Até que eu vá embora escrita por Pollyanna Felberk


Capítulo 2
Capítulo um




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"Meus dias estão acabando. Queria ver você mais algumas vezes antes de ir embora."

Foi com essa mensagem que acordei naquela manhã. Já tinha umas três semanas que eu e Giovanni conversávamos incessantemente. Eu havia sido muito precipitada em meu julgamento quando nos conhecemos, naquela noite na praia tive a conversa mais prazeirosa de toda a minha vida. Antes de sair da cama, fechei os olhos e pensei naquela sensação de ser tão compreendida.

 

—Quer saber, aceito um gole da sua cerveja. - disse depois de alguns minutos.

Ele puxou a lata para longe de mim.

—Tem certeza? Eu posso ter colocado alguma coisa aqui dentro e eu não me perdoaria se você acabasse sendo vítima de um boa noite Cinderela. - Havia um brilho zombeteiro em seus olhos.

—Então seríamos dois. - Dei de ombros e peguei a cerveja, dando um gole em seguida. Não consegui evitar a careta ao sentir o gosto amargo na língua.

—Você já bebeu isso antes? - perguntou rindo como uma criança.

—Não. - Ri junto com ele, internamente jurando distância daquele líquido horrível.

—Acho que sou uma má influência para você. - disse escondendo o sorrido ao dar mais um gole na cerveja que já estava quase no fim.

—Claramente não me conhece. - meu tom de voz era de quem guarda um segredo profundo, mas na verdade eu sempre fui um livro aberto.

Ele me olhou, levemente curioso e com os lábios úmidos. Desviei o olhar rapidamente, olhei o mar torcendo para que ele mudasse de assunto e, talvez percebendo meu desconforto, foi o que fez.

—Então... o que faz da vida?

Olhei para ele sem acreditar que ele tinha mesmo feito essa pergunta. Estávamos aonde, no tinder? Mas ele não olhava para mim e parecia sério no seu questionamento. Não faria mal nenhum responder né?

—Digamos que eu torro o dinheiro dos meus pais e sou uma especialista em levar foras. - Era mesmo uma ótima forma de fazer alguém perder o interesse.

—Como é ser uma especialista em levar foras? - Ele pareceu achar engraçado. Ótimo, virei a piada da noite.

—Sinceramente? Meio solitário. - Suspirei com todo o meu drama.

Pude perceber instantaneamente que a expressão dele mudou de divertido para preocupado. Parabéns, Anna, estragou o clima.

—Você quer... dar uma volta? - Ele estava meio receoso de fazer a proposta.

—Mas e eles? - Perguntei indicando nossos amigos mais à frente na areia.

—Olha, sei que você acabou de me conhecer também, mas posso te garantir que nada de mal vai acontecer com elas do lado deles. - Ele me olhou com os olhos brilhando de expectativa. -E minha cerveja acabou, tem um bar logo ali na frente.

Sorri e me rendi.

—Tudo bem, vamos! - Levantei-me e indiquei o caminho para que ele me guiasse.

Após alguns passos ele encontrou uma lixeira e jogou a lata fora, que fez um barulho baixo caindo lá dentro. É só então percebi o quanto eu estava constrangida. O que dizer agora? Com o canto do olho observei ele colocar as mãos nos bolsos.

—Eu não sei se isso vai mudar alguma coisa e me perdoe se achar que eu esteja sendo muito atrevido, mas eu gostaria de dizer que você não me parece ser uma garota que leva foras. Você é muito bonita, com todo respeito, é claro. - Ele me olhou preocupado que eu fosse achar ruim, apenas sorri sem graça. -E você é legal, olha só o que está fazendo pelas suas amigas! Saindo com um cara que você nem está afim só para tomar conta delas. Isso é muito especial.

Senti meu rosto corar e esquentar, aquelas palavras me deixaram verdadeiramente sem graça, eu nunca soube lidar com elogios, apenas sorri e agradeci. Logo chegamos ao bar e ele deu a ideia de sentarmos alguns instantes em uma mesa.

—Por favor, uma cerveja para mim e uma caipirinha para a senhorita. - disse quando o garçom se aproximou.

—Oi? Desculpa, mas eu não bebo. - falei rapidamente, quase que desesperada para que ele não gastasse seu dinheiro à toa, porque com certeza não seria eu a pagar aquilo.

—Eu sei. - Ele sorriu. -Só achei que você gostaria de experimentar algo um pouco mais agradável que cerveja, sabe, para me acompanhar.

—Tá tentando me embebedar? - perguntei brincando.

—Talvez sim. Você tá precisando se divertir.

 

Mais uma vez o despertador me lembrou que eu precisava levantar. Rapidamente digitei uma resposta para ele:

"Como vou acreditar em você se nunca me disse por que esses dias estão contados?"

Antes mesmo que eu pudesse terminar de me arrumar o celular já vibrou com a resposta.

"Se eu contar você não vai mais querer me ver."

Simples assim, seco assim, sem emojis, sem brincadeiras. Isso só aumentava cada vez mais minha curiosidade. Eu sabia, ou pelo menos achava que sabia, que isso tinha algo a ver com o trabalho dele, mas existiam tantas possibilidades.

Tirei isso da cabeça e saí para encarar mais um dia. Todos os dias da semana eram tão iguais, mas depois dele as coisas começaram a mudar. Eu passava cada segundo do dia esperando o momento de falar com ele. E, apesar de não termos muito em comum, nossas conversas não acabavam nunca.

Era engraçado como eu tinha ficado tão desconfiada e pé atrás quando nos conhecemos e por fim fiz uma grande amizade. Ele me ouvia sempre e eu nunca tinha me aberto tanto com alguém antes, nem com minhas amigas de anos. E por falar nelas, nenhuma sabia sobre essa amizade, nem elas. Era algo só nosso e eu gostava disso.

—Ei, só que você está rindo aí? - Sussurrou Carol no meio da aula de Morfologia.

—Nada não, é só um meme, depois te mando. - Sussurrei de volta.

Não era meme, era ele.

"Quando você vai parar de se fazer de difícil e me dar um beijo?"

Depois de um tempo, quando percebeu que havia quebrado o gelo, ele começou a fazer esse tipo de investida. Eu achava fofo e toda essa atenção me fazia bem, mas eu não lhe dava esperanças. Apesar de achá-lo muito legal e me divertir muito com ele, não me sentia preparada para um relacionamento e nunca gostei de simplesmente ficar com alguém, sem compromisso, apenas pelo prazer do beijo, o que eu nunca entendi, nunca nem gostei muito de beijo de língua.

Mas, querendo ou não, aquelas mensagens mexiam comigo como mulher, aumentavam muito minha auto estima e fazia com que, pela primeira vez na vida, eu me sentisse desejada. Respondi a mensagem com muito mais cuidado agora que eu sabia que Carol estava mais atenta.

"Só nos seus sonhos."


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