(Re) Nascer escrita por EsterNW


Capítulo 20
Só faz sentido se você sentir


Notas iniciais do capítulo

Preparem a insulina porque vão precisar pra esse capítulo -q

Música do capítulo: Quando Eu Caí de Fresno.



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Lysandre apoiou os braços sobre a porteira da baía, a mamadeira vazia em uma das mãos. Acabara de alimentar Fausto e observava o bezerro, com seus trotes mais firmes sobre o feno. 

— Chegou a hora da comida! — a voz de Clarice anunciou de repente, sobressaltando Lysandre do silêncio do curral, quebrado apenas pelos barulhos do bezerro e de Julieta na última baía. — Chico me deixou entrar quando ele e Almir tavam saindo com a caminhonete, disse que iam comprar as coisas pra proteger a plantação da geada — explicou, parando ao lado de Lysandre e percebendo a mamadeira vazia. 

— Roubei o seu trabalho novamente — Lysandre confessou, como se fosse um menino travesso.

Clarice teria colocado as mãos na cintura, se não estivesse ocupada em segurar a sacola com as duas garrafas de colostro. Tendo a entregue para o fazendeiro, foi capaz de cruzar os braços.

— Do jeito que as coisas andam, Fausto não vai precisar que eu venha todos os dias — ela disse de repente, observando o bezerro brincar dentro da baía.

Lysandre foi pego de surpresa com o anúncio, tornando o rosto para ela de imediato. Tentou analisar a expressão da amiga, vendo que falava sério. Restavam dúvidas se estava feliz ou não com isso.

— O Fausto tá crescendo, então não vai precisar mamar mais tantas vezes por dia. Mas ainda precisa do colostro até o terceiro mês, então, você não vai se livrar de mim tão cedo — ela brincou com um sorriso no rosto.

— Irá diminuir suas visitas? — Lysandre questionou, apreensivo por se afastar da amiga novamente. Ou por não vê-la mais com tanta frequência, porque ela ainda continuaria ali.

— Acho que duas vezes por semana vai ser suficiente — a veterinária respondeu, logo percebendo o olhar que era dirigido a ela. — Mas você não vai conseguir se livrar de mim tão fácil assim, viu? Faço questão de vir todos os dias pra tomar seu café.

Os dois compartilharam uma risada, o clima dentro daquele celeiro desanuviando aos poucos.

— Fico feliz por isso — Lysandre respondeu, sequer percebendo a sombra de um sorriso se formar em seu rosto. — Gosto de ficar com você.

Clarice surpreendeu-se, sabendo que Lysandre normalmente não era dado a respostas como aquelas, salvo em algumas situações. E salvo a intimidade com a pessoa. Levando em consideração como estavam distantes quando se reencontram, sentia seu coração aquecer por saber que as coisas voltaram ao normal aos poucos. Desde a noite de conversas à beira do fogão a lenha, era claro que ele confiava nela.

— Eu também gosto de ficar com você — Clarice respondeu, os olhares de ambos se cruzando, mergulhando um no outro.

Fausto mugiu, deixando claro que ele ainda estava presente em cena e assistindo tudo.

— Acho que tá na hora, Lys — Clarice anunciou, abrindo a porteira da baía.

— Hora de que? — ele questionou confuso, estranhando, pois a veterinária não faria nenhum exame naquele dia, estava sem sua maleta.

— Hora do Fausto sair. Não acha que ele tá grande o suficiente? — devolveu, incentivando o animal a deixar o conforto do feno e a mesmice da baía.

Fausto estranhou, porém, deixou-se guiar.

— Acha que ele poderá começar a pastar? — Lysandre questionou, acompanhando a veterinária e o bezerro caminharem para fora do curral.

— Primeiro a gente tem que ver como o Fausto vai reagir — Clarice respondeu, guiando o animal para fora.

Fausto mirou os olhos de jabuticaba para o céu, pela primeira vez vendo o infinito azul sobre a sua cabeça e as nuvens de algodão-doce, de acordo com olhos imaginativos, criando formas de animais que sequer conhecia, ainda.

O bezerro mugiu, experimentando a grama sobre suas patas, uma textura que fazia cócegas em seus cascos. Diferente dos passos incertos que tomava nos seus primeiros dias, dessa vez foi firme, explorando o horizonte que tinha à frente.

Para os outros, a fazenda não era nada demais. Lysandre, Chico e os demais animais moravam ali, Clarice visitava quase sempre, não havia nada de novo para eles. Para Fausto, era um mundo que se abria à sua frente.

— Ele parece feliz — Lysandre comentou, de longe observando o animal junto de Clarice.

— Quem não ficaria feliz por poder sair depois de tanto tempo preso? — Clarice devolveu e o fazendeiro foi obrigado a concordar. — Os outros animais estão todos presos, né? Melhor deixar o Fausto pastar sozinho por enquanto.

— Estão — Lysandre confirmou e os dois começaram a se afastar da construção do curral às suas costas. — Irei guardar o colostro, volto já.

Com um aceno de cabeça, Clarice observou o fazendeiro se afastar e logo sumir dentro de casa. Querendo ficar a uma certa distância de Fausto, mas não longe demais, sentou-se em um dos degraus da varanda da frente.

O bezerro cheirava as ervas daninhas entre os tufos de capim no chão. Não iria demorar muito para que resolvesse experimentar…

— Quer um café? — Lysandre ofereceu, reaparecendo repentinamente e tirando a veterinária de sua observação.

— É melhor ficar de olho no Fausto por enquanto — respondeu, vendo Lysandre sentar-se ao seu lado nos degraus. — Sabe lá o que ele vai aprontar, né?

Lysandre sorriu, assentindo. Os dois postaram-se em silêncio, observando o bezerro em sua descoberta do mundo do lado de fora do curral. Ou ao menos Clarice estava. Lysandre estava mais ocupado em observá-la, pensando se deveria ou não iniciar o assunto que intencionava.

As coisas estavam boas daquele jeito, por que insistir? Por que não permanecer na zona de conforto?

— Que cara é essa? — Clarice questionou de repente, pegando-o no flagra em sua contemplação silenciosa.

Não era a primeira vez que ela percebia-o olhando para ela daquela forma. Perdido, até contemplativo. Não era o tipo de olhar que queimava sua nuca, era diferente. Não podia negar que gostava de sentir os olhos coloridos do fazendeiro sobre si. E gostava mais ainda de olhar para eles diretamente, exatamente como fazia naquele momento.

— Apenas estava considerando algumas coisas — Lysandre respondeu e abanou a cabeça, tentando jogar aqueles pensamentos para longe. Em poucos segundos, antes mesmo que Clarice mudasse de assunto, ele continuou. — Queria me desculpar.

Agora que estava dito, não tinha mais para onde voltar. Independente de querer manter-se ou não na zona de conforto, ele devia isso a ela. Devia isso pela cena desconfortável que criou durante a pescaria no domingo. Clarice parecia não se importar, talvez tendo se esquecido do ocorrido, talvez não querendo tocar no assunto. Mas ele não queria deixar passar.

Maldito Almir, estava correto em todas as suposições que fizera na tarde de segunda. Lysandre não ousaria admitir para o rapaz, mas de si mesmo não poderia escapar.

— Se desculpar pelo que? — Clarice retorquiu, completamente confusa.

— Pela forma que agi durante a pescaria — Lysandre explanou o que estava pensando. — Reagi forte demais a algumas coisas e acabei criando um clima desconfortável entre todos nós. — Ele encarou-a nos olhos, sincero.

A veterinária encontrou-se sem palavras, surpresa pela forma aberta com a qual o amigo resolveu trazer o assunto à tona. Era inegável: Lysandre realmente confiava nela.

— Bem… — Ela balançou a cabeça, tentando organizar os pensamentos. — O que já tá feito, tá feito. — Ofereceu um sorriso, no que Lysandre retribuiu, abaixando a cabeça e deixando que algumas mechas da franja tampassem um pouco de seu rosto.

Mesmo sabendo que Clarice deixaria as coisas no passado, focando no agora, foi bom deixar tudo a limpo. Mesmo que ainda devesse deixar mais algumas a limpo com ela, de conversas no passado…

— Também estive pensando sobre a conversa que tivemos na sua fazenda, na semana passada. — Aproveitando as declarações que decidira fazer, resolveu fechar de vez os assuntos pendentes.

— Sério? — Clarice encontrou-se novamente surpresa. Talvez aquela fosse a expressão que mais passasse por seu rosto naqueles minutos.

Era apenas mais uma tarde comum, onde esperava apenas levar o colostro para Fausto, alimentar o animal e tomar café com o amigo. Nada além do habitual.

— Ponderei sobre o assunto e conversei com Leigh… Ele disse que chegou a pensar na mesma coisa, com a instalação da internet. — Ele voltou os olhos para a amiga, vendo seu sorriso sincero. 

— E você vai mesmo fazer o EAD? 

— Eu e Leigh veremos mais para frente. Agora é um pouco cedo, visto o tanto que tem gastado para expandir a loja — finalizou a explicação, sentindo a mão de Clarice sobre a sua, em um aperto quente e encorajador.

— Que bom, Lys! — ela exclamou, afagando sua mão. — Eu fico feliz que você vai tentar, de verdade. 

Ela ofereceu outro sorriso sincero, no que Lysandre sentiu seu rosto imitando-o de uma forma natural. Com a mão livre, afagou a de Clarice sobre a sua.

— Obrigado, Clarice — ele agradeceu, olhando-a com ternura. Observando o mesmo olhar sendo dirigido a ele nos olhos castanhos da moça. Clarice se importava com ele. Assim como Chico, Leigh, Rosalya… Mas, quando via seu olhar carinhoso sobre ele, não era a mesma ternura que sentia dirigida a si pelos outros. Era algo diferente. — Obrigado pela ajuda que me deu — completou, não se referindo apenas à ajuda que ela deu com o bezerro.

Clarice sabia muito bem tudo o que estava incluso naquele agradecimento. Ela sorriu, claramente tocada.

— Não precisa agradecer, Lys — ela respondeu baixo, umedecendo os lábios enquanto procurava pelas palavras. 

Seus movimentos eram captados pelos olhos atentos de Lysandre, que ainda mantinha sua mão sobre a dela, acariciando a pele macia com o polegar. Sequer percebeu e ela sequer reclamou. Sequer se lembrava de como era sentir os dedos do amigo traçando sua pele. Seu toque suave, seus dígitos quentes por onde passavam.

— Eu fico realmente feliz de te ver assim, tentando. Esse era o Lysandre que eu conhecia. — Ela sorriu com a mera recordação.

Porém, Lysandre não era mais uma recordação. Ele estava ali, bem à sua frente, com suas novas cicatrizes, com seus novos traços, com suas novas características que ela descobria a cada dia. Mas, no fundo, ainda era o mesmo. No fundo, sabia que ela ainda era a mesma. No fundo, eram os mesmos. Cobertos pelas novas camadas que adquiriram naqueles anos separados.

— Eu sentia falta de te ver assim — ela declarou baixo, contudo, sem ousar voltar os olhos para baixo.

Lysandre encontrou-se momentaneamente ponderando qual dos seus pensamentos deveria dizer em voz alta. Agradecer mais uma vez? Dizer que estava cansado de tanto que se afogara na rotina? Dizer que era grato pelas mãos que lhe estendiam para trazê-lo de volta para a superfície? Ou então…

— Eu também senti… Senti sua falta — completou, escolhendo a última opção que passou por sua mente. Não que Clarice fosse a última opção, pelo contrário. Apenas era a última opção caminhar por entre aquelas águas. Porém, o momento de sinceridade pedia sinceridade de volta. 

— Eu também, Lys… Eu cheguei a chorar quando achei que não ia te ver mais, sabia? — ela tentou dizer de forma leve, porém, não era isso que estava oculto em seus olhos. — A capital é enorme, eu não sabia quando e se você ia voltar pra fazenda…

— Eu cheguei a escrever cartas para você — Lysandre confessou, interrompendo-a.

— E por que não enviou? Era só perguntar o endereço pra minha vó…

— Nunca tive coragem. — E também nunca tivera coragem de revelar o que escrevera naquelas linhas. Nunca tivera coragem de mostrar-lhe alguns de seus versos, justamente aqueles dedicados a ela. Aqueles que no passado escondia quando ela estava perto. Justamente aqueles que faziam suas bochechas corarem com a mera possibilidade de ser descoberto.

— E por que não? — Percebendo que Lysandre desviou os olhos dos seus, Clarice segurou-lhe o rosto com a mão livre, fazendo com que ele voltasse a encará-la. — O que você nunca teve coragem de me dizer? — ela insistiu e Lysandre sentiu os olhos castanhos mergulhados nos seus. 

Deveria mesmo dizer aquelas palavras que tanto quis dizer? Deveria mesmo se manter na zona de conforto? Deveria mesmo arriscar? O que deveria fazer? 

Seu interior trazia de volta apenas uma resposta: deveria sentir.

Sem usar de palavras, respondeu-lhe encostando seus lábios sobre os de Clarice, surpreendendo-a mais uma vez naquela tarde. Ele chegou a recuar, temeroso de que sentir não fosse a coisa certa a fazer naquele momento, entretanto, quando sentiu a mão em seu rosto puxá-lo para mais perto, soube que fizera a escolha certa.

Clarice também sentia. Sentia o mesmo que ele e escolhia apenas sentir. Os lábios dele movimentando-se junto aos seus e os dedos dele apertando os seus, as mãos ainda unidas. Como deveriam ser. Entrelaçadas, uma buscando pela outra.

Um buscando pelo outro, um sentindo o gosto do outro. Lysandre sentindo o quente dos dedos de Clarice em sua bochecha, seu rosto se aquecendo onde era tocado. Seu peito se aquecendo por dentro.

Clarice foi a primeira a interromper aquele beijo, os lábios entreabertos e os olhos finalmente abertos e fixos nos coloridos. Ela sorriu. 

— Sabe o que é engraçado? — Lysandre negou com a cabeça, intrigado.

Soltou uma de suas mãos do calor da palma de Clarice, fazendo o que queria e explorando com calma o traçado de seu maxilar e a curva de seu pescoço. Como desejara sentir. 

— O engraçado é que eu queria dizer a mesma coisa pra você.

Mesmo sem ver, Lysandre sentiu que Clarice sorria quando ela juntou seus lábios aos seus outra vez. Tudo o que ele queria era sentir.

...

Clarice entrou na casa pela porta da frente, após colocar Fausto de volta em sua baía. Apesar de forte o suficiente, não era sensato deixar o bezerro livre para correr pela fazenda por tanto tempo sem supervisão.

Logo ao fechar a porta, foi saudada por Dragon, batendo em suas pernas com as patas.

— Ei, menino — ela disse para o cachorro, acariciando-o. — Por onde você andou, hein? Tá sumido dentro de casa… — Deixou-o, encaminhando-se para a cozinha e incentivando-o a segui-la. 

Antes disso, o pastor de beauce trocou-a pelo pote de ração em um canto da sala, deixando-a ir sozinha lavar as mãos e sentar-se à mesa em seguida. Clarice suspirou com o cheiro de café sendo passado na hora, impregnando-se pelo ar do cômodo.

Sobre a mesa de madeira, viu o pote com os biscoitos de Lysandre que tanto gostava. Ele decorou os gostos da amiga, deixando tudo preparado para ela.

O fazendeiro deixou de estar de costas para ela, saindo da pia carregando a garrafa térmica de café e a jarra com leite. Seus olhos voltaram-se para Clarice instantaneamente e um sorriso formou-se em seus lábios, sem medo de escondê-lo.

— Que cara é essa? — Clarice questionou, provocando-o. A verdade é que ela sabia exatamente o que significa aquela expressão. Justamente porque tinha certeza que ela mesma tinha uma bem parecida.

Com as coisas do café postas sobre a mesa, Lysandre sentou-se e ambos se serviram.

— Que cara? — ele retorquiu confuso, enchendo uma xícara com café.

— Essa. — Ela apontou com a cabeça. — Um olhar mais perdido do que o normal, sorrindo pro nada… — Com o comentário, a mesma expressão voltou a se desenhar pelo rosto do fazendeiro. — Essa mesma.

Ele riu e Clarice escondeu sua expressão por trás da xícara, voltando-a para onde estava.

— Um alívio por te confessar o que queria. — Ele deslizou a mão sobre a mesa, entrelaçando seus dedos com os dela. — Tive medo de que fosse estragar nossa amizade — confessou com sinceridade, percebendo que Clarice entrelaçava os próprios dedos mais com os dele. 

— Eu também tinha esse medo. — Clarice se abriu, sem medo de desviar os olhos de Lysandre. — Eu também tinha medo de me envolver em um novo relacionamento. — Ela abaixou o rosto, praticamente esquecendo a comida e desenhando linhas pelo caminho de mesa com os dedos livres.

— Por quê? — Lysandre questionou de súbito.

A veterinária suspirou e balançou a cabeça, os dedos soltando-se das mãos do fazendeiro e apoiando-os sob o queixo.

— Meu último relacionamento não foi muito bem. — Ela mirou os olhos na janela da cozinha, não sendo capaz de enxergar muita coisa do lado de fora graças à cortina. — Fiquei noiva de um cara que conheci na universidade, Wallace, e ele me presenteou com alguns chifres antes que a gente começasse a preparar as coisas pro casamento — contou sua história de uma vez, tentando ser sucinta.

Voltando o rosto para Lysandre ao seu lado, viu-o erguer as sobrancelhas e encará-la surpreso.

— Sinto muito — disse, seus dedos procurando os dela sobre a mesa e encontrando-os. Parecia algo natural deixá-los juntos daquele jeito.

— Já passou. — Ela balançou a cabeça, voltando a atenção para o fazendeiro ao seu lado. — Eu devia ter ouvido a minha vó, que tinha um mau pressentimento sobre ele. — Ela riu sem humor e Lysandre apenas analisou-a em silêncio.

— Eu também tive um relacionamento quando estávamos distantes — ele afirmou, aproveitando o momento para também falar de sua vida amorosa. 

— E teve um final um pouco melhor que o meu, espero.

— Ela se mudou para outro estado, para fazer faculdade e terminamos, porque ela acreditava que nosso relacionamento não sobreviveria à distância — ele explicou de forma simples, surpreendendo-se com a calmaria com que contou o acontecido.

Ao menos uma de suas feridas já estava totalmente curada. Estava feliz por Dulce ter seguido em frente e, agora, via uma luz para também seguir em frente com seus sentimentos. Pelo menos aqueles sentimentos.

Ainda havia muita coisa para se resolver em sua vida. Muitas dores que não foram sentidas e ainda estavam ali. Dessa vez, não iria deixá-las o afogarem novamente.

— Pelo menos ela te disse adeus, diferente de mim naquela época — Clarice soltou como uma piada ácida, sequer rindo. 

— Não foi uma escolha sua — Lysandre fez questão de corrigir. — E você voltou. — Entregou-lhe um sorriso, no qual Clarice se mergulhou.

— E dessa vez eu não vou mais embora — afirmou, apreciando o toque de Lysandre sobre seu rosto, os dedos deslizando em sua pele e brincando com os poucos fios soltos de seu rabo de cavalo.

— Irá mesmo assumir a clínica do Doutor Luís quando ele se aposentar? — Lysandre questionou, recebendo um aceno positivo como resposta.

— Não tem mais muita coisa pra mim na capital. Você sabe que eu sempre gostei de morar no interior. — O fazendeiro retirou a mão de perto do rosto dela, não tendo mais muitos fios para brincar. 

— Diferente de mim — soltou, relembrando de algo que Clarice disse semanas atrás, naquela noite chuvosa que passaram juntos. Quando eram mais novos, inúmeras vezes ele manifestou sua opinião de preferir a cidade ao campo. 

— Você não vai mesmo voltar pra capital? — O fazendeiro balançou a cabeça numa negativa, em resposta ao questionamento dela.

— Ainda tenho que me acostumar novamente com o campo.

— É um pouco difícil, depois de ter morado na cidade. E gostado mais dela, como é o seu caso — Clarice pontuou.

— Posso me adaptar novamente ao campo. — Ele apertou seus dedos nos dela, os olhares mergulhados um no outro. — Se você passar esses anos comigo novamente — galanteou, gerando um sorriso no rosto de Clarice.

— Bobo. — Ela riu cúmplice.

O café não era apenas o aroma impregnado na cozinha, Clarice percebeu, sentiu o gosto pelos lábios de Lysandre, enquanto o sol se punha naquela tarde.  

 


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Notas finais do capítulo

Quando Eu Caí, Fresno: https://youtu.be/lJEKNgks5QE

Mesmo pra quem não costuma ouvir as músicas do capítulo, eu recomendo ouvir essa em específico, porque traduz muito a visão do Lys sobre a Clarice e a vida, além de ter me inspirado muito quando eu repaginei a fic :')
Então... Vou deixar vocês falarem por mim nos comentários xD
Agora que as coisas estão se resolvendo, contagem regressiva.... Até mais, povo o/



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