraçados na entrada da quadra da escola, onde se deu a cerimônia da colação de grau.

— Você escolheu uma moça muito bonita pra ser sua namorada, filho — o senhor comentou. — Ela é muito gentil também. Lembra daquela vez que eu e sua mãe fomos à sua escola e ela ajudou a gente? — Lysandre assentiu, olhando para a imagem mais uma vez. — Qual era o nome dela mesmo? Dolores?

— Dulce — o rapaz corrigiu, voltando os olhos bicolores para o pai.

— Isso! Dulce! Um nome lindo — o senhor comentou, desviando os olhos para o filho. — Ela viajou? Faz tempo que não vejo mais ela…

Lysandre engoliu em seco, não sabendo exatamente o que responder. Não queria trazer notícias tristes ao leito do pai, mas o que fazer se Dulce fora embora para cursar faculdade em outro estado e se haviam terminado o namoro na manhã daquele dia? Não importava o quanto dissesse que poderiam tentar superar a distância, Dulce se mostrou irredutível. Eles sofreriam menos desse jeito, ela tinha dito, livres para cada um seguir seu próprio caminho. Apesar de não concordar com a afirmação, Lysandre não pôde fazer mais nada se não aceitar.

— Ela viajou — disse apenas, ocultando o resto. Sequer sentia-se preparado para falar sobre o término com alguém. Por enquanto. 

— Que pena… Gostei tanto de conversar com ela — o senhor lamentou. — Passa de novo aquela foto sua com o diploma?

 

"Outra lágrima rolou dentro do meu coração

Ao ver a velocidade com que as vidas vão em vão"

 

— Toca aquela música pra mim, filho? — Josiane pediu e Lysandre parou de afinar o violão.

O rapaz voltou os olhos para a mãe, sentada na cadeira de balanço ao seu lado, em posse de um pano de prato e as linhas para bordá-lo. Ele olhou para frente, vendo toda a escuridão da fazenda. Se não fosse um pontinho luminoso ao longe, da casinha de Chico com a luz acesa, estariam completamente sob o manto da noite. Sentindo um vento frio no ar, junto do coro de grilos levado pela brisa, levantou-se da cadeira com o instrumento em mãos.

— Não é melhor entrarmos, mãe? — ele ofereceu a mão para a senhora, que segurou-a, levantando-se da cadeira de balanço. — Eu toco para a senhora lá dentro.

Deixando-a entrar primeiro, ele passou em seguida, fechando a porta da varanda dos fundos. Vendo que Josiane atravessava o corredor em direção à sala, seguiu-a, passando a mão no interruptor e acendendo a luz. 

—Minha vista tá cada vez pior — a senhora reclamou ao sentar-se no sofá e voltar os olhos para o pano que bordava. Com um suspiro, deixou-o de lado. — Toca aquela música pra mim? — reiterou o pedido novamente.

Lysandre sorriu para a mãe e sentou na outra ponta do mesmo sofá. Ajeitando o violão sobre o colo, começou a dedilhar as primeiras notas da canção que lhe fora requisitada. Após a introdução, sua voz de barítono entoou os primeiros versos.

— Seu pai gostava tanto dessa música... — Josiane soltou contemplativa e Lysandre parou de cantar, observando a mãe. Rapidamente, a senhora secou as lágrimas que formavam-se no canto de seus olhos. — Continua tocando pra mim? —ela pediu e o filho tentou forçar um sorriso, para mostrar que estava tudo bem. 

Lysandre voltou a tocar. Enquanto seu corpo trabalhava para dar vida àquela canção, sua mente só conseguia lembrar-se do pai e pensar na mãe. De todos eles, Josiane fora sem dúvidas a mais afetada pela morte de George. 

Decidido a cuidar da mãe e não deixá-la sozinha em uma casa assombrada por lembranças, Lysandre mudou-se para a fazenda por tempo indeterminado. Simplesmente deixou tudo para trás. Mesmo que Leigh, Josiane e Rosalya tentassem convencê-lo a ficar, o rapaz mostrou-se irredutível. Sua mãe valia mais do que uma carreira, do que uma faculdade, do que uma banda. Importava-lhe mais cuidar dela, enquanto ainda a tinha...

— Toca outra pra mim? — Josiane pediu, assim que o filho terminou a música.

Lysandre olhou para ela, vendo o sorriso doce que era dirigido para ele.

— Quantas a senhora quiser.

 

"Quando eu menos esperei, nada mais eu encontrei

Havia desaparecido a lágrima que eu chorei

Mas aquela que escorreu, no meu peito lá ficou

A gota de gosto amargo, com o frio cristalizou"

 

Lysandre aproximou as mãos do fogão a lenha, mantendo-as a alguns centímetros de distância, na intenção de aquecê-las enquanto o leite fervia. Aquele inverno estava sendo um dos mais rigorosos dos últimos tempos. Ou talvez fosse apenas a mudança de ares. Sempre costumavam dizer que a área rural era mais fria do que a cidade e ele próprio pudera provar que isso era verdade. 

Após terminar de fechar os botões de sua blusa de frio, tirou a leiteira do fogo, apagando-o e colocando o leite em duas canecas desenhadas com bichinhos. Com cada uma em mãos, atravessou o corredor até a sala, deixando uma sobre a mesa de centro e bebendo da outra. 

Leigh tirou os olhos da parede e observou-o de canto de olho. Em silêncio, pegou a caneca de sobre a mesa e bebeu do líquido quente. Limpando o bigode que ficou, comentou com o irmão:

— Lembra que nossa mãe tinha costume de preparar leite quente todas as noites antes de irmos dormir? — ele puxou uma memória da infância. 

Lysandre apenas sorriu com tristeza, enquanto Leigh permaneceu soturno. As marcas de choro de mais cedo ainda eram visíveis em seu rosto moreno. Já no rosto de Lysandre, não. Suas lágrimas estavam suspensas dentro de si. Ali não era lugar de elas caírem. Havia alguém que precisava dele, do seu apoio, não de suas lágrimas.

— E ela continuou fazendo isso quando éramos adolescentes — completou e encostou as costas em uma das almofadas verdes do sofá. — Até umas semanas atrás ela ainda fazia isso — ele arrematou, causando um silêncio logo em seguida.

Leigh apoiou os cotovelos sobre os joelhos, rodando a caneca nas mãos e vendo o leite se mexer dentro dela.

— Não sei como você consegue ficar aqui — o irmão mais velho disse repentinamente. Apontou com a cabeça para o retrato na parede, logo acima da TV. Fora os menores em porta-retratos sobre a mesa de centro. —Em cada canto dessa casa eu lembro… — Leigh deixou a frase no ar e respirou fundo quando sentiu as lágrimas voltando aos olhos.

Lysandre deixou a sua caneca sobre a mesinha e colocou a mão sobre o ombro do irmão, afagando-o.

— Eu também, irmão, eu também — Lysandre respondeu.

— Você não devia ficar aqui — o outro disse em seguida, voltando os olhos escuros para os bicolores do irmão. 

— Eu preciso ficar aqui, Leigh — o irmão mais novo soltou uma resposta pronta, ciente que aquela conversa que viria a qualquer momento. Ela finalmente chegara.

— Não, não precisa. — Leigh negou com a cabeça e colocou a sua caneca ao lado da outra sobre a mesa de centro. — Chico cuida da fazenda e nós podemos alu…

— Não, não podemos — Lysandre interrompeu-o, sequer deixando-o completar o raciocínio. 

— Você não precisa abandonar tudo, Lysandre. Você não pode abandonar tudo — Leigh tentou convencê-lo, no que o irmão negou com a cabeça. 

— Eu estou sacrificando por um bem maior, Leigh — Lysandre respondeu. Uma resposta que estava na ponta da língua, que usava como justificativa, como escudo para qualquer pensamento sobre o que ficara para trás. De tudo que ele deixou ficar para trás. 

Leigh não poderia sair da capital por muito tempo por causa da loja, Chico não daria conta do trabalho sozinho e alugar a fazenda dos pais… Em hipótese alguma. Como se sentiria vendo qualquer mudança naquele lugar que abrigara gerações de sua família? Como seria se o destruíssem? Se o novo inquilino decidisse mudar as coisas de lugar? O que seus pais achariam disso? Como ficaria Chico?

— Não consegue dormir? — Lysandre questionou, mudando de assunto. 

Talvez conseguisse evitar aquela conversa mais um pouco. Mas ela sempre retornaria, estava bem ciente disso. Com o tempo suas escusas poderiam melhorar. Com o tempo poderia se convencer que aquele era seu destino. 

Seu destino não era ser um cantor famoso em uma banda de rock. Seu destino era ali, onde viveu boa parte da vida. Onde seus pais viveram. Podia se acostumar com isso. Devia se acostumar com isso.

— Não consigo dormir lá — Leigh respondeu ligeiramente seco. 

Lysandre ocupava o antigo quarto que dividira com o irmão durante a infância e não trocaria de dormitório por nada. Já para Leigh e Rosalya sobrava o antigo quarto de casal. Aquele que pertencera a George e Josiane. Rosalya ainda conseguia dormir lá, não tinha quase nenhuma lembrança para ela ali dentro. Já para Leigh… Era insuportável deitar naquela cama e lembrar-se de quantas vezes dormira junto dos pais — antes de Lysandre nascer e quando era apenas um bebê —, com medo de sonhos ruins. 

— Deveria — o mais novo advertiu. — Você partirá bem cedo amanhã — relembrou, no que o mais velho fez uma careta.

— Não posso deixar você sozinho aqui — Leigh soltou angustiado. 

Lysandre apertou levemente o ombro do irmão, fazendo com que olhasse para ele.

— Você precisa. A loja precisa de você lá. — Lysandre fitou um dos porta-retratos sobre a mesa de centro, sabendo da posição de cada foto ali. A imagem dos quatro reunidos na cozinha em que estivera minutos antes. — E eu preciso ficar aqui. Ficarei bem. — Com um sorriso forçado, tentou fingir que estava tudo bem.

Leigh sequer precisou analisá-lo para saber a verdade. 

Não estava bem. Ninguém ali estava bem. Lysandre não estaria bem enquanto estivesse sozinho naquela fazenda.

 

"[...] E você sabe que eu já sofri demais aqui

E não vejo a hora de poder ficar junto de ti

E onde você estiver, estarei em coração,

Em alma e espírito, através dessa canção"

 

Tendo a caneca com leite quente em mãos, Lysandre observou a foto na parede da sala. O assento ao seu lado no sofá estava vazio. A casa inteira estava vazia. Leigh e Rosalya haviam retornado para a cidade há menos de vinte e quatro horas.

Após o serviço do dia, restara-lhe o silêncio. Quando a louça já estava lavada e a casa em ordem, não restava mais nada a fazer naquele dia. Poderia declará-lo como findado e então dormir, para no dia seguinte acordar e seguir com a mesma rotina. Era assim que estava fazendo naquelas duas semanas inteiras. Era assim que faria enquanto doesse. Se afogaria na rotina para evitar olhar a superfície. Para evitar pensar no que estava além do que seus olhos podiam ver, no que o futuro poderia ser. 

Mas isso ainda não era suficiente. Ainda restava-lhe tempo livre. E era aí que os pensamentos vinham. 

Não adiantava pensar sobre a fazenda ou sobre os animais que teria de tratar no dia seguinte, a plantação que deveria frutificar, o queijo que deveria fazer e nem nada disso. Aqueles pensamentos sempre encontravam um espaço livre e entravam. E levavam qualquer alegria com eles. A única coisa que lhe restava era dor, a perda, o luto. A lembrança de tudo o que perdeu. Daquilo que não voltaria e que não poderia ter nunca mais. 

Impedido de se afogar na rotina, deixou que a água escapasse de outra forma. Sozinho na casa vazia e cheia de memórias, Lysandre chorou. 

 

"Enquanto a sua ida puder fazer alguém chorar

É sinal que a sua vida ainda não deve acabar

Já que não há saída, eu posso apenas imaginar

Como seria a minha vida sem a sua pra me alegrar"

 

Clarice postou-se boquiaberta, findado o relato de Lysandre sobre como chegara até ali. Sentindo as lágrimas se acumulando no canto de seus olhos, esfregou as mãos ao redor deles, tendo deixado a caneca no espaço livre entre seus pés, sobre a cadeira. 

— Lys, eu… — A veterinária balançou a cabeça, procurando as palavras certas para dizer ao amigo após tudo o que ouvira. Erguendo o rosto, viu que era observada por ele com atenção. Silenciosamente analisava suas reações. — Você deixou tudo pra trás, os seus sonhos…

Lysandre bebeu o restinho do leite na sua caneca e se levantou. 

— Foi por algo maior — ele justificou-se, já de costas para a moça e lavando a louça na pia. 

— Mas o próprio Leigh tentou te convencer… — a voz de Clarice subiu um pouco demais. Não havia mais trovão naquele momento, apenas o tamborilar constante da chuva no telhado. — Você nunca gostou de morar na fazenda, Lys. Você mesmo chegou a me dizer isso mais de uma vez — a veterinária tentou usar como argumento.

— Não importa eu gostar ou não, Clarice. Eu tenho que estar aqui — sentenciou por fim. A moça ficou até um pouco surpresa pela firmeza com que seu nome fora usado na frase. — A chuva parece que não vai cessar tão cedo — ele comentou, saindo completamente do assunto.

Lysandre era mestre nesse tipo de coisa. Principalmente nos últimos tempos.

— Minha vó vai ficar preocupada comigo… — Clarice lamuriou. 

— Seu celular não tem sinal? 

— Não trouxe ele — ela respondeu. Sem bolsos, era difícil ter onde guardá-lo.

Usando isso como deixa, Lysandre saiu da cozinha em direção ao quarto. Mesmo tateando no escuro, conseguiu achar o aparelho na gaveta do criado mudo ao lado da cama. Também estava sem sinal algum. Já era ruim nos dias bons, com a chuva, o sinal de telefone saía do ar completamente. Usando o aparelho eletrônico como lanterna, voltou para a cozinha.

— O sinal caiu por causa da chuva — Lysandre explanou, mostrando a tela acessa para Clarice.

No meio tempo em que levara para ir da cozinha até o quarto, a moça se levantara até a pia e encontrava-se de costas para ele, lavando a caneca que usara. Àquela altura, não adiantava dizer para deixar ali, para que ele mesmo lavasse.

— Tudo bem se você dormir aqui essa noite? — Lysandre ofereceu incerto.

Clarice fechou a torneira e apoiou as mãos sobre a pia, suspirando.

— Só espero que minha vó não morra do coração até lá — ela tentou brincar, na tentativa de aliviar um pouco o clima.

— Vou preparar o quarto livre para você — Lysandre afirmou, pegando uma das velas de cima da mesa.

Clarice seguiu-o pelo corredor, apenas ganhando uma olhada de canto de olho. Os dois foram em silêncio, com a veterinária sequer ousando retornar tão cedo ao assunto de minutos antes. Lysandre estava arisco demais. 

— Olha só quem tá aqui! — Clarice exclamou quando viu Dragon deitado sobre a cama de casal. Logo se aproximou do animal, que acordara com a movimentação. Sentando-se na cama, pôs-se a acariciar o cachorro. — Que bom ver que está tudo bem com ele — comentou e Lysandre aproximou-se com a vela, iluminando o focinho do cachorro.

Dragon estava sem o colar já havia alguns dias, quando Clarice entrou para retirá-lo e acabou tomando mais um café com o dono da fazenda e Chico. O cachorro parecia realmente gostar da moça. Ainda inclinava a cabeça em certa posição quando ela o acariciava, em um pedido para que ela passasse a mão mais para o lado.

O fazendeiro abriu o guarda-roupa de madeira maciça, com direto a um maleiro na parte de cima, e retirou de lá um edredom. O cheiro de guardado era notório, mas não poderia fazer muita coisa. Sorte que Clarice não tinha problemas respiratórios.

— Eu posso colocá-lo na sala, se quiser — Lysandre ofereceu, no que a veterinária negou com a cabeça.

— Não precisa. Vai ser bom ter alguém pra me fazer companhia — findou, cessando de fazer um carinho no pastor de beauce.

Os amigos se encararam, com ambos os rostos iluminados pela luz da vela, que lançava sombras estranhas na parede pintada de amarelo claro. 

— Qualquer coisa que precisar, estou no quarto ao lado — o fazendeiro instruiu, recebendo apenas um aceno de cabeça. — Boa noite, Clari — desejou, deixando a xícara com a vela sobre o criado mudo, ao lado do abajur.

— Boa noite, Lys — Clarice respondeu quase em um sussurro e ouviu o clique do fechar da porta, ficando sozinha com o cachorro e a vela. 

Sem sono algum, Lysandre retornou para a cozinha e sentou-se em uma das cadeiras ao lado do fogão a lenha. Aproveitando o calor, repassava na mente tudo o que acontecera naquele dia. Uma memória voltou, sobrepujando as outras que trouxera à tona minutos antes.

Versos... Belo, singelo…

Procurando seus papéis e a lapiseira, torceu para que conseguisse enxergar com a luz da vela.


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Notas finais do capítulo

Duas Lágrimas, Fresno: https://youtu.be/IRI72sRk6h8
Bem... O que dizer depois disso, né? Lys abriu o coração de verdade e o relacionamento dos dois está começando a se aprofundar...
Até mais, povo o/



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