Um Segredo Entre Nós escrita por Emma


Capítulo 17
Quando Lou Lou conheceu sua outra família


Notas iniciais do capítulo

Deixo vcs com o capítulo que tá bem maior que os outros dois últimos e cheios de cena da Lou Lou com o papai pra quem pediu. Nos falamos lá embaixo



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Eu vou ver você brilhar, eu vou ver você crescer,
Vou te dar um sinal, então você sempre saberá
Assim como um mais um é doi
s, que nunca haverá um pai
Que amou sua filha mais do que eu amo você
...”

 

Father and daughter — Paul Simon

 

 .

.

.

 

Fazia muito frio em Londres e era apenas novembro. Louise observava tudo, atentíssima e totalmente encantada. Estava coberta da cabeça aos pés. Com um gorrinho cinza com orelhinhas de ursinho, um casaco rosa bebê, meia calça e uma botinha quente combinando. Regina a vestia impecável sempre. Tinha que lhe dar o crédito. Parecia uma princesa. Na verdade, era a sua princesinha. E como prometido, ele a trouxe para um passeio no London Eye assim que saíram do aeroporto. 

— Lindinha, aquele ali é o... – antes que pudesse terminar, ela continuou por ele:

— O Big Ben, que faz parte do Palácio de West... – ela parou, não sabendo continuar a palavra.

— Westminster filha – completou – Você sabe tudo mesmo hein senhorita espertinha – ele apertou de leve a ponta do nariz dela que sorriu enrubescendo em resposta.

— É um pouquinho difícil de pronunciar. Mas a mamãe me levou lá quando a gente veio pro show do Coldplay, por isso sei o nome. Você se lembra que a gente se encontrou por acaso?

— Claro que lembro. Nós estávamos predestinados, não foi isso que você disse? – acenou com um sorrisinho fofo e ele continuou – Fora que jamais me esqueceria da sua alegria vendo aquele show. Você gosta mesmo deles não é?

— Tem como não gostar Robin?! – ela arqueou as sobrancelhas de modo estupefato com a possibilidade – Eles são muito bons! E agora a gente precisa ir em um show deles juntos!

— Concordo completamente – sorriu balançando a cabeça e eles voltaram a observar a vista panorâmica que tinham da cidade. Ora ou outra comentando sobre os outros pontos turísticos que conseguiam ver. Robin fixou os olhos nela enquanto sua pequena tagarelava sem parar. Estava muito grato por tê-la ali, por compartilhar aquele momento com ela, do brilho que exalava dos inocentes olhos de sua filha. Olhos esses que agora haviam virado e se fixado nos seus. Louise lhe ofereceu um sorriso doce, dizendo:

— Obrigada por me trazer aqui.  muito feliz viu?! – a menina abraçou suas pernas, encostando o rostinho ali e como resposta seus braços afagaram seus cabelos. Naquele momento,  se sentiu pleno, era a primeira vez em anos. Não saberia nem mesmo explicar como, ou, se tinha sido todo o processo até ali, todavia, o olhar que Louise lhe dera tinha virado uma chave dentro dele, apaziguando suas dores e remendando uma parte de sua alma ferida. Nunca tinha duvidado, mas sua filha comprovara que o sentimento que nutria por ela, realmente, curava como um bálsamo. O amor, independente de sua forma ou expressão, era mesmo a estrada certa para quem busca se reconstruir.

 

* * *

 

 

Era um pouco mais de meio dia quando chegaram a Nottingham. Louise estava ansiosa. E precisava confessar, ele também. Seus amigos tinham preparado um almoço na residência de John e Ester para recebê-los. Ao estacionar o carro na frente da casa dos amigos, Louise com seus grandes olhos azuis observava o entorno e parecia fazer notas mentais para depois soltar aqueles pequenos comentários ou perguntas que o deixavam quase sempre sem respostas. 

— Quem são essas pessoas que vamos visitar mesmo Robin? – ainda sentado no banco do carro se girou para encará-la.

— Eles são minha família aqui.

— Família tipo... avós, mãe, tios? – questionou arqueando uma das sobrancelhas igual sua mãe fazia. Talvez de tanto vê-la tinha pego o hábito.

— Não esse tipo de família Lou Lou. Você sabia que amigos também podem se tornar tão ou até mais próximos que nossos parentes de sangue?

— Tipo a mamãe e a dinda Emma, ? Eu sei que ela não é minha tia de verdade, mas é como se fosse.

— Exatamente – acenou com a cabeça veementemente – As pessoas que você vai conhecer hoje são como se fossem meus irmãos.

— Entendi – entretanto, ele já se preparou para o que viria a seguir, pois o vinco no meio de sua fronte dizia que tinha mais por vir –  Mas eu não tenho uma vovó, vovô ou tios? Você não tem nenhuma família de verdade?

Shit! Ele não queria ter que explicar para ela agora que sua avó era um dos  principais motivos deles terem se conhecido depois de tanto tempo. Porém, não podia mentir. Soltando um suspiro derrotado respondeu:

— Você tem Lou Lou. 

— E eu vou poder conhecê-los? – pediu em expectativa.

O loiro coçou a testa, desviando o olhar para o jardim bem cuidado e cheio de brinquedos de Jhon. Queria fazê-la entender sem magoar seu inocente e puro coraçãozinho. Lou Lou não merecia a família que tinha herdado, não merecia a avó que tentou abortá-la ao saber de sua existência. Não, não mesmo. Louise merecia o amor e doçura que transmitia. Merecia aconchego, afeto, cuidado. Merecia as pessoas dentro daquela casa que estavam tão ansiosas para conhecê-la e recebê-la na grande família que eram, que tinham preparado uma verdadeira festa para ela.

— Minha lindinha – se soltando do cinto de segurança, se virou completamente, se aproximando o máximo que conseguiu, acariciando sua bochecha –  te amo mais do que já pude amar qualquer outra pessoa nesse mundo, mesmo que te conheça a menos tempo que todas as pessoas que amo. Porém, a família que você precisa conhecer e que vai te amar e receber da melhor forma é essa. Você entende o que quero te explicar?

Estranhamente ela pareceu entender sim, e, depois de considerar, sorriu concordando:

— Tudo bem. Você vai me explicar quando eu crescer ? – Robin sorriu acenando. Lou Lou era surpreendente!

— Sim princesa, um dia papai vai explicar tudo para você. Agora, vamos?

Descendo do carro, caminharam de mãos dadas até abrirem a porta de entrada. Como esperado, estavam todos na sala com mais presentes e sorrisos de felicidade. Zelena foi a primeira a correr até eles, se apresentando como a tia mais legal de todas. Ester que tinha o pequeno Liam enfaixado no seu peito, foi a segunda, arrastando Amanda consigo, apresentando as duas meninas. Jhon e Will junto de uma muito grávida Anastácia, foram os próximos e por último o tímido Tuck. 

Formaram uma meia lua ao redor dela, encaminhando-a até o sofá, falando sem parar e lhe entregando os presentes que tinham levado. Louise ouvia todos e distribuía sorrisos,  tinha certeza que qualquer criança o faria diante de todos aqueles mimos, mas assim como ele, sua filha adorava socializar e não demorou muito para cair nas graças de todos. 

Amanda tratou de apresentá-la aos irmãos e pôde ver uma conexão muito recíproca se formando entre elas. Logo estavam correndo pela sala com as outras crianças e roubando alguns doces da mesa onde as comidas estavam servidas. Não  muito tempo depois a anfitriã chamou todos para comer.  

Sentados à mesa, a conversa continuava fluindo normalmente enquanto todos se serviam a vontade e elogiavam a comida em seguida. O calor que preencheu seu coração não vinha da lareira acessa, sabia bem, era a sensação de estar em família, de pertencimento, de amor. Nenhum almoço na sua casa tinha lhe despertado aquilo, com todos os funcionários servindo a mesa, as refeições já montadas e medidas. Todas aquelas regras de etiqueta ridículas.... A única boa exceção eram aqueles momentos com seus avós em Lion Heart Hall.  Sentia falta daquele lugar. Como estaria a casa hoje?

Zelena lhe passou uma tigela com uma salada, roubando-o de seus pensamentos e sua mente arquivou o assunto. Olhou para Lou Lou ao seu lado, que comia contente, ganhando Ester ao elogiar o purê de batatas.

— Não diga a minha mamãe tia Ester, mas seu purê é o melhor que eu já comi.

A mulher agradeceu como se tivesse recebido o elogio de um crítico gastronômico. O sorriso em seu rosto não negava. A menina seguia interagindo, respondendo perguntas e ouvindo histórias, fazendo suas próprias indagações e compartilhando sua vida, vez ou outra lhe lançando um olhar e ganhando um sorriso em retorno. Ela estava feliz. Se sentindo amada. Aquilo era  tudo o que havia desejado para ela.

 

 

* * *

 

 

Regina tinha acabado de pôr as louças do micro jantar que tinha feito apenas para ela na máquina de lavar, pegando a garrafa e a taça com o vinho que havia iniciado a beber com o macarrão, levando-as para o sofá e acomodando-se. Sua casa estava muito silenciosa naquele sábado à noite e mesmo que adorasse um tempo para relaxar, não ter Louise ali lhe causava uma horrível sensação de vazio.

 Era a primeira vez em 5 anos que podia se permitir um tempo para si própria e diferente de como imaginou, estava odiando a solidão daquele fim de semana. Daria tudo para ter sua curiosinha lhe enchendo de perguntas peculiares agora mesmo, ou apenas estar abraçadinha com ela em sua cama curtindo um filminho com pipoca. 

Bufando, pegou a taça de vinho em sua mesa de centro bebendo um generoso gole quando seu telefone, que descansava no assento livre do sofá ao seu lado, vibrou. A foto de sua melhor amiga causou um sorriso genuíno em  seus lábios.

— Oi senhora Jones, a que devo as honras? – sua voz era melódica e profissional.

— Você nunca vai deixar passar o fato deu ter pego o sobrenome de Kilian não é mesmo? – Regina balançou a cabeça e sorriu mordendo os lábios, adorava implicar com a loira a respeito daquilo – Liguei para saber como estão as coisas. Você deve estar odiando esse fim de semana sem aquela pestinha, não é mesmo?

— Eu acabei de pensar isso acredita? – bufou e ambas riram – Passei anos desejando ter alguns momentos de folga como esse e quando tenho, não consigo aproveitar, pois não sei estar sem minha filha – Emma lhe enviou um olhar complacente. 

— Em sua defesa. Lou Lou é uma menininha viciante, não gostava de crianças antes dela e agora sou completamente rendida – Regina acenou lembrando-se da primeira vez que a loira pegou sua filha nos braços. Depois do medo inicial de derrubá-la, fora amor a primeira vista – É impossível não sentir falta daquela garotinha espirituosa. Você teve notícias dela?

— Robin me mandou algumas fotos – deu de ombros – Ela está adorando a cidade e sendo muito mimada pelos amigos de Robin... Nem lembra que eu existo – Regina fez um bico muito parecido o da filha quando contrariada e Emma quis rir – Não me ligou ainda e estou me segurando para não telefonar. Não quero parecer intrometida, só que... estou morrendo de saudades dela! 

— Regina... não seja dramática! É claro que Louise também está com saudades de você, mas agora está muito entretida, tudo é novidade e isso deixa qualquer criança empolgada. Você vai ver que antes de ir dormir ela vai pedir ao Robin para ligar para você. 

— Você tem razão – suspirou se recompondo, inclinando-se em seguida e pegando novamente sua taça.

— Eu sempre tenho – revirando os olhos Regina bebeu mais um pouco do líquido escuro – E como você está se sentindo em relação a Daniel e a tudo o que sucedeu isso? Vocês têm se falado? – como se de repente a bebida tivesse aderido um gosto amargo, ela afastou a taça de sua boca e engoliu o resto com dificuldade. 

— Emma... estou me sentindo péssima – torceu o canto da boca – abrir mão dele foi doloroso, mas não podia mais mantê-lo preso a mim por ser algo confortável. Eu amei o que tivemos, entretanto... 

— Entretanto...? – pediu.

— Não sei explicar muito bem, é só que... Daniel merecia mais, ele merecia tudo na verdade e eu não tinha como lhe dar isso – seus lábios se curvaram em um sorriso sem emoção – Estava tudo indicando que sim – suspirou – Então Robin voltou a fazer parte da minha vida e me desestruturou toda... – fechou os olhos, meneando a cabeça, lembrando-se do que ocorrera nos últimos dois meses –  O que eu sentia estava adormecido, acorrentado tão profundamente dentro de mim, em meio toda raiva e decepção por tudo o que pensei ter acontecido, que parecia até não existir mais. E... droga? – murmurou seguido de um palavrão bem baixinho que fez Emma sorrir. A mulher de cabelos escuros tinha muito cuidado com aquelas palavras vivendo perto de uma criança que absorvia tudo como uma esponja – Ele tinha que estar ainda mais bonito que antes? Poderia ter engordado ou sei lá, ter ficado careca sabe, facilitaria minha vida!  

— Robin arruinou você para qualquer outro homem não é mesmo?! – a pergunta era retórica, muito mais uma constatação que uma dúvida.

— Temo que sim...

— E você vai falar com ele? Dizer como se sente? – instigou. 

— Você está louca? – Regina olhou sua amiga em choque completo através da tela do celular, como se estivesse crescendo um terceiro olho bem no meio da testa da loira. 

Será que a outra advogada não percebia a insanidade daquilo???

— Por que não Regina? Pelo amor de Deus! – agora fora a vez da loira revirar os olhos – Vai ficar choramingo lembrando de como é a sensação de estar com ele ou vai finalmente abrir o coração? 

— Ele com certeza me odeia Emms...

— Você não sabe disso. 

— Oh eu sei, acredite! – a morena afirmou gesticulando as mãos com ênfase – Eu vejo como ele tem me evitado nas últimas vezes que veio buscar Lou Lou. Não olha quase mais nos meus olhos... 

— Fale com ele – insistiu – Deus! Vocês nunca tiveram um conversa decente depois de tudo. Sempre andando em círculos. Por que tantas reservas?

— E se ele tiver alguém? – sua expressão mudara de exaurida para aflita – não posso me permitir nem mesmo sonhar com a possibilidade de algo entre nós, perdemos feio o caminho um do outro. Fora que eu acabei de sair de um relacionamento, não sei se estou preparada... E têm Louise. Odiaria que ela crescesse vendo os pais em constante conflito e...

— Regina! – Emma a tirou de suas divagações – Chega de todos esses “e ses” que você fica formulando na sua mente. Você só terá certeza quando resolver abrir seu coração e dizer como se sente. Enquanto isso, vai confabular e nunca terá certeza. Todas as suas dúvidas são muito legítimas e juro que as entendo – considerou por rápidos segundos antes de continuar – Você sabe que eu não sou uma grande otimista, longe disso, talvez por isso nós associamos – Mills deixou escapar um sorriso que saiu quase como uma baforada –  porém, desde que tudo isso aconteceu, eu não consigo deixar de pensar que talvez – Emma não acreditava no que estava prestes a dizer, mas foi em frente – essa seja a segunda chance que a vida está dando a você, a vocês dois. Talvez ele esteja sim magoado, ferido e todas essas coisas e teria todos os motivos... Todavia, você só vai saber de tudo se decidir jogar o medo para o lado e se expor. Sei que você odeia correr riscos, afinal, você é uma advogada e só corre riscos calculados, só que ou é isso ou viver perdia em suposições. 

— Eu não sei... – mais uma vez balançou a cabeça, buscando os olhos verdes de sua amiga. Emma pode perceber que os castanhos estavam marejados. Odiava o quanto Regina vinha sofrendo com tudo isso ao longo dos anos. Ela merecia ser feliz. E esperava veementemente que conseguisse. 

— O que seu coração te pede para fazer?

— Meu coração está uma confusão tão grande agora que não consigo nem mesmo ouvi-lo.

— Então aproveite seu tempo sozinha, reflita sobre o que sente e o que quer para seu futuro, mas não pense muito, apenas o suficiente para acalmar a tempestade dentro de você e conseguir ouvir o que teu coração te diz para fazer – elas se encararam por alguns segundos em uma troca de olhares muito sincera. Regina limpou uma lágrima que desceu pela sua bochecha, desejando ter sua amiga perto para dar um abraço bem apertado – Eu só quero que você seja feliz Rê. 

—  Eu sei. Obrigada Em – agradeceu muito tocada pela reciprocidade dos sentimentos que tinham uma pela outra.

 

 

* * *

 

 

Depois do almoço na casa dos Little no dia anterior fora difícil separar as crianças. Tanto que Zelena havia sugerido uma festa do pijama em sua casa aquela noite. Os meninos mais velhos de Jhon dispensaram o convite da prima ruiva, mas as duas garotinhas o adoraram e Robin não teve como não concordar. 

Fora assim que as oito e meia da noite de um sábado ele acabou montando uma tenda de cobertores no meio da sala de sua amiga. Haviam afastado os sofás e colocado alguns colchonetes de academia que haviam ali e todas as almofadas e travesseiros disponíveis na casa sobre o tapete.

Louise entrara correndo já vestida em seu pijama tipo macacão de unicórnio azul. Zelena tinha conseguido 4 iguais e ele não podia acreditar que naquele momento estava dentro de uma daquelas coisas horríveis. O que não se faz por um filho, não é mesmo? A menina cheia de entusiasmo se ofereceu para ajudá-lo enquanto as outras duas estavam na cozinha preparando as guloseimas. Foi uma diversão só. Robin não imaginava que a amiga fosse tão boa com crianças, Amanda a adorava e Louise não ficou atrás. Estava caidinha pela nova tia.

Depois de alguns jogos e dois filmes, todos acabaram adormecendo por ali mesmo. Esgotados. Na manhã seguinte, Robin precisou acordá-la cedo para chegarem a tempo de sua aula de música. Louise não estava muito satisfeita de ter sido acordada, mas foi de bom grado quando ele citou um casarão antigo cheio de animais e a possibilidade de iniciar sua primeira lição de violão. 

Os olhinhos dela brilharam ao passar pelos portões da Floresta Encantada, o lugar era lindo. Exalava paz. Tinha se tornado um conforto passar alguns domingos indo ali ensinar as crianças. Estava em débito na verdade. Desde que Louise entrara em sua vida conciliar os fins de semana com ela na França e ali era difícil. 

Quando desceram do carro, algumas crianças correram até ele e Lou Lou sorriu, distraindo-se logo em seguida com um coelhinho que tinha pulado em seus pés. 

— Tio Robin! Sentimos sua falta – um dos meninos falou.

— Quem é essa? – perguntou outra menininha.

— Minha filha – disse orgulhoso, trazendo-a de seu lado para sua frente. As outras crianças olhavam curiosas para a menina que a essa altura já tinha o coelho em mãos.

— Oi. Sou Louise – disse sorrindo enquanto afagava o pequeno animal peludo – Vocês quem são?

— Sou Ethan – se pronunciou o ruivinho.

— Eu Layla – a garotinha de pele escura e cabelos trançados respondeu com um acentuado sotaque britânico.

— Eu Christopher, mas pode me chamar de Chris – acrescentou o menino de traços asiáticos.

— Vocês estudam música com meu papai?

— Sim – responderam em uníssono.

— Ele é o melhor – ressaltou Ethan. 

— Só não diga ao tio David – cochichou Layla no ouvido de Louise.

— Ok galerinha. O que vocês acham de apresentar o lugar a Lou Lou enquanto eu procuro David e preparo a sala? 

— Vem – Chris e Layla a puxaram pela mão, adentrando a antiga mansão. Seguidos de Ethan e Robin. 

— Tio David chegou com uma moça toda chique sabia? – Robin franziu as sobrancelhas. Seria a Senhorita Blanchard? – Ontem ele estava todo ansioso preparando tudo. Parecia um daqueles dias que a gente tem apresentação fora da cidade – o garotinho de 9 anos comentou sorrindo e o loiro teve sua confirmação.

— Não, não sabia – respondeu cheio de curiosidade – Acho que não vou incomodá-lo, vou chamar tia Ruby então. Você poderia me fazer o favor de ir reunindo todos na sala de música? – pediu bagunçando carinhosamente o cabelo laranja do menino.

— Claro – ele correu e Robin deu uma olhada ao redor, ainda na escadaria que conectava o jardim a entrada da mansão. Perto da fonte, avistou David e Mary Margareth caminhando e conversando. Não estavam tão longe para que ele não percebesse o sorriso genuíno e totalmente apaixonado de seu cliente. E deveria acrescentar, senhorita Blanchard estava muito afetada. 

— Oh, você também percebeu? Ele está caidinho por ela – Ruby apareceu ao seu lado também admirando o par – Quando David começou a falar sobre ela quase todos os dias, imaginei. Só não esperava que a ricaça também tivesse interesse nele.

Robin sorriu.

— O amor nasce onde menos se espera. A senhorita Blanchard parece ser uma boa pessoa.

— Espero que isso de alguma forma conte a nosso favor em relação a ONG. 

— Eu também – ele realmente fazia. 

— Soube que você trouxe sua filha hoje bonitão... – a mulher sorriu de canto após usar o apelido. 

— Não sabia que as crianças eram tão fofoqueiras – brincou enquanto continuava a caminhar e Ruby o seguia.

— Fofoqueiras não, elas só não conseguem manter uma novidade por muito tempo – ambos sorriram concordando até serem abordados por uma Louise bastante eufórica que tentava a todo custo equilibrar o coelhinho e um filhote de cachorro em seus braços.

— Papai eles tem muitos filhotes aqui. Posso ficar com 3? Dois cachorros e um coelho? – antes que Robin pudessem responder Ruby deu uma gargalhada vendo-o sem palavras. 

— Lou Lou... meu Deus. Três? Não podíamos começar com um? – soltou um sorriso nervoso – Você é uma peça mesmo! – ela o olhava com uma expressão do tipo: “o que eu falei de errado?” 

— Não posso? – continuou questionando com a mesma expressão de antes. Esperando realmente por uma resposta. Tanto que ele quis rir. Ruby ao seu lado que assistia a interação em silêncio também se segurava.

— Eu adoraria baby, mas sua mãe, o que diria? – Louise começou a considerar fazendo bico.

— No nosso prédio não podemos ter animais em casa e como a gente não tem jardim ela diz que eu não posso ter um por enquanto – lamentou. Sua expressão era de pura derrota. Com certeza já havia escutado aquilo de Regina muitas vezes. 

— Vamos fazer assim. Agora nos concentramos em não matar esse pobres animaizinhos – pegando o coelhinho para ajudá-la, sugeriu – no final do dia, depois de te explicar como funciona todo o cuidado com um desses pequenos, se você ainda quiser adotar um podemos pensar em um modo. Por enquanto, gostaria que conhecesse Ruby. 

— Oi Louise. Tudo bem? – a morena de olhos verdes intensos se inclinou para ficar na mesma altura que a menina.

— Oi Ruby – ela lhe ofereceu um belo sorriso enquanto segurava o filhote que a lambia sem parar – Você é muito bonita sabia? Adorei as mechas vermelhas em seu cabelo.

— Obrigada – agradeceu olhando para Robin sorrindo – sua filha é peculiar. E olha que estou acostumada com crianças espertas.

— Acredite, ela é rápida em processar tudo. Você não viu nada. Agora – dando o coelhinho a sua colega e voltando-se para a pequena estendeu sua mão – vamos finalmente as lições?



* * *

 

 

 Todas as vezes que dirigia pelas estradas do interior, Robin se lembrava do porquê adorava Derbyshire. O clima bucólico e tranquilo aqueciam sua alma em níveis que não saberia explicar. Talvez fosse porque lhe recordava sua infância com seus avôs na propriedade rural da família. Talvez fosse todo aquele contato com o ar fresco, com a natureza e com os animais. O fato de ter aprendido a montar ali. Eram suas memórias mais felizes. Retornar ao condado com sua filha lhe reportava uma energia ainda mais nostálgica. 

Enquanto seguia com veículo absorvia cada detalhe que conseguia através do painel do carro. Tinha sido um dia fantástico. Louise tinha uma facilidade natural com os instrumentos. Na próxima vez que fosse buscá-la lhe daria um violão para treinar em casa. Ela tinha amado as aulas de música, tinha brincado com as crianças e feito muitas amizades. Ah, não poderia esquecer o fato de que também o tinha feito adotar um coelho: Batuffolo.

Aonde raios ela tinha achado aquele nome e que diabos ele faria com o pobre animal? Não poderia dizer? Todavia, se comprometeu em cuidar dele até quando ela pudesse ( isso se poderia) levá-lo para casa. Não teve como dizer não. A pestinha o olhou com aqueles lindos olhos brilhantes e fora impossível negar. Uma companhia lhe faria bem. Ok, ele estava pensando em um cachorro, já que fora o único bicho de estimação que tivera na vida, mas um coelho poderia servir. 

Olhando no banco de trás, a viu dormir tranquila, estava esgotada. O coelhinho acomodado em uma transportadora ao lado da cadeirinha dela. Meneou a cabeça divertido voltando a prestar atenção no trânsito, até ver uma placa que sinalizava a entrada para Ashbourne.

Fazia anos que não pisava na pequena cidade.  Sua mente o levou novamente para Lion Heart Hall... Aquela casa era magnífica. Uma das mais lindas e graciosas que tinha visto em todo o condado. Ele seria (ou era) o décimo segundo duque de Locksley. A propriedade ainda estaria em seu nome? Seu avô o tinha presenteado quando fez 18 anos. De sua antiga vida, a única coisa que poderia ainda desejar era aquele lugar. Não era muito longe de onde estavam. Poderia desviar o caminho, tinha tempo sobrando... 

Em um impulso, pegou a primeira saída e seguiu em direção ao casarão. Passou pelos portões principais que geralmente ficavam abertos, dando a volta no lago, observando como os jardins estavam bem cuidados e só aumentavam o esplendor da construção que parecia se manter intacta mesmo com os anos. 

Felizmente ainda tinha sol, mesmo que já fosse quase inverno. Estacionou e Calum surgiu dos fundos da casa puxando um carrinho de mão consigo. Ao perceber um carro desconhecido o velho homem se aproximou. Robin resolveu descer. Com a vista cansada, demorou para o senhor reconhecê-lo. Só quando estavam a poucos passos um do outro e Locksley chamou seu nome que sua expressão relaxou:

— Bloody shit! Menino Robin, é você mesmo?

— Sim Calum, sou eu – Robin o puxou para um abraço – como vão as coisas? 

— Tudo igual com esse velho aqui – se afastou, sorrindo e iniciando a gritar por sua esposa – Anna! Venha ver quem está aqui – dizia eufórico com seu sotaque irlandês – você mudou bastante desde a última vez que o vi antes de se transferir.  Seu avô falava todo orgulhoso que você tinha sido aceito na melhor faculdade de direito dos Estados Unidos – disse o puxando para subir as escadas e Locksley teve que pará-lo gentilmente.

— Já fazem muitos anos não é mesmo? Espere um pouco. Minha filha está no carro dormindo. 

— Oh meu Deus! – as sobrancelhas do senhor quase tocaram seus cabelos ralos – Você se casou? 

— Na verdade não – ele sorriu e o velho franziu o cenho divertido – se você tiver tempo para um chá te atualizo sobre minha vida. Me deixe só pegá-la – referiu-se a Louise. 

— Claro – Calum prontamente o seguiu e o ajudou com a transportadora do coelho enquanto ele carregava a garota meia adormecida nos braços. E foi assim que Anna os encontrou. 

— Porque toda essa gritaria Calum? – arregalou os olhos ao perceber Robin. O reconhecendo pelo olhar azul intenso igual do seu antigo patrão – Meu Deus senhor Robin, quanto tempo! – disse a velha e gentil senhora.

— Bom revê-la Anna. E não me chame de senhor. Me sentirei meu avô – brincou. 

— Mas o senhor é o duque da propriedade agora. Como deverei chamá-lo? 

— Apenas de Robin – deu de ombros. Cinco anos vivendo longe da nobreza, seria muito estranho ter alguém de repente o chamando de Duque de Locksley. 

— Ok. Você chegou em boa hora. Acabei de tirar os biscoitos do forno para acompanhar o chá – sorriu fazendo carinho nos cabelos de Lou Lou que estava começando a acordar – como ela se chama?

— Louise – Anna sorriu enternecida. Havia entendido que a menina havia herdado uma variação do nome do bisavô. Ainda que não propositalmente.

— Belo nome – Robin acenou caminhando para o hall de entrada, sendo tomado por uma onda de sentimentos que o fez parar. A última vez que estivera ali seus avós estavam vivos. O décimo primeiro duque de Locksley o tinha levado até sua biblioteca pessoal e lhe entregado sua coleção de livros de direito, aquela que guardava com muito amor e carinho em sua estante no escritório.

Suspirou, acariciando as costas de sua filha em uma vã tentativa de fazê-la adormecer um pouco mais. Deu uma olhada rápida ao redor e tudo aparentemente continuava como antes. A entrada do gigante salão de bailes a esquerda e à direita a saleta que dava para a sala de estar, seguida pela sala de jantar principal. As pinturas de valores permaneciam nas paredes adornadas com papéis de parede clássicos e afrescos. 

 Um dos imponentes lustres brilhava já aceso sobre sua cabeça e a pintura de seu avô se destacava no centro da escadaria que levava ao segundo andar. Diferente dos retratos de seus antecessores, naquela pintura muito realista, conseguia ver o olhar sempre sereno e divertido dele, o sorriso simpático e genuíno que oferecia a todos sem distinção e quase pôde ouvir a voz carregada de sotaque, mas cheia de mansidão... Deus! Como ele queria que Louis estivesse vivo. Tinha certeza que o velho seria completamente apaixonado por Lou Lou e ela aprenderia tanto com ele.

— Logo teremos que colocar a sua foto ou pintura ali senhor. É a tradição – disse Calum.

— Não. Deixe aquela. Não serei o duque Calum – o encarou –  renunciei minha herança.

O velho riu. Como se já soubesse. 

— A propriedade ainda é sua meu garoto – deu um tapinha em suas costas – Seu avô escreveu no testamento como cláusula incontestável. Não sei o que você fez, mas há alguns anos sua mãe veio aqui furiosa com um advogado tentando pegar a casa para ela e não teve sucesso – olhando para Louise acrescentou –  agora tenho uma ideia do que a deixou daquela maneira – o senhor Louis sempre dizia que você era um menino intenso, cheio de paixão e que certamente faria loucuras por amor. Parece que ele não estava enganado – fitou-o com um olhar conhecedor – Então, porque você não me conta mais sobre sua história e me deixa te atualizar sobre as coisas por aqui?

 


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Os personagens estão passando por um processo, principalmente a Regina dps de tudo. Ela sabe que tem sentimentos muito fortes por Robin, mas está muito confusa com toda a tempestade que caiu sobre ela nos últimos dois meses. Eles passaram muita coisa ao longo dos anos e agora precisam se encontrar novamente com si próprios para dps trilharem o caminho um para outro. Espero que entendam esse momento e o pq deu mostrar isso. Nós somos humanos, erramos, acertamos e erramos de novo. Sempre precisaremos aprender com as situações as quais a vida nos coloca. Logo eles vão começar a trilhar esse caminho juntos. Obrigada pelo apoio e nos vemos em breve



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