Em Cima do Muro escrita por unalternagi


Capítulo 1
Parte de mim continua voltando


Notas iniciais do capítulo

Mais uma parte do quebra-cabeças que começará a tomar forma.

Espero que gostem



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  Parte de mim continua voltando

Dentro de uma casa escura e pequena. O cheiro de fechada era forte ali, como se as janelas nunca fossem abertas. No canto de um quarto uma mulher estava, ligeiramente ensanguentada e, quando ele se abaixou para pegá-la – precisava a tirar de lá o quanto antes, não estava com reforços o bastante para correr o risco da pessoa que a mantinha lá voltasse, era em tudo o que ele pensava –, o grito o tirou de seu centro. Era puro pânico misturado com um susto descomunal e ele não entendia da onde vinha tudo aquilo.

Novamente acordou suado, bufou desacreditado com o fato de ainda sonhar com aquilo, mesmo depois de todo aquele tempo.

Foi direto para o chuveiro e tomou um banho gelado tentando tirar o mau odor do corpo, agradeceu que sexta-feira já estivesse ali, mal podia esperar para reencontrá-la. Ansioso com o encontro que teria no fim de semana, preparou seu café da manhã.

Vestiu o terno preto, checou para ter certeza de que teria tudo o que precisaria para passar o final de semana ideal com sua garota e então foi trabalhar.

Quando completou dezesseis anos, abdicou de seus amigos e mãe – quando ela começou a namorar um jogador de baseball da segunda divisão, e foi morar com seu pai numa pequena cidade em Washington chamada Forks.

Não imaginaria o que tudo aquilo traria a ele, mas era grato por tudo, porque era graças àquela decisão feita há quase vinte anos que ele tinha a oportunidade de chegar no George Bush Center for Intelligence para seu cargo como agente especial da CIA. Charlie Swan morria de orgulho do único filho e, para Emmett, aquele era um dos maiores contentamentos que ele mesmo carregaria na vida.

Mal conseguia acreditar que já fazia cinco anos que ele trabalhava ali. Foi direto para sua mesa conjugada na grande sala e o seu dia foi o mais comum possível, nenhuma investigação em campo então trabalhou em burocracias o dia inteiro, odiava aquilo, mas passou pelo dia com o pensamento único de que logo a veria.

—Vai vê-la de novo essa semana? – Alistair perguntou e Emmett assentiu de pronto, animado com a ideia.

—É natural que sintamos tanta saudade assim? – Emm riu e o amigo dando de ombros.

—Não saberia dizer, não nasci para nenhum relacionamento sério – o loiro falou colocando uma pasta de documentos na mesa do agente que bufou alto.

Terminou mais aquela revisão e, ao bater cinco da tarde, se levantou sem se importar em se despedir de ninguém. Logo estava dentro do Jipe, dirigindo com felicidade para o seu único paraíso.

Às nove da noite ele estacionou na frente de uma casa que seguia todos os padrões do condomínio, não esperaria nada diferente de sua ex-esposa, ela era uma seguidora fiel de leis e sempre foi certinha em tudo o que fazia.

Conheceram-se no colegial e ficaram dez anos casados, tinham uma longa história e Emmett a conhecia. Tocou a campainha, ansioso em revê-la depois do que parecia tanto tempo.

—Emm, que bom que chegou – a mulher falou simpática.

Angela tinha alguns poucos traços orientais, o cabelo liso e escuro contrastava com a pele clara e, especificamente naquela noite, a maquiagem parecia impecável.

—Está linda – ele elogiou e ela sorriu tímida.

—Obrigada – murmurou.

—Nunca vou superar que não se acostumou com meus elogios – ele riu e ela bateu em seu braço como forma de repreensão.

—Não seja um bobo, vamos, entre logo que está frio – ela ordenou e ele riu, entrando na casa dela.

Dentro era aconchegante e quente, não era a primeira vez que ele ia lá, mas parecia sempre ter algo novo e ele se lembrava de quando ela fazia a mesma coisa na casa que eles dividiram por tanto tempo.

—E então? – ele perguntou ansioso.

—Estava terminando de me arrumar, Ben disse que ela ainda estava separando os brinquedos que queria te mostrar, nos empenhamos em mantê-la acordada para que você tivesse seu tempinho, ela dormiu bastante a tarde, mas não lhe dê doces e nem a deixe ficar acordada, Emm, falo sério – ela disse com a face grave e o agente sorriu, as covinhas que Angela sempre amou apareceram o dando seu habitual ar juvenil.

—Oras, não se preocupe com isso, sou pai dela e sei bem o que faço – ele falou orgulhoso e Angela riu, sabendo que Claire o dobrava como ninguém.

Logo uma garotinha muito animada apareceu no corredor e Emmett se abaixou a tempo dela pular no colo dele. Levantou-se a abraçando forte e a girou no hall de entrada da casa dos Cheney.

—Papai, veio me colocar para nanar – a garota de seis anos comemorou.

—Nunca perco a soneca de sexta-feira, sabe disso – ele sorriu e ela o abraçou ainda mais forte.

Claire era a única filha do ex-casal, desde os cabelos até as covinhas, a garota era uma pequena miniatura de Emmett com dois ou três traços de Angela.

Angela e Emmett se conheceram no colegial de Forks, logo que ele chegou à cidade, mas demorou dois anos para que assumissem um relacionamento, bem a tempo de terem que se separar por conta das carreiras. Emmett escolheu ficar no condado de Clallam e seguir os passos do pai como policial, Angela escolheu fazer arquitetura e cursou em Seattle.

Entre idas e vindas, os dois se casaram numa cerimônia intimista no jardim da casa dos pais de Angela quando a mesma se formou. Mudaram-se para Filadélfia quando Angela recebeu uma proposta de emprego, a transferência de Emmett foi feita sem muitos empecilhos e, logo, ele aplicava para entrar no programa da CIA.

Quando Angela descobriu a gravidez, Emmett recebeu a proposta e, depois de um ano de treinamentos e uma vida cansativa com os cuidados com Angela e o treinamento para entrar de fato e começar a trabalhar com o que queria, o casamento foi desgastado. No aniversário de um ano de Claire, juntos, Angela e Emmett escolheram se separar amigavelmente para que pudessem criar a criança em paz. Angela voltou para a Filadélfia e Emmett ficou na Virgínia. Eles se davam bem. Angela passava a semana com a garota e, Emmett os finais de semana, ele tinha um apartamento alugado no centro da cidade e era onde ele e Claire ficavam desde que Angela foi morar com Ben – seu namorado há dois anos.

Ben fez colegial com eles e Emmett sempre desconfiou que tinha uma queda por Angela, achou bom que ela tinha uma pessoa boa ao seu lado, Emmett a amava e queria o bem dela e, era uma tranquilidade saber que Claire era cuidada por um antigo amigo também.

Claire e Emmett foram para casa juntos, Emmett com uma mala cheia de brinquedos e uma mochila com roupas – ela tinha roupas no apartamento também, então Angela só mandava o necessário para suprir o que ela trazia de roupas sujas no final do fim de semana.

—O que vamos fazer? – Emmett perguntou animado.

—Papai, papai! – a garota dizia elétrica no banco de trás do carro – Será que poderíamos assistir baseball? Por favor, mamãe diz que não deveria ficar só vendo isso, mas...

—Claro que podemos – Emmett falou rindo.

Claire adorava o esporte, porque era o esporte que Emmett amava e, desde bebê, ele a ensinava a brincar daquilo. O fato era que, até mesmo tentando entrar no time da escola, Claire estava. E ele amava aquela constante animação.

No apartamento, a noite foi mais longa do que Angela gostaria, mas o relógio brilhou meia noite e meia quando Claire e Emmett apagaram no sofá. A menina deitava confortavelmente no peito do pai e ele a abraçava como queria fazer todas as noites em que estavam separados.

Às três horas da manhã, Emmett acordou suado novamente e xingou mentalmente pensando que tinha certeza que já tinha deixado de sonhar com aquilo, mas percebeu que não era o caso, mesmo assim, resolveu não pensar demais.

Tirou Claire do sofá a colocando na espaçosa cama de casal que eles dividiam e foi tomar um banho tirando a camiseta e calça social, vestiu roupas confortáveis e voltou a se deitar com Claire, sentindo o cheio de neném que ela ainda tinha, dormiu pesado tendo um resto de noite sem sonhos.

Os finais de semana sempre eram animados para Emmett. Desde treinar ballet até jogar baseball, Claire nunca deixava Emmett ficar mais do que dez minutos sentado e ele amava cada segundo. Mas domingo sempre chegava, não importava o quanto ele pedia para não vir tão rápido, sem importar o quanto Claire pedisse por só mais dez minutos, domingo chegava sem piedade e, com ele, à noite e a despedida que, por mais que fosse recorrente, nunca era bem-vinda.

—Seja boa com a sua mãe e o tio Ben, obedeça, coma vegetais e faça sua lição de casa, está bem? Papai fará o melhor para estar aqui na próxima semana, bem a tempo da hora de nanar – ele falou amorosamente, beijando o narizinho da filha.

A garota já estava com os olhos cheios de lágrimas, mas assentiu.

—Eu te amo, papai – ela sussurrou com a voz sofrida.

Aquilo matava Emmett, toda a maldita despedida o fazia odiar a separação.

—Eu amo você, inseto – ele sorriu – Mais do que minha própria vida – ele prometeu tocando o colar que tinha dado a ela naquele fim de semana. Dentro havia duas fotos deles, uma recente e uma com Claire sendo apenas um bebê recém-nascido.

Angela sofria junto com os dois. Apesar de não estar casada com Emmett, o amava e via o quanto ele sofria por não poder ser mais presente, apesar de ser um excelente pai e, claro, a pior parte era ouvir Claire chorando pelos cantos de saudades do papai dela.

—Nos vemos na sexta-feira, Emm – Ben falou pegando a mala de Claire, que já estava abatida no colo da mãe.

—Claro – ele falou com a garganta arranhando, segurando as lágrimas.

Sorriu forçadamente e acenou a Claire que acenou de volta antes de esconder o rosto no pescoço de Angela e voltar a chorar. Angela mandou um beijo a Emmett antes de entrar e Ben logo a seguiu, fechando a porta.

Mais uma semana.

Emmett suspirou e entrou no carro sabendo que era um longo caminho. Ele chorava nas primeiras duas horas ouvindo as músicas de Claire e repassando o fim de semana na cabeça, as outras duas já eram o preparatório para a próxima semana, com mais ideias do que fazer.

Estacionou na frente do seu prédio e suspirou. Exausto. Entrou com calma e subiu as escadas amaldiçoando, mais uma vez, o elevador que não funcionava.

Não era o agente Swan ali, apenas Emmett McCarthy e, por aquele motivo, não tinha luxo algum, gastava o alto dinheiro no apartamento dele e de Claire, o buraco que dormia durante a semana era apenas aquilo, um buraco.

Desanimado, ele demorou mais do que o costumeiro para chegar em seu andar, o desânimo era o motivo, mas quando finalmente o fez, seu corpo inteiro congelou.

Ela estava mais velha, as roupas menos puídas e a mochila era de marca. Comia distraidamente um salgadinho enquanto lia um livro, mas deixou tudo de lado quando reparou quem tinha aparecido.

—É você mesmo – ela falou, parecia aliviada.

Um milhão de imagens o atingiu, até o momento em que ele a largou no orfanato. Sabia que a família que a adotara era de confiança e boas pessoas, por isso se surpreendeu quando descobriu que ela fugiu da casa e, desde então, nunca mais ouviu falar dela.

Era tão estranho vê-la, já fazia tanto tempo. Entendeu que os sonhos deveriam estar tentando avisá-lo da visita.

—O que faz aqui? – ele perguntou confuso – Ou melhor, por onde se meteu esse tempo todo? Por que não falou comigo?

—Não podia.

—Ora essa, e agora o pode? – perguntou confuso. Preocupado, talvez.

Não era possível.

—Posso, posso porque preciso – ela falou seriamente se levantando.

Ele passou reto por ela e abriu a porta. Pegou a mala pequena e apontou para dentro da casa, ela agradeceu e entrou percebendo o cheiro fresco e o apartamento quase vazio.

—Não repare a bagunça, não esperava visitas - Emm falou educadamente, mas a garota já não ouvia amenidades, estava nervosa.

—Policial Swan, eu preciso que escute o que eu tenho a dizer, mas é mais confuso do que parece – ela suspirou.

—Sente-se.

—Não tenho tempo para isso.

—Marie, está me deixando ansioso.

—Precisamos encontrar Rosalie, falo sério, ela está correndo risco de vida - ela falou sem hesitar.

Emmett soltou a mala ao lado do sofá e virou para a garota que parecia séria. O sonho o atingiu em cheio e ele suspirou. Com a cabeça de agente ele se sentou e pediu para Marie falar qual era o problema.


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Notas finais do capítulo

Teorias? Mal posso esperar para escutá-las.

Para quem começou a acompanhar agora, eu explico: Essa é uma da série de short-fics que lançarei para contar uma história. Cada uma com um ponto de vista diferente, todas vão nos fazer voltar ao início de tudo para entender o final, confuso, mas é legal (pelo menos eu acho).

Então em um apanhado temos:

1. Olhos Solitários: conta a história de como o Edward conhece a Bella e como têm o Riley.

2. Filho, Meu Filho (Edward): conta a vida atual de Bella e Edward, até o momento em que ela foge depois de escutar sobre o desaparecimento de uma pessoa.

3. Pequenas Mentiras (Jasper): Um surfista que tem a noiva sequestrada.

4. Em Cima do Muro (Emmett)

Espero que acompanhem e gostem. Aguardo as opiniões ;D