Em Cima do Muro escrita por unalternagi


Capítulo 2
Estou em cima do muro por isso novamente


Notas iniciais do capítulo

Pode confundir mais do que explicar, desculpa.

Mas espero que gostem



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  Estou em cima do muro por isso novamente

Quando a história toda se desenrolou, quando os pesadelos de Emmett começaram a acontecer, ele estava vivendo temporariamente com seu pai e o chefe de polícia de Forks foi categórico ao dizer para Emmett:

Sei que quer ajudar e sim, sempre o deve fazer com seu lado mais humano, mas caso algum merece a sua saúde mental, então se cuida— aconselhou o senhor com o bigode mais bem cuidado que Emmett conhecia.

Ao contrário do que poderiam pensar, a imaturidade e pouca idade não foram o que impediram Emmett de seguir os conselhos de seu pai – ao contrário daquilo, o chefe Swan e seu único filho sempre se deram muito bem – mas não era algo que Emmett conseguira controlar. Por meses, aquilo era tudo o que ele pensava.

Era tão perto da casa dele. Bem, não realmente, mas era perto o bastante para apenas um pensamento nunca sair da cabeça dele: ele conhecia a pessoa responsável por aquela atrocidade.

Marie estava inquieta na frente do agente enquanto fantasmas do passado o reviviam memórias de onze anos atrás.

—Eu não tenho notícias desde quando vocês disseram que o melhor era nos separarmos e... - Marie deu continuidade, não gostando do silêncio que se instalou no ambiente.

—A família que te adotou era uma boa família, Marie, eles queriam te ajudar, ficar com você. O que aconteceu? – Emmett perguntou se lembrando do aviso de que ela havia fugido – Sabe o quanto isso me preocupou? Por anos imaginei que algo poderia ter acontecido.

—Isso significa que você nunca o encontrou? – a mulher perguntou, inabalável com a preocupação do agente.

Ela parecia ter mantido a atitude por todos os anos. Era objetiva e racional, Emmett sabia daquilo.

—Estive pensando sobre isso por um tempo imensurável e, por sete anos, não houve um dia em que eu não tenha procurado alguma pista, qualquer pista.

—Sim ou não? - a voz cortante pediu.

Emmett negou com a cabeça, sem conseguir falar as palavras. O rosto dela parecia inabalável, como se fosse aquilo que ela esperasse escutar.

—Por isso que, preste atenção em mim, precisamos acha-la. Tem o endereço dos pais dela, ou então-

O agente se levantou do sofá com a cabeça girando. Marie não parava de falar e, para ele, as palavras começaram a se embaralhar e a fome que sentia pela falta de janta não ajudou em nada.

—Eu preciso comer e tomar um café – ele falou sério – Quer ir comigo? – perguntou educadamente pegando a chave do carro na mesa em que ele tinha jogado um momento mais cedo.

Marie não disse nada, mas foi pegar sua mala perto da porta. Emmett a encorajou a deixar lá, primeiro conversariam e depois decidiriam o que fazer.

A cafeteria era aconchegante e quente. Apesar da primavera não estar longe de chegar, o inverno ainda castigava as ruas da Virgínia.

—Por que acha que Rosalie corre perigo? Ele foi atrás de você? – Emmett perguntou quando a garçonete se foi com o bloco onde tinha anotado os pedidos deles.

—Não teria nem como – Marie murmurou e, apesar da curiosidade, Emmett conteve as perguntas que se formaram na mente dele – Bem, mas, não sei, eu acho que ele voltou. Pelo menos, é uma certeza quase completa – ela murmurou, pensativa – Preciso de uma ajuda, não sei se poderá o fazer, mas preciso que faça.

—Marie, chega de mistérios, a minha mente já não funciona nesse horário – ele contou reparando já ser quase meia-noite – Vamos ser francos e manter o diálogo simples. Sei que deve ser assustador e às vezes ocorrem alguns gatilhos que nos fazem voltar àquele momento – ele suspirou, e como sabia.

Marie estava impaciente e bufou, negando com a cabeça impedindo que Emmett continuasse seu monólogo.

—Não – ela falou rapidamente – Não é algo mental, estou dando voltas no assunto porque acho que não gostará do que eu tenho para te contar – ela disse inquieta.

A garçonete chegou, em um timing perfeito. Colocou o lanche de queijo em frente à bela mulher loira que foi polida ao agradecer, um prato de panquecas e uma xícara de café foram postos delicadamente em frente ao agente sempre gentil que, eventualmente, comia ali.

Era uma cafeteria de esquina, pouco movimentada, mas com ótimas panquecas. Emmett ia lá sempre e constantemente chamava a atenção das atendentes, era a primeira vez que elas o viam acompanhado e, decerto, pensaram que ele nunca dar trela para nenhuma delas era bem explicado se vissem a mulher com roupas simples, mas bem adequadas a seu corpo. Eles faziam um belo casal.

—Eu não gostarei... – Emmett encorajou Marie a continuar quando a garçonete se foi, despejando o meu em suas panquecas.

—Entenda, eu era nova e fui conversar com Rosalie antes de dar o depoimento na polícia. A senhora Hale disse, ela achou melhor, você sabe que o caso foi bem abafado, ninguém queria um escândalo e-

—Marie, pare de enrolar, se Rosalie corre risco de vida, a cada minuto que perde dando essas voltas, você apenas me irrita mais – o agente falou sério.

Marie fez a mesma cara de quando ele a repreendeu pela primeira vez. A cada segundo aquela noite o remetia mais à tantos anos atrás e, o sonho que transformava as noites dele insones, continuava se esgueirando em sua mente, mesmo por trás da luta mental que ele travava contra.

—Segurei algumas informações quando conversamos da primeira vez – ela disse séria.

Emmett estava tomando um gole de seu café, qualquer coisa que obrigasse sua mente a pensar com mais clareza, mas a informação que Marie deu sem cautela fez com que ele puxasse uma forte respiração ao mesmo tempo em que engolia o líquido quente, o resultado foi uma cena ridícula na qual café foi expelido por uma das narinas dele e ele se engasgou chamando atenção de alguns clientes e atendentes do local.

—Seja mais discreto – Marie ralhou o entregando um guardanapo e o copo de água dela.

Ao se recompor, o agente a encarou, raivoso em pensar nos anos que usou para aquela investigação, Marie reparou nos punhos cerrados e o olhar grave que ele lançou a ela.

—Sabe quanto tempo eu dediquei em achar possíveis provas e coisas que levassem à resolução desse caso? Como ousa?

—Podemos ficar discutindo a atitude de uma adolescente tola, ou então você pode se acalmar e escutar o que tenho a te falar. O motivo que me trouxe de volta, depois de todos esses anos – Marie disse com a pose de autossuficiência que o agente não reconheceu.

Os anos a fizeram bem. Havia a adolescente naquela mulher, mas a confiança que ela desenvolveu era brutalmente diferente a como ela era quando eles se conheceram, então aquilo deu certo orgulho a Emmett.

—Fala – ele mandou, impassível.

—Havia mais uma pessoa. Alguém que passou por tudo comigo, mais até do que Rosalie...

Emmett franziu o cenho, reparou que o assunto era delicado então se manteve quieto. Ganharia mais um nome, era uma grande coisa. Inconscientemente o corpo dele foi mais para frente, encarava Marie tentando passar confiança.

Ela não olhou para ele.

—A chamávamos de Mary. Ela tem três anos a menos que eu.

—Onde ela estava quando todo o desenrolar aconteceu?

—Aí que está. Ele sumiu com ela quando ela tinha apenas oito anos, apenas recebíamos fotos dela em nossos aniversários como presente então sabemos que ela não foi morta e eu imagino como pode ser o rosto dela hoje em dia.

Emmett a encarou, a expectativa pulsando o sangue dele pelas veias de forma alucinante.

—Você me ajudará? Se eu te contar a razão que me trouxe, promete que vai atrás de tudo e que me deixará participar? Tem que ser extraoficial, sabe que os Hale impedirão qualquer vazamento desse caso – ela falou lembrando-se de ganhar garantias antes de dar o ouro a ele, ela tinha que se proteger, precisava dele.

Não confiava em quase ninguém, a confiança que tinha no policial Swan ia só até certo ponto. Só um homem possuía a confiança sem fronteiras de Marie e, mesmo que ele não soubesse de quase nada sobre ela, ela não o trairia daquela maneira. Se um dia alguém soubesse dessa história pela boca dela, a história sem cortes era apenas de Edward.

Emmett não se importou em prestar atenção no embate que Marie se colocou. Ele pensava em tudo aquilo.

Por um lado, era o caso da vida dele. Era o que o livraria dos pesadelos, é o que faria o garoto bobo e bem humorado que foi morar com o pai aos dezesseis anos e abrilhantou uma pacata cidade coberta de musgo e constante chuva, voltar. Por outro lado, ele sabia que teria que tirar licença do trabalho e, mais que aquilo, teria que abdicar da coisa mais importante de sua vida: Claire.

—Eu tenho que pensar – ele falou sério.

—Pensar? – Marie falou claramente sem esperar aquela resposta.

Emmett tomou mais de seu café e voltou a cortar as panquecas. Não que sentisse qualquer fome agora, mas não queria encarar a decepção na cara de Marie, a pose de autossuficiência caiu e ela pareceu, claramente, desestruturada com o “talvez” que ganhou.

—Eu só quero ter certeza que não tentará me manter de fora – ela tentou se explicar achando que aquele era o problema.

—Marie, não é a questão – o agente falou sincero – Eu estou muito envolvido com o caso, não é bom.

Charlie o disse isso há onze anos, avisou que era demais. Que ele deveria abandonar o caso e deixar outros policiais cuidarem de tudo, que o envolvimento já tinha passado do profissional, mas nada realmente importou.

—Há pouco tempo me repreendeu por estar divagando, agora faz o mesmo. Por que é que não quer me ajudar, policial Swan? – a mulher perguntou perdendo a paciência.

A cada segundo um inocente continuava preso, outra estava sumida, e Rosalie entrava na mira de um psicopata.

—Eu quero.

—Então ajuda – ela suplicou – Farei com ou sem você, mas não tenho certeza que eu sei de tudo o que tenho para saber.

Duas covinhas profundas apareceram nas bochechas de Emmett. Ele não sorria, mas a dor de cabeça começou a incomodar demais.

—Preciso dormir e pensar nisso – ele falou.

Marie negou com a cabeça.

—Preciso do sim ou não agora. Eu vou sair atrás dela ainda hoje, ela pode estar em perigo.

—Ela não está – Emmett garantiu.

A vontade dele era ter mantido tanto Rosalie quanto Marie sob seu olhar protetor, mesmo que de longe, mesmo que elas nunca tivessem o conhecimento. Rosalie não fazia nem ideia que Emmett sabia onde ela estava e que estava bem, mas Marie se apagou do sistema de tal forma.

—Como tem certeza?

—Ela não fez alguma loucura que a fez sumir do sistema – Emmett falou acusador e Marie bufou.

—O que prova que ela é uma pessoa de fácil acesso. Isso te acalma? – Marie apontou e ele bufou.

—Está certa – Emmett murmurou e ela bufou.

—É sim ou não.

Claire. O fim de tudo. Possíveis meses sem aparecer. Uma vida toda de tranquilidade.

A balança pendia para Claire, mas ele não poderia negar a atenção completa a Claire, se ele não entrasse naquilo ficaria obcecado por anos. Perderia meses de trabalho, mas a resolução daquele caso, talvez, daria a ele a paz de espírito que necessitava e poderia melhorar o desenvolvimento profissional dele, porque, não importava o que ele fazia, quantos casos resolvia, aquele se mantinha batendo contra a ele.

A decisão foi tomada com o coração do agente quebrando.

Me perdoa, meu amor.

—Conta o que quer contar – ele falou, deixando implícita a promessa feita – O que você está fazendo aqui?.

Marie sentiu confiança no olhar do agente, então empurrou o prato com o lanche intocado para longe.

—Escutou sobre a noiva desaparecida de um surfista famoso da Oceania? O caso aconteceu em território americano, mais precisamente no Havaí – Marie disse e ele assentiu devagar, o caso estava em outro setor, mas ele conhecia, tinha lido o bastante no jornal e escutado algo pelos corredores – O surfista é tão inocente quanto você nessa história toda – Marie disse.

Emmett bufou alto e assumiu que havia perdido a fome também, largando os talheres em cima do prato com as panquecas quase intocadas.

Olhou para Marie, impaciente. Sentia-se mal por estar traindo Claire, ela esperaria por ele e ele não ia.

—Chega de mistérios – ele demandou.

—Entenda o que digo policial Swan, Mary é a noiva do surfista.

Emmett franziu o cenho, seria irreal demais.

—Não faz sentido algum – ele falou pensativo – Ela não é a única herdeira de milhões de dólares através das fazendas dos pais dela na Oceania?

—É ela – Marie se contentou a dizer.

—E o que Rosalie tem a ver com isso?

—Se eu sumi e Rosalie sumiu. Imagina o quão útil foi a ele quando Mary começou a aparecer na mídia, mas longe como era, que lindo trabalho do destino que, de todos os Estados americanos, ela fosse para um tão próximo a Washington – Marie começou a apontar e a história foi se formando na mente de Emmett – Ela sumiu no Havaí e o primeiro depoimento de Jasper disse só que estavam bem, até ela sumir em uma manhã e ele não se lembrava de nada, mas as câmeras mostram discussões.

—Para mim você está colocando a culpa no tal surfista.

—Se você o conhecesse, entenderia que é impossível. Ele não poderia – Marie falou, mas Emmett era um agente treinado.

—Marie, as pessoas podem mentir e você sequer o conhece, nem ao menos tem certeza que seja mesmo Mary a mulher que desapareceu.

—Quero que vá amanhã comigo a um lugar. Decidimos juntos como agir. Se me disser que não há conexão, eu volto para o buraco de onde saí – a mulher disse.

Não era verdade, ela iria continuar, mas faria sozinha e não queria o agente bisbilhotando a vida dela. Emmett olhou o lanche de queijo e pegou uma metade, comendo para não ter que falar, empurrou o prato de volta a Marie que se forçou a comer a outra metade.

Ele ainda estava em cima do muro, mas aprendera na dificuldade que aquele era um caso que não apresentava um meio termo. Você estava completamente dentro ou totalmente fora.

Mas ele não conseguiu sair quando tentou na primeira vez.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acham de tudo isso que aprendemos?

Qual é a ligação entre Rosalie-"Bella"-"Alice"? E quem é "ele"?

Estou indo atualizar "Filho, Meu Filho".

Um beijão!