Yu Yu Hakusho: A Relíquia Perdida escrita por Ocarina, LuisaPoison


Capítulo 12
O despertar de Yue


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, meus amores! Como Vocês estão? Esperamos que bem.

Antes de irmos ao capítulo, como sempre, queremos agradecer todos que nos acompanham nessa história.

Então, sem mais delongas vamos ao capítulo!?



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Zonza, Yue abriu lentamente os olhos. A visão desfocada aos poucos foi voltando ao normal, mas ela não se mexeu de imediato. Deitada sobre uma superfície macia, examinou o cômodo em que se encontrava e, somente ao se dar conta de que não o reconhecia, se levantou alarmada.

A sua respiração se acelerou ao lembrar do que havia acontecido antes de desmaiar. O bracelete na casa de Kurama, as visões atormentadoras em sua mente e a aproximação sorrateira de uma criatura malígna. A mesma criatura que a havia arrastado até ali, seja lá onde quer que ela estivesse agora.

Assustada, Yue pensou em gritar, mas sentiu a coragem se desprender do seu corpo, a abandonando a esmo naquele local desconhecido e solitário. Foi então que se deu conta de que o bracelete que encontrara no apartamento estava agora em seu braço direito, perfeitamente ajustado como se, desde sempre, tivesse feito parte de seu corpo. Confusa, ela não se lembrava de tê-lo colocado ali, e estranhou ainda mais o fato de que, completamente diferente de antes, ele estava silencioso. Aquele som que a havia atraído como um imã já não existia mais.

Yue então examinou mais atentamente o quarto em que repousava. Diferente do que imaginou em seus piores pesadelos, o sequestrador não a havia confinado num local de condições precárias de higiene, tampouco a havia ferido ou maltratado. Nem sequer parecia ter a intenção de mantê-la em condições de um cárcere privado, pois o cômodo, ainda que simples, possuía uma enorme janela, sem grades ou barras que lhe remetesse a uma prisão. 

Ao caminhar até a janela, porém, levou um susto. A vista, completamente diferente da que ela estava acostumada, deixava claro que Yue já não estava mais no Mundo dos Humanos. O céu vermelho se mesclava com tons de magenta, e ao horizonte somente planícies escuras e tenebrosas estavam ao seu alcance. Nem mesmo a terra, granulosa e seca, parecia fértil como do Ningenkai. Dela só emergiram árvores contorcidas, cujos galhos não continham uma folha verde sequer.

Yue estremeceu. Aquele lugar era o mesmo que constantemente aparecia em seus sonhos. Aquele lugar significava morte, e ela precisava sair dali o quanto antes. Decidida a fugir, ela procurou em vão por algo que pudesse lhe ajudar a escapar. Ao se dar conta de que não havia nenhum objeto útil para quebrar a vidraça da janela, escolheu simplesmente tentar arrombar a porta. Porém, ao se aproximar da maçaneta percebeu então que estava destrancada. Hesitante, ela a girou, abrindo-a em seguida. Temerosa, Yue espiou o que a esperava do outro lado, projetando a cabeça para fora do quarto. 

— Já acordou? — uma voz grave fez com que ela se sobressaltasse — Não precisa ter medo. Não vou te machucar.

Yue sentiu as pernas titubearem ao dar os primeiros passos em direção ao youkai que permanecia de costas para ela. Pensou em sair correndo, aproveitando-se do fato dele não estar lhe vigiando, mas ao tentar executar o plano, ele repentinamente se materializou em seu caminho. De frente para o kamaitachi, Yue recuou amedrontada. Imaginando como morreria, ela fechou os olhos, esperando pelo golpe que lhe tiraria a vida. No entanto, para a sua surpresa, ele  se ajoelhou, reverenciando-a.

— O-o que está fazendo? 

— Você ainda não entendeu? — ele ergueu o pescoço para, em seguida, se colocar de pé. 

— Não. Não estou entendendo nada. O que quer comigo? Por que me trouxe pra cá? O que eu fiz pra você?! Quem é você? — ela disparou de repente, levando as mãos à própria boca com o intuito de silenciar a si mesma.

— Vou lhe explicar tudo. O meu nome é Shinohara. Sou sobrevivente do Clã kamaitachi

— Isso eu já percebi. O que estou querendo saber é porque estão me atacando! 

— Não estamos te atacando, mas sim te protegendo.

— Protegendo?! Um de vocês me seguiu até a minha casa! Foi horrível! Eu sei reconhecer um ataque quando vejo um. Não sou tão estúpida quanto pensa — Shinohara deu um passo em sua direção, deixando-a ainda mais assustada — Não chegue perto de mim! 

— Já repreendi Yami pelo que fez. Ela não soube agir da maneira correta. Estava te testando.

Yue lentamente andava para os lados, procurando uma nova rota de fuga. Shinohara, por sua vez, a acompanhava, seguindo-a num ritmo similar.

— E por que me sequestrou? — ela perguntou por fim — Não me diga que é para me proteger também.

— Sim, é exatamente para isso.

— Proteger de quê? Posso saber?

— Do kitsune.

Yue estancou os passos de repente, aturdida com a resposta.

— O que quer dizer com isso?

— Que você estava dormindo tranquilamente na toca de seu maior inimigo por todo esse tempo. 

— Isso é mentira. Kurama não é meu inimigo. Ele me ajudou...Me salvou de vocês! Graças a ele, eu estou viva! — ela se exaltou, impondo-se diante de Shinohara para defender o amigo.

— Isso é o que ele te fez acreditar. Será que ainda não percebeu?

— Percebi o quê?! Me diz de uma vez! 

— Você, assim como eu, é uma kamaitachi.

Yue sentiu a cabeça girar e, por um instante, achou que desmaiaria de novo. Espantada, tinha os olhos arregalados numa expressão incrédula. 

— Vocês são loucos — se limitou a dizer, enquanto balançava a cabeça em negação.

— O que estou dizendo é a verdade. Quando tocou no bracelete, você despertou a sua verdadeira identidade. Se não acredita, por que não faz o teste? 

— Teste? 

— Transforme-se. 

— Isso é loucura! E mesmo se eu quisesse, não sei como fazer isso. 

— Concentre-se e use o bracelete. Para você ver como sou justo, se não conseguir, eu a deixarei em paz. Mas se você conseguir, terá que ouvir tudo que tenho para lhe dizer. 

Yue hesitou, ponderando a proposta. Fechou os olhos então, tentando seguir as instruções de Shinohara. Concentrada, relaxou a mente, esvaziando-a para se libertar de todo o medo que sentia. Naquele instante, ela foi invadida por uma sensação quente e liquefeita, que rapidamente se espalhou por todo o seu corpo, deixando-a tão leve a ponto de imaginar se, na realidade, estava flutuando. Em seguida, tudo acabou. Convencida de que sua tentativa havia sido em vão, ela abriu os olhos.

— Não vejo nada de diferente. Deu errado — ela constatou, sem perceber que Shinohara a observava com admiração. 

— Está enganada. Veja — ele a conduziu para o espelho posicionado na parede daquela sala. 

Espantada, Yue prendeu a respiração ao ver a sua própria imagem. Sua pele humana agora tinha um tom azulado. Seus olhos pareciam mais arredondados e certamente alguns centímetros haviam sido acrescidos à sua altura. 

— Pode transformar seus braços em foices. É só querer.

Yue não respondeu. Aturdida, olhou para os próprios braços que, exceto pela coloração, continuavam normais. Em seguida, viu uma foice se projetar em seu antebraço direito, e assustada consigo mesma, a desfez de imediato. Ela sentiu a cabeça girar e, mais uma vez sentiu que desmaiaria, fosse pelo susto, ou pelo uso do youki que ela ainda não dominava.

— O ar é o seu elemento. Pode usá-lo a seu bel-prazer — Shinohara demonstrou a ela, fazendo com que o ar que a circundava esvoaçasse os seus cabelos numa suave brisa. — Com ele você pode se comunicar ou lutar. Pode ter domínio sobre todos ao seu redor.

Yue permanecia imóvel, sem saber o que fazer ou dizer. 

— E não é só a aparência que mudou — ele continuou, aproximando-se ainda mais de Yue — Perceba o seu entorno. Todos os seus sentidos estão mais aguçado. 

Yue fechou os olhos de novo, concentrando-se em sua audição. Mesmo estando presa naquele deserto, sons longínquos chegavam aos seus ouvidos. O olfato, tão apurado quanto, também aguçava-se com o aroma não tão agradável que sentia se volatilizar daquela terra demoníaca. Shinohara deu um passo em sua direção, provocando-lhe um arrepio na espinha. Assustada, ela recuou.

— Isso é impossível...Toda a minha vida foi uma mentira?

Cansada, contra a sua própria vontade, Yue retornou à forma humana. Confusa, voltou a encarar a si mesma no espelho, enquanto tentava recuperar o fôlego que inexplicavelmente havia perdido.

— Precisa aprender a controlar a sua energia para se manter na sua verdadeira forma. 

— Como eu nunca soube da verdade? Não faz sentido! — ela o ignorou. 

— Está na hora de cumprir a sua parte no acordo. Vou te contar tudo que precisa saber sobre si mesma, e você vai ouvir pacientemente. 

Vencida e atordoada, Yue concordou, incapaz de contrariá-lo. 

— Você é a herdeira da família real do Clã Kamaitachi. Antigamente éramos a raça mais respeitada e temida do Makai. Nosso poder advinha do bracelete que agora você está usando — Yue o examinou em seu próprio braço — Essa relíquia carrega a força de cada um dos nossos ancestrais. Um kamaitachi morto não vira cinzas, tampouco entrega a sua alma para o Mundo Espiritual. Quando um de nós morre, toda a força e energia vital que possui passa a integrar a jóia, fortalecendo todos aqueles que ainda estão vivos. Essa é a melhor forma de garantir a nossa soberania sobre as demais raças. Quanto mais perdemos, mais forte ficamos. 

— Não entendo. Por que o deixou comigo? Se é assim tão poderoso, por que você não o usa? 

— Porque o poder contido no bracelete só pode ser completamente extraído por um membro da família real. Você é a nossa herdeira, e é você que nos trará novamente a glória. Por isso estávamos te procurando, Yue.

— E como eu fui parar no mundo dos humanos? Por que nunca soube que era youkai?

— Há muito tempo, o bracelete Kamaitachi foi roubado do nosso clã, como você já deve saber. 

— Sim. Kurama me contou que ele mesmo roubou — Yue respondeu, deixando-o furioso ao expressar o nome do inimigo com tanto afeto.

Kitsunes e kamaitachis são inimigos mortais. No passado, destruímos diversos demônios raposa. Sempre fomos superiores e, com o poder da jóia, praticamente indestrutíveis. Mas subestimamos aquele maldito Youko. Mesmo com o bracelete em nosso poder, que nos tornava indetectáveis a ponto de impedir que nossos adversários nos encontrassem, ele conseguiu. Não sei como ele fez para nos achar. Não sei como...Simplesmente não sei! Ele nos encontrou e nos armou uma emboscada. Ele roubou a relíquia e matou o rei e a rainha. Nossa força diminuiu, porque não tínhamos mais o poder dos ancestrais contido no bracelete. Nos tornamos vulneráveis, e diversos inimigos nos encontravam, onde quer que estivéssemos. Todas as raças nos odiavam e se uniram contra nós. Aos poucos fomos dizimados, até que, por muita sorte, conseguimos nos refugiar em um vilarejo fantasma. Os moradores locais nos aceitaram e, por lá, os poucos kamaitachi que sobreviveram, retomaram as suas vidas. Dentre eles destacava-se o príncipe do Clã. Éramos poucos, mas ao menos não estávamos extintos como todos pensavam.

— Quantos kamaitachi restaram? — Yue perguntou, impressionada‍. 

— Algumas dezenas. A questão é que não conseguimos recuperar a nossa fonte de poder e, ao longo do tempo, tivemos outros problemas. Organizávamos grupos de buscas para caçar a relíquia. De tempos em tempos, saíamos do vilarejo atrás dela mas, na maior parte das vezes, nem todos voltavam com vida. Nossa população foi diminuindo ainda mais. Você tinha apenas alguns meses quando seus pais morreram, sem deixar outros descendente. Naquele instante, os kamaitachi entraram em colapso. Começamos a brigar entre nós, e nos desmantelamos por completo. Ao perceberem como ruíamos, os moradores do vilarejo se rebelaram contra nós e nos expulsaram do lugar. Precisávamos te manter em segurança, porque você era a nossa esperança. Só você poderia recuperar nossa soberania. Conseguimos contratar um tipo de feiticeiro. Foi ele quem transformou você em humana, permitindo que atravessasse a barreira que separava os dois mundos. No mundo dos humanos você estaria a salvo! Um youkai inferior, um dos únicos capazes de atravessar a barreira dimensional, conseguiu te levar até uma família humana. O resto você já sabe. 

— Então foi assim que fui adotada?

— Sim. Te deixamos com uma família que te desejava, e que cuidaria muito bem de você. Há pouco tempo a barreira dimensional foi desfeita e assim pudemos te buscar no Ningenkai. Infelizmente você se encontrou com o nosso pior adversário, mas isso não importa mais. Acho que foi melhor assim. Graças a isso, agora vocês dois estão a salvo.

— Você insiste em falar dessa forma como se antes eu estivesse em perigo.

— Não estava escutando o que eu disse?! Aquele kitsune é seu i-n-i-m-i-g-o! 

— Você que não escutou! Eu já disse que ele nunca me fez mal. 

— E acha que isso duraria até quando? Ele já matou diversos de nós! Você viu, não viu? Quando pegou o bracelete, ele lhe mostrou quem de fato é esse youkai que você tanto defende.

Yue franziu o cenho, lembrando-se das visões mostradas pelo bracelete, em especial as que contemplavam o sanguinário e irreconhecível Kurama Youko. Ela engoliu em seco.

— O que você sabe sobre ele, afinal? Ele não lhe contou o que fez, não é? Não contou como matou sem piedade alguma muitos dos nossos integrantes, até mesmo crianças! 

— Ele me garantiu que não é mais como antes. Ele me protegeu…

— E você acreditou?! Tudo isso não passou de um plano. Ele queria matá-la desde o início! Planejava nos exterminar. 

— N-Não — ela gaguejou, incerta — Ele não sabia quem eu era, ou melhor, quem eu sou. 

— É claro que sabia. Aquele kitsune é muito astuto. Mas depois de tudo que eu te contei, isso faz realmente diferença? — Shinohara perguntou — Supondo que ele não soubesse, o que você acha que ele fará assim que descobrir que na realidade é uma de nós, e que nas suas veias corre sangue da realeza kamaitachi? Acha que ele te poupará?

Yue estremeceu com a resposta que surgiu em sua mente, embora ainda se recusasse a acreditar que o gentil Kurama que ela conheceu não passava de uma farsa. No entanto, as memórias das doninhas ancestrais — existentes na relíquia que usava — ainda lhe atormentavam. Novamente, Yue viu Kurama em sua forma mais aterrorizante, assassinando qualquer um que atravessasse o seu caminho. Instantaneamente, lágrimas se formaram em seus olhos, rolando lentamente pelo seu rosto em seguida.

— Você confia nele, mas ele não confia em você. Apesar de se conhecerem há dias, por que ele ainda não tinha lhe mostrado o bracelete? Admita Yue, você foi enganada. 

Envergonhada, Yue abaixou a cabeça para poder chorar silenciosamente. Assim, Shinohara deu a ela a privacidade que precisava, calando-se em seguida. Somente ao vê-la se recompor, limpando o rosto e os olhos, ele voltou a lhe dirigir a palavra.

— Não tem com o que se preocupar, você está segura agora. 

Ela permaneceu calada.

— Vou lhe ensinar tudo o que precisa saber sobre a nossa raça. Também vou te ensinar a dominar os seus poderes e a controlar o bracelete. Juntos, vingaremos o nosso povo e retomaremos a nossa autoridade no Makai. O que me diz? — ele lhe estendeu a mão num gesto amigável — Está comigo? 

Yue estava atônita, incapaz de pronunciar uma resposta decente. Shinohara se aproximou então, forçando o contato visual.

— Se não consegue se decidir, converse com os nossos antepassados. Eles te mostrarão tudo que quiser saber. Sanarão toda e qualquer dúvida que tiver. 

Ela suspirou, contactando a relíquia em seu braço mais uma vez. Ao fechar os olhos para desligar-se do mundo, ouviu vozes. Inúmeros sussurros das almas dos kamaitachi aprisionadas no bracelete. Ela tentou se acalmar, organizando diversas perguntas em sua mente. Algumas das respostas vieram como imagens, outras como palavras sabiamente elaboradas na forma de conselhos. Ao terminar, voltou para a realidade, onde Shinohara a aguardava pacientemente. 

— Vou perguntar mais uma vez — ele disse, novamente lhe estendendo a mão — Está comigo? 

Yue ainda não sabia ao certo o que sentir. Tampouco sabia se estava tomando a decisão correta. Magoada e aborrecida, uma frieza inexplicável crescia alarmante em seu interior, desligando momentaneamente qualquer resquício de sua humanidade. Ao segurar a mão de Shinohara, ela sentiu o bracelete reagir, dando-lhes a força necessária para vencer a próxima batalha.






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Notas finais do capítulo

Eita lascou. Yue finalmente se transformou em kamaitachi e o Shinohara conseguiu colocá-la contra Kurama.
Como será que as coisas vão ficar daqui pra frente?

Até os próximos capítulos!!



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