Um Segredo Entre Nós escrita por Emma


Capítulo 16
Quando abrimos mão de muito


Notas iniciais do capítulo

voltei com um capítulo curtinho que seria mais um “complemento” do anterior. Tinha planejado mais coisa, porém preferi separar pra poder postar logo o que tinha pronto. Sem mais delongas, deixo vcs com a fic



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“Coloquei meus pés no chão, porque eu sei que deveria te esquecer... Oh, mas por que não posso me arrepender de você?

(...) Faça-me um favor e tente parar de me deixar quebrado e amargo, talvez assim, seguir em frente será um pouco mais rápido...”

 

Good Stuff - Griff

 

 

 

Robin queria bater com a cabeça na porta do elevador assim que a mesma se fechou diante dos seus olhos. O que ele estava pensando? Estava prestes a dizer o quanto uma mulher comprometida era bonita. Pois se não se recordava, Regina estava em uma relação com outro cara. Era tanto comprometida que o namorado dela tinha desfilado quase nu na sua frente. 

Suspirou frustrado. Quantas vezes ia se permitir passar por situações como aquela? Quantas vezes ia deixar seu coração ter esperança por algo que sua racionalidade insistia em dizer que era estupido, improvável e absurdo? Quantas vezes ia se deixar ser afetado tão letalmente pela felicidade deles?

Encostou a testa na superfície de metal enquanto descia os poucos andares até o saguão. Se sentia frustrado por não conseguir tirar a cena do francês engomadinho seminu andando pelo apartamento com a casualidade de alguém que o fazia constantemente. Se ele tivesse chegado um pouco antes teria atrapalhado os dois em um momento íntimo?! Teve um espasmo com o pensamento. 

Não devia se sentir tão chateado, não tinha o direito de se sentir tão enciumado. Bloody hell! Regina tinha seguido em frente, ele só deveria fazer a mesma coisa! Parar em um barzinho qualquer, conhecer alguém aleatório e levar para seu quarto de hotel, acabar a maldita seca ou qualquer coisa que o ajudasse a tirar a mãe de sua filha do seu sistema. Porque era isso que Regina era, mãe de Louise e apenas isso. Quantas vezes seu coração precisaria ser partido para que entendesse aquele fato?!

 A porta do elevador se abriu e ele se recompôs, saindo em seguida e olhando a hora em seu celular. Dez e doze da noite. Ainda estava relativamente cedo. Subiu o zíper do casaco até o pescoço, pois o tempo tinha esfriado muito depois do pôr do sol, caminhando até o carro alugado que havia estacionado alguns metros do prédio. A luz de um pub diante dele chamou sua atenção. Parecia um lugar decente e tinham algumas pessoas com cervejas na mão do lado de fora conversando divertidas. Uma bebida agora cairia bem. Ponderou, encostado-se na lateral do veículo. 

Riu de si mesmo porque o Robin de 21 anos não teria pensado duas vezes diante de uma oportunidade de se divertir um pouco e muito possivelmente ter uma noite terminada em sexo descompromissado. Entretanto, estava em uma outra vibe agora. Não que a possibilidade de voltar a ativa não o tivesse animado um pouquinho. Porém, merda, não era exatamente com quem ele queria estar assim outra vez. E foi nesse momento que uma vozinha traiçoeira sussurrou dentro dele: “Quanto tinha valido a pena esperar todo esse tempo por Regina? Ela tinha feito o mesmo? Poderia muito bem estar com o outro em sua cama agora...”

— Hollyshit! – praguejou. Era injusto ser consumido por esse tipo de pensamento, porém, não podia se ajudar. Aliás, podia sim. Podia tomar a decisão de agora mesmo deixar todos os sonhos e idealizações que construiu ao longo dos anos em que esteve longe de Regina, ou, continuar a sofrer por ela. 

A segunda opção não o estava levando a lugar nenhum. O deixava rabugento e triste. Só dependia dele mesmo mudar isso, uma vez que tinha a constatação de que ela estava em uma relação feliz todas as vezes que vinha a Paris, o que lhe restava fazer? Era evidente que estava sobrando naquela história! Se estava cansado de ter seu coração despedaçado toda vez que a via com outro cara, por mais que doesse, era hora de deixar ir. 

Afinal, amor se tratava daquilo, certo? Liberdade. Regina tinha voado e feito seu ninho em outro lugar. O coração dela pertencia a outro alguém. Agora era sua vez de alçar voo e encontrar um novo lar.

— Hey bonitão, tá chegando ou tá saindo? – perguntou na língua local uma loira atraente que tentava encontrar uma vaga para estacionar seu automóvel. 

— Eu... – vacilou considerando – não estou saindo ainda – arriscou, respondendo na idioma dela mesmo. Estava enferrujado, porém, desde que começara a visitar a capital francesa com frequência por causa de Lou Lou passou a praticar mais. 

Havia aprendido cinco línguas com severos professores particulares quando criança. Ordens de sua mãe para seguir as tradições da nobreza. Alemão, italiano, espanhol, francês e um pouco de russo. Ele nunca tinha sido bom no último. A língua germânica era a que tinha mais afinidade por causa do intercâmbio em Berlim. As outras ele ainda podia desenrolar uma conversação básica, como agora.

— Então, talvez nos vemos lá dentro?! – a mulher piscou atrevida acenando com a cabeça na direção do pub e continuou sua busca por um estacionamento, deixando um Robin pensativo acompanhado-a com o olhar.



***

 

 

Regina fechou a porta de seu apartamento apoiando a cabeça contra a mesma por alguns segundos, soltando um suspiro sôfrego em seguida. Tinha doído ver Robin indo embora daquela maneira. A expressão em seu rosto era a mesma que Louise fazia quando caía e vinha em sua direção pedindo por consolo, sabendo que seu colo seria seu alento. Naquele momento tudo que seu coração pedia era para que tivesse corrido até ele e o envolvido em seus braços, sussurrando que tudo passaria e soprado um beijo aonde doía com a promessa de que tudo ficaria bem, exatamente como ela fazia com sua pequena.

Seu coração batia inquieto no peito e quando Daniel saiu do quarto a encarando com o mais doce dos sorrisos, por mais que a destruísse, Mills sabia o que tinha que fazer. Lembrou-se de sua conversa com Cécile, que tinha absoluta razão em tudo o que falara aquela tarde: “ninguém que dá um coração por inteiro merece receber metade do que lhe fora oferecido”.

Ela fora se aproximando lentamente do namorado, olhando bem em seus olhos verdes, o sorriso cheio de gentileza ainda permanecia nos lábios finos e Regina o admirou por alguns segundos. Ele era um companheiro sensacional. Não tinha outra palavra para descrevê-lo se não perfeito. Todavia, não era o seu encaixe e precisava deixá-lo livre para encontrar alguém que pudesse dar tudo o que ele merecia.

Tomando o rosto dele entre as mãos, fez uma carícia delicada com os polegares em ambas bochechas e puxou o ar para dentro dos pulmões buscando a coragem necessária.

— Dani, nós precisamos conversar – o homem a olhou intrigado, sem entender, mas sorriu respondendo:

— Claro chéri. Do que se trata? – a advogada o pegou pela mão, levando-o até o sofá e chamando-o para sentar-se junto dela. Depois de acomodados, novamente tomou uma das mãos dele na dela e buscou seus olhos:

— Nós, sempre fomos muito sinceros um com o outro e prometi para mim mesma que nunca mais manteria algo escondido em uma relação – Daniel seguia fitando-a tentando compreender a linha de raciocínio de sua namorada – sei que pareço não fazer sentido, mas preciso abrir meu coração para você e espero que entenda tudo o que tenho a dizer. 

O homem de cabelos escuros acenou, sua expressão mudando de gentil para aflito. Finalmente percebendo do que aquilo poderia se tratar. Algo do qual sempre tinha tido medo. Acenando para que ela prosseguisse, depois de engolir a seco deixou escapar um singelo e vacilante:

— Ok.

— Tive uma conversa com sua mãe essa tarde, ela é tão incrível, você tem a quem puxar. Não sei como ela fez, talvez seja esse olhar tão envolvente e cheio de compreensão que vocês dois têm – Mills lhe ofereceu um sorriso e ele lhe devolveu outro – mas Cécile conseguiu ler minha alma em poucos minutos. 

— Ela tem esse super poder. Acredite, ninguém consegue esconder nada daquela mulher – ambos soltaram um gargalhada curta, quebrando um pouco a tensão que estava se construindo ali. 

— Sua mãe me falou algo que fez com que eu refletisse até agora, aquilo está martelando em minha mente sem me dar descanso...

— O que ela falou? – pediu receoso.

— Que quem ama merece totalidade – Colter permaneceu encarando-a, esperando pelo que seguiria – quando nós começamos a namorar você não hesitou em me entregar seu coração por inteiro e eu sei disso porque sempre senti seu amor por mim, que foi tão grande a ponto de alcançar minha filha. Eu não resisti ao seu charme, sua gentileza sem fim e seu coração tão bondoso – Daniel meneou a cabeça, corando pelo elogio. Era adorável como ele não via o quão maravilhoso era – Você sempre foi paciente e esperou até que eu abrisse meu coração para que você entrasse e acreditei veementemente que conseguiria – seu namorado franziu o cenho, percebendo o rumo que aquele diálogo tomaria. Por mais que quisesse continuar olhando nos olhos dele, Regina não pôde. Quando os mesmo iniciaram a marejarem, fora impossível que os seus não fizessem o mesmo. 

— Entretanto...? – questionou com a voz por um fio, embargada pela emoção.

— Daniel eu sinto muito, eu amo você, mas o que eu sinto por Robin – suspirou – não consigo explicar. Não queria, Deus sabe o quanto lutei para esquecê-lo, antes mesmo que você entrasse na minha vida, todavia, ele voltou a fazer parte dos meus dias – arfou, buscando um modo ameno de dizer as próximas palavras – e apenas vê-lo com Lou Lou faz meu coração vibrar numa intensidade que jamais senti com nenhuma outra pessoa.

Daniel agora chorava, algumas poucas lágrimas tinham descido pelo rosto dele e desencadearam as suas, pois tudo o que não queria era magoá-lo, mas sabia que ouvir aquela declaração saindo dos seus lábios tinha partido o coração dele por inteiro. Até mesmo o seu estava em pedaços. O adorava com todo seu ser e não estava sendo fácil abrir mão dele e da história que haviam construído até ali. O homem diante de Regina era sinônimo de segurança e estabilidade. Coisas que ela muito apreciava..

— Você fez muito por mim, por nós e eu gostaria de ser inteiramente sua. Juro que tentei, o que nós vivemos até aqui foi lindo muito real para mim e eu sempre vou lembrar com carinho da gente, porém, finalmente percebi que meu coração – começou a girar delicadamente o anel de noivado em seu dedo, observando a jóia enquanto falava –  dei a Robin tanto tempo atrás e nunca mais pude tomar de volta – Daniel fechou os olhos, franzindo o cenho, como se as palavras dela o tivessem ferido tão profundamente quanto uma punhalada – Nós seríamos felizes se continuássemos com nossa relação, pois você me faz feliz – lhe ofereceu o esboço de um sorriso que ele não retribui – Mas você é um cara tão legal que merece alguém que te ame com tudo de si e por mais que eu quisesse isso desesperadamente, não posso ser essa pessoa. Sinto muito.

Regina abaixou a cabeça em seguida, algumas lágrimas continuavam a descer por suas bochechas. O silêncio que a circundava era um castigo terrível ao qual estava sendo imposta. O homem de olhos verdes se levantou e foi rumo ao seu quarto, por um segundo pensou que ele pegaria suas coisas e sumiria dali para sempre a odiando. Ótimo! O segundo cara que mais amou a odiava também. Ela era verdadeiramente um desastre quando se tratava de relacionamentos amorosos. 

Entretanto, surpreendentemente, quando retornou a sala Daniel carregava sua bolsa e uma pequena caixinha aveludada. Com certeza era a embalagem de um anel. Regina ofegou em choque. Sentando-se ao seu lado outra vez a abriu, lhe confirmando sua suspeita. Tirando a jóia de dentro do acolchoado, a admirou por alguns segundos antes de pegar sua mão direita e acariciá-la enquanto observava o outro anel que tinha ali.

— Eu comprei para você já faz um tempo – começou com a voz um pouco falha pelas lágrimas – O carrego sempre comigo, sempre. Estava procurando o melhor momento para te pedir em noivado, já existiram vários deles em que quase o fiz. Hoje por exemplo, quando nós estávamos no túmulo de Van Gogh, quase me ajoelhei aos seus pés e te pedi para casar comigo – Regina continuava o encarando surpresa. Não fazia ideia daquilo – Porém, sempre temi a sua resposta. Porque por mais que eu te ame com todo meu coração, como você mesmo disse, sabia que você tinha reservas – a advogada fechou os olhos, rompendo o contato e amaldiçoando-se em seguida. Não queria tê-lo feito se sentir assim. Daniel pegou o queixo dela delicadamente entre o polegar e indicador, levando-a a reabrir os olhos e continuou:

— Só que ouvindo você falar agora, percebo que não posso te prender a mim só porque me sinto realizado ao seu lado. Minha mãe sempre me ensinou que amor é sinônimo de liberdade. Se você ama alguém, dê a essa pessoa a liberdade de escolher aonde ela quer estar. E se for ao seu lado. Você será o mais abençoado dos seres vivos. Você é como um pássaro Regina, ao meu lado é como se você estivesse dentro de uma gaiola bonita, com comida, afeto e segurança, mas os pássaros não nasceram para estarem presos, não é mesmo? Ainda que me doa como o inferno, quero que você voe na direção da sua felicidade.

— Oh Daniel – Regina se lançou nos braços dele, as lágrimas desciam pelo rosto dela desenfreadamente. Uma mistura de alívio e pesar. Alívio porque ele a havia entendido e pesar por perdê-lo, sabendo que mesmo com seu lindo discurso, o advogado estava sofrendo – obrigada por me entender. Não estou deixando você para correr para o Robin. Nós dois não temos mais conserto, ele com certeza me odeia depois de tudo e isso é algo que terei que aprender a lidar... Eu só não podia te deixar preso a mim, você é muito especial e merece mais do que aquilo que posso te dar agora – ela deslizou o dorso da mão pela sua bochecha em uma carícia gentil, aproveitando para enxugar o rastro de lágrimas que ali havia.

Daniel a manteve em seus braços, apertando-a e aproveitando a última vez que a teria ali com ele dessa forma: 

— Pois acho que você está errada. Robin tem um brilho escondido no fundo dos olhos quando olha para você – meneando a cabeça, negou desacreditada – fora que ele seria um idiota se não quiser estar com você outra vez. Eu daria tudo para ser o único que têm seu coração e amor Regina – Deus! Como ela queria poder tirar a dor que quase fluía para fora dele – Mas... posso te dar um conselho? – Mills acenou, desvencilhando-se um pouco do abraço para fita-lo – fale com ele sobre como você se sente a respeito de seus sentimentos. Todo mundo erra e é digno de uma nova oportunidade quando se arrepende. Espero que Robin não seja tolo para não perceber a segunda chance que o destino colocou diante de vocês. 

Regina o abraçou forte mais uma vez, as lágrimas remanescentes saindo e descendo pelas bochechas de ambos. Aquela era uma despedida dolorosa e difícil, contudo, tinha terminado melhor do que o esperado. A morena só confirmou o que já sabia sobre o caráter e coração do homem que até alguns minutos antes era seu namorado. E esperava com todas suas forças que Colter encontrasse uma companheira tão maravilhosa quanto ele era para dividir a vida. 

Com um beijo em sua testa, se afastou e pegou suas coisas, se despedindo. Ela continuou sentada no sofá quando o mesmo cruzou o ingresso e se manteve encarando-o. Ambos com um sorriso sem efeito nos lábios e não querendo quebrar o contato. Até que ele sussurrou um adeus e fechou a porta. Regina se deitou em posição fetal, abraçando a almofada mais próxima e chorando até pegar no sono.

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“(...) Oh, eu queria que minha boca não sorrisse quando penso em você, Mas você me deixou com as coisas boas, querido e eu sei que é uma vergonha, mas é um milhão de vezes mais difícil quando eu não te odeio...”

 

Good Stuff - Griff

 

 


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram? Sei que foi curtinho, e espero que entendam o sofrimento da Regina. Por mais que ela ame o Robin e sinta tudo aquilo por ele, abrir mão do Daniel está sendo muito difícil pq ela tbm aprendeu a amá-lo, de uma forma totalmente diferente desse sentimento avassalador que ela tem pelo Robin, claro. Mas Daniel foi tudo o que ela precisava em um momento difícil, então não tinha como não se apegar. Só que quando alguém já roubou seu coração, por mais maravilhosa que a outra pessoa que chegue seja, é muito difícil seguir em frente. Sei do que tô falando Por isso espero realmente que entendam a reticência da Regina e o cansaço do Robin que o levou a decisão dele de seguir em frente. No próximo capítulo teremos Lou Lou em Nottingham conhecendo a trupe beijos e até logo



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