Tô Nem Aí escrita por Youth


Capítulo 17
017 - O Veneno do Pecado




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785240/chapter/17

 

                Ignácio Cruz não podia esconder o nervosismo que consumia sua sanidade desde o instante que viu Teresa parada na entrada de seu consultório – ou, talvez, desde o momento que soube do tenebroso vídeo em que a mãe foi uma das protagonistas. Estava meio desgrenhado, com a roupa desalinhada do corpo e olheiras profundas sob os olhos. Ficava estalando os dedos freneticamente, sem parar por um instante. Tê não tinha tempo para enrolação, então já foi logo se sentando quando entrou, cruzou as pernas e suspirou.

                − A gente precisa conversar, não é? – ela afirmou, ainda que tivesse tom de questionamento. Ignácio Cruz alisou a nuca, envergonhado, caminhou pela salinha de massagem e só se aquietou quando se recostou na parede.

                − Eu sei o que você veio dizer – ele afirmou, num tom assustado e amargurado. Teresa pôde jurar que percebeu até uma pequena brasa de tristeza – Mas você sabe que não é possível, prima – afirmou. Teresa suspirou e descruzou as pernas, enquanto alisava a veia na testa.

                − Por que não, Ignácio? Você já é um homem feito! Tem que ter coragem de ser quem você é! – Teresa afirmou convicta. Ignácio suspirou – Desculpa, usei as palavras erradas... Não quero estar te pressionando em nada, por favor, não veja assim! Só quero que você seja feliz... E que meu amigo seja feliz também – ela afirmou. Ignácio lembrou-se rapidamente de Alexei e sorriu involuntariamente. Amava aquele jeitinho meio doido, desajeitado e fofo. Aqueles cabelos rebeldes, aqueles olhos redondos e cheios de mistério, aquele sorriso encantador e mágico... Aquele toque poderoso de pura energia que ele lhe presenteou outro dia. Tudo em Alex se convergia numa versão mais poderosas e perfeita de tudo que Ignácio poderia desejar para si.

                − Eu quero que ele seja feliz também, Teresa, pode ter certeza disso – ele afirmou com confiança e seriedade – Nem que seja longe de mim. Ele é especial, sabe? Soube da primeira vez que o vi... – contou, com uma certa paixão evidente nas palavras. Teresa sorriu e concordou – Ele tem muita magia... Ele te faz querer viver... – engoliu seco e suspirou − Ele me fez querer viver. Me fez querer mudar. Ter coragem... Eu quase me assumi, sabe, mas aí... – engoliu seco se lembrando do dia que o viu com Roman no apartamento, lembrou-se como sentiu seu coração partido e como tudo aquilo lhe fez recordar do passado que tentava esquecer. – Acho que perdi toda minha força naquele dia... Teresa, lembra do Tomázio? – questionou. Tê arqueou as sobrancelhas.

                − Meu deus, mas essa você tirou do fundo do baú – ela afirmou, convicta – Claro que lembro, filho da tia Claudete. Era nosso primo de que? Sétimo grau – e riu.

                − Por aí – Ignácio respondeu – Filho da prima da tia de uma prima nossa – contou, com um olhar de arrependimento ao revisitar as lembranças – Eu e ele tivemos, bem, coisas... e ele me machucou muito, sabe... Depois dele não consegui me entregar e gostar plenamente de ninguém, por medo talvez, não sei... Mas, o Alexei, nossa! Ele passou pelo mesmo que eu, talvez até por mais coisas, e continuou tão forte! Isso me inspirava tanto...

                Teresa sorriu timidamente.

                − É, ele é assim. Ele dá força para a gente sem nem perceber... Não sei... Acho que tudo o que ele passou, e continuando de pé, seguindo em frente, mesmo com tudo que a vida tenta fazer pra derrubar ele... Nossa, isso é um tapa na cara da gente que não viveu nada e já tá tentando desistir de tudo – ela afirmou, enquanto alisava os próprios cabelos – Ele me ajudou muito também e, é justamente por isso, que eu vou fazer tudo que puder para que ele consiga encontrar a felicidade. Ele já esteve preso à tristeza, dor e solidão por anos demais.

                Ignácio Cruz engoliu seco, envergonhado.

                − Você acha que eu, sabe, sou parte da felicidade dele? – Teresa tinha um olhar impaciente. Odiava quando lhe questionavam o óbvio.

                − E você se faz ainda? Meu deus, garoto! Ele só não disse que te ama com todas as letras, mas o que fica subentendido é claro até pra quem é cego! Só vocês dois são lesados demais para perceberem – Teresa se levantou, foi-se até Ignácio e olhou no fundo dos seus olhos – Você me disse que ele te faz bem... Ele me disse que você faz bem para ele. Vão ficar fazendo cu doce até quando? Essa história tem que acabar! Aliás, continuar – contou. Ignácio Cruz sentia uma paixão pulsante conduzir suas ações e o obrigar a sorrir involuntariamente. Todavia, o medo e a dúvida ainda eram obstáculos grandes demais impedindo sua corrida.

                − Eu sei... Eu acho que sei, pelo menos – ele afirmou, se desvencilhando do olhar de Teresa e caminhando pela salinha, encarando os próprios pés, envergonhado – Mas eu não sei se sou forte o suficiente para... você sabe – ele sequer tinha coragem de dizer “me assumir gay” e isso deixava Teresa aborrecida.

                − SE ASSUMIR! Ser quem você é. Não precisar viver atuando, fingindo ser uma pessoa para agradar alguém – Teresa gritou, irritada – Ignácio, acorda. O seu medo vai te impedir de ser feliz... e quando você perceber vai ser tarde demais. Talvez você já tenha até perdido o único cara que conseguiu te fazer querer continuar.

                Ignácio Cruz bateu a cabeça na parede levemente, envergonhado. Sentia lágrimas fortuitas no arredor dos olhos. Aquilo era verdade e ele sabia plenamente.

                − Lembra da minha avó, que descanse em paz, Dona Florência? – Teresa questionou, num tom mais amigável. Ignácio estava estático demais pelo medo para responder, então se limitou a anuir com um olhar – Ela era a mulher mais à frente do seu tempo e desconstruída que eu conheci... – Teresa sorriu – Ele quase bateu no meu tio quando ele quis expulsar o filho dele de casa porque tinha dito que era gay... “Meu filho, a gente nasce, a gente vive e a gente morre. A única mudança que a gente tem é quando a criança vira adulto e o adulto vira velho. A gente morre como veio ao mundo e não tem nada pra fazer que vai mudar isso. Ele nasceu assim e vai morrer assim, você gostando ou não.” — Ignácio riu baixinho com a imitação de Teresa da voz da avó – Ela tinha um retrato na sala de casa que, pra ela, era mais importante até que a foto do casamento dela com meu avô: ela e uma moça, debaixo de uma goiabeira, abraçadas. Ela sempre me disse que eram ela e a melhor amiga... Mas, sabe, eu nunca achei que fosse só isso... Não pela desconstrução dela, mas sim por conta de todo amor que ela tinha por aquela foto – uma lágrima escorreu do rosto de Teresa e molhou o chão – Quando ela tava morrendo, e meio que delirando, confundiu a enfermeira com a moça da foto... Rute, era o nome dela.

                “Rute, te esperei naquele dia”— Teresa imitou, lembrando-se da cena da avó na cama, segurando o braço da enfermeira e contando — “Eu não te culpo por ter tido medo... Seu pai era muito ruim... Perdoa eu por não ter feito mais. A gente poderia estar juntas agora se tivesse feito”— e, então, Teresa não pôde mais aguentar a cascata de lágrimas – “Passei oitenta anos esperando pra poder te ver de novo. Me desculpa, viu?” Elas se amavam, Ignácio, minha avó e a melhor amiga dela – Ignácio Cruz sentia seu coração murchar em desamor e tristeza, enquanto se mantinha firme para não se debulhar em lágrimas – Mas a Rute não teve coragem o suficiente de enfrentar o pai dela...

                Ignácio Cruz não tinha palavras. Nem esse narrador.

                Viver, se privando do próprio amor, é o mesmo que não viver. E isso é tudo que qualquer um deve entender.

                Teresa interveio, percebendo que não havia palavras na boca de Ignácio.

                − Depois que a vovó morreu fui tentar descobrir mais sobre essa Rute... Ela morreu muito nova, de causas naturais, com trinta e poucos anos – Teresa afirmou, entristecida – A gente se priva de tanta felicidade e se obriga a ser quem a gente não nasceu pra ser... Que ficamos desgastados tão jovens... E quando menos vemos estamos morrendo de “causas naturais” – Teresa torceu o nariz, desgostosa – Pra mim ela morreu de tristeza... Sabe... – Teresa suspirou e engoliu todo choro que guardava no coração – Não espere o tempo passar pra perceber que você tá fazendo uma péssima escolha. Se sua mãe não souber te aceitar... Bem, acredito que sua aceitação já é o suficiente. Ela que lute pelo resto – Teresa afirmou, pensando sobre como escondia o próprio passado de Ellen, com medos semelhantes ao de Ignácio. Sorriu e jogou os cabelos para trás – Devia ter percebido isso antes.

                Ignácio Cruz estava com tanta vergonha que mal podia encarar Teresa nos próprios olhos. Ela estava certa, no fim, não podia viver sob a sombra de uma pessoa que ele não era... E que fingia ser simplesmente para poupar a mãe de um “desgosto”. O mundo havia mudado, não estavam mais no século dezenove. Haviam pessoas diferentes, sexualidades diferentes, gêneros, raças, cores e amores e, aprender a respeitar e compreender cada uma dessas individualidades era o básico que se exigia para as pessoas do século atual. Se prender à preconceitos com base em “sou de outro tempo” era uma desculpa tão fajuta e velha quanto andar para a frente. Bem, Alexei tinha cento e cinquenta anos e alguns dias – e não há no mundo cidadão mais desconstruído que ele, mesmo tendo vivido por entre três séculos distintos.   

                Ainda assim havia o “e se” corroendo as decisões de Ignácio e entorpecendo sua visão de mundo. E se um dia Alexei enjoasse dele... E ele não tivesse mais ninguém, nem a mãe, nem o cara que ele gosta, do seu lado? Pensar nisso era de trazer um medo tremendo. Não, aliás, um receio. Havia, ainda, a esperança latente e imutável, presa pelas amarras do receio. Ignácio não esboçou nenhuma reação além de continuar pensativo. Teresa suspirou.

                − Meu trabalho tá feito – ela afirmou, pegando a bolsa, ajeitando os cabelos e saindo pela porta do consultório – Agora é você conseguir enxergar tudo antes que seja tarde demais... E algum de vocês morra de causas naturais – disse, de maneira séria e direta, enquanto ia embora.

                Ignácio Cruz sentou-se, colocou os cotovelos nos joelhos e segurou a cabeça, deixando uma tormenta de sentimentos e pensamentos poluir sua mente, enquanto tentava descobrir a melhor solução para suas dúvidas do coração.

                Alexei vasculhou a caixa em busca de algum sinal de quem havia lhe mandado. Suas veias ardiam em raiva, medo e altas doses de amargura. Estava aflito, com um olhar atônito e cansado, com as mãos e as pernas tremendo lentamente e o coração acelerado como um motor sem freios. Roman repetia freneticamente para que ele se acalmasse, alisando suas costas tentando passar algum conforto, e Joshua havia saído para tentar descobrir melhor quem havia o deixado.

                − Alexei, por favor, me conta por que você está tão aflito com isso – a voz de Roman era carregada de compadecimento e calma. Alexei parou por um instante, suspirou e fechou os olhos – O que aconteceu? Posso fazer alguma coisa?

                Alexei riu de nervoso.

                − Provavelmente não – afirmou, deixando a caixa de lado após não encontrar nada e se recostando num móvel, com um profundo suspiro – Acho que isso é uma ameaça. Minha irmã se envolveu com uns caras bem perigosos e... – Alexei coçou os olhos, em desamor. Meu deus... Quando tudo parecia certo, tinha que dar algo errado, ele pensava.

                − Que caras? – Roman interveio, com um olhar preocupado – Você sabe quem ele é? Precisamos para fazer uma denúncia formal – contou, com zelo, tenência e preocupação estampadas na face. Alexei lembrou-se, então, que Roman outrora fora um delegado, e se arrependeu de ter revelado os problemas com Nimbus. O vampiro engoliu seco, chacoalhou a cabeça e suspirou.

                − Não sei o nome dele – mentiu −, mas sei que ele tem interesse em se transformar em vampiro... Ele estava ameaçando a Ramona com uma pessoa, mas nós conseguimos nos livrar dessa ameaça – Alexei contou. Roman pareceu ligeiramente desconfiado.

                − Aquele Oliver? – questionou. Alexei anuiu. Roman lambeu os lábios e coçou a nuca, meio preocupado – O que você está escondendo, Alex? Por favor, não minta! – suplicou, num tom preocupado. Alexei revirou os olhos, meio envergonhado.

                − Eu só... – fez uma pausa por um instante – Não acho que a bíblia tenha haver com ele... Só o bacalhau – afirmou. E, no fim, tinha certeza daquilo. – A bíblia tem muito mais a cara dos conservadores da rua do que dele...

                Roman coçou a nuca, preocupado.

                − E o que isso significa? – questionou confuso. Alexei suspirou.

                − Eu não sei, − e isso era verdade, no fim de tudo. Os planos dos idosos eram velados e obscurecidos. Alexei se ajeitou e envolveu as mãos no rosto – Mas depois daquele vídeo... Nossa, posso esperar por qualquer coisa.

                Roman suspirou, compadecido. Havia visto o vídeo, com toda certeza. Com um meio sorriso entristecido, o homem alto envolveu Alexei num abraço e tentou lhe passar conforto e sensação de paz. O vampiro se aconchegou nos braços do homem e pôde, finalmente, se deixar sentir o medo que havia vindo evitando por inteiro. Estava tentando ser forte, mas não era forte o bastante cem por cento das vezes. Fungou algumas vezes e chorou delicadamente, enquanto a mão de Roman Medina afagava suas costas.

                − Alexei! – Dayana Flores gritou assustada. Alex se desvencilhou de Roman de imediato, limpou as lágrimas dos olhos e se recompôs. A moça entrou na cozinha com um olhar de medo escancarado – Você precisa ver isso – ela afirmou, ofegante como se tivesse corrido.

                Alexei trocou olhares preocupados com Roman Medina, engoliu seco e foi com a garota e o homem para a fachada da confeitaria. Os tijolos pintados de rosa-glacê da parede, ao lado da vitrine de vidro onde expunham os bolos, estava pichado em vermelho tão rubro quanto sangue, com letras estridentes, garranchadas e meio góticas: O veneno do pecado deve ser apagado. Havia uma multidão de pessoas ao redor, observando surpresas e indignadas, a terrível escrita. Alexei precisou de alguns minutos de pé, encarando as palavras, sem nada dizer ou fazer, para conseguir discernir tudo sem desabar como um castelo de cartas ao ser tocado pelo vento. Dayana Flores, Roman Medina e Teresa, que havia acabado de chegar, observavam a pichação em companhia do vampiro, atônitos e absurdamente horrorizados.

                − Tá bom – Teresa afirmou, irritada, após longos instantes de silêncio – Alguém tá querendo muito morrer.

                − Sim – Alexei respondeu, amargurado – Eu – e suspirou profundamente, com o coração murchando em tristeza e desamor. Sentia os poros coçando pela ansiedade e o estômago borbulhando como se fosse consumido por ácido puro.

                − Quem poderia fazer isso? – Day Flores questionou, confusa – E o que diabos isso significa? – Teresa olhou Alexei com seu olhar de “é, eu sabia que isso ia acontecer” e fez um sinal para que o amigo a acompanhasse.

                Quando já estavam à sós, num cantinho próximo a confeitaria, Teresa olhou ao redor, buscando pessoas por perto, meio aflita.

                − Isso tem cara de Dulla Swanna e companhia – afirmou ela, assustada.

                − Não acredito que um bando de gente velha gastaria o tempo deles de jogar bingo para vir pichar a fachada da confeitaria – Alexei respondeu, imaginando que isso se parecia mais com algo que Nimbus faria... Se bem que... Não! – Eu pensei que podia ter haver com Nimbus, Oliver, essas coisas, mas ele queria virar vampiro... Não tem porquê chamar de veneno do pecado algo que ele mesmo deseja se tornar, não é? – Teresa anuiu, com um olhar assustado. Alexei coçou o queixo.

                − E o grupo da Dulla não é mais só de idosos, Alexei – ela afirmou convicta – Eu vi um pessoal numa reunião dela... Tinha gente de toda idade. Até gente jovem, com umas caras não muito agradáveis! – Teresa olhou ao redor novamente e sussurrou – Vi até uns skinheads, gente ostentando imagens da suástica, essas coisas – ela disse, com um olhar assustado – Por isso pedi pra você tomar cuidado, gênio, eles agora não são qualquer coisa... Conseguiram reunir toda a nata do preconceito num só grupo, com um só ideal – Alexei suspirou, entristecido.

                − Me odiar – supôs, engolindo seco e se recostando na parede do beco, mais desanimado e desapontado que assustado – Eu não fiz nada pra ninguém... Por que eles querem me fazer mal? – questionou entristecido. Se sentir odiado, sem nada ter o feito para merecer, era tão doloroso que fazia Alexei sentir vontade de se odiar novamente, como se ele fosse o erro desde o começo. Se lembrou de tudo, repentinamente: do passado assassino, do açougueiro de Mônaco, das trilhas de sangue... De Nico, de Dominic, da dor que carregou por tanto tempo... Das prisões de paixão, desamor, das traições, decepções e das mágoas. Lembrou-se como sua condição de vampiro sempre o atrapalhou, dificultou duas decisões e fez uma coleção de vítimas, além de si mesmo, como Ignácio, Ramona, Roman, o pai, a mãe... – Eu odeio ser um vampiro. Sério, tudo seria muito mais fácil se eu fosse alguém normal – Alexei se debulhou em lágrimas magoadas – É tudo minha culpa! Por que eu tenho que ser assim? Me diz, Teresa? Eu sou uma coisa abominável, um pecado, como eles disseram... Eu devia morrer de verdade e dar fim em tudo isso!

                Alexei se atirou contra a parede e deslizou recostado a ela até estar sentado no chão sujo do beco, envolto nas próprias lágrimas e angústias. Teresa correu e envolveu o amigo numa tentativa de abraço.

                − Não, Alexei, por favor – Teresa tentou dizer, com uma voz compadecida.

                Mas era tarde demais. Um sentimento grande só dá lugar para um sentimento maior ainda. Alexei estava envolto numa aura de auto-ódio e depreciação, movido por pensamentos ruins e munido do combustível da desesperança e do arrependimento. Alexei, antes um vampiro sem confiança, se tornou alguém que não aceitava mais estar sobre a própria pele; alguém que tinha mais ódio de si mesmo do que de qualquer coisa que houvesse no mundo: mais do que tinha por Dominic, por Nico, por Dulla, por Ellen, por Nimbus. Alex só conseguia enxergar um culpado por tudo que vinha passando havia cento e cinquenta anos: si mesmo.

                Alexei odiava o vampiro que habitava sua pele, como se fossem eles duas faces distintas de uma mesma moeda.

                Toda amargura que lhe deram, toda dor que lhe culparam, toda mentira que lhe atribuíram, convergiu de uma maneira a tornar Alexei, em sua visão, o maior vilão da própria história. Tudo que ele queria era se cobrir e passar a eternidade chorando e se flagelando por todo mal que causou por simplesmente existir. Mal podia se aguentar nos próprios pés.

                Era muito para uma pessoa só aguentar. Seu coração deu pane e tudo pareceu se obscurecer como em um eclipse eterno e inevitável. Tudo agora era cinza. Não havia mais rosa-glacê, não havia mais o doce, o salgado, o apimentado... Não havia mais o chocolate, o caramelo, o açúcar ou os morangos... Só havia a amargura e o cinza de sua existência conturbada. A única cor era o vermelho do sangue e da culpa que carregava nos ombros.

                Alexei não via mais sentido em viver. Se odiava. Se sentia fraco, abalado, amargo e apagado. Se cobriu com uma onda de depressão mais poderosa que a própria insegurança, depois do término com Dominic... E só um sentimento maior poderia calar esse sentimento poderoso. Fazer o que? É assim para os vampiros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tô Nem Aí" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.