Tô Nem Aí escrita por Youth


Capítulo 10
010. Mais que a Memória




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785240/chapter/10

Versa Coumarine permitiu que Alexei tomasse um banho no banheiro do consultório, deu-lhe uma toalha branca com as iniciais V.C bordadas em vermelho e roupas limpas que ficaram um pouco folgadas, mas serviram para aquele instante. Desde o momento que percebeu ter bebido sangue, ao que saiu do banheiro vestindo as roupas exageradamente brancas e cheirando à cloro de Versa, Alexei não disse sequer uma palavra, sequer murmurou. Era protagonista de um silêncio fúnebre e contemplativo, em que encarava – ou tentava – tudo que havia feito após a noite de bebedeira no dia anterior, pois não se lembrava de nada além do momento em que abriu as portas do armário de bebidas. Era como a maioria das memórias do passado assassino e doloroso como o açougueiro de Mônaco: haviam desaparecido, dando lugar à um breu silencioso e atormentador.

A simples ideia de ter voltado a beber sangue humano direto da fonte fazia Alexei tremer de medo e arrependimento, sentindo toda sua consciência comprimir seus pensamentos e amargar seu coração. Ademais, sentia seu estômago revirar e os olhos continuavam ardendo.

Estava cara-a-cara com a terapeuta, após o fim do banho, ainda de cabelos molhados e olhar atônito. Versa parecia aguardar explicações. Alexei engoliu seco.

− Eu não me lembro de nada – foi tudo que ele pôde dizer. Versa suspirou, entristecida, fechando os olhos e botando o rosto entre as mãos. – E se eu fiz mal há alguém? – a simples menção desse fato fez os olhos de Alexei se desesperarem e liberarem lágrimas violentas e dolorosas, que cobriram todo seu ser e molharam o chão do consultório. Sentiu seu coração acelerar, o sangue ferver e todo seu corpo ficar inquieto num medo incessante. Versa se aproximou, tocou seu ombro e suspirou.

− Calma – ela disse, por fim, com a mesma voz apática de sempre. Era estranho, mas isso o acalmava – Tenho certeza que há explicação para isso... Não acho que você tenha feito mal a ninguém! – afirmou convicta – Alexei, você é uma pessoa boa... Não poderia machucar alguém nem se quisesse... – a ironia era o fato de Versa não saber do passado de Alexei, o que desvalidou todo seu argumento e todas as suas palavras de incentivo para com Alex, que se sentiu ainda mais reprimido pelo medo. – Vamos, converse comigo. O que aconteceu? – o vampiro suspirou, engoliu as lágrimas e encarou a terapeuta com um olhar arrependido.

− Eu fodi tudo... Com todo mundo! – afirmou. Versa expressava confusão e curiosidade – Consegui estragar as coisas com o Roman e com o Ignácio no mesmo dia, com intervalos mínimos de distância... – contou, admirando tudo de ruim que ele podia pensar sobre si – Meu deus eu sou um desastre! E o pior: foi tudo culpa minha. Culpa da minha indecisão, da minha carência, da minha dependência... – Alexei se levantou, foi até o espelho do outro lado da sala e encarou a própria imagem, com repúdio – Culpa desse maldito Alexei que nasceu cem anos atrás... Meu deus... Eu odeio essa versão que fizeram de mim. Eu odeio ser um vampiro. Por que não pude ter sido um jovem normal do século dezenove e morrido de poliomielite ou na guerra? – questionou, com certo tom cômico nas palavras, sem tirar os olhos do espelho – Esse meu lado sempre estraga tudo... – Alexei riu em tom desesperado e cínico – Agora eu entendo o Dominic... Ele sempre justificava as idiotices dele com “o lado ruim”... Meu deus! É tão óbvio que eu também sofro dessa maldição. Eu não consigo ser suficiente para mim mesmo e tenho que procurar amor nos outros... Eu encontro amor nos outros... Mas não tenho coragem o suficiente para me entregar, e sempre procuro uma outra oportunidade. E estrago tudo – contou com amargura – O pior é que, mesmo não me lembrando, eu tenho certeza que não é a primeira vez que faço isso.

Versa fez um longo murmúrio pausado. Suspirou profundamente e ajeitou os óculos no rosto.

− Vamos do começo – suplicou, com certo ar de confusão nas palavras – O que seu lado vampiro tem a ver com isso? – questionou – Só vejo um homem, talvez dois ou três, lutando para sobreviver soba sua pele. Alexei, ser vampiro não altera quem você é. Talvez amplie, talvez diminua, mas você sempre é você.

Alexei encarou a terapeuta com um olhar desesperado.

Então eu sou um assassino?— questionou, se referindo ao fato de sempre ter culpado uma versão sua pelos crimes em Mônaco, mas, com as palavras da terapeuta, sentiu como se estivesse procurando um eufemismo, um bode expiatório, todo esse tempo. Como se quisesse culpar alguém pela própria natureza. Versa suspirou, preocupada, se levantou e se acocorou na mesa, como se procurasse as melhores palavras para declarar no momento.

− Não – disse, chacoalhando a cabeça em negação – Não, não, não, não e NÃO! – falou, pela primeira vez num tom mais elevado que o normal – Alexei, sei que você tem um passado e não me importo com ele. Me preocupo com o Alexei que eu conheço, que está diante de mim, que é um confeiteiro, que é doce como os bolos que faz, que se preocupa demais com o que as pessoas falam, que tem um coração adorável e que faz as pessoas sentirem mais vida que poderiam sentir mesmo se nascessem novamente. Alexei, o vampiro, que passa por coisas que qualquer pessoa comum passaria. Não se culpe por isso — afirmou Versa, com certo pesar na voz e olhos entristecidos. Ela suspirou, voltou a se sentar e alisou uma veia saltante na testa, como se a cabeça doesse – Agora, voltando... Eu tenho certeza que há uma explicação para o que houve com você ontem e, principalmente, para o sangue nos seus lábios. Procure se acalmar e me conte o que fez ontem.

Alexei suspirou, fechou os olhos e se sentou novamente no divã de veludo negro.

− Eu marquei um encontro com Roman, mesmo tendo tido um dia perfeito com o Ignácio – contou. Versa tinha olhos atentos – Não tinha certeza se o Ignácio era uma aposta frutífera pro meu futuro, sabe? Mesmo eu percebendo que ele é tão humano quanto possível... Ainda tinha medo de ele acabar se tornando um novo Dominic e me colocar num relacionamento fajuto e tóxico... Mas sabe? Não tive coragem de ser sincero. Ele me viu com o Roman, ficou magoado e me deixou – afirmou – Já o Roman... – Alexei riu em tom de nervosismo – Acho que com esse nunca tive uma chance... Nem quero por agora, aliás. O que ele me disse me fez muito mal. Foi como ter vivido tudo de ruim que o Dominic fez comigo novamente... Eu me senti podre. Acho que não pelo fato dele ter alguém, pois por uns dias achei que tinha sido o outro do Ignácio e não fiquei tão ruim assim, mas sim por ele ter admitido para mim que amava outra pessoa... Meu deus! Isso me pesou tanto! É como o Dominic fazia! Como o Nico fazia! Como todos fizeram comigo...

Versa, delicadamente, fazia anotações num caderninho de papel, com um olhar quase apático, mas com um leve grau de compadecimento.

− Você nunca me contou desse Nico – afirmou. Alexei engoliu seco, envergonhado. Poucas pessoas conheciam seu passado, dentre elas Ramona, Ignácio, Teresa e Dominic.

− Foi alguém que eu quero esquecer – o olhar de Alexei era tenso, amargurado e choroso – Alguém que me fez mais mal que dez Dominic poderiam sonhar em fazer – afirmou – Ele me usou, me fez sentir como se não fosse nada longe dele, brincou comigo e com a minha irmã... Quebrou meu coração, fez de tudo pra curar ele... Só para poder quebrar de novo.

Versa suspirou.

− Acho que Dominic não é a parte da sua vida que mais te machuca, no fim – supôs. Alexei sentia um aperto de tristeza no coração e um medo poluir sua mente e confundir seus pensamentos.

− Podemos não falar dele, por agora? – suplicou. Versa anuiu – Quero ser mais que minhas memórias ruins... E quando falo dele parece que eu não passo de um passado obscuro.

− Quando estiver pronto pra falar eu escutarei – ela respondeu confiante. Alexei engoliu seco e ajeitou a blusa meio larga – Me conte o que você fez ontem depois de tudo.

Alexei forçava a memória, inutilmente, encontrando só o breu das memórias borradas, como fora tantas vezes no passado.

− Eu não me lembro – contou – A última coisa que tenho na memória foi quando comecei a beber... E bebi muito. A noite toda provavelmente... Depois acordei aqui – Versa expressou-se admirada, com um olhar surpreso.

− E para um vampiro beber tanto que chegasse a perder a consciência... Acredito que precisou beber o suficiente para um humano ter um coma alcóolico – afirmou. Alexei anuiu, meio envergonhado – Aí está a resposta, Alexei, você fez o que qualquer pessoa magoada fez: se regrou de bebida até esquecer dos próprios problemas... Não é algo vampírico, não é algo que você deva temer, é o que todo mundo faz quando está na fossa...

− Mas... – Alexei lembrou-se da advertência de Versa que proibia o uso do “mas” – Porém... – corrigiu – eu acordei aqui, na porta da clínica...

− Talvez tenha tido alguma crise de consciência e achou que eu, como sua terapeuta, poderia lhe ajudar... – afirmou.

− E o sangue? – Versa engoliu seco e fechou os olhos. Tinha resposta para tudo, menos para isso.

− Vamos imaginar que sua noite foi muito, bem, “extrema” – supôs. Alexei anuiu e engoliu seco, assustado – Eu confio em você. Sei que não fez nada de errado.

Alexei sentiu-se adorado, com uma leve faísca de compaixão percorrendo de Versa para si. A terapeuta, gostando ou não, era muito mais do que a profissão limitava.

− E agora, sobre os pretendentes... Já havíamos conversado sobre sua necessidade de alguém para ser feliz. Não percebe o quanto isso te machucou? Você culpa sua parte vampiro, eu culpo você não enxergar que é suficiente para si mesmo— ela disse num tom extremamente direto, sério e frio – As outras pessoas só são parte da sua vida, não são o que dá movimento a ela – Alexei engoliu seco e se enxergou diante de um dilema laborioso. Sentia seu coração se perder em lamúrias e em arrependimentos, mas sabia que, no fundo, Versa Coumarine estava certa. Se tivesse sido suficiente para si mesmo, não teria tanta falta de confiança para com outras pessoas e (Muito provavelmente) teria se entregue mais fácil para Ignácio, sem ter medo de contratempos do destino.

− O que eu devo fazer? – ele questionou, no fim, cansado de tanto ter de revisitar as memórias ardilosas de ontem. Versa estalou os dedos e se ajeitou na cadeira, com um olhar pensativo e curioso.

− Dê o próximo passo e aguarde as coisas se resolverem – ela supôs, confiante – Quando perceber que chegou o momento, fale com Ignácio sobre como se sente, sobre seu medo, sua falta de confiança... Você me disse que achava que ele é perfeito e com uma conversa percebeu que ele não era... Converse com ele, oras, para que ele perceba suas falhas também.

Alexei anuiu, sentiu uma pontinha de esperança nascer no subconsciente, o coração deixar de pesar tanto e os sentimentos começarem a se organizar. Versa pareceu satisfeita.

Estava chegando à confeitaria no primeiro ônibus da manhã, após uma viagem carregada de pensamentos, questionamentos e lembranças não tão queridas. Teria ouvido música por todo o caminho, para poder acalmar a mente e afastar os pensamentos da realidade, não fosse o fato de não ter encontrado o celular dentre os pertences – supunha, no fim, que havia perdido na noitada anterior, ou deixado no apartamento antes de sair. Apostava mais na primeira opção, em razão de não confiar no seu eu entorpecido pelas bebidas ser inteligente o bastante para ter deixado o telefone para trás.

Encontrou os rapazes das seis horas abrindo a confeitaria. Joshua e Jerichó, dois irmãos gêmeos idênticos, cumprimentaram Alexei e se surpreenderam com sua presença tão cedo no local, já que tinha o costume de chegar pelas oito ou nove horas. Alex se foi pela confeitaria, pegou as chaves extra do apartamento – já que também havia perdido as chaves junto ao celular – e foi para casa.

Todo o prédio estava num silêncio quase desértico. Alexei bocejou, enquanto se esforçava para caminhar sem fazer muito barulho, foi-se até seu apartamento e sentiu um pavor chocante percorrer toda sua espinha e agitar seu coração quando percebeu que a porta estava aberta. Engoliu seco, sentiu o sangue arder sob a pele e afastou a porta com cuidado, entrando em um silêncio tão profundo que poderia ser cortado por uma faca.

− Ah! – Alexei exclamou, em desdém. Dominic segurava uma das caixas que havia deixado para trás e se preparava para sair quando foi interceptado.

− Bom dia pra você também – ele disse, num tom amargurado, deixando a caixa de lado, sobre o sofá, e encarando Alexei de braços cruzados – Vim buscar minhas coisas – Alexei murmurou, forçou sua melhor expressão apática e coçou as sobrancelhas.

− Percebi – ele disse, sem fazer nada, parado, encarando o ex com um olhar julgador. Dominic suspirou.

− Encontrei com a Ramona quando cheguei – ele disse, e isso sim era uma surpresa. Alexei arregalou os olhos, admirado – Ela deixou sua chave e seu celular que você esqueceu na festa ontem. Ela fez questão de me dizer com todas as letras que você estava numa festa... Como se me importasse... – afirmou. Alexei cruzou os braços e expressou desdém com um olhar de superioridade sobre o ex. – Antes, claro, quase me mordeu por estar aqui.

− Espero que literalmente— Alexei pensou, não duvidando a crer que Ramona fosse capaz disso. Dominic percorreu o olhar pelo apartamento uma última vez antes de sair e suspirou novamente.

− Então é isso?

− É. A saída é à esquerda.

Alexei, impaciente, escancarou a porta para que Dominic fosse, sem nada dizer, fazer ou murmurar, apenas permitiu que seu passado atravessasse a porta para que nunca mais voltasse. Domi, por outro lado, se limitou a encarar Alex com um olhar atravessado de pura raiva recolhida e amor reprimido, mas também nada disse, saindo pelo apartamento e caminhando para a rua.

Quando se viu sozinho finalmente Alexei pôde organizar suas ideias e se questionar o óbvio: como assim ele esteve em uma festa com Ramona na noite anterior? Provavelmente, num surto de personalidade provocado pela bebedeira e a sede vampírica, Alexei acreditava ter perdido a consciência de seus atos e saído para a casa da única pessoa que lhe entenderia... E de lá, bem, as escolhas de Ramona fizeram seu trabalho e o levaram para alguma festa, onde bebeu e se entorpeceu de sabe-se lá de que, só recobrando a consciência no dia seguinte. Agora restava descobrir de quem era o sangue que manchava seu rosto naquela fatídica manhã.

Ramona estava fazendo rodeios e Alexei detestava isso. A ligação que estabeleceu com a irmã, minutos após a partida de Dominic, já durava tempo o bastante para que toda a cidade, outrora silenciosa e dormente pela madrugada-manhã, despertasse e dessem a todos o ar de sua barulheira. Nesse meio tempo Alex não havia tido coragem o suficiente para questionar se havia bebido sangue direto de humanos, se limitando a tentar compreender o porquê de a irmã estar tão chorosa desde que atendeu a ligação.

− Eu... Eu não acredito que isso aconteceu... – Ramona repetia exaustivamente, com um tom extremamente amargurado e preocupado.

− Ramona, calma, me explica... O que houve? – Alexei suspirou preocupado. Ramona fungou, entristecida, e pareceu enxugar as lágrimas do rosto.

− O Nimbus... Eu não acredito que ele foi capaz de fazer isso, não, não pode... – afirmou com certa dúvida na voz – Você estava lá... E o Edric também... O que aconteceu?

− Eu não me lembro, Ramona – Alexei afirmou – É como um daqueles apagões...

− Meu deus, cara, isso era tão importante... – suspirou – Por que tinha que acontecer?

− Ramona, se acalma e me explica......

...

...

Ligação perdida.

Alexei engoliu seco, desesperado, alisando o próprio rosto e sentindo uma ansiedade, fruto da preocupação e do medo, consumirem sua existência e fazer seus pelos se arrepiarem e o estômago doer. Tentou acalmar os pensamentos, deixar tudo mais limpo e se concentrar no óbvio.

− Ela disse Edric? – ele se questionou, tentando se lembrar de onde havia ouvido aquele nome outrora.

“Aquele dia, quando ele voltou para o estúdio, ele não estava sozinho. Ele voltou com um rapaz... E não era o Edric”— a voz de Vivi em suas lembranças era inconfundível. Alexei se questionou quais as chances do Edric citado por Ramona ser o mesmo rapaz vampiro com quem Dominic havia tido um caso (Muito curtas, provavelmente), mas, como não era um nome tão comum entre os vampiros, decidiu ligar para a moça e fazer a prova.

Vivi demorou um pouco para atender, Alex acreditou que ela ainda dormia naquele horário.

− Vivi, você tem o número do Edric?— Alexei pediu de imediato. Vivi murmurou e bocejou.

Alexei? – ela questionou num tom sonolento — São sete horas da manhã! – afirmou irritada. (− Quem é amor? – ouviu uma voz feminina aos fundos) – Ninguém— Vivi suspirou.

− Por favor... É urgente... – suplicou. Vivi suspirou novamente e anuiu.

Já com o número devidamente salvo no celular, Alexei, prontamente, ligou para o rapaz vampiro e esperou alguns instantes. Tamanha sua surpresa quando ele atendeu a ligação já falando seu nome.

Alexei! – ele disse num tom surpreso, já ciente do número de Alex — Já acordou? Ou nem dormiu? — questionou num tom cômico – Depois da noitada de ontem... Duvido!— e riu.

Era ele mesmo, no fim das contas, Alexei pensou, se questionando o que havia feito com o rapaz que era estopim do término com Dominic para que ele lhe falasse com tanta animação e amizade.

− Eu... – Alexei pigarreou – Eu não consigo me lembrar muito bem do que houve ontem... – afirmou.

− Não brinca! Amado... Foi só a cirrose e o coma alcóolico! – afirmou, em tom cômico, enquanto parecia abrir a geladeira. — O bom é que só tinha nós três de vampiros lá, então ninguém da sociedade vai saber que a gente deu perda total... — ele disse, referindo-se a Sociedade Vampírica Unida, SVU, um grupo de vampiros que compartilham experiências na vida em sociedade com humanos. O comentário fez Alexei ficar mais aflito que aliviado, lembrando-se do sangue que amanheceu na sua boca. Seria de algum dos humanos da festa?

− “Nós três”? – questionou.

− Sim: eu, você e a Ramona— afirmou – Ela quem me apresentou oficialmente a você, não lembra doido?

− Não – disse de maneira direta e com certo arrependimento nos pensamentos – E é justamente por isso que resolvi ligar... Aconteceu algo com a Ramona ontem? Ela me ligou chorando... Disse que não acreditou que “havia acontecido aquilo” – Edric fez uma longa pausa, seguida de um suspiro dramático e o som dele se jogando com tudo no sofá, inesperadamente atônito.

Droga— foi tudo que ele conseguiu dizer – A gente disse para ela, Alexei... O pessoal da festa era muito, sabe, “estranho”, no fim... Tinha um pessoal legal, mas também tinha uma galera que mexia com umas coisas “pesadas”... E tinha um cara que ficou atrás dela na festa toda... A gente chamou ela para ir embora, mas ela xingou a gente e depois sumiu... Acho que ela foi atrás de alguma coisa mais forte— Alexei conhecia o suficiente dos vícios da irmã e de sua mania estranha de nunca sair de uma festa, a não ser que seja ela que tenha decidido sair, para saber que aquela história era verídica. — E você começou a passar mal... Então te levei embora.

Aquilo era novidade.

− Eu passei mal? – questionou. Edric riu baixinho.

− E como!— afirmou — Acho que era sede. Você ficou meio fora de si no hospital, bebeu todo o sangue que te deram, se sujou todo e sumiu também— contou. Alexei sentiu todo alívio do mundo com aquelas abençoadas palavras, em que descobriu que havia bebido sangue de uma bolsa sanguínea no hospital, não do pescoço de algum desavisado – Nisso você e sua irmã tem uma semelhança, devo admitir...

− Ainda sobre a Ramona, Edric, o que você acha que houve? – Alexei questionou sem maiores rodeios. Houve um silêncio constrangedor na linha telefônica – Seja sincero.

− Eu não sei... A gente tava bebendo absinto... E você sabe como essa merda faz mal pra gente! — afirmou desapontado. Alexei engoliu seco. Absinto era a bebida humana mais estimulante para os vampiros. Por isso ficou tão fora de si, misturando absinto e todas as bebidas do armário, junto da sede vampírica — Eu voltei lá depois que você sumiu, mas ela não estava mais lá... Então vim pra casa.

− Ela veio aqui quando eu não estava... Veio devolver meu celular. Agora não sei onde ela tá... – afirmou Alexei preocupado, coçando o rosto freneticamente. Houve outra pausa de Edric.

− Será que ela voltou pra casa dela?— era uma possibilidade, a mais óbvia. Alexei anuiu e se questionou como não havia pensado nisso antes – Vou pra lá. Você vem também? — questionou.

− Sim... – respondeu, meio surpreso com a preocupação de Edric. – Quem é Nimbus? – questionou por fim.

Edric se calou por longos instante.

− Edric? – Alexei chamou.

− Alguém com quem devemos ter cuidado— afirmou assustado – Muito cuidado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tô Nem Aí" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.