Deuses de carne e osso escrita por Luiz Henrique


Capítulo 16
Dez




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785616/chapter/16

As pupilas escuras de Niara exploravam o papel em suas mãos, como se cada letra desenhada, contivesse o mais precioso dos recados.

“Querida Niara,” estava escrito na primeira linha da carta.

“Suas histórias sobre os lugares que tem visitado e as pessoas com quem convive, tem sido a maior alegria dos meus dias. Ainda estou tendo dificuldade para conseguir um emprego fixo, por causa do meu histórico, mas estou confiante de que logo, as coisas vão começar a melhorar”.

A garota alisou a frase seguinte, com o indicador.

Um sorriso iluminou seu rosto.

“As fotografias que tirou em Mouron, ficaram incríveis! Os ventos sacudindo seus cabelos, a deixaram deslumbrante!”

“Com amor, Melina.”

— Niara! — chamou uma voz feminina, do outro lado da porta — Posso entrar?

— Serviço de quarto, a essa hora? — ela gracejou, brincando com os espirais em seu cabelo, como se fossem molas — É claro que pode, Yandina!

No momento em que a amiga adentrou o recinto, Niara deduziu que havia algo errado. Ela se jogou na cama, ao seu lado, agarrou um travesseiro e permaneceu com a cabeça coberta pela almofada, até sentir o ar faltar em seus pulmões.

— Manhã difícil? — a garota perguntou.

— Nayeli e eu assumimos a responsabilidade de receber, organizar e encaminhar todos os pedidos de ajuda a Kanna e Kalik. Mas são muitos pedidos, incontáveis! Ela está determinada a cuidar de todos esses casos, mas sei que os outros, incluindo meu irmão, precisam de um tempo para se recuperar.

— Quer dizer, como um dia de folga? — Niara fitou Yandina, que agora, mantinha uma das sobrancelhas arqueadas — Parece uma boa ideia, chefe.

— Ótimo! Eu vou procurar os outros e propor uma atividade para fazermos juntos...

A agricultora já estava há um passo da saída, quando retornou seu olhar para Niara, e resmungou:

— Por favor, não me chame de chefe.

Não demorou muito para que Yandina se deparasse com Kalik e Simbo, jogando tênis, na quadra do hotel que escolheram para passar a semana. Quando se deu conta de que os dois estavam vestindo apenas regatas e shorts curtos, ela recuou, desviando seus passos para a arquibancada ao lado, onde Kanna e Rizvan estavam sentados, prestigiando a competição.

Simbo interceptou a aproximação da amiga e seus movimentos com a raquete, se tornaram, bruscamente, mais precisos. A agricultora percebeu o que estava fazendo e mirou os próprios pés.

— Vocês dois são tão fofos! — Rizvan elogiou, com um sorriso melancólico.

Kanna sufocou uma risadinha.

— O que você disse? — Simbo se desconcentrou durante um segundo.

Kalik saltou, próximo da rede que dividia o campo, e atingiu a pequena esfera amarela com sua raquete, marcando um ponto.

— Parece que terminamos por hoje... — ele se virou para Yandina — Para onde eu e Kanna teremos que ir, dessa vez?

— Na verdade, lugar nenhum.

— Então... O que você está fazendo aqui?

A agricultora encolheu os ombros, intimidada.

— Não leve tudo o que ele diz para o lado pessoal. — Kanna interveio — Foi só uma pergunta. Você não costuma sair muito do quarto.

— É claro. — ela respirou fundo — Mas eu estive pensando e seria muito bom para os ânimos da equipe, se tirássemos um tempo apenas para apreciar a beleza das cidades que estamos ajudando. O que acham?

Áquila foi o primeiro a se pronunciar, enquanto seus pés o conduziam para mais perto, acompanhado por Nayeli:

— Excelente! É exatamente sobre isso que eu estava falando!

— Eu fiz um elogio as suas habilidades, recentemente, e por esse motivo vou dá-la um voto de confiança. — a sacerdotisa argumentou, desgostosa — Mas espero que entenda, que eu não acho que essa seja uma boa ideia.

Kalik ficou de frente para Yandina.

— O que você tem em mente?

Os oito viajantes se encontraram, novamente, algum tempo depois, sobre uma porção de terra seca, com muitos arbustos e rochedos, espalhados em torno de uma colina, coberta por florestas de pinheiros.

 — Então, nós vamos mesmo fazer uma trilha? Por algum motivo, eu pensei que você estivesse brincando. — Niara mordiscou o lábio inferior.

— Estou velho demais para isso! — Áquila resmungou,

— Nós todos precisamos de uma distração, mas também é importante manter a mente e o corpo ativos. — Yandina alisou as alças da mochila que carregava — Não deixem que a natureza intimide vocês. Estou certa de que todos estaremos seguros, com Kanna e Kalik, supervisionando nosso progresso.

O tabelião sorriu, convencido, e apertou o nó, que prendia a faixa em sua cabeça. Kalik socou o ombro do amigo, como uma provocação, sem a intenção de machucá-lo.

— Eu gostei disso. — disse Simbo, tomando a dianteira, ao lado da agricultora, a corrente metálica em seu pescoço refletindo a luz vespertina.

Eles seguiram para o topo, em silêncio, durante alguns minutos.

Um pequeno grupo de turistas fazia o mesmo trajeto com um guia, quando avistaram os deuses, há poucos passos de distância. Kanna teria parado para cumprimentá-los, se sua irmã não o tivesse puxado pelo braço, indicando que deveriam ser mais rápidos.

Ouviram-se gritos eufóricos enquanto os heróis se afastavam, correndo, tentando não tropeçar nos próprios pés.

 — Acho que despistamos eles. — concluiu Niara, entre ofegos.

— Ao menos, encontramos água. — disse Nayeli, apontando para uma fonte, no centro de um arvoredo, que teria passado despercebida por olhos comuns.

Áquila começou a correr até a fonte, sedento. No meio do caminho, suas pernas se chocaram contra algo pesado, escondido pela vegetação, e seu corpo foi de encontro ao chão.

— Está tudo bem? — Kalik perguntou, preocupado.

O alfaiate se virou para os amigos e emitiu um ruído incompreensível. Rizvan reconhecia àquele olhar, era como ver a si mesmo, em seu primeiro dia de residência médica.

Quando chegou mais perto, notou o corpo de um homem pálido, com lábios grossos, estirado na grama. Os cabelos claros eram cacheados, quase crespos e os olhos escuros estavam entreabertos e sem foco. O peito subia e descia sob a camisa de gola alta, indicando que ainda estava respirando.

— Ele precisa de ajuda! — o estudante se ajoelhou ao lado do enfermo — Kanna!

Kanna aprumou a postura e envolveu o homem em luz, despertando seus sentidos.

Ele se levantou e esfregou os olhos, como se estivesse preso em um sonho ruim.

— O que está acontecendo?

Kanna deu um passo à frente.

— Nós somos os deuses! E esses são nossos amigos... — ele indicou os companheiros de viagem — Como se chama?

— Bastien. — O homem respondeu, rapidamente, tornando a vasculhar os arredores — Não há mais ninguém com vocês?

Yandina mordiscou a parte interna da bochecha

— Estava esperando por alguém?

— Uma garota, que costumava ser minha namorada. — ele se encolheu quando disse a última palavra — Ela era filha de pessoas importantes e tinha um temperamento difícil. Não tivemos um término amigável. Pensei...que ela poderia estar procurando por mim.

Kanna e Yandina se voltaram para Nayeli. Nenhum dos dois disse nada, mas estava claro que buscavam por sua confirmação.

— Está dizendo a verdade. — a sacerdotisa concluiu, erguendo uma sobrancelha.

— Já tentou contatar as autoridades? — Áquila interrogou, verbalizando o óbvio.

— Não vai dar em nada, de qualquer forma! — Bastien sacudiu a cabeça — É melhor eu ir embora. Não podem tentar nada contra mim, enquanto estiver cercado por outras pessoas. Ao menos, eu espero que não...

Rizvan o agarrou pelo braço, preocupado.

— Ou então, você poderia vir com a gente! Estamos tentando chegar ao cume... — o rapaz esboçou seu melhor sorriso — Vai ser divertido!

Durante a travessia, eles adentraram o matagal, tomando cuidado com os insetos voadores e os pedregulhos pontiagudos que pareciam se esgueirar, sorrateiramente, sob suas solas.

— Yandina, você... — Áquila tentou afugentar um enxame de pernilongos — ...Trouxe um repelente?

A agricultora parou de caminhar.

— Eu avisei a vocês para se prepararem.

O alfaiate praguejou, baixinho.

Niara tentou se afastar das minúsculas criaturas aladas, em vão. Simbo começou a se coçar. Kanna perdeu a paciência e emanou calor, incendiando os insetos.

Com apenas alguns metros os separando, Kalik pôde perceber o incômodo estampado nas feições da agricultora, assim como a falta de controle de seu irmão.

— Estamos em uma floresta, Kanna. Cuidado com as chamas! — ele puxou o amigo para mais perto, com o braço rodeando seu pescoço, antes de se inclinar, sutilmente, na direção de Yandina — Deixe que eu cuide disso, para você.

O pescador fechou os olhos, se concentrando, e os pernilongos restantes, voaram para longe.

Com um ofego cansado, Rizvan desviou o olhar para Bastien.

— Eu admito... — disse o estudante, para o rapaz recém-chegado — ...Não sou bom com exercícios ao ar livre. Sempre preferi atividades cerebrais, ao invés de físicas.

— Você se esforça. Isso é o mais importante. — Bastien tentou soar agradável.

— Tenho certeza de que podemos ultrapassá-los! — Nayeli passou por eles, correndo — Vamos, garotos!

Rizvan e Bastien se entreolharam e trocaram sorrisos.

— Ela vai acabar desgastando os ossos, se continuar correndo desse jeito...

— Você sabe o que dizem. Nem sempre o que parece certo, é o que te faz feliz.

— Está falando sobre Nayeli ou sobre a sua própria vida? — Rizvan se inclinou, sugestivamente.

— Estamos chegando a algum lugar... — a voz pertencia a Niara, que estava alguns metros a frente, usando uma das mãos para cobrir o Sol — Parece ser um vilarejo.

Homens e mulheres, vestidos com roupas simples, começaram a emergir de suas pequenas casas de madeira, construídas sobre o gramado.

— São eles! Os espíritos da natureza! — declarou uma jovem aldeã.

Dessa vez, não houve escapatória.

Kanna e Kalik foram cercadas por adoradores entusiasmados, dispostos a passar horas engrandecendo-os com palavras afetuosas ou oferendas, que eram prometidas, ao acaso.

O tabelião deu de ombros e rapidamente, se deixou levar pela multidão. Kalik, por outro lado, parecia desabituado com a atenção que estava recebendo.

— Você não nasceu aqui em Elendor, estou certo? Os nativos dessa região, tem um sotaque diferente.

— Não gosta do meu jeito de falar? — o homem retrucou.

— O quê? Não foi isso que eu quis dizer!

— Estou brincando com você! — Bastien mostrou os dentes — Já morei em muitos lugares, mas me mudei para Elendor, recentemente. A comida daqui é... diferente.

— Quer dizer que é ruim? — Rizvan esboçou uma careta.

O homem esfregou a nuca.

— Nós podemos sair para fazer alguma coisa juntos, depois que concluirmos essa trilha. Assim, você poderia tirar as suas próprias conclusões.

As orelhas de Rizvan ficaram vermelhas.

— Não acha que é muito cedo para isso?

— Desculpe! Acho que me expressei mal. — Bastien sacudiu a cabeça, envergonhado — Eu quis dizer como amigos. É bom conversar com você.

— Bem, talvez eu entenda como você está se sentindo. — o estudante abraçou os ombros — Eu também passei por uma experiência ruim em um relacionamento passado. Durante muito tempo, eu me culpei pelo nosso fim. Quando, na verdade, isso é algo comum. Às vezes, as coisas fogem do nosso controle.

Bastien tocou a cintura de Rizvan, o que fez com que um calafrio subisse pela sua espinha.

Os viajantes logo se deram conta de que precisariam escalar para chegar à parte mais alta da colina. Yandina tirou uma corda da mochila e a estendeu para os amigos, indicando que deveriam usá-la em torno do corpo para subirem, juntos, até o topo.

— Nós poderíamos, simplesmente, voar. — Kanna argumentou.

— Isso iria contra o objetivo dessa atividade. — Simbo presumiu, recebendo um aceno positivo da agricultora.

— Se Nayeli e Áquila quiserem ficar de fora, podem nos esperar aqui embaixo....

A sacerdotisa inflou o peito.

— Não estamos mortos! Podemos fazer isso. Certo, Áquila?

O companheiro gemeu, em resposta.

Não demorou muito para o grupo concluísse o seu objetivo. Niara escorregou, algumas vezes, mas Yandina e Kalik conseguiram impedir que caísse.

Bastien se apoiou nos braços, com dificuldade, enquanto se projetava para o alto do monte. Rizvan percebeu, com um susto, que ele estava trêmulo.

— Tem algo errado! Ele ainda não está curado!

Tão rápido quanto poderiam, Kalik, Kanna, Rizvan e o doente, se acomodaram no interior de uma barraca, que Yandina havia trazido em sua bagagem.

O tabelião cobriu Bastien com sua aura luminosa, o que fez com que a cor retornasse ao seu rosto, vagarosamente.

— Você só está aliviando os sintomas. — Rizvan observou — Precisamos descobrir o que está causando tanto sofrimento! Talvez seja um fungo muito resistente, um vírus ou... — de repente, tudo pareceu fazer sentido — ...envenenamento! A sua ex-namorada deve tê-lo feito ingerir algo tóxico, sem que soubesse.

— Se o veneno for orgânico, acredito que eu possa controlá-lo. — Kalik esfregou as mãos — Kanna, pode ir! Você está muito nervoso. Eu e Rizvan cuidamos disso.

— O quê? Mas eu deveria conseguir curá-lo! Não faz sentido...

Rizvan e Kalik gritaram, ao mesmo tempo:

— Agora, Kanna!

E ele obedeceu.

 Rizvan tocou a testa do paciente.

— Não se preocupe! Você vai melhorar!

— Finalmente, escolheu a mim, ao invés dele. — ele respondeu, com a voz rouca.

O estudante levantou a sobrancelha.

Kalik e Rizvan trabalharam, juntos, durante o que pareceu ser uma hora. Durante todo esse tempo, Kanna ficou aguardando do lado de fora, apreensivo, enquanto os outros se mantinham ocupados conversando.

— Acho que terminamos. — Rizvan lacrou um frasco, contendo um líquido espesso e esverdeado — Suas habilidades médicas são admiráveis, Kalik.

— Eu digo o mesmo.

Eles reverenciaram um ao outro, com um movimento da cabeça.

— Pode, por favor, nos dar um minuto a sós? — Rizvan solicitou ao pescador — Eu preciso dar as últimas orientações ao nosso paciente.

— Se você insiste...

Assim que Kalik desapareceu de seu campo de visão, Rizvan respirou fundo e se preparou para o que iria dizer.

— Passamos por muita coisa, hoje. Não é mesmo, Dominic?

O homem se engasgou.

— Acho que você se enganou, eu me chamo...

— Bastien, é claro. Porque é esse o seu novo nome. — ele estalou a língua — Pensou mesmo que poderia me enganar com o mesmo truque, duas vezes?

— Achei que me perdoaria...

— E eu o perdoo. Mas isso não significa que nós vamos voltar. Acredito que o certo seria levá-lo a polícia por ter roubado as minhas joias, mas parece que já teve a sua lição. Sua ex-namorada não era tão piedosa, quanto eu, não é? — ele sorriu, mas não havia deleite em suas feições — Como ela descobriu que você é um farsante?

— Fui flagrado mudando de forma...quando iria encontrar outra pessoa. — Dominic viu Rizvan massagear as têmporas — Eu tive que encontrar outra forma de sobreviver! Quando nos separamos, meu nome ficou estampado em todos os jornais do país! Mas veja, nos encontramos de novo, mesmo estando tão distantes. Não acho que seja uma mera coincidência. É o destino!

— Você não é o meu destino. — disse, com firmeza.

— Oh, é claro. Porque você só tem olhos para o deus do Sol!

Rizvan perdeu a fala.

— Acha que eu não percebi como olhava para ele, quando se conheceram? Nada mudou, desde então!

— Kanna está prometido a alguém, e como você bem sabe, eu acabei de sair de um relacionamento muito conturbado. Não vou interferir.

O homem rosnou, contrariado.

— Podemos, pelo menos, ser amigos?

Rizvan estava cogitando a ideia, no instante em Kanna surgiu, através do tecido, com uma expressão suplicante no rosto.

— Eu poderia usar meus poderes de cura para garantir que não fique nenhuma sequela.  — O garoto insistiu.

— Não! — Rizvan corou — Bastien já estava de saída, de qualquer forma! Decidimos seguir caminhos diferentes.

O homem correu para o lado de fora, tentando se afastar o máximo que conseguia, dos olhares curiosos das pessoas que o haviam guiado até ali.

Kalik, que estava parado ao lado de Áquila e Niara, soltou um longo suspiro.

— Ele deve estar tendo dificuldades para digerir o que aconteceu. Eu temia que a ficha ainda não tivesse caído.

— Que tal irmos embora? — Rizvan sugeriu — Imagino que tenhamos encerrado a atividade...

Yandina cravou a haste de uma bandeira no solo.

O emblema estampado, simbolizando um eclipse, começou a ondular, com o vento.

Quando retornaram ao seu alojamento, àqueles que concluíram o exercício, optaram por permanecer unidos, dividindo uma mesa quadrada no refeitório.

— Um brinde a Yandina e sua ideia incrível! — propôs Niara, erguendo um corpo de cerveja acima da cabeça.

Os amigos a acompanharam, animados.

— Eu...nem sei o que dizer! — a agricultora esfregou os joelhos, embaraçada.

— Pode começar escolhendo a sobremesa. É por nossa conta! — Simbo jogou o braço em torno do ombro da amiga, a bebida parecia tê-lo deixado mais ousado.

— Não acredito que existiam muitas opções por aqui. Sabe que eu não como nada de origem animal.

Nayeli estalou os dedos.

— Tem uma confeitaria, com bolos veganos, na rua vizinha. Eu posso buscar um para você! — ela sugeriu, se levantando — Devo admitir que estava errada, você se sobressaiu essa tarde, Yandina.

— Quer que eu vá com você? — Áquila encarou a companheira.

— Bobagem! Eu sei tomar conta de mim mesma.

A sacerdotisa percorreu as ruelas da cidade, completamente alheia a presença de três silhuetas estranhas, que a acompanhavam, escondidas na escuridão noturna.

Ela olhou por cima dos ombros e apressou o passo.

As sombras tentaram segui-la até um beco mal iluminado, quando, de um segundo para o outro, Nayeli girou os calcanhares, utilizando uma rocha perdida para nocautear a figura de aparência andrógena e cabelos cor de caramelo, em seu encalço.

Um outro indivíduo, um rapaz retinto, com os olhos saltando das órbitas apontou os dedos na sua direção, gravando riscos na pele da mulher, sem sequer precisar tocá-la. Ela cambaleou para trás, mas seus gemidos foram sufocados pelas madeixas negras e sebosas de um homem encardido, que envolveram seus lábios e pulsos, enquanto ele a arrastava para a parte mais sombria do lugar.

Nayeli começou a chorar, quando interceptou a presença de outra pessoa.

Era Aima, a xamã que havia perseguido Kalik e neutralizado seus poderes, usando uma trança única e um longo vestido preto. Adélia caminhava ao seu lado, com suas roupas elegantes habituais.

— Vá em frente, Aima. A única coisa que ela se lembrará, será do seu aviso. — disse a mulher, de longos cabelos loiros.

A acompanhante consentiu e obedeceu.

— Diga aos seus amigos que seus velhos inimigos estão reunidos. O império que construíram está prestes a ruir!

Aima pressionou a testa de Nayeli com o indicador.

Naquele instante, ela soube, que sua vida estava prestes a mudar, drasticamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Deuses de carne e osso" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.